A História Prometida escrita por Ly Anne Black, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 6
Ribanceira Abaixo




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Não muito longe dali, o príncipe Humperdraco e o seu time de resgate alcançaram Hagrik, que fez questão de parecer devidamente nocauteado pelo homem de preto. Então o príncipe Humperdraco disse algo como:

— Alguém nocauteou um gigante! Haverá grande sofrimento no Vale Diagonal se a princesa for machucada.

Mais adiante, Hermione estava feliz por não estar mais amarrada, mas tentava se livrar do agarro de aço do homem de preto em seu pulso.

— Me deixe ir, mas que droga. Eu não sou a princesa Buttercup!

— Boa tentativa, princesa, boa tentativa…

Ela pensou seriamente em sacar a varinha do bolso do seu vestido e azarar o homem de preto, mas usar magia para interromper a trama era o tipo de coisa que podia danificar o livro para sempre. Hermione não coadunava com vandalismo literário, então correu com ele por mais um tempo. Na verdade, ela logo se deu conta de que haveria, mais à frente, uma oportunidade perfeita para se livrar dele, só precisava seguir a narrativa.

Eles pararam mais adiante, quando Hermione já estava colocando os bofes para fora.

— Recupere o fôlego, princesa.

Então Hermione se concentrou em seu papel, e disse algo como:

— Se você vai me libertar… o que quer que queira como resgate… você vai conseguir, eu prometo — Porque era o tipo de coisa que Buttercup teria dito.

— E o que é que isso vale, a promessa de uma mulher? Você é muito engraçada, sua alteza.

Aquela não era a parte preferida do livro para Hermione. De fato, era onde ela começava a se indignar com o “homem de preto”. Por que ele precisava ser tão grosseiro com Buttercup? 

— Eu estava tentando lhe dar uma chance. Não importa quem você seja, não há caçador melhor que príncipe Humper… draco.

— Você acha que o seu querido amado vai salvar você? — Ele caçoou.

E ela se lembrou que, bem, ele tivera o seu coração partido, na história. Hermione suspirou, amaciando a voz.

— Eu nunca disse que ele era o meu amado. E sim, ele vai me salvar, disso eu sei — “porque ele precisa planejar a minha morte de novo”, ela completou mentalmente.

— Você admite então que não ama o seu noivo? 

— Suponho que isso seja de conhecimento e aceitação geral, e nem um pouco da sua conta — disse ela sem emoção.  

— Porque você é seca e incapaz de amar, admita — disse o homem de preto, cheio de mágoa e farpas.

Hermione tentou evitar rolar os olhos. Ela não estava sendo muito convincente e sabia disso. E agora vinha a linha mais piegas daquela história, e precisava mesmo sair da sua boca…

— Eu amei mais profundamente do que um assassino como você poderia compreender.

Ele avançou para estapear o seu rosto, mas Hermione estava preparada e recuou. O homem de preto se surpreendeu com a sua esquiva, mas não tentou de novo. Ótimo, porque ela já estava com a mão apertada em sua varinha. Personagem de livro ou não, não pretendia deixá-lo encostar uma mão nela.

— Isso foi um aviso, princesa. Da próxima vez, não vou lhe dar a chance de recuar. Há castigo para uma mulher que mente.

Longe dali – mas não assim tão longe para quem está à cavalo – o príncipe Humperdraco, o conde e os seus guardas acharam o corpo duro e gelado de Snapini. O príncipe farejou o copo e não sentiu cheiro de nada a não ser vinho tinto barato.

— Iocano. Eu apostaria a minha vida nisso. E ali estão as pegadas da princesa… Ela está viva, ou estava, uma hora atrás. Se ela não estiver quando eu encontrá-la, eu ficarei muito aborrecido.

* * *

Hermione já estava ficando cansada de ser arrastada pelo homem de preto. Estava questionando profundamente a sua decisão de entrar no livro, para começo de conversa. Devia ter entregado a coisa à McGonagall e deixar que ela viesse salvar Rony, que ela entrasse na pele de Buttercup. Quem sabe depois dessa experiência ela se livrava de Pirraça de uma vez por todas…

Eles pararam de novo à beira de uma ravina. Bem ao lado deles, a queda era de uns trinta ou quarenta metros, muito inclinada, quase que uma parede. Ela sentiu um pouquinho de vertigem e se afastou da borda.

— Descanse, alteza.

— Eu não estou cansada — ela disse com mal humor. — Só acho você bem desagradável, é só isso. Nunca gostei do seu personagem. E quer saber do que mais? Vocês dois se merecem.

— Você sabe quem eu sou? — Ele perguntou, estupefato. Hermione se recompôs. Se ela queria chegar na parte que se livrava dele e conseguia uma chance de ir atrás de Rony, era melhor seguir o roteiro.

— É claro que sei. Você é o terrível pirata Mosmordre.

Ela pretendera falar “terrível pirata Roberts”, que era como o pirata no livro se chamava, mas acabara falando ‘Mosmordre’ sem querer. Isso era porque, como parte do encantamento do livro – certas coisas tomavam nomes familiares para ela, de acordo com experiências passadas. Por exemplo, o pirata cujo nome ela deveria temer na vida real tomara o nome de algo que ela relamente temia – a marca negra de Voldemort.

