Diversus escrita por Gabriel Lucena


Capítulo 2
Sofrimento


Notas iniciais do capítulo

Essa é meio que a parte dois do primeiro capítulo, mostrando as consequências do que aconteceu...



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Evan estava agora internado em um hospital psiquiátrico por recomendação da sua própria psicóloga, já que ela percebeu que seria mais difícil do que parecia tratá-lo em casa com visitas constantes.

— E então Mikaela? Como anda o meu paciente? Teve alguma evolução? - perguntou.

— Nada Senhorita Luísa, ele continua mesmo com as visitas, assim que acorda de madrugada quer continuar ouvindo música alta, eu até coloquei umas coisas para o som não espalhar por aí, mas ainda é triste para mim ver isso. - suspirou Mikaela.

— Estresse pós-traumático é normal a primeira semana é super normal isso, mas já têm mais de duas e até agora nenhuma evolução. Isso é ruim.

— É péssimo! O que podemos fazer??

— Só tem um jeito...

E essa foi a solução encontrada, assim que Evan dormiu, Luísa chegou no garoto e aplicou um sonífero bem forte e chamou seus ajudantes para colocá-lo na maca e o levar para o hospital.

— Lembre-se que a senhora deverá visitá-lo todos os dias, isso será muito importante para a recuperação dele.- pediu ela.

— Claro, vou visitá-lo sim, nem precisa mandar. Só cuidem dele por favor, eu só tenho ele depois que meu ex-marido morreu. - disse Mikaela.

 Claro, iremos cuidar sim.

Mas, essa atitude provou ser muito mais difícil do que parecia. Sem a música alta para tocar piorou o estado mental de Evan, que se debatia, gritava, pegava alguns objetos do quarto em que estava e quebrava jogando no chão ou na parede, chorava muito pois as lembranças do dia do ocorrido o faziam ficar depressivo.

— Evan, por favor, você precisa comer. - dizia um dos médicos trazendo uma bandeja de comida.

Mas Evan simplesmente socou a bandeja  jogando tudo que tinha nela bem longe e voltava a socar a parede, destruir todo o quarto e tudo mais.

— Não temos condições de continuar com esse garoto aqui Luísa, ele já nos causou muito prejuízo destruindo vários quartos! Ou você dá um jeito nele ou está despedida e ele vai pra fora desse hospital. Fui claro? - rebelou-se Marcos, o diretor do hospital e Luís assentiu.

— Dessa vez não vamos usar sonífero, apenas um calmante fraco, aí eu tento conversar com ele. - pediu Luísa e todos concordaram.

No princípio dava tudo certo, Evan ficava mais calmo, mas não se alimentava direito, quando comia, largava quase toda a comida no prato, banho só tomava de cueca e com supervisão de médicos, ou seja, apesar da lenta evolução, ainda não era mentalmente capaz de fazer as coisas sozinho.

Na entrada do mês seguinte, ele começou a frequentar sessões de psicologia com Luísa, ele era levado até a sala dela por médicos e eles o sentavam na cadeira.

— Evan, como está se sentindo? - perguntou Luísa e ele ficou quieto, a encarando. - Bom, pelo visto nada bem não é? Você se sente mais forte agora que está comendo pouco?

Luísa evitava perguntar algo sobre o ocorrido, pois havia o medo dele acabar se lembrando de tudo e surtar novamente, mas ele não esboçava nenhuma reação a cada pergunta que ela fazia, algo estava muito errado.

— Bom, então, é isso por hoje. Podem levá-lo. - pediu ela e ele novamente foi levado para o seu quarto.

Mais tarde, Mikaela chegou do trabalho e foi direto até sua sala.

— Por favor doutora, diga que ele está melhorando! - suplicou ela.

— Olha senhorita, ele ainda é incapaz de ser independente, come pouco, não consegue tomar banho sozinho, mas ao menos com os efeitos dos remédios anti-depressivos e calmantes que temos dado para ele, parece que ele agora não surta mais.

— Quer dizer que ele voltou a ser uma criança praticamente né? Quando poderá ter alta? - perguntou.

— Não sabemos, é difícil explicar, ainda mais agora que descobrimos um novo problema nele.

— Que problema? Não me assuste!

 Ele está com incapacidade de se expressar e de falar, acho que teremos que contratar um fonoaudiológico para ele. - explicou a médica.

— Como assim?

— Bom, eu tento fazer umas sessões com ele, evito fazer perguntas sobre o passado para que ele não surte, mas quando pergunto eu acabo não recebendo nenhuma resposta, ele não diz que sim e muito menos diz que não com a cabeça, só fica olhando, parado, como se estivesse hipnotizado. E quando eu ainda faço ele olhar para mim, ele não responde nada que eu pergunto.

