Stronger than Death escrita por Pandora Ventrue Black


Capítulo 5
Finais Trágicos


Notas iniciais do capítulo

Aproveitem a leitura! S2



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Vejo Rick e Shane voltarem. Os dois pareciam infelizes e estavam com alguns ferimentos em seus rostos. Randall não foi deixado no local planejado, ele conhece Maggie, foram para a escola juntos. O garoto foi deixado no celeiro para que Rick pensasse no que faria com ele.

Apesar de ser um garoto, ele representa uma ameaça para todos os que estão na fazenda. Não gosto de pensar que ele deveria ser morto, mas creio que não temos outras opções. 

Estou no quarto, junto de Beth. Queria ficar perto dela, principalmente por conta de tudo o que aconteceu.

— Leve isto para Randall. O papai pediu! — diz Maggie entrando no quarto com uma bandeja de comida.

— Por que eu? 

— Pergunte ao papai depois. Agora leve a comida! — ela fala, irritada.

Pego a bandeja e antes que sair do quarto beijo a testa de Beth, a loirinha parecia melhor, mais saudável e um pouco mais feliz. Saio da casa e caminho até o celeiro, onde o menino estava sendo mantido preso. Andrea estava cuidando do prisioneiro, segurava um rifle e se achava a atiradora, sendo que, poucas semanas atrás, quase matou Daryl com sua péssima pontaria (ainda fico agradecida por ela ser péssima em atirar). Passo por ela em silêncio.

— Não posso deixar você entrar!

— O celeiro não é seu! — retruco e abro a porta, ignorando-a completamente.

Randall se levanta rapidamente, assustado e quase tropeçando em si mesmo. Ele estava severamente machucado no rosto, cheio de hematomas e partes inchadas, cortesia de sua conversa com Daryl.

— Almoço para você.

— Obrigado

Deixo a bandeja no chão e antes que eu pudesse sair Randall chama a minha atenção.

— Eu não consigo comer… Estou algemado…

Respiro fundo e me sento em sua frente, ele é só um adolescente. Meu peito aperta, ele, sem sombra de dúvidas, deve ser um pouco mais novo que Maggie. Alimento-o e sirvo-o um pouco de água, seu jantar hoje era uma sopa densa feita por Patrícia, pão e cenouras douradas na panela. Ele agradece a gentileza. Repito o processo de lhe colocar a comida na boca mais algumas vezes até que ele começa a falar.

— Você tem uma puta cara de má.

— Obrigada, eu acho… — digo, incerta com  o seu comentário.

— Isso é bom, ninguém vai querer se meter com você! — ele comenta e logo em seguida aceita mais uma colherada da sopa — No meu grupo você seria muito bem aceita, sabe…

— Não estou interessada, minha família está aqui e nunca os abandonaria — falo rispidamente.

— Você é leal também… — Randall fala enquanto mastiga — São qualidades que não são mais tão comuns hoje em dia…

— Para uma pessoa algemada, você fala demais, Randall.

Ele sorri e termina de comer em silêncio. Apesar da conversa casual e do possível recrutamento, o medo dentro do celeiro é palpável. Randall sabia que ia morrer. Volto para casa e pego meu arco e flecha. Vou para floresta, pegar algum animal para comermos. O bosque estava quieto, como sempre. Desta vez consigo achar o rastro de um cervo e começo a seguir. 

O rastro é fresco e o animal é grande. O que me faz questionar como o levaria para casa. Adentrava ainda mais na floresta e escuto um movimento brusco. Miro minha flecha e atiro.

— Hey! — grita uma voz que eu conhecia muito bem.

— Daryl?

— Não! A sua fada madrinha! — ele resmunga se afastando da árvore em que estava escondido.

— Desculpa, achei que fosse um esquilo — retruco me aproximando de onde lancei a flecha.

Retiro-a da árvore com uma certa dificuldade, se fosse um esquilo ele estaria morto. Reviro os olhos e inspiro fundo, me afastando de Daryl e de sua nuvem de mau-humor constante. O caipira segura o meu punho, me puxando para si.

— Daryl? O que acha que está fazendo… — ele me cala com um beijo ardente.

Nossos lábios juntos depois de tanto tempo era uma mistura de emoções. Daryl me beija com vontade e desejo, deliciando-se o máximo que conseguia com a minha boca. Suas mãos percorriam a lateral do meu corpo até que param na minha bunda, ele a aperta com força. Sua língua invade a minha boca como uma sinfonia mágica. Fico arrepiada ao lembrar do quão bom era Daryl na cama. Mas aquele beijo não fazia sentido, pelo menos não agora. Luto contra a minha vontade e me afasto de Daryl.

