Cultura indígena de Santa Catarina escrita por Paloma Her


Capítulo 2
Primeiras civilizações


Notas iniciais do capítulo

Há vestígios destes povos em Laguna e na Ilha de Santa Catarina, onde temos Sambaquis na Ilha do Campeche e na Barra da Lagoa. Há outros sinais no Litoral Central, e em Gaspar, no Vale do Itajaí. Também podem ser encontrados outros resquícios arqueológicos desde o Estado de Espírito Santo até o Uruguai.
Além das montanhas de conchas, os Sambaquianos deixaram esculturas de pedras com formas de animais, lindíssimas, polidas contra a rocha; altos relevos com grupos de figuras humanas e de animais, e muitos desenhos esculpidos nas rochas. Também há os utensílios de pedra para quebrar cocos e outros alimentos, e as lâminas de pedra lanceoladas e com duas pontas, que devem ter servido para muitas atividades.



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 Afirmar quando, ou em que época, os primeiros homens da Ásia cruzaram para a América do Norte é controverso, pois os cientistas ainda não chegaram a um consenso, porém o que se aceita como fato científico é que cruzaram o Estreito de Bering ao término da última glaciação. Essa última glaciação teve seu pico nos anos 40.000 AP (antes do presente) e terminou-nos 20.000 AP.

Mas acontece que, conforme dados científicos, nos anos 70.000 AP, os Homo Sapiens já se deslocavam pelo planeta, cruzando o Mar Vermelho, e indo além por caminhos com rumos aleatórios.

Então, por que não pensar que as migrações para as Américas aconteceram “antes” da última glaciação?

A História é uma ciência em constante oscilação, pois, à medida que os arqueólogos – ou paleontólogos – descobrem ossadas, toda nossa história humana se transforma. Se for constatado, por meio de métodos tecnológicos, que os ossos encontrados numa escavação são muito mais antigos, as cronologias imediatamente mudam, marcando migrações de povos pré-históricos para novas rotas ao longo do planeta. E o que complica mais ainda as verdades científicas é que arqueólogos, antropólogos, geólogos e paleontólogos devem concordar com as novas hipóteses desses novos achados, para que isso seja inscrito na História como algo verdadeiro.

Por exemplo, há uma tendência mais atual, que tenta provar que durante a “Era do gelo” (que  teve seu pico nos anos 40.000 AP), muitos povos pré-históricos cruzaram o Ártico através da Rússia e chegaram na América do Norte, onde desapareceram sem deixar descendentes. Também há outra corrente de pesquisadores que alega que o mar possuía tanto gelo, que muitas tribos africanas cruzaram a pé as Ilhas do Pacífico, por caminhos de gelo, chegando à Nova Zelândia e outros lugares há mais de 100.000 anos AP. Ou seja, antes do Homo Sapiens se deslocar para o Mar Vermelho. Mas são teorias ainda não aceitas pela maioria dos cientistas.

Concluindo: especular quando é que a América do Norte foi povoada, ainda é muito controvertido, mas há o consenso geral, no meio científico, de que as migrações para o Sul da América se deram quando o clima do continente esquentou e atingiu um clima parecido ao que temos hoje, ao redor de 15.000 a.C. (Antes de Cristo).

 Na Tierra del Fuego, no mais remoto canto da América do Sul, os antigos onas— que foram um grupo de ancestrais que migraram mais longe – possuíam os mesmos genes de outros indígenas do continente americano. Mas, se o Pacífico tinha caminhos de gelo, é possível também que tenham cruzado o oceano numa época em que a neve cobria parte do mar. Ou seja, migraram muitos anos antes. No entanto, esta é uma hipótese ainda em discussão.

 Aqui no Brasil, no Município de Lagoa Santa, que fica a 35 quilômetros de Belo Horizonte, MG, há fósseis com mais de 10.000 anos. Mas há uma teoria controversa de presença humana no Piauí, com data de 58.000 anos AP (antes do presente), defendida pela arqueóloga Niède Guidon, porém os cientistas ainda não aceitaram essa datação como verdadeira. Quer dizer, ainda falta que novas tecnologias comprovem, com exames mais exatos, que essa seria uma possibilidade certa, para que antropólogos, paleontólogos e arqueólogos concordem com Niède Guidon.

