A História Prometida escrita por Ly Anne Black, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 7
Aranhas de Tamanho Descomunal




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Príncipe Humperdraco e seu grupo tinha acabado de chegar onde, minutos antes, o homem de preto e Hermione haviam começado a discutir, antes de cairem ribanceira abaixo.

— Desapareceram. Ele deve ter pressentindo que eu estava me aproximando, entrado em pânico e cometido um erro. A não ser que eu esteja errado, e eu nunca estou errado, eles estão indo em direção ao pântano de fogo.

Atrás dele, o conde Riddle empalideceu. O pântano de fogo era o recôndito dos seus pesadelos. Há muitos anos, a sua face fora desfigurada naquele local terrível.  

* * *

Hermione ficou bem parada depois da queda, tentando decidir se não tinha quebrado nada. Várias partes do seu corpo ardiam e latejavam, os ferimentos fictícios um pouquinho mais reais do que ela teria imaginado.

Ao seu lado, Rony se moveu devagar com muitos resmungos, e veio se arrastando até ela.

— Consegue se mover?

Ela esticou um braço na direção dele.

— Me mover? Eu finalmente encontrei você! Se eu pudesse, sairia daqui voando agora mesmo.

— Eu disse a você que eu voltaria — ele sussurrou apaixonadamente. — Por que não esperou por mim?

Hermione abriu um olho e espiou Rony. Ele tinha tirado a máscara e ele era Rony, mas também era Westley, o amor perdido de Buttercup. Ele estava mais forte do que ela se lembrava, mais loiro, e mais velho. O Rony oxigenado diante dela devia ter vinte anos, sem falar de um bigodinho. Ela devia, é claro, ter imaginado aquilo. Westley, Weasley. O senso de humor daquele livro não tinha limites nem vergonha.

— Esperando? Eu que estive procurando por você esse tempo inteiro!

— Como poderia me encontrar se passou esse tempo todo na corte, sendo preparada para se tornar a princesa daquele odioso príncipe Humperdraco? 

Hermione se sentou, começando a se preocupar. Ele se parecia com Rony, mas falava como Westley. Aquilo não era um bom sinal.

— Rony, sou eu. Hermione. Do que está falando? 

—  Oh, minha pobre Buttercup! O que fizeram com você? Bagunçaram a cabeça para que pense ser outra pessoa, e ainda por cima não para que não me reconheça? 

Hermione se sentou no chão gramado da ravina, olhando com atenção para ele, procurando por sangue.

— Você por acaso bateu a cabeça na queda? — ela perguntou, desconfiada.

— Bati muitas vezes, mas o que isso tem a ver? Minha amada Buttercup, teria eu a recuperado só para descobrir que não posso tê-la, por que toda a sua memória do nosso amor se perdeu? Agora mesmo você me falava de um amor perdido, estava eu enganado, ou…

Mas um barulho os interrompeu e os dois olharam para cima. O vulto da cavalaria do príncipe era visível se aproximando, e embora eles não pudessem alcançá-los ali sem cair ravina abaixo, não significava que não pudessem achar outro caminho e emboscá-los mais adiante.

— Precisamos ir andando. Me desculpe, estou confusa. Acho que foi a queda. É tão bom rever você, Westley! Achei que estava morto. Mas, se não nos apressarmos, você vai estar mesmo, basta o príncipe nos alcançar.

Ele a olhou com desconfiança. Ela não poderia culpá-lo, sabia que não estava sendo muito convincente.

Eles começaram a caminhar pela borda da ravina. Rony dessa vez segurou a mão dela ao invés de puxar, e a mão dele era grande e quente em torno da sua. Mesmo que ele não se lembrasse dela, Hermione sentiu-se aliviada de não estar mais sozinha.

Só precisavam achar a próxima saída da história. Só precisavam sobreviver até o fim daquele capítulo…

— Não se preocupe — ele disse casualmente —, mais alguns passos e estaremos salvos no pântano de fogo.

— É, soa como o lugar onde estaremos salvos.

— Você está comigo, Buttercup. Tenha um pouco de fé.