— Não se esqueça da reunião de hoje — murmuro ainda incrédula com tudo o que aconteceu.

Me afasto dele e sigo de volta para a casa, resmungando e chutando algumas pedras no caminho. Daryl sabia exatamente quais eram os meus pontos fracos e o caipira era um deles, foi o primeiro homem que amei (apesar de nosso curto período tem tempo juntos).

Vou para a sala de estar e me sento no sofá ao lado de Hershel, que toca o meu ombro, esse era o seu sinal de "se acalme, vai ficar tudo bem". Prendo o meu cabelo em um coque e espero o resto do pessoal chegar, enquanto repasso o beijo que Daryl me deu.

Todos estavam na sala de estar, a tensão é palpável, se eu respirasse o ar daquele cômodo é capaz de eu morrer afogada. Vejo Daryl com a sua cara de mal do outro lado do cômodo, encostado uma dos nosso móveis de madeira, pensativo e em silêncio.

— Então, como vamos fazer isso? Vamos só votar? — pergunta Glenn, acabando com o silêncio.

— Tem que ser unânime? — indaga Andrea.

— Que tal a maioria vence? — digo encarando as pessoas na sala, mais especificamente Maggie e Hershel.

Isso parece errado, tão errado que minha pele arrepia.

— Bom… vamos começar ouvindo a opinião de todo. A partir daí podemos discutir as nossas opções — diz Rick.

— Bem, na minha opinião só tem uma solução para isso… — Shane começa a falar mas Dale o interrompe.

— Matá-lo, certo? Pra que fazer uma votação? Já está claro a posição que todos vocês tomaram!

— Se há quem acredita que devemos poupá-lo, eu quero saber! —a voz de Rick preenche a sala, fazendo o meu corpo tensionar.

"E se fosse Maggie no lugar de Randall?", penso "O que diabos eu faria?".

— Bom, posso te dizer que é um grupo pequeno… — comenta Dale estressado e magoado com toda a situação, se sentando desconfortavelmente em uma das poltronas do local — Talvez só eu e Glenn...

O ar da sala de repente ficou pesado, ruim de respirar. Estávamos decidindo de se íamos matar um inocente ou não, ou melhor, decidindo se tiramos a vida de alguém que mal começou a viver. Tomar tal decisão deveria ser mais difícil, pensada, e não ser baseada em uma simples votação, afinal estamos lidando com uma vida.

Na verdade, não deveríamos agir como Deus, não somos Ele.

— Olha, eu acho que você está certo sobre quase tudo tempo todo, Dale, mas isso… — Glenn tenta argumentar, mas é interrompido.

— Eles já botaram medo em você? — Dale resmunga.

— Ele não é um de nós. E nós já perdemos muitas pessoas — fala Glenn claramente chateado com o seu posicionamento.

Isso não está certo e meu estômago se revirando dentro de mim mostrava isso.

— E quanto a você? Você concorda com isso? — Dale pergunta para mim.

— Eu acho que deveríamos pensar mais sobre o assunto. Afinal estamos lidando com uma vida, algo que não é tão mais comum assim hoje em dia...  — suspiro — Entretanto ele… pode ser uma ameaça para nós. Por que não o aceitamos no nosso grupo? — arrumo a minha postura — Ele é novo, vai entender tudo no final.

— Não depois da “conversa” que tive com ele… — fala Daryl mostrando a sua mão machucada por conta dos socos que deve ter dado (nota: realmente deu) em Randall.

— Não podemos manter ele como nosso prisioneiro? — pergunta Maggie.

— É só mais uma boca para alimentar… — retruca Daryl sem tirar seus olhos de mim.

— Pode ser um inverno rigoroso — alerta o meu pai, se levantando e cruzando os braços.

— Podemos racionar melhor os alimentos— diz Lori.

— Bom, como bem dito pela Chris, ele pode ser uma ajuda! Deem a ele uma chance de provar isso! Sei que ele faria de tudo para conquistar vocês! — pede Dale.

— Colocamos ele para trabalhar? — pergunta Glenn, segurando a mão de Maggie.

— Não podemos deixá-lo andando por aí — diz Rick, cabisbaixo, alterando seu peso entre as duas pernas.

— Podemos por uma escolta nele! Eu posso fazer isso — afirmo.

Se fosse Maggie no lugar de Randall, eu perseguiria todos aqueles que o mataram, nem que isso custasse a minha vida.

