VMHV - Vírus de Mutação Humana Vampiresca escrita por Bellaluna Creator


Capítulo 4
Combate amistoso


Notas iniciais do capítulo

Demorei, eu sei. Estava decidindo se mexia mais na história antes de postar e acabou que mudei a sinopse e um pedacinho do prólogo.
Espero que gostem.

Boa leitura!S2



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Aquilo estava sendo realmente divertido. Selênia terminou de comer e ficou apenas olhando suas amigas metralhando Alex com uma pergunta atrás da outra. Ele mal conseguia responder. Selênia apoiou a cabeça em uma mão e ficou assistindo de camarote, dando-lhe um sorrisinho de mofa toda vez que ele mandava um SOS com os olhos.

O mais engraçado é que ele parecia realmente incomodado com toda a atenção que Mila e Hana lhe concediam. Quando seus nervos estavam chegando no limite e parecia prestes a explodir, o sinal de término do intervalo tocou. O alívio dele foi tão grande que chegava a ser palpável e em contraste a decepção de suas amigas pela interrupção, era uma cena cômica. Selênia não conseguiu se conter e o riso escapou de seus lábios. Ela tossiu para disfarçar, mas o olhar ferino que Alex lhe lançou mostrava que se lembraria do quanto ela estava se divertindo com a situação. "Que seja…" pensou dando de ombros e mostrou a língua brevemente enquanto saíam da cantina e retornavam à sala de aula. Obrigada a tê-lo colado em si, em qualquer lugar que fosse, teria a certeza de não ser a única estressada com isso. Pelo menos por enquanto, uma vez que estava ciente de que ficar alfinetando-o a longo prazo não era uma boa ideia. Como não o conhecia, não sabia se ele era do tipo rancoroso ou não. E não queria arriscar descobrir da pior forma.

Selênia passou o resto do dia observando Alex. Ao longo das aulas restantes ele agiu como um perfeito bad boy. Embora o caderno estivesse sobre a mesa ele não anotou nada. Sempre que alguém vinha falar com ele, respondia com frases curtas, sem alterar o olhar de tédio e frustração. E no último tempo de aula estava com os óculos escuros — que tinha tirado quando entrou no prédio — novamente no rosto, antes do sinal tocar. No que tocou ele foi o primeiro a se levantar, se aproximou de Selênia e suas amigas e segurando o pulso de sua suposta prima disse:

— Desculpe meninas, mas tenho que pegar ela emprestada um pouco. Muito papo pra colocar em dia, sabe?! — e piscou um olho abaixando os óculos com a mão livre para que elas vissem. Ele mal deu tempo de Selênia jogar o resto do material de qualquer jeito dentro da mochila e fechá-la com uma única mão (ele segurava a outra). Pegou a mochila dela pela alça superior assim que estava fechada e saiu arrastando Selênia.

Entraram em um dos táxis que ficavam parados numa rua próxima dali. Alex os tinha visto quando passou por eles de ônibus vindo para o colégio. Ele fez Selênia entrar no carro e falou um endereço que ela nunca tinha ouvido para o motorista.

Durante todo o trajeto ambos permaneceram calados no banco de trás olhando em direções opostas. A apreensão dela aumentava com cada curva que o táxi fazia, e ela se perguntava se estava sendo sequestrada ou o quê. Queria perguntar muitas coisas, mas a presença do taxista a impediu, devido ao conteúdo de suas perguntas ser considerado confidencial por envolver o DCII. Quando enfim chegaram ao endereço, uma rua comercial, com lojas, restaurantes e etc, Selênia ficou mais tranquila. Se ele fosse sequestrá-la não a teria levado para um lugar movimentado onde seria fácil ela escapar no meio da multidão. Ele a puxou até uma porta trancada entre uma loja de presentes e um pet shop. Atrás da porta que ele destrancou com uma das chaves de seu chaveiro, tinha uma escadaria que levava para o andar acima da loja de presentes. Ela o seguiu pela escada. Estava tudo escuro, enxergava-se muito pouco na luz que as janelas sujas com persianas deixavam entrar. Alex a deixou parada no topo da escada e foi andando pelo lugar se orientando pela memória. Pelo o que ela conseguia ver não havia móveis, ao menos não no centro do cômodo. Ali na penumbra Selênia começou a falar se dirigindo a Alex, nervosa, sem conseguir ver direito onde ele estava.

