Amazing Grace escrita por Val Rodrigues


Capítulo 3
Capitulo Três


Notas iniciais do capítulo

Boa noite....



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Pov Manoela

Nathan estava mexendo no carro, quando eu cheguei a sua casa. Levei um tempo parada em meio ao seu jardim, enquanto minha luta interior continuava. O coração martelando no peito.  

— Manoela. _ Perguntou me olhando e se aproximou devagar, limpando as mãos. _ Está tudo bem?

— Ahn. Eu precisava falar com você. Comecei insegura, procurando as palavras. 

— Pode falar. Incentivou, quando não continuei.

Demorei alguns segundos analisando cautelosamente. "Por que ele faria isso"? Meu cérebro acusou.

— Manoela. Chamou novamente e eu o olhei.

As palavras presas na garganta.

— Por que não me disse que você estava pagando o aluguel do quarto na casa da dona Giselia? 

Questionei em um só fôlego.

— Onde ouviu isso? Ele devolveu a pergunta. 

— Ela me contou hoje.

— Isso é... _ Ele começou se interrompendo. _ Olha, isso não era importante.

— Não é importante? Como pode dizer isso? _ Perguntei confusa. _ Por que esta fazendo isso Nathan?

— Você aceitaria se eu contasse? _ Abri minha boca para protestar, sem sucesso. _ Eu sei que não, por isso não falei nada.

— Nathan tem noção do que fez? Do que ainda está fazendo por mim? Você tem me ajudado tanto e eu só...

Calei-me, incapaz de encontrar as palavras certas. O que eu poderia dizer?

— Está tudo bem Manoela. Mesmo.  Assegurou confiante. 

— Me desculpe. Eu preciso ir. Disse saindo apressada.

Por muito pouco não me abri com ele. Tomei varias respirações, me sentindo sufocada e agoniada. A verdade queimando em minha garganta, sendo vencida pelo medo.

Dona Giselia já havia saído para o seu turno da noite no hospital quando eu cheguei em casa. Era até melhor assim, seria difícil explicar o choro. 

Me joguei na cama deixando por um momento a tristeza me dominar. Eu queria tantas coisas. Mas, infelizmente, está chance foi arrancada de mim. Deixei a raiva tomar seu espaço. Talvez, fosse mais fácil viver com ela.

Levantei da cama decidida a não chorar mais por este assunto. Precisava ser forte e reagir. Foi com este pensamento que segui para o banheiro lavando o rosto em seguida. 

A campainha tocou me surpreendendo. Geralmente, as pessoas conheciam bem a rotina da dona Giselia e não apareciam quando ela estava de plantão.

Meu coração deu um salto no peito, quando meus olhos pousaram nos dele e a voz ficou presa na garganta. Ele usava outra roupa e parecia ter acabado de sair do banho. Imaginei minhas mãos passando em seus cabelos úmidos. Eles eram tão macios quanto pareciam?

— Eu posso entrar? _ Sua voz me despertou e eu desviei o olhar do seu rosto. _ Precisamos conversar.

Permaneci parada segurando a porta e impedindo sua passagem. Ele suspirou, sem jeito coçando a nuca.

— Acho que seria melhor a gente conversar lá dentro.

Com um gesto contido, indicou a vizinha que tentava disfarçar, nos observando. Respirei fundo dando passagem a ele que passou e se colocou no outro canto da sala.

Não ousei me mover, a porta fechada atrás de mim, o coração dando cambalhotas. Era a primeira vez que ficava sozinha com um homem e isso fazia meu sangue acelerar e as lembranças querendo ressurgir, por outro lado, algo me parava ali com ele. 

— Você saiu correndo mais cedo. _ Disse. _ Estava chorando? _ Perguntou me analisando. Suspirei. _ O que está acontecendo Manoela? Toda vez que te olho, sinto que preciso te proteger, mas não sei do que ou quem. E ficar no escuro desta maneira está mexendo com minha sanidade.

Ele passou a mão na cabeça, parecendo frustrado.

— Obrigada. Minha voz soou baixa. 

— O que? Perguntou confuso.

— Era isso que eu queria ter falado hoje mais cedo. Obrigada. Eu não sei por que você faria tudo o que fez por mim, mas, obrigada. Seu gesto me deu esperança, quando eu não tinha mais nada. 

