Rios Fluem Até Você escrita por Hanna Martins


Capítulo 7
Heróis também têm defeitos


Notas iniciais do capítulo

Fim de domingo e aquela tristeza, amanhã é segunda (chorando aqui), mas deixando a tristeza de lado, aproveitei para terminar esse capítulo, espero que gostem!



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O silêncio na espaçonave era tão palpável que Rey até o sentia fisicamente como se tocasse um grande bloco gelado que separava ela de Ben. Era a primeira vez nos últimos dois dias que ambos compartilhavam o mesmo ambiente. Desde aquela conversa que tiveram, eles não haviam voltado a se encontrar. Ben não dormira na barraca nas últimas duas noites, e ambos estavam tão ocupados com o trabalho que mal se cruzaram durante o dia. Agora estavam voltando para base da Resistência.  

— Eu.... — Rey começou a falar. — Eu acho que me excedi um pouco... 

Ela havia refletido muito sobre a última conversa com Ben. Estava fazendo tudo errado. Não poderia forçá-lo a acreditar que era seu amado Ben, a recordar-se dela.  Se agisse daquele modo só o levaria para mais longe dela e tudo o que ela mais desejava era não ficar sem ele novamente. Rose tinha razão, ela estava agindo impulsivamente.  

— Tudo bem... eu também falei coisas que não deveria — disse ele, mexendo no painel, sem olhá-la.  

Rey começou a sentir-se um pouquinho mais aliviada. Ele não parecia chateado ou irritado com ela. Isso já era algo.  

— Foi bom trabalhar com você — falou ela, tentando manter uma conversa normal com ele.  

— Igualmente — afirmou ele. — Você é uma ótima piloto.  

— Você também é um bom piloto... quando você aprendeu a pilotar? — perguntou inocentemente. Aquela era apenas uma conversa normal entre companheiros de trabalho, falava para si mesma. Não havia nada de errado em saber informações sobre seu colega.  

— Não sei... acho que desde criança, eu sei pilotar. 

— Ah... Você é de Jakku, não é? — falou ela em um tom casual.  

— Sou... 

— Eu vivi lá por muito tempo — disse ela. — Era uma sucateira.  

Os olhos de Ben foram parar nela. 

— Você, uma sucateira de Jakku?! — exclamou ele, surpreso. 

— Morpheus deve ter falado toda a minha história, a heroína da guerra, a última Jedi — adivinhou, colocando um tom irônico na voz. Aquela história da Resistência a ter a transformado em uma heroína não lhe agradava nenhum um pouco. — Mas, deve ter deixado de lado esta última parte sobre meu passado. Ninguém atribui aos heróis um passado como este. Eles sempre são perfeitos — ironizou. 

— Os heróis são pessoas que servem para inspirar as outras pessoas, acho que por isso eles devem passar a imagem de perfeitos — refletiu ele.  

— Eles não deveriam ser perfeitos, são as imperfeições deles que deveriam inspirar as pessoas, mostrar que todos podem fazer coisas, mesmo que tenham imperfeição. Essa história de perfeição é tão idiota! 

— É... mas, eles também são um símbolo de evolução. Eles inspiram as pessoas a melhorarem.  

— Por isso mesmo que eles devem ser retratados com suas imperfeições — declarou ela. — Se pessoas imperfeitas podem fazer coisas, então todos podem evoluir...  

Rey o olhou, sorrindo. Os dois possuíam vários pontos de vistas diferentes, por isso mesmo as conversas entre eles eram sempre interessantes.  

— Então, nós dois somos de Jakku... — mudou de assunto. — Isso nos torna... vizinhos de planeta — brincou ela.  

Ele a olhou com o canto dos olhos.  

— Algo assim — assentiu ele.  

— Eu cresci em Jakku, um dia pensei que nunca sairia de lá. Pensei que aquela era minha casa — falou pensativamente. — Mas, nunca foi... No fundo, eu sabia que aquele lugar nunca foi meu lar.  

— Eu... — Ben parecia ao ponto de confessar algo importante, mas ele deteve-se no meio da frase. — Chegamos — disse ele subitamente, mudando de assunto, preparando-se para a aterrisagem.  

Quando a nave fazia a manobra de aterrisagem, Rey sentiu seu estômago vacilar. Ela tinha um pequeno comitê de recepção a esperando lá embaixo. Finn. Por que tinha que encarar Finn naquele momento? Ele poderia ver Ben, não estava nenhum um pouco preparada para isso.  

— Você pode cuidar do resto? — perguntou ela, saltando do banco de co-piloto assim que a nave aterrizou.  

Ela saiu do veículo e foi em direção ao amigo. Finn a envolveu nos braços.  

— Rey! Você finalmente voltou! 

— Eu não fiquei nem uma semana fora — afirmou ela, mantendo um certo tom frio na voz. Não havia esquecido de sua última conversa com Finn, nem da pequena discussão que tiveram. Não conseguia perdoar o amigo pelo o que fizera sobre Ben, compactuando com aquela mentira que a Resistência espalhara.  

— Para mim, suas partidas sempre duram anos! — declarou Finn, ignorando o tom frio de Rey, e mantendo-a envolvida em seus braços.  

— Certo... Mas, não pense que não me esqueci daquilo que conversamos antes. 

