Rios Fluem Até Você escrita por Hanna Martins


Capítulo 4
 Pesadelos na noite


Notas iniciais do capítulo

Como será que anda nosso casalzinho? Digamos que eles... não vou estragar a diversão de vocês hehehehehe, divirtam-se com este capítulo ;)



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— Rey, você deve tirar umas férias — argumentava Finn, enquanto se colocava entre ela e a bolsa. 

— É só por alguns dias. A Resistência está precisando de pilotos lá em Mimir. 

— Mas, eu já tinha combinado com Poe que iria tirar férias nos próximos dias e... 

— Você pode tirar férias depois, ou pode tirar agora... ir visitar alguns planetas por aí, tem uns lugares incríveis na galáxia — sugeriu, pegando o resto de suas coisas, que estavam espalhadas pelo quarto, e jogando na bolsa.  

— Ah, Rey! Faz tanto tempo que não saímos juntos — afirmou, retirando um dos livros da bolsa dela.  

Ela ignorou os protestos do amigo. Nem mesmo a promessa mais vantajosa ou a punição mais dura a faria desistir daquela viagem.  

— Finn, estão esperando por você, a reunião já está preste a começar — interrompeu Rose os apelos de Finn.  

— Mas, já? — reclamou ele. 

— Agora — replicou Rose. — Todos já chegaram, só falta você. Você não quer deixar o Governador de Búri esperando, quer?  

Finn olhou para Rose e depois para Rey.  

— Ok. Quanto a você, Rey, me espere aqui! — disse, saindo do quarto.  

Ela lançou um olhar agradecido para Rose, que retribuiu com um pequeno sorriso.  

O amigo que lhe perdoasse, mas ela não iria esperá-lo. Jogou a bolsa nas costas e partiu imediatamente.  

 

**************************** 

Yuri preparava a espaçonave para decolar. Ele iria levar algumas peças e consertar alguns caças em Mimir, uma viagem rápida, no máximo uns quatro dias.  

— Está tudo pronto? — perguntou Morpheus, dando uma última conferida nas peças.  

— Está. Já vou decolar.  

— Espera! Esqueci de falar, a Resistência acabou de avisar que vão enviar mais uma pessoa com você. 

— Quem? — indagou, monitorando o painel de controle.  

— Um piloto... Estão precisando de pilotos em Mimir.  

Ele recebeu a notícia com indiferença. Não era o maior fã de companhia, porém, não era algo com o qual se preocuparia. Cada um faria o seu trabalho e pronto.  

— Já deve estar chegando — anunciou Morpheus, um pouquinho animado.  

Quem quer que fosse já estava atrasado. Perfeito, ganhara um parceiro que não gostava de seguir horários. Não seguir horários era uma das coisas que definitivamente estava em sua lista de “coisas não apreciadas”.  

— Desculpe pelo atraso. — Aquela voz chegou aos seus ouvidos, deixando-o perturbado. Por que tinha que ser  justamente ela? 

Ele deveria ter desconfiado da animação do seu chefe.  

— Não se preocupe com isso — falou Morpheus. — Sabemos que você é muito ocupada.  

Yuri não se atreveu a lançar um único olhar na direção de Rey. Ainda tinha em mente o encontro da noite anterior. No entanto, não queria pensar nisso. Não queria pensar no fato de que, apesar de tudo, havia ido àquele encontro. Ele manteve-se imóvel, aparentando uma indiferença que estava longe de sentir sobre a presença dela.  

— Precisa de alguma coisa? — perguntou Morpheus todo solícito. 

— Não, está tudo certo. Obrigada — agradeceu Rey.  

— Precisamos partir — disse Yuri, mantendo-se ocupado com o painel de controle. — Já estamos atrasados.  

— Certo — falou Morpheus, soltando uma risadinha. — Vou deixar vocês irem. Se precisarem de alguma coisa, estou aqui. 

Ele notou com o rabo do olho a garota se acomodando na cadeira de co-piloto. Aquela seria uma longa viagem.  

