Rios Fluem Até Você escrita por Hanna Martins


Capítulo 5
Se beber, não use o sabre de luz


Notas iniciais do capítulo

Cheguei com mais um capítulo fresquinho para vocês! Como foi o final de semana de vocês? Aproveitaram bastante? Espero que se divirtam nesse restinho de domingo com este capítulo ;)



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Rey manejava o caça com extrema perícia. Ela dava voltas e voltas no ar, executando manobras perigosas. Pilotar para ela era como respirar, necessário e natural. Sentia-se livre no ar e longe de qualquer preocupação. E como precisava livrar-se de suas preocupações, especialmente naquele dia.  

Ben a despertara daquele pesadelo terrível. Aqueles pesadelos eram tão medonhos que quando acordava nunca se lembrava deles corretamente. O que restava a ela era o medo, a sensação de que a felicidade havia sido esvaziada do seu ser, que nada de bom havia ficado em si. Odiava quando aqueles pesadelos a invadiam. Eles lhe traziam lembranças que não desejava de maneira alguma recordar. Ela tinha nas veias o sangue de Palpatine. Parte dela sentia-se suja por isso, embora nunca admitisse isso para ninguém. Ela adotara o nome Skywalker como uma forma de purgar aquele sangue em suas veias, de se redimir diante de tudo que Palpatine fez.  

Havia também o fato de que Ben não se lembrava do seu passado, o vínculo da força não estava mais lá. Ela não conseguia alcançá-lo. Procurara nos textos jedi alguma pista sobre o que estava acontecendo, mas nada encontrara até aquele momento. Como ele voltara a vida, depois que ela falhara tanto? Por que ele continuava insistindo em tomar a identidade de alguém que não era ele?  

Ben estava vivo, isso era o mais importante no momento. Sua díade na Força vivia, embora não se lembrasse dela. Porém, ele se importava com ela. Fora ele que a despertara daquele pesadelo, fora ele que a embalara em seu peito e acariciara suas costas, lhe assegurando que tudo estava bem. Custara um esforço enorme sair daqueles braços fortes e protetores. Por todos os Jedi, como custara!  

Caminhou até sua barraca depois de deixar o último caça que testara no hangar. A noite já tinha caído e fazia um frio terrível lá fora, tudo o que desejava era um lugar quentinho para se aquecer. Não encontrou Ben lá. Ela não o vira o dia inteiro, quando acordara ele já não estava na barraca.   

— Rey, posso falar com você? — perguntou a capitã Hator, abrindo parcialmente a barraca.  

— Aconteceu alguma coisa? 

— Vamos fazer uma pequena festa hoje.  

— Festa? 

— Não é grande coisa. Vamos nos reunir perto de uma fogueira, cantar velhas músicas, enquanto bebemos e comemos. Ficaremos muitos felizes se você se junta-se a gente. 

Rey agradeceu o convite e prometeu que iria. Não estava muito a fim de festas naquele momento. No entanto, seria até que uma boa distração para seus pensamentos. Vestiu o casaco que a capitã Hator tinha lhe dado na noite anterior, calçou as botas e saiu da barraca.  

Quando chegou ao local onde estava os outros membros da Resistência, encontrou uma fogueira imensa com carnes sendo assadas em espetos de variados tamanhos. Uma canção alegre era cantada. Uma velha senhora abriu um espaço para ela sentar-se e lhe passou um cantil com alguma bebida doce e quente que nunca havia provado antes. A bebida era deliciosa e enchia seu corpo de um calor gostoso. Logo, ela estava cantando com os outros. A música era realmente contagiante.  

Ela não percebeu quando ele chegou. De repente, ele estava ali ao seu lado, olhando-a. 

— Ben! — gritou. 

— Você está bêbada? — indagou, inspecionando-a. 

— Eu? Não! 

— Então, por que está me chamando de Ben?  

— Porque este é seu nome. Como eu deveria chamar uma pessoa se não for pelo nome? 

— Eu já disse que me chamo Yuri — replicou ele, pegando o cantil da mão dela. — Não me diga que você bebeu isso? Essa é uma das bebidas mais fortes de toda a galáxia.  

— Você é Ben Solo, não adianta dizer que é outra pessoa — contestou ela. — Você nunca irá me enganar. Somos uma díade — sussurrou baixinho, como se contasse um grande segredo. — E eu já bebi coisas mais fortes.  

— Estou vendo que já bebeu — disse com um certo tom zombeteiro. — Vamos. Não quero carregar um bêbado... — Ele ajudou-a a levantar-se.  

— Mas, você gosta de me carregar! Quando nos encontramos pela primeira vez, você me carregou, mesmo que eu não quisesse. Você me carregou por toda a floresta até a sua nave. Você não me soltou nenhuma vez. Eu vi nas suas memórias você me carregando, você me segurando nos braços, não deixando ninguém me tocar. Você poderia ter me dado para os stormtroopers, mas fez questão de me carregar pessoalmente! Assim... — Ela imitou o movimento de uma pessoa embalando outra nos braços.  

— Bom para ele. Esse tal de Ben poderia gostar de te carregar, mas eu não sou ele.  

— Mentiroso — disse ela, quase tropeçando nos próprios pés. — Você está bravo comigo, não está? É por isso que está fingindo ser outra pessoa. Está bravo porque... eu fiz todas aquelas coisas. — A voz dela tinha algo de triste. — Eu sei que eu fui cruel com você. Fiz coisas... horríveis. Eu te atingi aquela vez com o sabre.... aproveitei um momento de vulnerabilidade sua. Eu escapei de você tantas vezes... eu recusei sua mão... eu... — Ela não conseguia mais falar, tropeçava em suas próprias palavras.  

Lágrimas começaram a escorrer por sua face, igual uma cascata. 