— Rey, você ainda está zangada sobre isso? — Finn a soltou do abraço.  

— Você sabe o quanto Ben é importante para mim! 

— Por favor, Rey, não vamos discutir sobre isso, pelo menos por hoje, sim? Eu estou tão feliz de ver você!  

Ela cruzou os braços. Odiava como o amigo tinha aquele poder de mudar de assunto quando bem entendesse. Porém, ela não iria deixar aquele assunto de lado. Era sobre Ben que estavam falando.  

— Rey, não fique assim — suplicou ele. — Me conte como foi sua viagem. Foi boa? Como está a base de Mimir? Você viajou naquela nave, não foi? — disse, apontando para o veículo atrás dela.  

Rey estremeceu. Por um instante, havia se esquecido do principal ponto. Precisava tirar Finn de lá, antes que ele... Tarde demais. Ben saia da nave naquele exato momento. 

— Kylo Ren — balbuciou Finn. — Aquele é Kylo Ren? Mas... Não, ele morreu. Eu vi ele morrendo! — murmurava, atônito.   

— Finn, vamos embora! — pediu, puxando o braço do amigo. 

— Rey, o que está acontecendo aqui? — perguntava ele, recusando a ceder perante os apelos da amiga. — Ren está vivo! Vivo? Não, não pode ser.  

Ben aproximou-se deles.  

— Terminei de estacionar a nave... Já vou indo... — disse, encarando Finn que o olhava abismado.  

— General Finn! — gritou Morpheus. Rey nunca pensou que estaria tão feliz em ver o mecânico chefe. — Que honra tê-lo aqui pessoalmente! — declarou, empertigando a voz. — Yuri, por favor, leve isso para mim — pediu, entregando algumas caixas que tinha nas mãos.  

O rosto de Finn começou a voltar ao normal ao ouvir aquele nome. 

— Quem é ele? — perguntou ele para Morpheus. 

— Quem? Yuri? Ele é meu assistente — respondeu o mecânico, todo solícito.  

Finn olhou para Rey, um pouco aliviado.  

— Vamos — disse ela. — Não está na hora do almoço?  

— Claro... vamos... — respondeu, já mais calmo.  

Rey arrastou o amigo para o mais longe possível de Ben. 

 

**************************** 

— Eu disse que queria a chave Philips e não a Allen! — repreendeu Morpheus.  

— Eu não ouvi direito — desculpou-se Yuri. — Aqui — disse, estendendo a chave correta desta vez.  

Não sabia o motivo de sua mente estar dispersa naquele dia. O modo que aquele tal de General Finn o olhou... era perturbador. Ótimo. Agora os amigos daquela garota também possuíam influência sobre seu humor.  

— O quê? — perguntou ele, após notar que Morpheus havia falado alguma coisa. 

— Parece que a Resistência resolveu olhar para nossa sub-base e mandar alguma ajuda para cá — comemorava o mecânico chefe.  

Mas, aquilo não lhe despertou muito interesse.  

Ele deveria ter ligado seu alerta, pensou mais tarde, quando viu Rey Skywalker adentrando a oficina e declarando que era a nova assistente.  

— Rey Skywalker vai trabalhar aqui?! — exclamava Morpheus, maravilhado com aquela novidade. 

— É apenas por um tempo... — disse ela vagamente, olhando ao redor. — Então, por onde devo começar? — perguntou com uma voz animada. 

Morpheus se encarregou de mostrar tudo a heroína da guerra, cada mínimo detalhe, até mesmo onde eles jogavam o lixo, como se apresentasse a ela a coisa mais interessante da galáxia. Enquanto seu chefe fazia aquele pequeno tour pela oficina, Yuri se encarregou de trabalhar no motor do caça que tinha em sua frente.  

— Se você tiver alguma dúvida pode me chamar — ofereceu-se Morpheus. — Ontem, nem deu para apresentar a base para o General Finn, uma pena. Acho que ele ficaria impressionado com o que temos por aqui... 

O General Finn, Morpheus não parara de falar naquele sujeito um único momento na tarde anterior. Com certeza, seu chefe amaria limpar pessoalmente as botas daquele tal General.  

Yuri decidiu focar-se no trabalho e não no fato de que tinha um novo companheiro de trabalho. Não queria pensar que seu novo colega era Rey Skywalker. As coisas sempre ficavam estranhas quando ela estava por perto. Havia algo nela... Relembrou-se da conversa que tivera com Rey no dia anterior, estivera ao ponto de confessar que também conhecia aquele sentimento de que não pertencia a Jakku, que aquele lugar nunca fora seu lar de fato. Aquilo era algo que nunca revelara a ninguém. Aquela garota o fazia pensar em coisas que gostaria de não relembrar.  

Era melhor não pensar naquilo. Era apenas um novo colega de trabalho, só isso, não importava se era Rey Skywalker ou não. Pelo menos era o que tratava de se convencer.  

 

 


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Rey é a nova colega de Ben/Yuri, que será que ela vai aprontar nessa oficina? Finn descobrindo (finalmente) sobre algo. Será que ele vai mesmo comprar a ideia de que é apenas um "sósia" do Kylo Ren...
Agora as coisas vão ficar ainda mais interessantes hehehehehe, principalmente no próximo capítulo...