— Olha... Eu estive pensando... — ela o ouvia andando como se procurasse algo, sua apreensão tornou a aumentar com cada batida do coração. — Se você vai ter que me seguir pra todo o lugar que for, seria melhor que tivéssemos uma relação amigável... — os passos pararam, ela passou a falar mais rápido. — Então... Que tal uma trégua? Eu não provoco você e vice versa? — ouviu um click de algo abrindo, depois mais clicks e as luzes foram acendendo. Ela ficou cega por alguns instantes com a luminosidade inesperada e ouviu ele falar com ela, aproximando-se.

— Eu estive pensando a mesma coisa durante as últimas aulas. Por isso trouxe você aqui — ela voltou a enxergar e viu que se encontrava em um dojô. — Ao longo do tempo eu aprendi que a melhor maneira de resolver as divergências entre pessoas como nós, é com um combate amistoso. Então me mostre suas habilidades. Me ataque! — Alex disse essas coisas parando no meio do tatame, tirando a jaqueta e jogando-a para o lado.

Selênia mordeu os lábios pensativa. Ele era obviamente bem mais forte que ela sendo um insolúvel, mas seus testadores sempre foram insolúveis. E sendo treinada por seu irmão, estava acostumada a lutar com pessoas mais fortes. Ela tirou o casaco que estava usando e deixou-o cair no chão. Lentamente começou a dar voltas ao redor de Alex. Parou quando voltou a ficar frente a frente com ele e assumiu posição de luta. Ele fez o mesmo. Ela partiu para cima e ele bloqueou o ataque sem esforço. Selênia não se surpreendeu com isso e continuou atacando-o de formas cada vez mais complexas. Conseguiu acertá-lo algumas vezes, deixando-o levemente surpreso, mas os golpes não tinham força o suficiente para ganhar dele. Aproveitando-se de um momento de surpresa particularmente promissor, ela conseguiu acertar um chute com toda força no ombro dele, tirando-lhe o equilíbrio, que terminou de tirar dando uma porrada por trás do joelho, fazendo-o cair. No entanto, esse foi o maior erro dela. Quando Alex sentiu que ia cair, agarrou um braço dela e levou-a consigo. Rolou ao bater no chão e prendeu-a abaixo dele segurando-lhe os braços e sentando em seu quadril para impedir qualquer movimento. Ela nem tentou se soltar, sabia que seria inútil, apenas ficou parada recuperando o fôlego, arfante. Ele sorriu, juntou os pulsos dela acima da cabeça da mesma, segurou-os com uma mão e com a outra deu um peteleco na testa de sua futura parceira. O "ai" surpreso que ela soltou antes dele sair de cima dela e sentar de pernas cruzadas no tatame, foi bastante satisfatório para Alex. Selênia se sentou esfregando a testa e olhou-o indignada. Ele deu de ombros sorrindo e mostrou a língua em retaliação ao ocorrido na cantina.

— Eu sabia que isso era vingança — continuou esfregando a testa começando a inflar as bochechas inconscientemente, como fazia sempre que estava chateada.

— O peteleco não foi vingança — olhava-a se divertindo com suas reações.

— Então o quê? — o tom rude e cético de sua irritação elevou sua voz em um nível mais agudo.

— Meu pai costumava fazer isso em mim quando achava que eu tinha me saído bem no combate embora tivesse perdido — esclareceu olhando vagamente para um lugar aleatório do cômodo. A mente vagando para o passado.

— Saído bem no combate? — perguntou lentamente. O tom rude desaparecido ao notar que ele estava fazendo um elogio.