— Manoela. _ Sua voz era agoniada. _ O que fizeram com você? O que houve para te fazer desistir de viver? _ Segurei a vontade de chorar. Já havia feito isso tantas vezes e não resolvia nada. _ Eu sei que é difícil para você confiar, mas eu estou aqui. Bem aqui. Por você sempre que precisar.

Estas palavras, junto ao seu tom de voz afável, derrubaram minhas barreiras que eu estava tentando construir e uma nova onda de lágrimas me inundou.

Eu não sei quem deu o primeiro passo, mas quando dei por mim estávamos abraçados no meio da sala. Enquanto ele me apertava em seus braços, não senti medo, pelo contrário, um conforto que há muito tempo não sentia, me invadiu.

— Você não vai querer ouvir. Murmurei um pouco mais calma, ainda abraçada a ele.

— Sempre vou querer ouvir o que quiser me contar. Me afastei o olhando.

— Está bem, eu vou te contar tudo. Decidi. 

 

Pov Nathan

Me sentei em um canto do sofá sem querer pressiona-la enquanto ela sentou-se na outra ponta, apertando as mãos nervosamente. Esperei em silêncio, não querendo deixa-la ainda mais nervosa, mesmo que meu coração batesse forte contra o peito. Finalmente, poderia desvendar e compreender a garota a minha frente.

— Eu estava voltando do aniversário de uma amiga. Estava um pouco tarde, mas imaginei que não teria problema já que era perto da minha casa. _ Ela parou tomando uma respiração. Os olhos enchendo de lágrimas novamente. _ Até hoje não sei bem como aconteceu, não percebi de onde veio. Chorou mais. Quis me aproximar, mas me contive, algo em seu gesto me dizia que um mínimo movimento meu e ela desistiria de falar. _ Eu senti alguém me segurar. Entrei em pânico. Quis gritar e fugir, mas não consegui. Fui arrastada para um canto do muro por perto e fui abusada. Ela chorava ainda mais. Meu sangue ferveu. Eu sabia que havia algo, mas ouvi-la contando e ver a forma devastada em que ela estava me partiu. _ Eu só queria esquecer. Não tive coragem de contar pra ninguém, me sentia suja e envergonhada. Pensei que se ignorasse, aquilo acabaria. Então eu fui para casa e tentei fingir que nada tinha acontecido. O problema é que eu não consegui e comecei a ficar doente por isso. Não conseguia comer, nem dormir, embora quisesse ficar o tempo todo trancada em meu quarto. Minha família começou a se preocupar e quando um dia eu desmaiei, eles me levaram ao médico. 

— Ah Manoela. Ofeguei. Apenas de imaginar, aquilo me arrasava.

— O médico descobriu que eu estava grávida e como eu não tinha contado sobre o que aconteceu, meu pai deduziu que eu me entreguei a qualquer um e engravidei. Ele me expulsou de casa e proibiu nossa família de ajudar. Segundo ele, a filha dele morreu naquele dia.

Agora os soluços vinham fortemente e ela não conseguia mais continuar. Sem medir qualquer consequência, eliminei nossa distância e a abracei. Ela estava quebrada e eu desejava ser capaz de colar os pedaços. De fazê-la voltar a acreditar. Apertando minha camisa entre os seus dedos, deixei que ela colocasse parte de sua angústia para fora, a envolvendo em meus braços. 

— Sinto muito. Murmurei com o choro contido no peito. _ Eu sinto muito.

Repeti a apertando em um abraço. Vários minutos depois, quando ela estava um pouco mais controlada, nos separamos. Eu por outro lado, queria descobrir quem era o miserável e faze-lo sofrer todo o sofrimento que impôs a ela.

— Nathan. _ Sua voz fraca e rouca pelo choro recente, levantando a cabeça do meu ombro e eu respirei fundo ordenando a mim mesmo para me acalmar. Não era assim que resolveria as coisas. _ Você me odeia agora? Perguntou se afastando. 

— O quê? Perguntei surpreso. Ela ficou a me olhar. _ Do que você está falando? Neste momento eu sinto muitas coisas por você, mas posso garantir que ódio não é uma delas. 

Desta vez, foi ela a me abraçar e encostar a cabeça em meu peito. Um gesto tão singelo, mas que despertou tantas coisas em mim. Voltei a abraça-la, apreciando a sensação de te-la ali, tão perto.  

