Diversus escrita por Gabriel Lucena


Capítulo 4
Perspicaz




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O dia seguinte seguiu normalmente, Evan havia passado o dia inteiro sem surtar, mas ainda com sua mãe sempre por perto, pois havia o perigo de ter uma recaída bem pesada e assim ele voltar a fazer besteira. Isso o deixava mais triste ainda, pois estava tão acostumado com uma vida independente, a mãe indo trabalhar enquanto ele ia pra faculdade. O sofrimento também vinha da dor por ter deixado tudo para trás, seus amigos, sua ex-namorada que na época do trauma ainda estava com ele. Talvez se ela não tivesse ligado pra ele na hora que ele viu seu pai na floresta as coisas teriam sido diferentes, não é mesmo?

Evan sacudiu a cabeça tentando não pensar nessas lembranças tristes e se concentrar na música que tocava em seus fones, era "Paradise" do Coldplay, o mesmo lugar que ele desejou ir quando seu pai morreu, para dar um jeito de acabar com aquela dor, mas hoje essa opção era inviável. 

— Tá tudo  bem filho? - perguntou Mikaela, o olhando.

Ele apenas concordou com a cabeça. Mikaela então se levantou e ele também e foram caminhando até o estacionamento da clínica fonoaudiológica onde Evan estava se tratando para tentar recuperar sua capacidade de falar, mas ainda sem sucesso. Ao saírem, pararam em um sinal vermelho e Evan olhava pela janela, uma linda garota de olhos azuis e cabelos compridos esvoaçantes que balançavam com o leve vento atravessava a rua, mas nem havia notado os olhares dele, que parecia tão fascinado pela sua beleza. Ao passar pelo carro deles, a música que ele ouvia terminou e Evan pôde ouvir o som de um pneu de carro cantando e uma buzina logo atrás dele, olhou pelo retrovisor e uma caminhonete vinha em alta velocidade e com certeza não pararia a tempo. Ele também pôde ver quando a garota deu um olhar de assustada,  pois ela ia ser atropelada, então Evan novamente sentiu seus olhos ficando brancos e rapidamente tirou o cinto de segurança, abriu a porta ignorando os protestos de sua mãe e correu na  direção da garota, a empurrando para o lado a impedindo de ser atropelada pela van, que passou direto por eles e, no cruzamento, acabou colidindo com um ônibus. 

Ainda assustada, a garota olhou para Evan, que também a olhou, preocupado, querendo saber se ela estava bem. Porém, seus olhos ainda estavam brancos, o que fez ela ficar um pouco assustada e se afastar, segurando sua mochila.

— Evan, meu filho, faz isso não! podia ter se machucado sabia?  - bronqueou Mikaela, saindo do carro e indo na direção dele,  seus olhos voltaram a  ficar azuis e ele a encarou, mas ao ver o olhar de reprovação da mãe, abaixou a cabeça.

— Está tudo bem? -  perguntou um pedestre.

— Sim, estou... - respondeu a garota, se levantando.

— Ufa, ainda bem... -  Mikaela respirou aliviada.

— Seu filho... ele tem algo errado! 

— Como assim?

— Seus olhos são brancos!

Confusa, Mikaela olhou e para o rosto de Evan novamente e eles continuavam azuis.

— Não são não, estão azuis agora. - confirmou ela.

— Mas eles estavam brancos até agora! - insistiu a garota.

— Deve ter sido o susto, agora que passou você viu normal.

— É...  pode ser - ela acreditava que não, mas não podia discutir com uma desconhecida, então aproximou-se dele. - Obrigada por me salvar, quase infartei de susto.

Evan apenas fez que sim com a cabeça, sério.

— Ele é tímido? - quis saber ela.

— Não, só aconteceram uns problemas aí, mas ele está se recuperando. -  mentiu Mikaela, não querendo dar satisfações pra uma estranha.

— Ah sim, me chamo Mariana, prazer. 

— Prazer é meu, me chamo Mikaela e ele é o Evan.

— Evan de Evandro?

— Não, é assim mesmo. Ele nasceu na Inglaterra sabe? E lá esse nome é bem  popular.

— Ah tá, por isso nunca os vi por aqui antes... Vou indo, senão vou me atrasar pra aula, tchau.