— Sim, você se saiu muito bem. Se fosse uma insolúvel poderia ter me vencido — voltou o olhar para ela e sorriu. Selênia sorriu de volta, feliz com o elogio. Percebeu que Alex tinha razão, a luta realmente tinha apagado a rinha que eles estavam quase começando mais cedo. Ela deitou de novo no chão deixando os braços abertos e pensou em voz alta:

— Isso foi cansativo, vou precisar tomar um banho quando chegar em casa — Alex concordou com a cabeça e imitou-a deitando no chão de braços abertos. Ficaram ali sem dizer nada por um tempo, apenas curtindo o sentimento de companheirismo que se instalou inevitavelmente, até que Selênia perguntou:

— Mas afinal que lugar é esse?

As perguntas estavam retornando a mente dela, mas aquela foi a que gritou mais alto no momento. Alex sorriu, divertido, antes de responder. Esteve esperando essa pergunta, mas achava que ela iria demorar pelo menos mais alguns segundos antes de fazê-la. Continuava sendo surpreendido por ela, era uma garota realmente interessante.

— Era uma escola de artes marciais, mais especificamente voltada para defesa pessoal.

— E como você tem as chaves daqui? —  deitou de lado para olhá-lo responder.

— Esse lugar é do meu pai, ele comprou e deu aulas aqui durante um tempo a muitos anos atrás — não quereria dar detalhes demais sobre como o pai dele tinha deixado de trabalhar no DCII durante cinco anos só para criá-lo e educá-lo. Roger era realmente um homem incrível, ele amava muito seu trabalho, mas achava que se ia criar uma criança tinha que fazê-lo direito, o que ele não conseguiria trabalhando como agente de campo. Assim sendo pediu para ser afastado de seu cargo e cuidou de Alex até que o garoto pudesse cuidar bem de si mesmo sozinho. Aos 12 anos Alex não queria mais atrapalhar seu pai e pediu para fazer a prova para o ensino médio. Sabia que Roger sentia falta do trabalho de agente e que tinha deixado de lado só para cuidar dele. Ao passar na prova Alex disse a Roger que ele já poderia voltar a trabalhar no DCII, pois ficaria bem e que com certeza estaria trabalhando ali também dali a alguns anos. Roger ficou emocionado ao ouvir isso, sabia que Alex era mais maduro do que a maioria das crianças da sua idade devido ao que tinha passado, porém não esperava que o garoto também fosse tão atencioso com as pessoas ao seu redor. Roger voltou a trabalhar no DCII, mas manteve aquele lugar como uma lembrança do tempo que tinha se dedicado quase integralmente a criar Alex. Ele deu as chaves do lugar de presente ao seu filho quando este entrou para o DCII dizendo que era para que nunca esquecesse os seus ensinamentos.

Selênia deu uma nova olhada no lugar depois de ouvir o que Alex tinha dito se perguntando quem era o pai dele. Ele obviamente amava e admirava muito o pai, dava para ver pelo modo como falava dele. Selênia não tinha conhecido muito bem o dela, pelo menos não o biológico, ele tinha morrido em uma missão quando ela ainda era muito nova. Ele foi um agente imune de uma dupla de controle. Sua mãe, que era uma agente não imune de apoio interno, casou com o padrasto dela — outro agente não imune de apoio — quando ela tinha uns 6 anos, 4 anos depois da morte de seu pai. Marcos é um ótimo pai e um cara muito legal, mas ela queria ter conhecido seu pai de sangue. Às vezes Sebastian lhe contava histórias sobre ele.

— O seu pai deve ser um cara incrível... — pensando em voz alta novamente, sem querer, quando seus olhos pousaram em Alex ao vagarem pelo cômodo. Um canto da boca de Alex se curvou em um sorriso inconsciente.

— É... Ele é sim... — falou com a mente distante e o olhar desfocado. Não percebeu Selênia arregalando os olhos e ficando vermelha ao ouvi-lo. Acabara de perceber que estava pensando em voz alta e isso era uma coisa que costumava fazer só quando estava com seu irmão. Que estranho estar se sentindo tão confortável ao lado de Alex ao ponto de fazer isso, depois de uma simples luta amistosa. Talvez fosse por conta do momento que lembrava os pós treino com o irmão dela. Geralmente ficavam deitados no gramado daquele jeito batendo papo. Lembrar disso a fez pensar se sua família sabia sobre essa história de guarda-costas. Eles provavelmente ainda não estavam preocupados com ela porque às vezes Selênia saia com amigos depois da escola, mas resolveu ligar e avisar que estava com Alex por precaução.