* * *

Hermione tinha um problema com o pântano de fogo. Quando ela era pequena e mãe chegava àquela parte do livro, ela pedia para que pulasse o capítulo. Ela dizia que era porque já sabia da conversa de Buttercup e Westley de cor, onde ele explicava o que tinha acontecido nos últimos cinco anos enquanto habilmente a salvava da morte iminente como se não fosse grande coisa.

O problema de Hermione não era com a conversa. Era com os R.T.D.s. Ela tinha pesadelos com eles todas as vezes. Que tipo de gente colocava coisas como aquelas num livro de crianças? 

— Não é um lugar dos piores. Não estou dizendo que quero comprar uma casa de veraneio aqui, mas as árvores até que são simpáticas… — dizia Rony com desprendimento.

As árvores as quais ele se referia eram retorcidas, cobertas de um musgo verde ressecado e suas copas densas eram tão próximas que quase nenhuma luz chegava até a passagem pela qual se esgueiravam.

Bem na frente deles e sem aviso, um vulcão flamejante explodiu do chão e Hermione, que já estava esperando por aquilo, recuou rápido, preferindo não morrer queimada se pudesse evitar. Rony, logo atrás dela, a segurou quando ela se chocou contra ele, para que os dois não caíssem no chão lamacento do pântano. Ela teve o primeiro encontro com o peito duro de músculos dele e ficou um tantinho impressionada.

— Bom reflexo — ele disse, com a voz falsamente animada. — Como é que você sabia…

A próxima explosão de chamas aconteceu bem ao lado deles e dessa vez os pegou despreparados. Num rápido reflexo, Rony girou os dois para longe do fogo, agarrando-a pelos ombros e a guiando-a para a segurança detrás do tronco de uma árvore.

— Não precisa ficar me salvando — ela reclamou, irritada por ter sido movida como uma boneca de pano. — Eu posso me cuidar sozinha!

— Está com raiva de mim, Buttercup? Fiz algo que a irritou, minha amada? 

Que tal ficar preso dentro de um estúpido livro de contos de fadas, perder a memória e fazer com que eu precisasse entrar para resgatá-lo? 

— Não, Ron– Westley, não é nada. Só estou processando tudo. É melhor continuar andando, eu suponho, antes que viremos churrasco.

Ela não ia mentir, no entanto — estava um pouco impressionada. Rony tinha passado o que, menos de uma hora dentro do livro e de repente lá estava, todo habilidoso, exímio em escalada, esgrima e trapaça, confiante e até um pouco arrogante das suas habilidades. Não fosse por aquele bigodinho e o cabelo loiro… Rony era um ruivo muito melhor do que qualquer outra coisa.

— …quando eu disse antes sobre o “por favor”, era verdade, sabe? Meu pedido para viver intrigou o pirata Mosmordre, do mesmo modo que o intrigou a minha descrição sobre a sua beleza.

Eles estavam passando por vinhas cheias de dentes, que podiam muito bem ser carnívoras. Enquanto falava, Rony esticou um braço para cuidar que Hermione não encostasse nelas, mesmo que ela já as tivesse visto e já cuidasse para não se aproximar muito.

— …finalmente o pirata Mosmordre tomou uma decisão. Ele disse: “tudo bem, eu nunca tive um assistente. Você será o meu assistente esta noite, e então eu o matarei pela manhã”. Por três anos, ele disse isso. “Boa noite, Westley, Bom dia, Westley. Bom trabalho. Durma bem. Eu provavelmente o matarei de manhã.” Foi um tempo bom para mim, aprendendo a velejar, lutar… qualquer coisa que me ensinassem. Mosmordre e eu nos tornamos bons amigos. Quando ele resolveu se aposentar, foi mais do que natural que eu tomasse o seu lugar. É claro, eu disse a ele que quando ficasse bem rico ia ter que deixar a pirataria para achar você...

— Rony, escute. Eu sei que isso tudo parece muito real para você agora, mas isso é porque se deixou levar pela narrativa. Você precisa se lembrar de quem é, pois vamos ter que sair desse livro antes que o próximo capítulo comece. Se entrarmos no terceiro ato, não vai mais ter com–

Hermione foi tragada pelo chão. A sua boca ainda aberta foi preenchida de areia fina, bem como os seus olhos e os seus ouvidos, e ela começou a afundar devagar. Em sua pressa para trazer Rony de volta à razão, ela tinha se esquecido da areia nevada. Uma vez tragada por um buraco de areia nevada, podia-se afundar infinitamente. A morte por asfixia vinha rápido, e o corpo –mais tarde os ossos secos – flutuariam no bolsão de areia no subsolo para toda a eternidade.