— Acho que nenhum de nós deveria ficar andando por aí com esse cara — fala Rick um pouco exaltado, irritado, me fitando com os olhos.

—  Ele está certo! — diz sua esposa — Eu não me sentiria segura, a menos que ele esteja amarrado…

— Não podemos também por correntes nos tornozelos dele e mandá-lo para trabalhos forçados! — Andrea fala cruzando os braços — Isso não é certo.

— Matá-lo também não — suspiro, estava cansada dessa discursão sem sentido 

—  Olha, digamos que o deixemos se juntar a nós, tá bom? Talvez ele seja útil. Talvez ele seja bom — Shane inspira profundamente — Quando baixarmos a guarda ele pode fugir e trazer aqueles 30 homens para cá.

— Então, a resposta é matá-lo para evitar um crime que ele pode nunca sequer tentar? — pergunta Dale, por um momento o vi fraquejar, seus olhos estavam marejados, não sabia se era por tristeza ou por raiva — Se fizermos isso, estamos os dizendo que não há esperança. Estado de direito morreu! Não existe civilização.

— Ah, meu Deus! — fala Shane em um suspiro de exaustão.

— Não podem levá-lo ainda mais longe? — meu pai pergunta — Deixá-lo com planejaram?

— Mal conseguiram voltar desta vez… — argumenta Lori — Existem os zumbis. O carro pode quebrar. Vocês poderiam se perder…

— Ou cair numa emboscada — complementa Daryl, arrumando a postura.

— Eles estão certo. Não podemos por o nosso pessoal em risco — diz Glenn,

— Se forem adiante com isso como farão? Ele vai sofrer? — pergunta Patrícia.

— Podemos enforcá-lo, né? É só quebrar o pescoço — essas palavras saem da boca de Shane como mel. 

Mas apesar de soarem doce, são como fel, venenosas. Uma ânsia de vômito sobe até parar na minha garganta. Ele é um maníaco, fala de matar um adolescente como se Randall fosse uma mosca.

— Eu pensei nisso, mas atirar é mais humano… — fala Rick.

"Eles só podem estar de brincadeira", penso.

— Mas o que faremos com o corpo? Vamos enterrá-lo? — pergunta T-Dog.

—  Espera, espere! Estão falando sobre isso como já estivesse decidido! — diz Dale gesticulando, se levantando de supetão da poltrona.

— Vocês têm falado o dia todo, andando em círculos. Quer andar em círculos de novo? — Daryl fala andando de um lado para o outro, irritado (como sempre).

— Mas é a vida de um jovem! — exclama Dale — E ela vale mais do que uma conversa de cinco minutos!

— Quanto mais tempo for gasto discutindo o destino daquele garoto, pior vai ficar a situação! Mal consigo imaginar o que deve estar passando pela cabeça de Randall — falo tentando conter a minha raiva e nojo.

— Foi nisso em que chegamos? Vamos matar alguém por que não podemos decidir o que fazer com ele? Vocês o salvaram! E agora olha para nós — Dale continua falando — Ele foi torturado e vai ser executado! Como somos melhores do que essas pessoas que estamos com medo?

A sala adentra em um silêncio mórbido. Todos pareciam envergonhados com a situação, quietos e enojados com o que acabaram de falar. Sujos por conta da escolha que tomaram. Dale permanecia profundamente irritado com tudo o que estávamos discutindo, mantendo-se fiel ao seu ponto de vista.

— Todos nós sabemos o que precisa ser feito... — fala Shane, sem nem piscar.

— Não, Dale estão certo. Nós não podemos deixar pedra sobre pedra aqui. Temos a responsabilidade… — Rick tenta falar mas Andrea o interrompe.

— Então, qual é a outra solução?

— Deixe Rick terminar de falar, Andrea — diz Lori, impaciente.

— Não! Nós não chegamos a uma única opção viável. Gostaríamos que tivéssemos… — a loira tenta esclarecer o seu ponto de vista mas é interrompida por Dale.

— Então, vamos trabalhar nisso!

— E estamos! — Rick exclama, acho que se pudesse, ele socaria a parede de tão estressado que estava.

— Parem! Parem com isso — pede Carol com a sua cabeça apoiada entre as suas mãos — Eu estou cansada de todos discutindo e brigando. Eu não pedi isso. Não podem nos pedir para decidir uma coisa assim! Por favor, decidam. Qualquer um de vocês, mas me deixem fora disso…

— Não falar disso ou você escolher matá-lo não faz diferença, você sabe disso, não sabe? — diz Dale, a olhando nos olhos.