— Com orgulho — o peito dele se estufou. Era um peito e tanto. Hermione tinha reparado, é claro, que o homem de preto correspondia à descrição do livro com perfeição, o que significava um corpo esguio, porém ágil, musculoso, porém flexível, e uma cabeleira loira escapando por baixo da máscara. — O que posso fazer por você? 

Ea não pôde se lembrar da exata resposta de Buttercup, mas ela sabia onde aquela discussão estava indo, então fez o seu melhor:

— Acho que já fez o suficiente. Você matou o meu amado.

— É possível, matei um monte de gente. Como ele se parecia? Outro príncipe pálido, irritante e com cara de doninha? 

— Não — Hermione olhou nos olhos dele. Eram azuis e interessados. — Um ajudante de fazenda. Pobre e perfeito, cujos olhos pareciam o mar após a tempestade.

Ela não tinha realmente pensado naquelas palavras. Talvez a personagem estivesse mesmo tomando o controle. Era um perigo das narrativas imersivas, entrar demais na personagem e começar a sentir as coisas dentro de sua própria pele.

No alto mar, o navio em que ele estava foi atacado e o pirata Mosmordre nunca deixa prisioneiros vivos.

Hermione teve um calafrio de premonição. Se o seu nome de pirata era Mosmordre, poderia o homem de preto ter tomado a forma de… Voldemort? Ela nunca tinha visto Voldemort antes de ele se transformar em um monstro sem nariz e de olhos vermelhos, mas Tom Riddle podia muito bem ter sido loiro com olhos azuis tempestuosos e voz uma rouca. Harry tinha dito uma vez que ele era bonito…

Mas que tipo de livro doente era aquele, que faria um monstro da vida real ser um mocinho do seu conto de fadas?

— Eu não posso fazer exceções — explicou o homem de preto com praticidade. — Uma vez que escape que o pirata Mosmordre amaciou, as pessoas começam a desobedecer, e o que era diversão trabalho, trabalho, trabalho o tempo todo…

— Não caçoe da minha dor — Hermione retrucou, se empertigando, abalada. Abalada de que talvez Tom Riddle estivesse debaixo daquela máscara, porque mesmo sabendo que era só um livro, a possibilidade ainda enrolava o seu estômago.

— A vida é dor, princesa. Quem quer que diga ao contrário está tentando lhe vender alguma coisa. Eu lembro desse seu garoto da fazenda. Isso foi o que, cinco anos atrás? 

Hermione deu de ombros, desgostosa. Aquela cena estava se arrastando, mas o homem de preto ainda não estava perto da borda da ravina atrás dele.

— Ele morreu bem, sem muito drama. Sem barganhas, sem lágrimas. Ele apenas disse “por favor, eu preciso viver”.

— É, soa como algo que ele diria — ela assentiu, abaixando o rosto e se movendo um pouquinho para a direita. Ele se moveu junto com ela, para diminuir o espaço entre os dois. Agora estava exatamente onde ela o queria.

— Eu perguntei a ele o que era tão importante em sua vida, e ele disse “amor verdadeiro”. Então, falou sobre uma garota de inigualável beleza e virtude. Só posso assumir que ele falava de você. Você deveria me agradecer por destruí-lo antes de descobrir o que você é de verdade.

— E o que é que eu sou? — Hermione quis saber para que ele continuasse falando, no fundo entendendo perfeitamente o que Buttercup tinha feito no livro e o que ela estava prestes a fazer também. Assassino ou não do seu amado, o homem de preto era muitíssimo irritante.

— A virtude da qual ele falou, sua alteza. Agora, diga-me a verdade. Quando descobriu que ele estava morto, você ficou noiva do príncipe na mesma hora, ou esperou uma semana inteira em respeito pelo morto? 

— Você tem o seu coração partido, e eu entendo o seu drama — ela disse, colocando as mãos contra o peito dele num movimento súbito. — Mas fique sabendo que isso não te dá o direito de ser um pé no saco!

O homem de preto perdeu o equilíbrio e, como ela planejara, desabou ravina abaixo. Era uma boa queda e ele saiu rolando e quicando como uma sofrível bola humana de braços e pernas.

Ele parou lá embaixo em silêncio. Hermione estava respirando muito rápido. Nunca tinha empurrado alguém de uma ravina. Era uma adrenalina e tanto. Ela ficou olhando, curiosa, para onde ele tinha parado lá embaixo. Não parecia machucado, mas estava irritado.

— O seu desejo é uma ordem, sua alteza!

Mas dessa vez a voz dele não soou nem um pouco rouca ou profunda como antes. Na verdade, soou exatamente como…

— Rony? — Hermione arfou.

E porque sabia que não estava louca, ela nem pensou duas vezes antes de se jogar ravina abaixo, primeiro tentando descer com cuidado, mas acabando por rolar desengonçadamente pelo resto do caminho, do mesmo jeito que ele tinha acabado de fazer.

(Continua…)


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