A História Prometida escrita por Ly Anne Black, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 8
As Masmorras do Desespero




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Rony – que até onde ele sabia ainda era Westley – acordou atado à uma maca, dentro de uma câmara úmida e desprovida de janelas, e que cheirava a algo metálico e decadente. Havia um homem albino inclinado sobre ele, que Rony teria achado muito parecido com o zelador de Hogwarts, se ele não estivesse desmemoriado. O homem pressionou algo gelado contra o ferimento que a aranha fizera em seu ombro, o fazendo se encolher de dor.

— Nem pense em tentar escapar — disse o zelador albino, ao perceber que Rony despertara. — As correntes são muito resistentes. E também nem sonhe em ser resgatado, a única entrada para cá é secreta. Os únicos que a conhecem são o príncipe, o conde, e eu.

— Então vou ficar aqui até morrer? 

— Eles vão matá-lo eventualmente, sim.

— Então por que a preocupação em me curar? 

— O príncipe e o conde insistem que todos os seus prisioneiros estejam saudáveis antes de quebrá-los.

— Então eles vão me torturar — concluiu Rony, muito calmo.

O zelador albino assentiu, um brilho de felicidade no fundo dos olhos aquosos.

— Eu posso dar conta de tortura — ele disse, porque achava mesmo que podia.

O albino assentiu sem fazer caso, cutucando a ferida com mais antisséptico ardente.

— Não acredita em mim?

— Você sobreviveu o pântano de fogo, deve ser muito bravo… mas ninguém resiste à Máquina do conde.

Hermione sabia que o príncipe não pretendia poupar Rony — na verdade, ela estava contando com isso. Se ele o capturasse e mantivesse cativo em algum lugar do subsolo do castelo, como acontecia no livro, isso lhe compraria algum tempo para descobrir o que fazer.

Mas, Hermione não sabia nada sobre a tortura. Jane Granger, quando lia o livro para ela, costumava fazer uma pequena adaptação daquela parte da narrativa, para não perturbar os sonhos sugestionáveis de sua única filha.

Ela ia e voltava pelos corredores do castelo – uma versão menor do castelo de Hogwarts, cuja geografia não obedecia exatamente ao que ela se lembrava. Não importava o quanto ela se embrenhasse pelos muitos corredores, escadarias e retornos, acaba sempre voltando ao mesmo lugar: aquele corredor em que o escritório do príncipe ficava, e mais adiante, os seus aposentos, e os dele. De forma que, toda vez que ela passava pela frente de sua porta entreaberta, ele a olhava por trás da sua mesa e franzia a testa pálida.

— Ela está assim desde o pântano de fogo — disse o príncipe para o conde, quando a viu passar mais uma vez pelo corredor, como uma ratinha presa em um labirinto. — Acho que é a saúde frágil do meu pai que a está chateando.

— Naturalmente — disse o conde Riddle, sem acreditar nem um pouco, mas se importando menos ainda.

* * *

— O Rei morreu naquela noite — disse Hermione para Rose, que estava cutucando uma de suas pústulas, distraída —, e antes do anoitecer na noite seguinte, Buttercup e o príncipe estavam casados.

— Quê! — Rose protestou, esquecendo-se da ferida e arregalando os olhos azuis para a mãe. — Não pode ser! Buttercup tem que se casar com Westley! Depois de tudo que Westley fez por ela, se ela não se casar com ele, não seria justo!

— Bem, e quem disse que a vida é justa? Onde foi que você leu isso? 

— Mãe! Nem vem com essa, você está lendo a coisa errada. Lê direito!

— Então você vai me deixar continuar a história? Vai prestar atenção e parar de cutucar as casquinhas? 

— Sim — disse Rose, fazendo um bico.

— Certo, então. A princesa e o príncipe se casaram, e no dia seguinte, ele foi nomeado rei, e ela a rainha. Ao meio-dia do terceiro dia, ela desceu a escadaria do castelo mais uma vez, dessa vez para ser coroada em praça pública…

— Eu vos apresento a sua rainha, a rainha Buttercup!

A multidão na praça dessa vez era três vezes maior do que Hermione se lembrava ter sido quando ela tinha entrado no livro, há muitos capítulos atrás. Era como se não só o reino inteiro de Hogsmin estivesse ali, mas habitantes de outros reinos tivessem vindo também, para conhecer a nova rainha.

O seu vestido era três vezes mais pesado e no mínimo umas nove vezes mais desconfortável do que o anterior. Quando ela terminou de descer a escadaria, com muito cuidado para não se embolar na saia volumosa, a multidão se dobrou em reverência estupefata. Havia um silencio opressivo de respeito e admiração à sua passagem.

Desnecessário dizer que Hermione estava muito desconfortável.

