Rios Fluem Até Você escrita por Hanna Martins


Capítulo 3
Lembranças de um passado sem memórias


Notas iniciais do capítulo

Não disse que não demorava por voltar? Aqui está um novo capítulo com algumas novas informações sobre certo personagem... Espero que gostem.



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Aquela garota estranha estava ali novamente. O que ela queria desta vez? Não sabia o porquê, mas ela o deixa de certa forma... perturbado, irritado até. Não conseguira esquecer do encontro do dia anterior, a forma que ela tocara seu rosto, era delicado e ansioso ao mesmo tempo. E aquela expressão triste nos olhos dela... Bobagem. Estava pensando demais. Ela apenas o confundira com outra pessoa.  

— E aqui fica nosso principal caça — explicou Morpheus, que mostrava a oficina para a garota de um modo totalmente solícito, o que era um tanto inusitado, vindo de alguém como aquele sujeito. — Mantemos ele muito bem. Veja isso... essa peça foi trazida especialmente do planeta... 

A garota seguia a explicação de Morpheus com uma aparente curiosidade, ouvindo tudo, fazendo perguntas. Desviou os olhos dela, quando notou que estivera tempo demais cuidando dos passos da jovem heroína. Morpheus encarregara-se de lhe contar tudo o que sabia sobre Rey Skywalker, mesmo não sendo solicitado para cumprir este papel. Mas, ele acabara ouvindo e guardando muitos mais informações do que gostaria de admitir.  

Rey Skywalker era a última Jedi, treinada pessoalmente por Luke Skywalker e pela General Leia Organa. Ela salvara a galáxia de Palpatine. Era uma grande amiga do General Finn e do General Poe Dameron. Aliás, havia vários boatos de que ela estava envolvida com um deles. Morpheus apostava em Dameron. Claro, manter-se informado sobre a vida romântica de seus superiores era algo extremamente imprescindível para sua vida.  

— Yuri, mostre a Rey nossa mais nova aquisição.  

Ela voltou para ele aqueles grandes olhos. Por algum motivo, sentiu que deveria fugir deles, correr para o mais longe possível.   

— Tudo bem — respondeu, sem olhar para Rey. — Me acompanhe — disse, voltando as costas para ela.  

O barulho de seus pés batendo no piso frio e gelado era o único som que havia ali. Ele foi o primeiro a subir no pequeno caça, apelidado de “Ghost”. Era quase impossível que duas pessoas coubessem naquele local, mantendo seus espaços pessoais intactos. O caça fora projetado apenas para o uso de uma pessoa.  

— Os controles são um pouco diferentes dos outros caças — falou ele, apontando para o painel. — Se você quiser pode testar...  

Ele sentiu o corpo Rey quase tocando suas costas. O braço dela se estendeu em direção ao painel. Aquela posição era estranha, quase um abraço, sem nenhum toque, mas, bastava um leve movimento para se tocarem. Sentiu os músculos ficarem tensos. Por que ela precisava ficar naquela maldita posição?  

— Você que quer eu te ensine como funciona? — falou porque o silêncio era sufocante e tornava tudo ainda mais estranhamente íntimo.  

— Acho que sei como funciona — respondeu ela, mexendo em alguns botões.  

— Certo...  

Ele não ousava se mover. A presença dela em suas costas era perturbador. Não era o fato de ter uma mulher tão perto de si. Não, ele já tivera várias mulheres perto de si e nenhuma causara aquela sensação desconcertante como ela lhe provocava. Era porque era ela. Algo em seu corpo reconhecia aquele corpo. Certo, aquele pensamento fora... idiota. Ele nunca vira aquela garota antes em sua vida.  

— Preciso voltar... tenho vários caças para consertar — proferiu quase com impaciência. Não era exatamente irritação com a garota, era mais uma irritação consigo mesmo.  

Ela não se afastou dele, não se mexeu sequer um centímetro.   

— Preciso falar com você — declarou ela sem rodeios. — Me encontre hoje, naquele bar que fica próximo daqui.  

— Preciso consertar vários caças ainda hoje. Não tenho tempo — afirmou com certa rispidez na voz. 

— Sei que terá — garantiu ela sem o menor sinal de que a declaração dele a afetara. — Vou te esperar a noite toda se for preciso.  

— Eu não irei. 

— Veremos. Ficarei lá até você aparecer.  

Ela se afastou dele, saindo do caça. E ele ficou ali por um longo minuto ainda sentindo a presença dela.  

 

**************************** 

Já passara da dez da noite. Yuri consertava o último caça. Todo o seu corpo se encontrava rígido por se encontrar na mesma posição por horas. Finalmente, o motor do caça ligou. Sorriu satisfeito com o trabalho. Ele era bom naquilo, consertar coisas. Na verdade, era bom com naves em geral. Era um ótimo piloto também.  

Esticou o corpo, tentando tirar toda a tensão dos músculos. Precisava de um bom banho quente e cama. Subiu as escadas e entrou no pequeno quarto que ficava em cima da oficina. Um lugar realmente minúsculo, em que mal cabia seu corpo, uma cama, um armário, uma velha estante, uma pequena escrivaninha e uma cadeira. Antes aquele local servia de deposito para as coisas que ninguém sabia onde colocar. Ainda havia algumas caixas ali de peças das quais ele não conseguira se livrar totalmente. Preferiu ficar naquele pequeno quarto em cima da oficina em vez do alojamento. O quarto era bem menor do que os oferecidos pela Resistência, e sem todos os confortos, mas ali tinha privacidade.  