— Tá bom, já chega! — Rick fala, cansado, repousando os dedos em suas pálpebras — Se alguém quiser falar antes de tomarmos a decisão final pode falar!

Todos ficam em silêncio, encarando um ao outro. Hershel segura a minha mão e aperta, consolando-me. Eu não sabia o que dizer e Dale parecia ofendido com o meu silêncio. Sentia os olhos azuis de Daryl me analisando, esperando algum momento de fraqueza, esperando que eu quebre. Permaneço cabisbaixa, com o meu pai passando a mão no meu cabelo.

— Uma vez você disse que não matamos os vivos... — fala Dale tentando reanimar o diálogo.

— Bom, isso foi antes dos vivos tentarem nos matar! — retruca Rick.

— Mas você não vê? Se fizermos isso, as pessoas que éramos, o mundo que conhecíamos estará morto! E esse novo mundo é feio. É bruto. É a sobrevivência do mais apto e é um mundo no qual não quero viver! — diz o velho — E não acredito que nenhum de vocês quer! Não pode ser! Por favor! Vamos fazer o que é certo! Não tem ninguém que vai ficar do meu lado?

— Ele está certo… Nós devemos tentar achar outra maneira! — diz Andrea, se aproximando de Dale.

— E mais alguém? — Rick pergunta olhando para cada um de nós

O ambiente retorna ao silêncio ensurdecedor de antes. O ar parecia veneno, entrando em meus pulmões como fumaça, queimando-me por dentro. Queria gritar, xingar alguém, fugir.

Antes que a decisão pudesse ser feita eu me levanto e caminho para longe de tudo e de todos. Pego meu arco e flecha e me distancio da casa. Eu não faria parte dessa escolhe, me recuso a escolher um lado. Escolher entre a vida ou a morte de Randall é errado demais. Me deixa enjoada só de pensar no dia da sua execução. 

Mesmo sendo ex-combatente nunca me acostumei com a ideia de matar alguém. Quando estava na guerra fiz poucas vítimas, em comparação ao meus colegas de trabalho, e todas as dezoito mortes que causei deixaram marcas. Não me orgulho do que fiz. Ainda tenho pesadelos por conta disso.

Com Randall não é diferente.  

Vou para a floresta, sabia que era perigoso de noite lá, mas preferia está envolta de árvores, animais selvagens e zumbis do que passar a noite naquela fazenda. Longe de Shane e suas falas venenosas que soavam como um elogio, longe dos olhares de Daryl que me faziam aquecer e longe da responsabilidade da morte de um adolescente e acabo adormecendo encostada em uma árvore. Felizmente tenho uma noite sem sonhos nem pesadelos. 

 

Sou acordada com um barulho de grito. Me levanto desesperada, quase caindo no chão. Podia muito bem ter acontecido alguma coisa com o meu pai ou com as minhas irmãs, meu coração falha. Saio correndo em direção a minha casa. Vejo Hershel e Maggie na sacada, ambos preocupadíssimos com a situação, seja lá o que estivesse acontecendo.

Meu pai corre e eu o acompanho. Vejo Dale deitado no chão com as suas tripas para fora, meio morto e meio vivo, e um zumbi morto ao lado. Meu estômago revira e eu repouso a mão em minha boca, tentando não vomitar. Meu pai não poderia fazer nada para salvá-lo, era impossível.

Nem um milagre ia ser capaz de salvá-lo.

Daryl aponta a sua arma e atira, não era mais capaz de conter o vômito e despejo no gramado o jantar que não comi.. Sinto meu coração apertar.  "E se fosse Maggie? Ou Beth?", penso "Eu estava longe, pois fui fraca, incapaz de controlar os meus sentimentos". Podia ter sido elas levando o tiro misericordioso e certeiro.

Uma lágrima solitária escorre pelo meu rosto, não posso me dar o luxo de ser sentimental nesse mundo, preciso ser forte para manter meu pai e minhas irmãs seguros. Hershel me segura em seus braços

— Calma... — ele murmura.

Limpo a boca e respiro fundo.

— Estou bem — suspiro.

Ele me guia de volta para a casa, com cuidado, me abraçando o caminho todo. Não consigo pegar no sono novamente, apensar de estar deitada em minha cama. Me levanto, enrolada em minha coberta, e sigo para a varanda. Passo o resto da noite acordada, observando o perímetro da fazenda, procurando zumbis.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! S2



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