Então, alguém começou a vaiar. A vaia foi ficando mais alta e mais alta, e ela viu uma mulher se aproximar, cortando caminho pela multidão, toda enrolada em xales coloridos, usando óculos de lentes grossas que faziam os seus olhos parecerem enormes. Hermione reconheceu Sibila Trelawney, agora próxima e vaiando à plenos pulmões diante dela, sem nenhuma vergonha em sua cara de libélula.

— Bem, isso não é muito gentil — disse Hermione. Será que a sua antiga e odiosa professora de Adivinhação não percebia que ela estava fazendo um esforço gigantesco, parada ali naquele vestido desconfortável, sob os olhares de todas aquelas pessoas? 

— Mas é muito do seu merecimento, rainha! Buuuuuu!!

— E o que foi que eu fiz para merecer isso? 

— Você tinha o amor em suas mãos, e dele renunciou!

— Não sei do que a senhora está falando. Rony e eu somos apenas bons amigos.  

— O seu verdadeiro amor vive e você se casou com outro! O seu verdadeiro amor a salvou no pântano de fogo e você o tratou como lixo! E é isso que você é, a Rainha da Recusa! Se querem se ajoelhar para ela, vão em frente! Se ajoelhem para ela! Se ajoelhem para a Rainha da Enganação, a Rainha do Jogo Sujo, a Rainha do Apodrecimento! Buuu! Buuu! Sujeira! Imundice! Buuu!

Ela começou a avançar em sua direção e Hermione notou sua mão de unhas bem afiadas, que mais pareciam garras. Ela recuou, mas tropeçou na saia do vestido, caiu…

E acordou, ofegante e toda suada, sozinha em seu quarto no castelo. Apavorada, ela pegou o seu robe ao lado da cama e o vestiu, correndo através da porta e pelo corredor do castelo.

Faltavam, na verdade, dez dias até o casamento. O rei ainda estava vivo, mas os pesadelos de Hermione estavam ficando piores e ela não conseguia descobrir nem como achar Rony, nem como sair do livro sem a sua varinha.

 

* * *

— Eu sabia! — gritou Rose com estridência. — Eu sabia que ela não ia casar com o príncipe com cara de doninha, eu sabia!

— Sim, você é muito espertinha, Rose Molly Weasley. Agora fica caladinha.

* * *

Hermione invadiu a câmara de repouso do príncipe Humperdraco sem bater, o que não era mesmo do seu feitio. Para a sua sorte, ele estava completamente vestido e desperto, um pouco surpreso com a sua entrada súbita.

— Escute aqui: eu sei que você capturou R… Westley e o está escondendo em algum lugar desse castelo! Eu exijo saber agora mesmo onde o colocou! Se não me disser, eu vou contar ao reino inteiro que você ainda depende da sua mãe para pentear o cabelo!

Humperdraco empalideceu e piscou, atordoado, mas logo se recuperou.

— Você não está errada, princesa. Eu tinha toda a intenção de deixar o seu amigo ir, visto que ele parece tê-la salvo de sequestradores sanguinários. No entanto, o conde Riddle precisava de uma cobaia para a sua nova criação, e como não seria eu a tocar um dedo no pirata, não achei que seria uma quebra da minha promessa a você, tecnicamente falando.

— Criação? — Hermione estranhou. — Que criação? 

— A Máquina Cruciatus. É uma tecnologia maravilhosa, alguma coisa sobre copos de sucção e dor excruciante.  A coisa toda é bem genial, mas se quiser os detalhes técnicos, vai ter que perguntar a ele.

— Ah. Eu vejo — ela sentiu o sangue fugir do rosto. Conde Riddle. É, supunha que fazia sentido.

O Príncipe Humperdraco assumiu que ela tinha terminado e voltou aos seus papeis. Hermione, que depois do fim da guerra tinha desenvolvido um pouco de piedade por Malfoy por conta do modo como ele tinha sido usado por Voldemort, estava achando difícil não associar a sua antiga raiva do garoto com aquela que sentia agora pelo príncipe. Não ajudava eles terem compartilharem da mesma cara pontuda e odiosa.  

— Príncipe Humperdraco? — Ela chamou o mais docemente que pode.

— Sim, minha amada? 

— Eu gostaria de adiantar o casamento.

— Perdão? 

— O casamento. Não vejo por que esperar dez dias inteiros. Poderíamos nos casar em dois, ao invés disso? Ou até mesmo em um dia, se se pudermos fazer os preparativos rápido o bastante. Sinto que estou pronta para ser a sua esposa. Nada deveria nos deter agora.

O príncipe Humperdraco a olhou longamente, antes de assentir.

— Vou ver o que posso fazer para adiantar os preparativos, minha cara. Agora volte ao seu quarto, está atrapalhando as minhas palavras cruzadas.

 

(Continua…)


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