Cultura indígena de Santa Catarina escrita por Paloma Her


Capítulo 1
Introdução


Notas iniciais do capítulo


No Sul do Brasil, temos pessoas de pele branca, pois os europeus chegaram em grandes migrações, principalmente durante as grandes guerras que por lá assolaram. Temos descendentes oriundos de Portugal, além da Polônia, da Alemanha, da Rússia, da Itália, e por aí vai. Esses colonizadores trouxeram consigo seus costumes, seus dialetos e seu folclore. E, através do tempo, perpetuaram essas características étnicas. Temos festas étnicas em Pomerode; a “Marejada”, em Itajaí; a “Oktoberfest”, em Blumenau; e muitas outras comemorações que nos alegram com suas músicas, suas danças e sua culinária.

Já no Nordeste do Brasil, a herança africana é mais forte. O Candomblé, a Umbanda, e os folguedos marcam o ritmo de uma sociedade que dança voltada para o divino. As escolas de samba cantam para seus Orixás em épocas de carnaval, e, na passagem do Ano Novo, todos fazem oferenda para Iemanjá, a rainha do mar. O maracatu, com seu som contagiante, parece a própria África dançando em terras brasileiras. Esses costumes e a negritude da pele contrastam com a brancura dos povos do Sul, como se fossem duas nações diferentes.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/787346/chapter/1

O povo brasileiro é descendente de três etnias diferentes: a indígena, a europeia e a africana. A cor da pele que existe nas diferentes regiões do país corresponde às porcentagens dessa mistura de povos entre si.

No Sul do Brasil, temos pessoas de pele branca, pois os europeus chegaram em grandes migrações, principalmente durante as grandes guerras que por lá assolaram. Temos descendentes oriundos de Portugal, além da Polônia, da Alemanha, da Rússia, da Itália, e por aí vai. Esses colonizadores trouxeram consigo seus costumes, seus dialetos e seu folclore. E, através do tempo, perpetuaram essas características étnicas. Temos festas étnicas em Pomerode; a “Marejada”, em Itajaí; a “Oktoberfest”, em Blumenau; e muitas outras comemorações que nos alegram com suas músicas, suas danças e sua culinária.

 

           Já no Nordeste do Brasil, a herança africana é mais forte. O Candomblé, a Umbanda, e os folguedos marcam o ritmo de uma sociedade que dança voltada para o divino. As escolas de samba cantam para seus Orixás em épocas de carnaval, e, na passagem do Ano Novo, todos fazem oferenda para Iemanjá, a rainha do mar. O maracatu, com seu som contagiante, parece a própria África dançando em terras brasileiras. Esses costumes e a negritude da pele contrastam com a brancura dos povos do Sul, como se fossem duas nações diferentes.

            No Norte e na região amazônica, aparece com mais força a herança indígena, sem deixar de acrescentar que ainda há índios puros, que não possuem mistura no sangue, nem de europeus, nem de africanos.

 

Finalizando, as características étnicas do povo brasileiro seriam um pouco de tudo, acrescentando que houve também uma forte migração de povos asiáticos, latinos, árabes e judeus, aumentando, dessa maneira, uma enorme troca de sangue e de culturas migratórias.

Quanto às artes, há de tudo nesta salada de talentos. Temos os magníficos músicos afrodescendentes da Bahia e os geniais homens do futebol e do boxe, a maioria descendentes de africanos. Já os gênios mais célebres da literatura, da ciência e da tecnologia, divulgados pela mídia, em sua maioria são descendentes de europeus e de asiáticos, mas com alguns afrodescendentes também muito famosos.

 

           Porém, o que eu gostaria de questionar é sobre “quem se destaca mais como os maiores gênios no âmbito nacional? Os descendentes de europeus? Os afrodescendentes do Nordeste? Os índios da Amazônia? Quem ganha neste embate?”