Era difícil se mover, mas Hermione tentou, fazendo um esforço enorme para alcançar a varinha. Que se danasse a droga do livro, ela não pretendia passar por uma experiência de quase morte novamente! Vai ter que ser um feitiço não-verbal, pensou, a mão tateando para encontrar o bolso do vestido através da areia, a respiração bem presa para não correr o risco de aspirar aquela coisa.

Ela finalmente agarrou a varinha e se decidiu por um Vingardium Leviosa. Flutuaria de volta ao nível do chão e acharia o buraco pelo qual caíra. Ela se concentrou, e então…

Um braço firme se enrolou em torno da sua cintura como um tentáculo, e ela se viu sendo puxada para cima. O braço que a salvava empurrou a ponta da sua varinha, que escorregou da sua mão. Hermione ainda tentou alcançá-la, se debatendo contra o agarro firme, mas continuava sendo puxada para longe.

Tentou gritar, mas a boca se encheu mais ainda de areia, e então a sua garganta. Sufocando, ela se deixou ser puxada de volta para a superfície, voltando ao ar azedo do pântano, tossindo por oxigênio. Rony a ajudou a se sentar contra uma árvore e ofereceu um lenço para ajuda-la a limpar a areia do rosto, olhos e boca.

— Você não tem ideia do que acabou de fazer — ela disse, chorosa, tentando se livrar da areia fina que se infiltrava por cada parte do seu rosto. — Agora nunca vamos sair desse livro idiota!

— Não, querida Buttercup, não se preocupe, ainda haveremos de suceder. Vamos, levante-se.

Hermione deixou-se levantar, lançando um olhar triste para o buraco de areia nevada. Sem a sua varinha, não tinha esperanças de sair do livro mesmo que achasse um dos portais. Diabos, eles podiam muito bem ficar presos ali para sempre… não ceda ao pânico, não ceda.

 

Foi quando ela viu as criaturas… mas não eram R.T.Ds – Ratos de Tamanho Descomunal. Eram A.T.Ds… duas, três… vinte e oito. Estavam cercados.

— Aranhas de Tamanho Descomunal — sussurrou Rony do lado dela, se enrijecendo. Ele recuperou a espada que tinha deixado no chão, quando mergulhara para salvá-la da areia nevada.  — Fique atrás de mim.

— Ótima hora para perder a varinha, Buttercup sua tonta — Hermione resmungou para si mesma.

As ATDs pularam em cima deles todas ao mesmo tempo, com suas pernas longas e cabeludas, suas pinças estalando feito loucas e os vários olhos esbugalhados e brilhantes refletindo o terror no rosto deles.

Primeiro, Hermione viu Rony lutar com a sua espada. Do mesmo jeito que ela, ao tomar o lugar de Buttercup, adquirira a capacidade de andar a cavalo, as habilidades de Rony com a esgrima deviam ter vindo no pacote. Ainda era impressionante como ele se movia rápido e certeiro, um milésimo de segundo antes das criaturas, cortando e perfurando sem dó antes que elas se aproximassem muito.

Uma das ATDs, enorme como um touro, pulou nele vinda de cima e o derrubou no chão, cavando as pinças profundamente em seu ombro. Rony gritou e Hermione também. Ele perdeu a espada ao cair, e agora eram as suas duas mãos contra as oito patas da criatura. Ela viu o pânico tomar conta da expressão dele, quando ele foi paralisado.

Ela se deu conta de que não importava o quão bom em esgrima ele fosse agora, e o quanto estivesse convencido de que era Westley, ele ainda era Rony e ainda tinha aracnofobia.  Hermione saltou para a espada caída no chão sem pensar. Era mais pesada do que tinha esperado, mas a ergueu com as duas mãos e a cravou sem dó nas costas da aranha.

Houve um guincho terrível. A criatura então caiu de costas ao lado de Rony, as pernas recolhidas contra o corpo. Hermione se ajoelhou ao lado dele.