 

 A conquista portuguesa

Quando os portugueses chegaram ao Brasil, existiam de cerca de cinco milhões de nativos, divididos em diversas tribos, com características diferentes quanto à linguagem e ocupação nas terras brasileiras. As tribos que receberam os conquistadores eram tupiniquins, tupinambás, tamoios, caetés, potiguaras e tabajaras. Muitas dessas tribos foram dizimadas devido às tentativas de escravidão, ou pela resistência desses povos contra o invasor. Mas a maior mortandade deu-se pelo contágio de doenças trazidas pelos conquistadores, e pela tomada de suas terras a fogo e faca. Tribos inteiras foram expulsas de suas terras, dando início ao período mais cruel da história brasileira, pois, durante esse tempo, muitas tribos desapareceram.

Nos tempos atuais, as tribos que sobreviveram ao horror da colonização e ao despejo são em cerca de 220 etnias, as quais falam 170 línguas diferentes, distribuídas em todos os estados do Brasil. 

Santa Catarina

Entre 13.000 e 12.000 até 2.500 anos AP (antes do presente), havia, em terras catarinenses, um povo que não se sabe de onde veio, nem por onde entrou, ou de qual lugar das Américas ele migrou. Era um povo pertencente à 4ª migração, ou seja, a um grupo de paleoíndios muito antigos e com características diferentes dos mongoloides. (NEVES et al. 1996).

 O que sabemos desse povo é que, ao redor do ano 6.000 AP, eles viviam sob as rochas e trabalhavam a pedra lascada, perto de abrigos onde há arenito, basalto, quartzo e calcedônia. Alimentavam-se de moluscos, aves, répteis, mamíferos, peixes e cocos. Segundo pesquisadores, há uma semelhança com as indústrias líticas da Patagônia e da Pampa argentina, povos que ocupavam todo o Rio Grande do Sul, sendo o limite dessa expansão, São Paulo. (Schmitz, 1987-1999) e (Ribeiro, 1990-1999). Quer dizer, esse povo poderia ter migrado do Sul da América, mas essa teoria ainda não é aceita pelo meio científico.

Sambaquis

Embora não se saiba muito a respeito destes brasileiros que viviam na beira do mar, podemos dizer que existiram ao redor do 6.000 AP. Seus desenhos não foram interpretados totalmente, mas eles viveram, morreram e desapareceram, deixando apenas seus artefatos e seus cadáveres em terras catarinenses. Os antropólogos deram o nome de “Sambaqui” aos lugares onde há sinais arqueológicos, e de “Sambaquianos” aos povos que ali viveram, por causa das montanhas de conchas que eles acumularam (quem sabe, antigos lixões que esses homens amontoavam em épocas de safra de peixes e de mariscos).

Urda Klueger escreve: “Os Sambaquianos pescavam muito, e com certeza possuíam redes e canoas. Eventualmente, conseguiam pescar uma baleia, que como vocês sabem, é um mamífero enorme, que lhes garantia imensas quantidades de carne, óleo e ossos para confeccionar objetos. Não se sabe se eles eram muito bons na caça e no cultivo de plantas – até que pegavam pequenos animais, como aves ou mamíferos, mas não se pode dizer que eram grandes caçadores. Decerto que usavam uma ou outra planta para comer, como raízes e frutas, mas pouso sabemos a este respeito”. O povo das conchas. 1952. Pag. 20.

 Há vestígios destes povos em Laguna e na Ilha de Santa Catarina, onde temos Sambaquis na Ilha do Campeche e na Barra da Lagoa. Há outros sinais no Litoral Central, e em Gaspar, no Vale do Itajaí. Também podem ser encontrados outros resquícios arqueológicos desde o Estado de Espírito Santo até o Uruguai.