Achou sua mochila num canto junto a de Alex e pegou o celular. Ligou para sua mãe, Helena, e contou que agora tinha um guarda-costas por culpa dos Lich e que estava com ele, para ela não se preocupar. Helena falou que já estava ciente, tinha recebido uma ligação de Marcos (seu atual marido) logo cedo pela manhã, informando sobre isso. Ela não trabalhava mais no DCII, Marcos sim, e ele agora é encarregado dos agentes de apoio interno não imunes (e não infectados) recém admitidos.

Depois de falar com sua mãe, Selênia desligou e ficou sentada perto da mochila, encostada na parede.

— Pega! — Alex tinha ido lá fora durante o tempo em que ela estava no telefone e acabava de voltar com duas garras d'água, jogando uma para ela. Selênia pegou a garrafa no ar e começou a abri-la. Ele veio andando em sua direção e se sentou ao seu lado. — Não há nada melhor que uma água fresquinha depois de uma luta — abriu sua garrafa enquanto falava e bebeu quase tudo em uma só golada, deixando pouco menos de dois dedos que jogou sobre a cabeça inclinada. Selênia ficou calada, apenas observando-o enquanto bebia sua própria água em pequenos goles. Queria perguntar sobre o que ele quis dizer no dia anterior, quando falou que ela não era como o ex-parceiro dele, mas achou que talvez aquele não fosse o momento certo.

— Que foi? Não sabia que vampiros não bebem só sangue? — sorriu de sua própria piadinha enquanto levantava um joelho e apoiava nele o braço que ainda segurava a garrafa vazia. Ela continuou a olhá-lo indecisa. — Olha, se quer perguntar alguma coisa, pergunte. Ter receio não parece muito a sua cara. Prefiro que seja direta como antes — amassou a garrafa ao falar e voltou o rosto para ela.

Surpreendida, Selênia demorou a dizer o que estava em sua mente. Nunca iria esperar que ele dissesse algo do tipo.

— O que quis dizer ontem... Quando falou do seu ex-parceiro... Que eu não era igual a ele? — enfim perguntou após um instante de deliberação.

Alex sabia que cedo ou tarde essa pergunta viria, no entanto esperava sinceramente que a pergunta que ela estava querendo fazer naquele momento fosse outra. Essa garota tinha o dom para  pegá-lo desprevenido… Respirou fundo. Talvez devesse tê-la deixado calada mesmo. Ainda que seu semblante mostrasse uma clara interrogação.

Demorou bastante a responder. Selênia estava achando que nem responderia quando ele enfim começou a falar.

— Fomos parceiros por dois anos. Pensava que o conhecia. Mas... Me enganei — fez uma pausa longa antes de continuar, cautelosamente lambendo a ferida em seu ego, ainda em processo de cicatrização. — Ele me traiu. Traiu todo o DCII. Se voltou contra nós no meio de uma missão a alguns meses atrás, se juntando aos Lich. Ele quase matou a dupla de controle para quem deveríamos estar dando apoio naquele dia. Era nossa primeira missão com uma dupla de controle, algo relativamente fácil. Mas fomos emboscados pelos Lich. Na hora eu não soube como, até que ele se voltou contra nós mostrando sua verdadeira face. Ele tentou matar a dupla de controle... Parando para pensar agora ele tentou matar o imune da dupla, mais especificamente. Por sorte eu consegui impedir, e com a ajuda dos outros agentes conseguimos fugir. Ele literalmente me esfaqueou pelas costas — levou a mão vazia ao ombro. — Lançou uma dessas… — tirou uma faca de arremesso de um dos coturnos — nas minhas costas enquanto fugimos.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Estou melhorando? Não? Comentem! Não tenham medo, eu não mordo. Sou apenas uma humana comum, he he.

Obrigada por chegar até aqui e até o próximo capítulo. Beijos! S2



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