 

************************ 

Rey não conseguiu esconder o fato que passara praticamente toda a viagem lançando olhares furtivos para Ben (nunca conseguiria se referir a ele por aquele outro nome). Ele manteve-se calmo e distante, pelo menos aparentemente, durante todo o voo. Falara com ela apenas o indispensável, nada mais. Porém, ela não iria deixar se abalar por este fato. Nem mesmo a fria parede de indiferença dele iria a afastar. No entanto, não tivera muito tempo para pensar sobre aquilo, havia muito trabalho para fazer na base de Mimir.  

O corpo de Rey estava em frangalhos. Já era muito tarde da noite e ela só queria um lugar para se encostar e dormir, qualquer lugar serviria. Tivera que se conter para não se jogar no chão frio do hangar e dormir ali mesmo.  

— Não temos ainda um alojamento — explicou a simpática capitã da base, uma nautolana, com seu um metro e oitenta, pele lisa azul e de grandes olhos negros. — A base está um pouco bagunçada e não temos espaço suficiente para todos — lamentou. — Conseguimos para você uma das barracas provisórias que construímos.  

Mimir era um planeta ainda mais deserto que Jakku, nem ela mesma acreditara que aquilo era possível, praticamente sem habitantes.  

— Não se deixe enganar pela areia. Aqui fica bastante frio à noite — informou a capitã Hator, dando um casaco a Rey, após notar o quanto ela estava tremendo. — Chegamos — disse, apontando para uma das barracas improvisadas. 

As barracas eram feitas de tecido e pareciam bem pequenas.  

— Ah, como estávamos esperando apenas uma pessoa, não tivemos tempo de preparar outro local. Espero que não se importe em dividir a barraca. 

— Tudo bem — respondeu, apenas desejando entrar e dormir por umas boas horas. 

Rey agradeceu à capitã e entrou na barraca.  

— O que você está fazendo aqui? — indagou Ben, esticando o pescoço de dentro de seu saco de dormir.  

Ela não estava esperando que seu companheiro de barraca fosse justamente ele. Não mesmo. Mas... com certeza, aquilo não lhe era desagradável.   

— Precisamos dividir a barraca. Eles não têm mais lugares disponível — explicou, instalando o saco de dormir que Hator havia lhe dado. Para movimentar-se na barraca era preciso se agachar e se arrastar sobre os quatros membros.  

Ele lhe lançou um olhar vacilante, se via claramente que estava travando uma batalha interna.  

— Está muito frio lá fora — disse Rey, enfiando-se dentro do saco de dormir. — Não acho uma boa ideia dormir lá fora. — Sabia que era exatamente aquele pensamento que estava passando pela mente dele.  

— E quem está pensando em dormir lá fora? — revidou ele. — Boa noite — falou, voltando as costas para ela.  

Rey não pode evitar sorrir involuntariamente. Ele acabara de se comportar como um garotinho um tanto birrento que não gostava de perder em um jogo. E ela também não podia esconder o fato que uma sensação calorosa e deliciosa a invadia ao vê-lo ali a pouquíssimos centímetros dela. Tantas e tantas vezes desejara aquilo, ter Ben novamente perto de si. Até parecia um sonho.  

Não, aquilo não era um sonho. Ele estava ali, do lado dela. Vivo. Ele respirava novamente. Nunca conseguira apagar da memória aquela cena dolorosa, ele desaparecendo, bem diante de seus olhos, e ela não podendo fazer nada para impedir. Ele lhe escapara como água escorregando entre seus dedos.  

Acomodou-se no saco de dormir em uma posição que conseguia ver perfeitamente as costas dele. Ele estava tão perto dela. Bastaria esticar o braço para tocá-lo. Queria deslizar a mão por aqueles cabelos macios e negros. Desde o primeiro encontro deles, quando ele retirara a máscara pela primeira vez, não podia negar que aqueles cabelos longos a fascinaram. Quando os tocara pela primeira vez, teve a sensação que poderia fazer aquilo por toda a vida, não, por toda a eternidade.  

E, agora, ela ficaria ali, observando-o dormir. De certa forma, sentia-se em paz. Ele era sua díade, sua metade. Eles eram uma única alma que dividiam dois corpos distintos. Nunca poderia viver realmente, se sua outra metade não estivesse ali.   

