Stronger than Death escrita por Pandora Ventrue Black


Capítulo 4
Sangue em cacos de vidro


Notas iniciais do capítulo

Aproveitem a leitura! S2



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Caminhava pelo perímetro da fazenda. Engolindo as minhas lágrimas de puro ódio e desejando a morte de Shane. Acabo me perdendo em meus pensamentos quando percebo que estava perto de onde Daryl havia armado sua barraca. Estava bem longe de seu grupo, sozinho como eu.

— Chris!

— Eu não quero conversar, Daryl — digo rispidamente. 

— Hey, Chris! - ele fala segurando o meu braço 

— Daryl, me deixe em paz! Por favor! — peço, sentindo as lágrimas escorrerem — Não era você me me olhou com nojo? Que gritou comigo por conta do maldito celeiro de meu pai?

— Pare...

— Cale a boca! — grito me afastando de seu toque — Para...

— Não consegue fechar a boca, não é? — ele reclama me puxando para perto de si.

Daryl me abraça com força e eu tento me soltar, mas falho miseravelmente. Meu corpo precisava disso, apesar de minha mente não aceitar esse tipo de afeto. O que estava acontecendo comigo? Estou fraca, frágil como porcelana. Tudo isso por conta daquele celeiro cheio de zumbi.

Aquele celeiro levava a minha madrasta e meu meio-irmão, ou melhor, o que sobrou deles.

— Beth está de cama. Lori acabou de me contar… Parece que ela entrou em choque — ele sussurra, segurando os meus ombros.

Fecho os olhos e rezo.

Respiro fundo, acelerando até a casa. Esse mundo não me daria um tempo. Eu nunca teria paz.

Nunca.

Levava o meu coração na mão. Corro o mais rápido que conseguia até a casa. Abro as porta, ou melhor, as escancaro, subo até o quarto de Beth e a encontro deitada na cama, encarando o nada, sem vida. Estava pálida, fria.

Me ajoelho ao seu lado e pela primeira vez em muitos anos eu rezo. Seguro a sua mão e beijo-a com cuidado.

— O que aconteceu? 

— Ela entrou em choque, Chris — diz Maggie — Onde estava?

— No lugar errado, me desculpe — suspiro, piscando rápido para afastar as lágrimas — Onde está o papai?

— Rick e Glenn foram buscá-lo. Ele está no bar, provavelmente… — fala a morena

— Ele esta... bebendo? — escuto meu coração quebrar.

Deus… Meu pai tinha parado de beber quando Maggie nasceu, foi uma mudança e tanto para ele. Agora com tudo o que Shane fez, Hershel havia perdido o controle de si.

Permaneço sentada ao lado de Beth. Esperando que ela volte a ser a menina alegre que sempre fora. Meu olhos se enchem de lágrimas, mas não deixo-as rolarem pelo meu rosto. Precisava ser forte por ela. Acabo dormindo ao seu lado. Quando acordo ela ainda está na mesma posição, desidratada e provavelmente com fome, parada como um estátua de mármore. Patrícia decide colocá-la no soro e ajudo-a a buscar os instrumentos, deixando Maggie e Lori no quarto. 

Subo no meu quarto e pego a roupa que Beth amava. Um vestido rodado branco com margaridas costuradas, bem frufru, coisa que só a minha irmã era capaz de apreciar. Usava esse vestido quando íamos á missa, antes de eu ir para o exército e a loirinha adorava a estampa, está um pouco pequeno, mas tenho certeza que ainda serve.

Volto para junto de Beth e escuto barulho de carro. Meu pai, Rick e Glenn estavam de volta. Eles voltaram com um garoto chamado Randall, ele era de um grupo da cidade e estava com a perna dilacerada por ter caído em cima de uma cerca. Todos discutiam sobre o destino do menino, mas eu estava mais preocupada com o de Beth.

Meu pai a examinava com esmero. Analisando com cuidado a loirinha. Eu estava chateada, ele simplesmente foi embora para beber. Ficamos desamparadas. Sinto as lágrimas escorrem, não seria capaz de controlá-las. As enxugo com os braços discretamente, meu pai não me veria chorar. Me apoio na janela e deixo o meu coração falar:

— Você estava bebendo…

— Essa é a menor das minhas preocupações — ele responde, friamente.

— Você saiu e eu não sabia o que fazer!

— Eu precisava de um tempo!

— A Beth também e nem por isso ela saiu… Todos nós precisamos de um tempo Hershel, não foi só você que perdeu pessoas que gostava.

— Até parece que se importava com eles...

— Droga, Hershel, ela era a minha madrasta... céus! — suspiro, tentando me acalmar — Dê um sedativo para ela, o corpo dela trabalhou muito até você chegar.

Estava com muita raiva, de mim, do meu pai, de Shane, de todos. Precisava bater em alguma coisa, mais especificamente em Shane, se fosse possível adoraria espaná-lo, vê-lo sangrar. Saio da casa e me sento debaixo de uma árvore. Respiro fundo diversas vezes na tentativa de me acalmar.