— Você está bem? 

— Você salvou a minha vida — ele disse com a voz fraca. Hermione sorriu.

— Não é a primeira vez e não será a última. Vamos, temos que sair daqui rápido, antes que o príncipe consiga fazer a volta e nos encontre na saída. Não quero correr o risco de sermos separados de novo.

— Buttercup, espere — ele tinha se levantado com dificuldade, mas não se moveu e a puxou de volta para perto, olhando fundo em seus olhos. — Você não é bem o que eu esperava.

Hermione sorriu com resistência.

— Nem você, para dizer a verdade.

Houve uma pausa e uma suave música de fundo começou a tocar ao fundo. Hermione sentiu um arrepio na nuca. Rony estava se inclinando na direção dela, e ela começou a ficar nervosa...  

— E esse bigodinho vai ter que ir, sinto muito.

Ele parou de avançar, tateando o espaço sobre os lábios.

— O que há de errado com ele? É o meu bigode de pirata…

* * *

Eles conseguiram sair do pântano, encontrando do outro lado uma praia vasta e desabitada.

— Conseguimos — ela suspirou com alívio, quase desacreditada. No livro tudo parecia tão mais fácil!

— Viu? Nem foi assim tão terrível.

Eles estavam de mãos dadas de novo. Em algum momento do final da travessia ele tinha lhe dado a mão para ajudá-la a ultrapassar raízes altas e não a tinha mais largado. Hermione deixou, mesmo que um pouquinho culpada. Se Rony não achasse que ela era Buttercup, ele não estaria fazendo aquilo. No mundo real, eles tinham voltado a ser só amigos.

— Se rendam! — gritou alguém atrás deles. Os dois se viraram, a tempo de ver a cavalaria se aproximando, o príncipe na dianteira em seu cavalo branco, o conde e os seus guardas mais adiante. E minha nossa, como ele parecia furioso. Rony se virou com deboche para o príncipe.

— Só se você se render primeiro, sua doninha albina de peruca.

— Você mostrou bravura e habilidade, cavaleiro, mas se não mostrar também o devido respeito, terei de ordenar a remoção da sua língua!

— E como exatamente vai fazer isso? Vai nos perseguir para dentro do pântano? Estávamos bem à vontade lá dentro, podemos voltar e passar um bom tempo, mas não tenho certeza se o seu amigo sem nariz vai concordar em entrar com você — disse ele, indicando o conde Riddle que, à menção de entrar no pântano para perseguí-los, tinha empalidecido.

Hermione deu uma boa olhada ao redor – estavam emboscados por todos os lados. Então ela percebeu o que Rony não havia percebido: um dos guardas apontava uma flecha para as costas dele, na altura que atravessaria o seu coração, se atirada. Ele não era o único; cada um dos guardas fora da vista de Rony tinha flechas prontas na direção dele, só esperando um comando.

Hermione não estava bem certa do que aconteceria de Rony morresse no livro, mas ela não queria arriscar nenhum desencontro. Na melhor das hispóteses ele começaria a história do zero, e eles se desencontrariam de novo. Ela bufou para si mesma: muito bem, S. Morgenstein. Parece que serei forçada a seguir o seu roteiro mais uma vez mais, seu velho sádico.

Eu irei com você, se prometer não machucá-lo — ela disse corajosamente para o príncipe Humperdraco.

— O que foi isso? — perguntou ele com prazer antecipado. Hermione sentiu saudades daquele dia em seu terceiro ano, quando tinha metido a cara na mão de Draco Malfoy. Bons tempos.

— Se nos rendermos, eu retorno com você, e você deve prometer que não machucará R– Westley.  

O olhar traído que Rony lhe lançou foi de doer. Ela se virou para ele, em tom de desculpas:

— Sinto muito, mas não posso deixar você morrer. Isso nos traria problemas muito maiores.

— Prometo que viverei mil anos sem jamais lhe tocar um dedo — disse o príncipe em voz honrosa.

Hermione deu uma última olhada para Rony – tentando lhe dizer que não se preocupasse, ela ia encontrá-lo de novo – mas ele estava devastado.

Ela deixou que os guardas a ajudassem a subir em Cavalo e a levassem para longe.

(Continua…)


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