******************** 

Despertou com os gritos ensurdecedores de Rey. Os gritos eram dolorosos, repletos de  angústia e pesar.  

— Acorde! — disse, aproximando-se dela. — Ei, acorde! — Ele tocou nos ombros dela com delicadeza. — Vamos, acorde! 

Ela abriu os olhos e atirou-se nos braços dele, agarrando-o com muita força como se nunca mais fosse soltá-lo. O corpo dela tremia entre seus braços. Ela agora parecia tão frágil e pequena. Algo dentro dele não suportava vê-la assim. Era um sentimento estranho e desconhecido para ele.  

— Está tudo bem — confortou-a, sussurrando. 

Acariciou-as costas dela como se faz com uma criança pequena. Ele tinha ajudado a cuidar por um tempo do filho de Declan. Às vezes, o garoto tinha pesadelos e corria até ele. Agora, ela parecia com o pequeno Matt depois de um pesadelo assustador. Será que ela sonhara com monstros assim como o menino?  

— Tudo vai ficar bem — reafirmou ele, sem deixar de acariciar as costas dela.  

Ela escondeu o rosto em seu pescoço, podia sentir os lábios dela roçando na pele daquela região. As mãos dela seguravam sua camisa com força, não permitindo que ele se afastasse um momento sequer.  

Os dois ficaram naquela posição por um longo momento, até os soluços dela se extinguirem e o corpo dela já não tremer tanto. 

— Desculpa — pediu ela baixinho, sem largá-lo ainda.  

— Não é sua culpa.  

Ela finalmente desprendeu-se dos braços dele depois de um momento. A pequena vela que havia na barraca iluminou o rosto de Rey, que estava bainhado de lágrimas. Pegou um pano limpo que encontrou e estendeu para ela, que o pegou-o sem olhá-lo. Notou que ela ainda tremia levemente.  

— Você quer algo, um copo de água? — ofereceu. 

Ela negou com a cabeça, enxugando as lágrimas que ainda teimavam em cair.  

— Tem certeza? — insistiu. 

A garota apenas balançou a cabeça em um sinal positivo.  

— Obrigada — falou ela, após um momento.  

— Não foi nada — respondeu ele, olhando-a.  

— Acho que devemos voltar a dormir — sugeriu ela, mantendo-se ocupada com o lenço improvisado.  

— Você quer... falar sobre o pesadelo? Às vezes ajuda... quando Matt tinha pesadelos, depois que ele falava sobre eles, sentia-se melhor.  

— Quem é Matt? — perguntou ela, olhando para ele pela primeira vez.  

— Meu sobrinho. Ele tem seis anos.  

— Ah...  

— É um garoto muito esperto — acrescentou porque por algum motivo não queria que o silêncio caísse sobre eles novamente. — Ele tinha pesadelos com bastante frequência. Sempre sonhava que um monstro o perseguia.  

— Eu também tinha muitos pesadelos quando eu era criança... 

— Acho que isso é bem comum quando somos crianças. 

— Você também tinha pesadelos quando era criança?  

— Eu... acho que sim — falou vagamente, dando os ombros.  

Ela o olhou com bastante interesse, tentando novamente ler a sua alma.  

— Como? — perguntou ela, cheia de interesse.  

— Eu... não tenho muitas lembranças desta parte da minha vida — respondeu reticente. Não queria falar que não possuía nenhuma lembrança desta parte de sua vida e nem de outras. — Acho que deveríamos dormir, amanhã temos muita coisa para fazer — disse, entrando no saco de dormir.  

Ela também escorregou para dentro do seu saco de dormir. Parecia estar bem mais calma agora.  

— Obrigada — disse ela, após um curto silêncio. — E desculpe por ter acordado você... 

— Se você tiver algum pesadelo, eu estou aqui — disse ele.  

Mesmo sem vê-la, ele podia jurar que ela acabara de lhe dar um sorriso.  

 


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Dividir o quarto, é sempre uma situação interessante. Pelo menos, a Rey gostou da (espertinha ela, hein). O que será que os aguarda nesta viagem? E Rey tendo pesadelos... ai, ai, ai, algumas coisas do passado são difíceis de serem superadas...