— E o que isso significa?

— Não sei, não é normal a pessoa perder a voz e a capacidade de falar tão fácil assim. Isso não é sintoma de estresse pós-traumático. Algo está errado e precisamos descobrir.

Quase meia-noite na cidade, Evan está dormindo tranquilamente em seu quarto depois de tomar seus remédios, mas como no momento em que foi se deitar estava muito calor, acabou não se cobrindo e durante a madrugada a temperatura caiu, o que é normal em Curitiba. Na manhã seguinte, isso provou ser um peso para o jovem garoto, que ao ser visto por Luísa, parecia estar fraco, cansado.

— Evan, está tudo bem? - perguntou ela, se aproximando do garoto, ele encarava o teto com os olhos semi-abertos e cobria todo o corpo até o pescoço, seu queixo tremia. Ela pôs a mão em sua testa e percebeu. - Ai meu deus, você está com febre, deve ter pego friagem durante a noite, aguenta firme!

E logo assim que pôs o termômetro no braço dele, o aparelho indicava impressionantes 40º de febre, deixando a médica desesperada.

— Preciso da ajuda de vocês, o Evan está com febre alta e precisa de nossa ajuda! - ela disse à todos entrando na sala de espera. Apenas três puderam ir com ela e a ajudaram no procedimento para abaixar a febre do garoto.

— Agora o remédio. - disse um deles.

 Espera, se dermos o remédio para febre ele não poderá tomar o antidepressivo e poderá voltar a surtar! - exclamou o outro, desesperado.

— E o que fazemos então?

Eles refletiram por alguns segundos, tinham pouco tempo, mas como faltavam cinco minutos para Evan tomar o anti-depressivo, colocaram os dois remédios e transformaram em pó, misturando-os num copo de água e dando à ele. O garoto tomou a água tranquilamente e voltou a se deitar em sua cama, cobrindo-se, para tentar dormir. Mas, exatamente uma hora depois, deu para ver pelas câmeras em seu quarto, que ele agora estava novamente tendo alucinações, o remédio para gripe funcionava, por isso ele estava sem forças para levantar, mas o anti-depressivo não funcionava, ele tinha que ser tomado em comprimidos e não em pó, por isso, não fez efeito e agora Evan estava surtando mais uma vez.

— Sabia que não era uma boa ideia! - suspirou Luísa saindo da sala de câmeras. Ao chegar no quarto, tentou ser mais ligeira possível porque sabia que chegar perto do garoto naquele estado, era capaz de se machucar ou até algo pior. Rapidamente ela lhe deu o remédio e alterou o despertador em cima da mesinha de cabeceira, pois agora que tomara mais tarde, ele precisava despertar mais tarde para tomar os remédios. Quem não perdoou isso foi Mikaela, que ao saber que seu filho correu um grande perigo, foi tirar satisfações com todos.

— Ele podia ter se machucado sabia? Vocês são o quê? Médicos amadores? - reclamou.

— Não, somos estagiários. - disse um deles.

— Péssimos estagiários né? Pra fazerem uma coisa dessas.

— Calma Dona Mikaela, o importante é que seu filho está melhor, já demos o anti-depressivo pra ele, não tem mais perigo nenhum.

Uma semana se passou e Evan finalmente recebeu alta daquele hospital, mas teria que continuar tomando os remédios corretamente, se passasse do horário, ia dar ruim.

Mesmo incapaz de falar e sem coordenação motora, Mikaela decidiu não prendê-lo em casa, ela acreditava que se o filho saísse um pouco para respirar um ar puro, aos poucos ele melhoraria.

Logo ela conseguiu levar o filho para um fonoaudiólogo, para que ele pudesse recuperar a capacidade que perdeu de fazer várias coisas.

— Poxa, é um excelente menino, tinha um futuro brilhante pela frente, uma pena que ele esteja passando por tudo isso. - lamentou o médico.

 Mas o senhor vai ajudá-lo né? - disse ela.

— Claro que vou, ele vai conseguir.

Ele conduziu o garoto até a mesa onde ele ficaria, colocou sobre ela um caderno já escrito e sentou-se ao lado dele.

— Muito bem Evan, você não corre perigo aqui, sua mãe está aqui para lhe acalmar e eu para te ajudar, ok? - disse ele e Evan apenas o encarou, sem mostrar nenhuma reação.

 


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Notas finais do capítulo

Bem, sei que vocês devem estar ansiosos, mas prometo que no próximo o Evan já entrará em ação como um super herói, ok? Abraço!!