Pegou uma toalha limpa no armário, retirou o uniforme cáqui e o atirou-o no cesto de roupa suja, foi para o banheiro. Demorou quase uma hora na tarefa de retirar a graxa que havia espirrado em seu corpo, enquanto consertava um caça. Após sair do banho, seus músculos estavam mais relaxados e já não doíam tanto. Abriu o armário e escolheu calças e uma camiseta preta. Sentou-se na cama. Algo lhe incomodava.  

Já eram quase onze horas da noite. A garota dissera que o esperaria a noite toda por ele. Será que ela seria tão tola ao ponto de fazer isso? Não, ninguém era tolo a este ponto. Ela deveria ter ido embora ao perceber que ele não iria. Além disso, ele deixara bem claro que não iria. Era uma completa idiotice esperar por alguém que não iria aparecer, não era? Aquele bar não era bem frequentado... E ela ficaria lá sozinha... O que será que ela queria tanto falar com ele?  

Onze e meia. Ela já deveria ter ido embora, não era? Sim, ela fora. 

Onze e quarenta e três. Mas, ela parecia ser um tanto teimosa. Aquele lugar poderia ser perigoso, mesmo para Rey Skywalker... 

Meia noite e cinco. O que ele estava fazendo diante daquele bar era um mistério até mesmo para ele.  

Yuri entrou no bar. Não havia muitas pessoas por lá, apenas alguns bêbados barulhentos sentados em uma das mesas e ela.  

— Você veio! — exclamou Rey com um sorriso.  

— E você é uma teimosa. Quem espera por alguém que disse não viria? — falou, sentando-se na cadeira vaga diante da garota.  

— Mas você veio — contestou ela, divertida.  

Soltou um longo suspiro diante da teimosia da última Jedi.  

— Quando alguém espera a outra pessoa está obrigada a vir — sentenciou ela, olhando para ele.  

— Estou aqui — mudou de assunto. — O que você queria me falar? 

— Quer algo para beber? — perguntou, girando o copo que tinha nas mãos.  

— Nada. Eu não bebo.  

Ela tomou um grande gole daquela bebida espessa e de cor azul. Por um instante, Rey pareceu cansada e perdida. Uma garotinha.  

— Você é... — Ela lhe lançou um demorado olhar. Uma sombra de tristeza pairava naqueles olhos de avelã. — Por que está trabalhando na Resistência? 

— É apenas um trabalho como qualquer outro — limitou-se a responder. E de fato era. Nada de especial o levou até aquele emprego. Ele gostava de caças e era bom em consertá-los, apenas isso.  

— Você sempre morou neste planeta? 

— Não... eu era de Jakku.  

— Jakku? — Ela o olhou admirada, com uma careta até engraçada. — Você veio de Jakku?  

— É. 

— Você cresceu lá?  

— Eu... — Por que estava respondendo às perguntas daquela garota? Não devia explicação nenhuma a ela, aliás, não devia explicação a ninguém. — Por que você está me fazendo tantas perguntas? 

— Só queria conhecer você melhor.  

— Você ainda está pensando que sou este tal de Ben? 

— Você é Ben — afirmou, olhando diretamente em seus olhos.  

Yuri sentiu-se atordoado com aquele olhar que chegava até o âmago de sua alma. Era como se ela pudesse ler até o seu segredo mais íntimo e isso dava medo, era apavorante. Ela o deixara de certa forma vulnerável com aquele olhar. Não gostou nenhum um pouco daquilo.  

— Você está confundido as coisas — afirmou exasperado, levantando-se da cadeira. — Quanto vezes, vou precisar falar que não sou essa pessoa? Por que você é tão teimosa?  

— Porque eu sei que você é Ben — declarou com uma voz repleta de convicção, levantando-se da cadeira também.  

Ele lhe deu as costas e saiu do bar. Não havia a menor possibilidade de conversar com aquela garota. Por que ela insistia tanto que ele era esse tal de Ben? Ele era Yuri Snow, criado naquele pequeno planeta deserto chamado Jakku, que todos se recusavam a ir. Não era porque ele não tinha qualquer lembrança de seu passado que invalidava sua história. Declan, seu irmão mais velho, lhe explicara tudo quando ele acordara naquela pequena cabana sem nenhuma memória. Ele havia perdido toda a sua memória em um acidente exatamente três anos atrás.   

Tudo o que sabia sobre seu passado eram coisas que Declan havia lhe contado. Só tinha um problema, ele nunca sentira de fato que aquelas recordações pertenciam a si. Aquelas recordações eram lembranças de um passado sem memória. Vazias.  


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? E esse passado do Ben... quero dizer Yuri kkkkkk. Ele ficou todo perturbado com a presença da Rey, não é?
Ah, caso não nos vermos até o próximo ano, um feliz ano novo para todos! Desejo um ano cheio de muitas fics reylo para nós! hehehehehehe