 

*********************************** 

Yuri carregava a garota em seus braços. Ela era muito leve e fácil de carregar. O rosto dela ainda estava todo molhado. As lágrimas não haviam secado.  

Ele não queria admitir, mas estava sentindo uma crescente curiosidade por aquele tal de Ben Solo. Ele não deveria ser lá muito boa coisa.  Afinal, fizera uma garota derramar aquelas lágrimas tão espessas e infinitas por ele. E havia tanta dor e angústia nas palavras dela. Que merda se parecer com um cara daqueles. Ben Solo deveria ser um babaca.  

Ela ainda se mexia em seus braços e falava palavras incoerentes. Pelo menos agora não estava chorando, uma vez ou outra até chegava a soltar uma risadinha.  

Levou a garota até a barraca e a colocou no saco de dormir.  

— Não vá, Ben! — disse ela, agarrando seu braço. — Não vá! 

— Vou pegar água para você — falou, tentando soltar o braço das mãos dela.  

— Não. Eu não vou deixar você ir! Não dessa vez. Você já me deixou sofrer demais. Fique comigo agora. Você não pode me deixar! — gritava ela, agarrando o casaco dele com violência.  

— Certo, certo — tentou a acalmar. — Só vou pegar água para você. 

— Não, você não vai. Você vai fazer como da última vez e desaparecer.  

— Tudo bem... É melhor você ir dormir... 

— Hum... — Ela começou a olhá-lo, fascinada. — Seu cabelo é tão bonito. Sempre me perguntei o que você fazia para deixar seu cabelo tão bonito assim... 

Ela começou a acariciar os cabelos dele. 

 — Tão macio! — admirou-se. — O que você usa nesse seu cabelo, hein? Aposto que deve passar horas cuidando dele. 

— Eu não faço nada — defendeu-se ele. — Meu cabelo é assim. 

Rey riu, aproximando-se ainda mais dele. O que ela estava planejando fazer? Havia um sorriso diabólico nos lábios dela.  

— Lembra daquela vez que você ficou sem camisa diante de mim. Eu fiquei pensando naquilo por semanas. Não, por meses! 

Quando ele notou, ela já tinha começado a desabotoar o casaco dele. 

— Ei! — Tentou se defender dela. — O que você está fazendo? 

— Não fique envergonhado. Eu já vi você sem roupa antes. Até queria ver mais. Aquelas calças eram tão altas, tapavam tanta coisa — Soltou uma risadinha. — Me mostra, vai! O que custa?  

— Você realmente precisa dormir!  

— Seu chato! — falou como uma garotinha. — Eu só quero ver um pouquinho assim, só um tantinho! Não seja mau. Você é sempre mau comigo! Nunca me deixa ter o que eu quero. O que custa, hein?  

— Dá próxima vez me lembre de nunca deixar você chegar perto daquela bebida novamente — resmungou, enquanto a fazia entrar no saco de dormir novamente.  

— Já sei, você vai dormir comigo hoje! 

— O quê? — gritou ele.  

— Vai sim! — disse ela, soltando uma risadinha.  

— Rey, vai dormir — implorou ele, preocupado com os planos da garota.  

— Só vou, se você dormir comigo — falou, fazendo beicinho.  

Ele suspirou. Nunca mais iria deixar Rey pegar em uma bebida quando estivesse perto dele.  

Ela riu e o agarrou, passando os braços por seu pescoço.  

— Me solta, Rey! — pediu, enquanto tentava se desvencilhar dos braços dela.  

— Não, vamos dormir juntinhos hoje! Você e eu, juntinhos a noite toda!  

Rey abraçou-o ainda mais forte. Era quase impossível sair dos braços da garota. Os Jedi podiam ser assustadores, concluiu Yuri.  

Ele notou que aquela luta era inútil. Simplesmente deixou que ela ficasse ali. Aquela seria uma longa noite. 

 

******************** 

Havia algo diferente, Rey podia sentir antes mesmo de abrir os olhos ou recuperar totalmente a consciência. Ela sentia algo quente e bom a envolvendo. Desejou ficar naquele lugar para sempre. Vagarosamente abriu os olhos. A cabeça doía e a boca estava seca. Porém, nenhuma dor foi suficiente para ocultar o impacto ao descobrir que a coisa quente e aconchegante que sentia era Ben. Ela estava deitada em seu peito e os braços dele a envolviam.  

Certas imagens da noite passada vieram a sua mente. Merda... ela passara um pouquinho dos limites e até tentara arrancar as roupas dele! Ao trazer as lembranças de volta a sua mente, desejou ter uma máquina do tempo. Como pudera fazer aquilo?  

Imediatamente saiu dos braços dele. Só desejava arrancar aquilo de sua memória e da dele também.  

— Onde você está indo? — disse ele com uma voz rouca e sonolenta.  

Por que ele precisava acordar justamente naquele momento embaraçoso? Por todos os Jedi, aquilo era vergonhoso demais. Ela falara tantas coisas para ele.  

— Eu... eu... vou trabalhar... 

— Ainda é cedo. 

— Tenho muito trabalho para fazer hoje — respondeu, arrumando sua roupa amassada.  

Rey não ousava olhar na direção de Ben. Tudo o que desejava era sair daquele lugar o mais rápido possível. Pelo menos, ele estava muito sonolento para pensar com clareza. 

— Já vou indo. Tchau — falou, abrindo a barraca bruscamente.  

Ela só queria apagar da memória cada coisa vergonhosa que fizera na noite anterior.  

 


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Notas finais do capítulo

O que acharam? E essa Rey bêbada, tadinha... ou não, né? Ela tirou uma casquinha do Ben, quero dizer, Yuri, isso tirou! hehehehehe