 Volto para a casa de noite, todos já haviam decidido o que iriam fazer com Randall. O garoto seria deixado em algum lugar a 300 Km de distância da fazenda para que ele não pudesse nos encontrar. Esperaríamos ele estar bem o suficiente para andar. 

 

Uma semana se passou, Beth estava melhor. Comia por conta própria, mas ainda não saia da cama nem fala conosco. Não precisava mais ficar dia e noite ao seu lado. Passava as manhãs e as tardes nos bosques buscando flores diferentes e coloridas para levar para o seu quarto. Entretanto, toda vez que voltava com flores ela me falava algo depressivo sobre a vida. Não perdi o ânimo, sabia que todo esse comportamento advinha de como a mãe dela e o seu irmão foram mortos.

Ela me viu atirando neles.

Não a culpo por estar assim, me sinto mal por não conseguir reverter a situação.

Deixo as flores em seu quarto e converso sobre um bebê canário que vi na floresta. Beth não presta atenção, encarava a janela. Lori traz o jantar e nós duas saímos do quarto para que ela jante com tranquilidade. Me sento no sofá, com as pernas encolhidas contra o meu peito. Estava exausta, mais do que gostaria de admitir. Poderia dormir por dias.

— Você está bem? — Maggie pergunta se sentando do meu lado.

— Cansada — respondo — Só isso. Não se preocupe comigo, irmã.

— Sempre pede isso e só me deixa preocupada — ela retruca — Por favor, nos deixe cuidar de você.

— Boa sorte, baixinha. Deveria ter nascido primeiro.

— Não estou brincando, Chris.

— Sei que não, mas eu tenho dever para com essa família, Maggie — explico segurando a sua mão e vejo Lori subir as escadas, provavelmente para recolher o prato de comida de Beth — Repito, só estou cansada, só isso. Não se preocupe.

Vejo a mãe de Carl correr as escadas e me olhar de forma desesperada.

— Eu acho que Beth quer se matar… — ela sussurra, se sentando ao meu lado.

— Como?! — me levantando sofá rapidamente.

De repente não estava mais cançada.

— Ela pegou a faca do jantar e…

— Deus… — Maggie suspira

— Cadê o seu pai? - a morena pergunta.

— E-Eu não sei, não o vi já faz horas… — respondo.

Balanço a cabeça e subo as escadas a passos pesados.

— Você está louca?

— Essa vida não tem sentido…

— O que o papai e a Maggie fariam se descobrissem que você se matou, hein?

— Eles superariam…

— Nós morreríamos, Beth — digo sentando na calma ao seu lado — Essa dor que você está sentindo não é só com você! Também sentimos falta do Shawn e da Annette e eu sei o quanto eles significam para você, mas precisa ser forte!

— Eu não aguento mais…

— Então você vai desistir?! — diz Maggie entrando furiosa no quarto. 

Ficamos em silêncio.

Odiava estar naquela situação. Beth é a mais nova de nós três, não pode desistir, não agora. Maggie começa a gritar. Falando que não estava na hora de tudo acabar, precisávamos ficar juntar e ser fortes. 

— Beth! Você não é a única sofrendo! Como acha que fiquei quando eu perdi a minha mãe?! — grito, perdendo o controle.

— Sua mãe morreu e pronto! A minha virou um monstro e você atirou nela!

— Eu precisava fazer isso! Você sabe muito bem disso! — digo me levantando — Ela não era mais a sua mãe! Era um zumbi! Se eu não a tivesse matado, sem sombra de dúvida ela teria matado você! Você não entende, né? Vivemos em outro mundo, agora! 

Assim que termino de falar, fico de costas para a cama em que ela estava e me apoio na janela. Não devia ter gritado com ela, mas saiu do controle, a raiva e ódio tomaram conta de mim. 

— A mamãe teria vergonha de ter criado uma garota tão covarde… — diz Maggie.

— E quanto ao pai, Beth? — falo olhando para a loirinha.

— Ele não tem noção. Nos fez esperar por uma cura…

— Ele sabe que estava errado! — diz Maggie — Agora ele sabe o quão estava errado.

— Quando o pai admitiu que estava errado? Ele só está dizendo ao pessoal do Rick o que querem ouvir — Beth fala olhando para o nada.

— E o Jimmy? — indaga a morena.

— Nós saímos por três meses e já me casei com ele?

— Então você está desistindo? De tudo e de todos? — pergunto me sentando em uma cadeira, me apoio em meus joelhos — De mim e da Maggie também?

Encaro-a incrédula com as suas respostas. A loirinha tinha desistido, jogado tudo para cima. Ela queria acabar com a sua vida e não pensava em como nós iríamos nos sentir.

— Não aguento outro funeral... — fala Maggie entre soluços. 

— Vocês não podem evitar! — a loira fala olhando nos meus olhos — O que estamos esperando? Nós três devemos fazer!

