Reconstrução escrita por Gabs Germano, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 16
Natal


Notas iniciais do capítulo

Só para localizar vocês no tempo: A morte dos Potter aconteceu dia 31 de outubro. Sirius ficou 1 mês longe do mundo bruxo, o que daria no começo de dezembro. Por isso esse capítulo se passa no Natal.



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10:57 p.m.

24 de dezembro de 1981

 

Sirius estava sentado no chão, apoiado no sofá, assim como Remus. Observava as chamas da lareira com atenção. Seria o primeiro natal sem James. Deus, como aquilo doía.

A garrafa de vinho tinto estava ainda cheia e estava sobre a pequena mesa de centro. Tinha em sua mão uma taça com o liquido escuro.

― É estranho passar o natal sem James, Peter e Lily, não acha?

Os três nomes doíam dentro de Sirius, de formas diferentes, mas ainda sim doíam. Ele mirou Remus ao seu lado e apenas concordou com a cabeça, enquanto observava-o beber sua própria taça de vinho.

― Sim, Mooney. ― Concordou, voltando sua atenção para o fogo da lareira.

Havia um acordo silencioso entre ele e Remus de estarem morando juntos enquanto buscava uma casa descente e procurava um emprego. O segundo estava se mostrando uma missão bem complicada devido ao seu sobrenome. Mesmo lutando do lado correto da guerra, as pessoas ainda viam seu sobrenome ligado as trevas.

― Ano que vem espero passar o natal com Harry. ― O lobisomem comentou sorrindo e parecendo levemente animado.

Sirius ponderou o que havia sido dito, sorriu com a possibilidade. Era uma cena agradável de Harry com eles em um natal mais quente e feliz. Entretanto, todos os momentos em que incluía Remus cuidando de Harry junto com ele, suas memórias sempre o lembravam de como fora deixado para trás e que os beijos durante as madrugadas nos últimos dias sempre ocorriam e o amanhecer fazia ambos fingirem que nada estava acontecendo.

― Espero que sim. ― Comentou, ainda com os pensamentos no abandono durante a adolescência.

 

11:42 p.m.

 

Sirius abriu a segunda garrafa de vinho, enchendo sua taça imediatamente e oferecendo-se para encher a taça de Remus, que aceitou de bom grado e com o sorriso fácil – que Sirius sabia que ele ficava quando começava a ficar animado devido ao álcool.

― Você se lembra quando James nos pegou pelados no banheiro? ― Perguntou Mooney, rindo.

Sirius riu também, recordando-se da cena de James constrangido por pegar os dois pelados transando no banheiro do dormitório.

― Ele ficou uma semana sem olhar para nossa cara. ― Adicionou Padfoot, sentindo Remus se aproximar um pouco mais dele, ambos ainda sentado no chão com as pernas estendidas. ― Ele me culpou por ser depravado demais e estar tirando toda sua inocência. ― Remus gargalhou jogando a cabeça para trás, ainda com a lembrança fresca na memória.

― Nós devíamos ter sido mais cuidadosos em vários momentos.

― Ele deveria estar no treino do time de Quadribol e não no quarto. ― Sirius sentiu o peito comprimir de saudade e o sorriso ainda permanecer nos lábios pela lembrança gostosa. O sorriso apenas aumentou quando sentiu a mão de Remus parar em sua coxa, parando ali como se não quisesse nada.

Apoio a cabeça no sofá, sentindo o toque sobre o jeans e mirando o teto. Por um momento temeu perder Remus também, perde-lo da mesma forma que já havia perdido uma vez.

― Merlin, como é dolorido a ausência de James e da Lily. ― A voz de Lupin, fez com que Sirius apenas virasse a cabeça, ainda a apoiando no sofá.

O mesmo movimento foi feito pelo lobisomem, ambos sorrindo e se olhando daquela forma tão particular dos dois.

― O que você quer, Rem? ― Perguntou com a voz baixa, realmente curioso.

― Você, Si. ― Respondeu.

Seria bem simples beijar Remus ali, como em todas as noites. Mas todas as lembranças da época de Hogwarts estavam frescas e isso incluía não só as boas recordações, mas a de ser deixado também.