            E, mais especificamente, em que área os indígenas se destacam mais? Qual é o índio campeão de box? Qual o escritor indígena reconhecido pelos seus livros? Pois, que esses gênios existem, disso não há dúvidas, mas infelizmente são totalmente ignorados tanto pela mídia como pelos brasileiros em geral. Não temos índios famosos que falem nas entrevistas televisivas: “Eu sou da tribo tal”, ou, “Sou filho do Cacique tal, da tribo tal”. Ou, “Sou cafuzo da Aldeia tal, e estou me candidatando a deputado”. Pois, na mistura do sangue, o cafuzo, mistura de índio e de africano, está encravado na cultura das cidades, das grandes metrópoles, e perdeu-se como povo de uma cultura só. Existem aldeias de cafuzos como a “Aldeia Alto do Rio Laís”, em Santa Catarina, mas pelo Brasil afora são desconhecidas.

            Concluindo: nossos índios só são conhecidos como vendedores de artesanatos. Também ocorre que os índios puros gostam de se manter como uma cultura à parte, e, por esse motivo, muitos vivem no mato em zonas demarcadas. Já, aqueles que saem das reservas indígenas para estudar nas universidades do país se perdem como índios, pois eles passam a trabalhar para os institutos das cidades como advogados, como professores, como engenheiros, e não retornam à tribo de seus ancestrais, pois lá não teriam como se manter. Como é que um engenheiro civil iria construir um edifício, ou um hotel no meio do mato? Ou, o que é que um advogado faria numa tribo da Amazônia? As profissões que mais combinariam com a vida silvícola seriam a Medicina, a Antropologia, a História, a Engenharia Florestal... mas e com que recursos seus profissionais trabalhariam lá, perdidos no matagal?

            O mais tenebroso nesta narrativa é que, além de não termos indígenas célebres pela sua sabedoria nem pela profissão, existe o fato de que eles possuem a “fama de maus”. Existe o consenso geral de que os índios são preguiçosos, viciados, briguentos, burros, selvagens e que não merecem nosso respeito, nem nossa benevolência. Nas cidades são tratados com menosprezo, com indiferença, e a maioria dos brasileiros sequer olha para os artesanatos que vendem aos transeuntes nas ruas das cidades.  Ninguém os convida para um almoço, ou lhes paga uma passagem de ônibus, ou ainda lhes dá 

 

            A pergunta então seria: “Como é que isso se tornou tão cruel?”

            Como é que o povo brasileiro se tornou tão indiferente, e menospreza sua herança indígena?  Porque vamos raciocinar: todos os brasileiros têm algum pingo de sangue indígena nas veias, por mais brancos que sejam. Não vamos esquecer que os europeus estupraram tudo quanto era índia que lhes cruzasse à frente. E esses meninos foram perdendo a cor da pele ao se misturar com outras etnias. Mas o sangue é algo que não se pode contrafazer, pois ele entra nas crianças através do cordão umbilical. Todos os brasileiros devem ter, pelo menos, algo como 0,1 por cento de sangue de índio nas veias.

            E é sobre esses índios que trata este livro. Eu diria: do povo do qual somos descendentes, de uma forma ou de outra. De um povo de quem pouca gente gosta. Mas de um povo que não sofre diante da nossa indiferença, pois, sem sombra de dúvida, para os índios, os “selvagens” deste mundo somos nós.

Eu convivi durante dez anos com os índios Xokleng, da Aldeia Ibirama, em Santa Catarina, como professora de artes e artesanato. E posso me dar o direito de dizer que entre eles e nós não existe diferença alguma, e que eles possuem meu respeito e admiração por muitas coisas que presenciei durante aquele tempo todo.

 

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

A pergunta então seria: “Como é que isso se tornou tão cruel?”
Como é que o povo brasileiro se tornou tão indiferente, e menospreza sua herança indígena? Porque vamos raciocinar: todos os brasileiros têm algum pingo de sangue indígena nas veias, por mais brancos que sejam. Não vamos esquecer que os europeus estupraram tudo quanto era índia que lhes cruzasse à frente. E esses meninos foram perdendo a cor da pele ao se misturar com outras etnias. Mas o sangue é algo que não se pode contrafazer, pois ele entra nas crianças através do cordão umbilical. Todos os brasileiros devem ter, pelo menos, algo como 0,1 por cento de sangue de índio nas veias.