— O que?! — indago ficando de pé, quase me desequilibrando.

— Ao mesmo tempo, uma ajudando a outra!

— Não! — responde Maggie.

— É difícil fazer isso… Ninguém quer, mas podemos fazer isso juntas e em paz!

— Não! Pare de falar assim! — diz Maggie segurando as mãos de Beth.

— Um suicídio triplo? Virar história para assustar crianças no futuro?! É isso que você quer ser Beth? Um exemplo de como não desistir?! — digo me ajoelhando ao lado da cama.

— A escolha será nossa e aí tudo vai acabar! Não vamos mais sofrer!  Ou seremos forçadas a fazer quando tudo estiver tomado pelos… pelos monstros! Ninguém pode nos proteger!

— I-Isso não é verdade, Beth! Eu recebi treinamento militar para proteger as pessoas! 

— A Chris e o Otis nos mantiveram a salvo até hoje e Glenn…

— O Glenn?! — a loira interrompe — Eu ouvi o que aconteceu… Rick salvará a família dele, os outros também… Estamos sozinhas…

— Você acha que não posso manter a nossa família a salvo?! - falo

As lágrimas escorrem. Sentia-me traída, protegi essa família a todo custo. E continuaria fazendo isso, não importa o que Beth diga. 

— É um mundo cheio dessas coisas… Eu não quero ser estripada, Chris!

— E você não vai ser! Eu prometo! Nem que seja eu contra uma horda de zumbis, manterei você, a Maggie e o papai a salvo! Isso é uma promessa!

— Não há como… E-Eu quero morrer… — a loira fala, decidida — Eu quero morrer nesta casa, está noite, com vocês do meu lado!

Um silêncio mórbido consome o quarto. Eu não conseguia me expressar em palavras. Queria apenas socar alguma coisa e chorar até cair no sono. Contudo, não poderia fazê-lo. Precisava ser forte por Beth!

— Por favor! — ela fala nos olhando nos olhos

Antes que pudéssemos dizer alguma coisa, Andrea abre a porta.

— Hey… — digo me aproximando da mulher

— Não podem ficar neste quarto o tempo todo — ela fala sussurrando.

— Não posso deixá-la sozinha…

— Você vai precisar! Vocês estão exaustas e precisam tomar um ar… Vão e eu fico com ela!

— Eu não…

— Pode ir! Eu cuido dela!

Olho para Maggie e ela assente. Atravessamos a porta e olhamos para trás. Andrea sorri.

— Se refresquem e vão comer algo. Deixa comigo!

— Obrigada — digo. 

Maggie e eu caminhamos em silêncio pelos corredores. Constrangidas e tristes demais para falar alguma coisa.

— Ela é tão nova… desistindo tão cedo…

— Ela não vai desistir! Nem que eu precise dar um tapa na casa dela! — digo rispidamente. 

Fomos para a cozinha beber um copo de água e em seguida voltamos para o quarto. Quando abrimos a porta nos deparamos com uma cama vazia e a porta do banheiro trancada.

— Beth? — indaga Maggie desesperada.

Escuto um barulho de vidro se estilhaçando e corro até a porta do banheiro.

— Loirinha?! Não faça isso — digo tentando abrir a porta e falhando miseravelmente. 

Escuto Beth chorar.

Chuto a porta uma vez.

— Socorro! — grita Maggie — Beth, abra a porta! 

— O que está acontecendo? — pergunta Lori assim que entra no quarto

— Deixei Andrea cuidar da Beth e ela deu o fora! — digo e chuto a porta novamente.

— Droga! — fala Lori.

— Beth está lá dentro e eu ouvi vidro quebrar! — explica Maggie, ela tremia e mal conseguia falar.

Chuto a porta novamente.

E de novo.

Colocava toda a minha força e meu peso na porta. Na quinta vez a porta abre num estrondo. Vejo Beth com seu pulso sangrando e chorando. Faço pressão no corte longo e profundo enquanto ela me abraça.

— Não estou brava, Beth — digo tirando-a do banheiro — Vai ficar tudo bem, eu prometo.

Hershel cuida do ferimento, costurando com cuidado o braço de Beth, Maggie sai da casa a procura de Andrea. Era visível a raiva em seus olhos. Nesse momento eu não conseguia focar em nada, senão Beth. Ver ela dar gritinhos de dor por conta dos pontos faz o meu coração apertar.

— Eu sinto muito… — ela fala segurando a minha mão. 

— Está tudo bem, irmãzinha, não estou com raiva… — falo beijando a sua cabeça — Só me prometa que não vai desistir…

— Eu prometo!

Lavo as minhas mãos, na esperança de que as minhas emoções fossem embora como o sangue, que escorria no formato de um furacão pelo ralo. Mal consigo limpar, minhas mãos tremiam de uma forma patética. Meu coração batia de forma desregulada, estava feliz por Beth está viva, mas toda a situação me deixou profundamente abalada.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! S2



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