― Eu estou falando sério, Mooney. Faz praticamente 3 anos que você acabou o que tínhamos, sem nem olhar para trás, você me deixou naquele maldito dia em Hogsmeade como se eu não significasse nada para você.

Sirius suspirou ao terminar de falar, voltando a olhar para as chamas da lareira, balançando a taça em suas mãos. Jamais haviam tido uma conversa sobre o fim deles, mas aquilo sempre fora algo que o corroera e o fizera sofrer. Um fim de algo que ele considerava praticamente perfeito.

― Desculpa Sirius. ― Pediu, sem saber exatamente o que falar. ― Nós podemos simplesmente esquecer isso, não acha? Principalmente para o bem de Harry.

Black bufou irritado, levantando-se. Talvez tudo aquilo que estavam vivendo nos últimos dias, fosse apenas por conta de Remus querer ficar perto de Harry, nada mais que isso.

― Não precisa fazer toda essa cena, Lupin. Eu vou te deixar ajudar na criação de Harry. ― Informou. ― Só não fica levantando esperanças que não existem, pois não é o melhor momento para eu ter mais uma decepção com você.

 

00:34 a.m.

25 de dezembro de 1981

 

― Feliz natal. ― A voz de Remus fez Sirius revirar os olhos ainda observando a rua vazia coberta de neve pela janela do quarto. ― Trouxe o restante da garrafa de vinho para você.

Lupin colocou a garrafa no batente e apoiou-se no batente da janela, preferindo olhar para o pequeno quarto que ele vinha dividindo com Black nos últimos dias. Os beijos durante as madrugadas faziam seu coração disparar e as mãos tremerem. Ele tinha tanto o que falar, tantas explicações e defesas de si pelo que havia feito a três anos atrás.

― Eu sei que você está magoado comigo, mas eu tive meus motivos. ― Sentia sua voz baixa saindo e um nó na garganta se formando. ― Eu nunca me senti suficiente para você, Sirius. ― Revelou, cruzando os braços em frente ao peito. ― Você era a atração de Hogwarts. Sangue-puro, rico, sobrenome pesado...

― Tudo que eu sempre odiei em mim. Você sabe perfeitamente bem disso, Remus.

― Sim, eu sei. ― Os ombros tensos de Sirius relaxaram quando o mesmo apoiou as mãos no batente da janela. ― E mesmo assim isso faz parte de você, assim como eu ser lobisomem faz parte de mim. Eu... Eu, nunca me senti suficiente para você, além de na minha cabeça martelar o quão errado era eu namorar um garoto.

Sirius deixou uma risada irônica sair, antes de voltar a ficar ereto e pegar a garrafa de vinho em sua mão e virá-la sem cerimônia. Amava vinho, mas naquele momento queria algo mais forte para anular tudo que sentia.

― Eu sinto muito, Si, de verdade. Eu estava morrendo de medo de como seria a vida longe de Hogwarts e de como todos iriam encarar nós juntos. ― Revelou com a voz fraca.

― Eu morria de medo também, mas eu tinha James, Peter, Lily e achava que tinha você, Remus. ― Ele sentia seu coração acelerado, por finalmente estar colocando tudo que sentia em relação ao termino. ― Eu nunca me importei com ninguém, apenas com vocês, com os Marotos e posteriormente com Evans e o Harry. Isso sempre bastou para mim e eu achava que isso bastaria para você... Não a opinião dos outros.

― Para você é fácil, você sempre teve Hogwarts aos seus pés.

― FÁCIL? ― A voz elevada assustou Remus, o fazendo se virar para Sirius e o encarar frente a frente. ― Eu entrei para Gryffindor e quando voltei para casa fiquei de castigo e não era um castigo normal. Depois do primeiro ano, minha vida que já era um inferno piorou de uma forma insuportável. Você sabe de tudo isso! Você sabe que a porra do meu sangue e do meu maldito sobrenome sempre teve influência negativa e você vem falar que para mim foi fácil? Desculpa Remus, mas você viu de perto que para mim não foi nada fácil.

 

02:19 a.m.

 

Ele odiava o cheiro do cigarro que Sirius fumava, que havia adquirido aquele habito idiota logo após sair de Hogwarts. Acalmava-o, ele sempre dizia. Assim que Harry nascera, Black decidira que não podia mais fumar e todos agradeceram por aquilo. Entretanto, sentado no meio fio da rua, na neve, lá estava ele, fumando.