Além das montanhas de conchas, os Sambaquianos deixaram esculturas de pedras com formas de animais, lindíssimas, polidas contra a rocha; altos relevos com grupos de figuras humanas e de animais, e muitos desenhos esculpidos nas rochas. Também há os utensílios de pedra para quebrar cocos e outros alimentos, e as lâminas de pedra lanceoladas e com duas pontas, que devem ter servido para muitas atividades.

 O costume de polir a pedra deixou como sinal lugares liso nas rochas dos costões marinhos, com formas arredondadas, onde os brunidores de pedra devem ter trabalhado longas horas. “Muitos Sambaquianos sofriam de LER (lesão por esforço repetitivo).... as marcas de LER ficaram impressas nos ossos deles, e os cientistas podem vê-las com clareza”. (Klueger. O povo das conchas pág. 26

 Outro achado deslumbrante são os Dolmens, agrupações de pedras gigantes, enormes, que se encontram em praias de Laguna e na Ilha de Santa Catarina. Os amontoados de pedras estão alinhados para pontos cardeais. “Comprovamos também a existência, pelo menos em um lugar, de um observatório lunissolar, algo mais importante do que marcos no horizonte”. (LUCAS, p. 115)

 Depois do desaparecimento desse povo, chegam ao Sul do Brasil as tribos de ceramistas Tupi e Macro-Jê, originários da Amazônia e do Centro Oeste, por volta do 2.500 AP (antes do presente).  Supõe-se que um grande crescimento demográfico da Amazônia levou sucessivas tribos a se deslocarem para fora da região. (LATHRAP, 1970-1977 e  BROCHADO, 1984) Esses migrantes sabiam sobre o manejo agroflorestal, a sobrevivência da tribo com um trabalho organizado, e, chegando em Santa Catarina, eles ocuparam as margens das principais bacias hidrográficas.

O maior equívoco de nosso tempo é pensar que os índios aprenderam agricultura pelo contato com os brancos. A realidade é justamente o contrário, pois esses povos sabiam plantar mudas e grãos;  e o que é mais admirável, eles trouxeram consigo as sementes da Amazônia e as disseminaram em todo canto. Graças ao trabalho inteligente desses ancestrais, temos hoje palmeiras Bactris, araucárias, palmitais, butiazais, ervais, que compõem as “florestas antropogênicas”, ou as “matas culturais”, que são encontradas em todo o estado catarinense. Essas tribos seriam os Guaranis e os Xetás, do tronco Tupi, vindos da Amazônia; e os Kaingang e os Xokleng, do tronco Macro Jê, originários do Centro Oeste. (Davis, 1964-1966). Conforme estudos antropológicos (Sutten, 1965) e (Salzano e Callegari-Jacques, 1988), os Kaingang e os Xokleng possuem uma ancestralidade biológica comum, e se supõe que eles se afastaram posteriormente a partir da separação da família Jê.

 As moradias desses ancestrais eram a céu aberto; ou abrigos sob rochas, cujas aberturas eram maiores que a profundidade; e os “cerritos”, mais comuns no Rio Grande do Sul e no Uruguai, que eram elevações artificiais, com trinta ou quarenta metros de diâmetro, alcançando três metros de altura.

Com o passar dos anos, esses povos se separaram devido a  desavenças entre si. Os Guaranis, bravos guerreiros daquele tempo, fizeram os Kaingang se deslocarem para o oeste catarinense, e os Xokleng se dispersaram pelo estado, deixando todo o litoral e parte do centro para os Guarani. Os Guaranis ficaram donos da maior parte do estado, e deve ter sido por esse motivo que as tribos Guarani foram as que mais sofreram com a chegada do invasor, quando houve a conquista europeia. 

 

 


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Notas finais do capítulo

Com o passar dos anos, esses povos se separaram devido a desavenças entre si. Os Guaranis, bravos guerreiros daquele tempo, fizeram os Kaingang se deslocarem para o oeste catarinense, e os Xokleng se dispersaram pelo estado, deixando todo o litoral e parte do centro para os Guarani. Os Guaranis ficaram donos da maior parte do estado, e deve ter sido por esse motivo que as tribos Guarani foram as que mais sofreram com a chegada do invasor, quando houve a conquista europeia.



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