E saiu apressada enquanto Evan a observava caminhar sem olhar pra trás uma única vez, nem soube como chegou no carro e não prestou atenção na bronca que sua mãe lhe deu durante o trajeto pra casa. Apenas ouvia música que tocava "Linger" dos Cranberries e pensava nela enquanto tentava entender como havia ido parar fora do carro num piscar de olhos.

                                                               ***

Horas haviam se passado, já era de noite e Evan já tinha jantado, ele já havia tomado o remédio havia algumas horas e os efeitos estavam deixando-o calmo. Ele foi tomar banho para deitar e esperar a hora de dormir, ou melhor, do sono chegar. O barulho da água em seus ouvidos o deixava mais relaxado, era uma sensação maravilhosa, o que o acalmou mais. Ao sair, já com a mesma roupa que entrou, já ia pegar seus fones quando, devido silêncio do quarto, ouviu novamente vozes vindo em sua cabeça. Ele tampou os ouvidos e tentou ignorar colocando os fones, mas não  deu tempo, logo seus olhos ficaram brancos, aquela energia que controlava sua mente e seu corpo despertaram o fazendo pegar sua jaqueta e pular a janela do seu quarto - que ficava no térreo - e correr na direção de onde as vozes vinham. Depois de alguns minutos, viu o lugar, era um bazar, estava prestes a ser fechado e uma van estava parada na frente do mesmo e de lá saíram homens mascarados e armados. Evan entendeu, era um assalto. Ele logo pôs o capuz da jaqueta e foi até o veículo e tirou os pinos que prendiam o ar dentro dos pneus e se escondeu, era questão de segundos até eles esvaziarem, então se escondeu e quando os bandidos saíram, um deles viu a armadilha.

— Ei, quem furou os nossos pneus? -  perguntou ele.

— E agora chefe? Como vamos fugir daqui? - desesperou-se outro.

— Como vamos fugir? Corram! 

E saíram em disparada na direção oposta a que Evan estava, infelizmente, mas ele logo correu até a van, subiu no teto e com um salto conseguiu alcançá-los e atacou um deles.

— Ora seu moleque! -  esbravejou o líder, apontando uma arma para ele, mas Evan o  desarmou chutando sua mão com o pé e um soco certeiro na têmpora. Outro o agarrou por trás mas ele pisou com tudo em seu pé e o cotovelo na barriga. O último também tentou, mas foi imobilizado e prensado na parede, amassando-a. Evan desferiu inúmeros socos em seu rosto até deixá-o ensanguentado e inchado, o cara  já estava tonto quando recebeu o último golpe, que o nocauteou e ele foi ao chão. O dono do bazar o  olhava incrédulo, sem acreditar em tamanha coragem, habilidade e força do rapaz de preto com capuz. Com todos os bandidos derrotados, Evan começou a ouvir a sirene da polícia acionada pelo próprio dono do bazar e correu para sua casa, ao entrar no quarto, seus olhos voltaram a ficar azuis e ele, sem entender como vestiu a jaqueta, a colocou de volta onde estava e colocou os fones e deitou, mas logo teve  uma ideia: pegou um lápis e um papel, sentou-se na escrivaninha que sua mãe tinha colocado ao lado da cama e começou a desenhar na mesma alguma coisa, só parando quando Mikaela saiu do banho.

— Oi filho, aqui seu remédio. - disse ela com os cabelos enrolados na toalha e um copo de água na mão. Evan tomou tudo e se deitou com seus fones, mas no fundo, ele sabia que havia algo errado com  ele mesmo.

                                                                             ***

Naquela mesma noite, Rebekah estava assistindo tv em seu quarto quando ouviu seu pai chegar, enfurecido.

— Que merda de noite! - dizia ele.

— O que aconteceu querido?

— Três bandidos tentaram assaltar o bazar.

— Jura? E alguém morreu?

— Não, mas não é isso que me preocupa. Prenderam os bandidos,  mas disseram que tinha um  garoto lá de preto, encapuzado, que derrubou todos eles antes de chegarmos. Isso  é um ultraje, a polícia é quem tem que derrotar bandidos e malfeitores, não um garoto qualquer! 

— Não estou menosprezando os policiais mas, que garoto corajoso! Quem era ele?

— Não sei, mas  eu vou descobrir!

 


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