Remus agradeceu por pelo menos ter a temperatura acima do normal dos humanos, devido as suas condições. E mesmo com a temperatura levemente elevada, ele lançou um feitiço para manter suas roupas secas e aquecidas, antes de sentar-se ao lado de Sirius.

― Eu sinto muito, de verdade, Sirius. ― Era patético aquela cena toda dos dois, mas sabia que teria que se redimir e até implorar um pouco. As dores de Black eram sempre intensas demais, assim como ele por inteiro. ― Eu realmente me apavorei com a possibilidade de como todos iriam nos ver. Na minha cabeça martelava diariamente que eu não era suficiente para você, que fora da segurança de Hogwarts tudo seria mil vezes pior e que o que fazíamos era errado.

Sirius não respondeu de imediato, apenas tragou seu cigarro mais uma vez e soltou levemente a fumaça em direção ao nada. Deixou seu olhar se perder na forma irregular da fumaça, antes de finalmente mirar o homem ao seu lado.

― Você está falando isso tudo, por qual motivo?

― Não é por conta da guarda do Harry. ― Respondeu rapidamente, não querendo ser mal interpretado novamente. ― É que eu te amo, Pad. Você sabe disso. ― Assumiu, agradecendo mentalmente as taças de vinhos e a facilidade que os Marotos sempre tiveram de assumir que se amavam. ― Depois que James morreu, Peter nos traiu e você simplesmente sumiu, eu repensei muitas coisas. ― Era doloroso revelar tudo aquilo, talvez mais do que sua própria transformação em lua cheia. ― Eu me vi perdido, totalmente perdido. Igual você ficou. Mas eu sabia que eu tinha que continuar e que a sociedade bruxa precisava se reconstruir.

Remus sorriu quando Sirius ofereceu o cigarro para ele.

― Acalma. ― Murmurou antes de ouvir uma negação e um agradecimento, dando os ombros e tragando novamente.

― Eu ajudei algumas pessoas nessa reconstrução, principalmente no Beco Diagonal. Trabalhei em algumas lojas por lá. Sabe, eu acho que depois que todos foram enterrados, nós devíamos honrar suas memórias e prosseguir construindo um mundo melhor. ― Sirius em nenhum momento interrompeu, apenas resolveu ouvir o que ele tinha para ser dito. ― E então eu não consegui tirar você da cabeça. Eu nunca deixei de te amar, Pad... Eu sempre sofri também com minha própria decisão. Mas depois da guerra e com você desaparecido e a guarda de Harry indo para os tios, nosso passado martelava ainda mais na minha cabeça.

― Acho que você nunca falou tanto na sua vida toda, Rem. ― Brincou, enquanto apagava o cigarro na neve e ouvia Lupin soltar uma risada leve.

― Eu não estou tentando ficar com você, por querer cuidar de Harry. Eu sei que independente de estarmos juntos ou não, você vai me permitir fazer parte da criação dele.

― Então o que você quer?

― Eu quero poder recomeçar com você.

Sirius sorriu antes de tirar um pequeno pacote de chicletes trouxas no bolso da sua inseparável jaqueta de couro.

― Quer um? É chiclete de menta. ― Ofereceu, colocando um na boca e guardando assim que Remus negou com um aceno de cabeça, levemente confuso. ― O gosto do cigarro durante um beijo é ruim, por isso o chiclete.

A risada de Lupin morreu, assim que sentiu as mãos geladas de Sirius em seu rosto. Os olhos cinzas fixos em seus olhos, enquanto encostava as testas se encostavam e as respirações que faziam uma leve fumaça esbranquiçada surgir.

― Você demorou demais para perceber que era um babaca. ― Sussurrou Padfoot, sorrindo da forma que sempre causava sensações “estranhas” em Moony.

Black deslizou sua língua levemente no lábio inferior de Lupin, torturando-o como fazia na adolescência, ainda com as mãos segurando o rosto do mesmo. Quando viu-o fechar os olhos amarelados, finalmente avançou, selando os lábios dos dois. O beijo calmo logo se tornou feroz da forma que ambos gostavam. Definitivamente aquele era um Natal quase bom.


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