— Este cara, nunca descobriu quem foi? _ Perguntei cauteloso. Ela negou com a cabeça. _ O que aconteceu depois?

Perguntei, incapaz de continuar no escuro. Ela levantou o rosto e soltou um longo suspiro.

— Eu saí sem nenhuma direção. Apenas caminhando e fui parar naquele lugar em que me encontrou pela primeira vez. Você me encontrou na calçada e me levou para o hospital. _ Acenei. _ Desculpa não te tratar bem aquele dia. Eu só estava assustada demais com tudo.

Ela pediu provavelmente lembrando que tive que sair do quarto.

— Me desculpe. Pedi também.

— Pelo que?

— Eu fiquei preocupado, mas a dona Giselia disse que o Serviço Social do hospital ia te ajudar, então eu deixei o assunto de lado. 

— Não se desculpe. Você fez mais do que deveria.

— Não. Se tivesse feito, não teríamos nos encontrado naquela situação novamente.

Ela suspirou olhando para baixo.

— Aquilo foi... errado. Eu entendo isto agora, mas na época só queria encontrar uma maneira de fazer a dor parar. 

— O que aconteceu depois que você saiu do hospital? Pensei que fosse para um tipo de acolhimento ou algo assim.

— Eu fui, mas não consegui ficar. Acho que eu não estava muito disposta a viver naquele momento, então as coisas não tinham tanta importância para mim.  

— Tudo isso agora é passado. Vamos tentar deixar onde está.

Sugeri, tentando mais convencer a mim mesmo, do que a ela. 

— De qualquer maneira preciso te agradecer, por tudo. Obrigada Nathan. De verdade.

— Não foi nada. Respondi. 

— Para mim foi. E mesmo que demore agora, eu vou te pagar um dia. 

— Não estou cobrando. _ Disse sério. Não queria que pensasse desta forma. _ Não se preocupe com isso.

— É claro que me preocupo. Eu... Parou de falar de repente.

A surpresa estampada em seu olhar. Levou a mão a barriga me fazendo notar a protuberância em seu estômago. É claro que eu já sabia da gravidez. Foi uma das coisas que a dona Giselia me alertou. Além do mais sua barriga crescia mesmo que pouco.

— Meu Deus... Murmurou baixo.

— O que foi? Está sentindo algo? 

— Eu acho que... Acho que ele chutou. Deixei o ar sair pelos meus pulmões, aliviado.

— Isto é um bom sinal, não?

— Acho que sim. Eu só... Isso nunca tinha acontecido antes.

Ela disse com um sorriso assustado nascendo nos lábios.

Sorri tentando tranquiliza-la. 

— Isso é um ótimo sinal. Disse olhando sua mão pousada ali. Quando sua mão moveu de repente, sem conseguir me contar, coloquei minha mão sobre a sua no local.

Manoela moveu minha mão, colocando direto sobre a sua barriga e eu pude sentir um leve tremor sob minha palma e um sorriso emocionado nasceu em meus lábios. 

— Nossa. Murmurei.

Ela sorriu em meio as lágrimas.

— Droga. Eu nunca vou parar de chorar? Brincou secando o rosto. A olhei.

— Manoela, você não está sozinha. Eu estou aqui, com você. Para o que precisar. 

Repeti, queria que ela acreditasse nisso, que soubesse que sempre teria alguém. Ela me olhou tão profundamente que eu quis beija-la bem ali, naquele momento.

Me ergui um pouco eliminando a distância entre nós. Quando meus lábios pousaram em sua testa eu tinha certeza que estava me apaixonando por aquela garota, da mesma forma que sabia que precisava ir com calma ou a assustaria e a afastaria da minha vida. 

— Eu preciso ir agora. Tenho plantão duplo amanhã cedo, então preciso dormir um pouco. Expliquei. Não queria deixa-la, mas se continuasse ali não tinha certeza se podia me segurar. 

— Certo. _ Murmurou. _ Eu vou te levar até a porta.

Acenei concordando e caminhamos em silêncio. 

— Você vai ficar bem? Perguntei,  quando ela abriu a porta para que eu saísse.

Ela acenou concordando.  Suspirei sem muita certeza, me obrigando a me despedir.

Minha casa não era tão longe, então optei por fazer o caminho de volta a pé. Precisava racionalizar tudo o que descobri. 

Por um lado, odiava o que havia lhe acontecido. Pelo outro, gostava da sensação de saber que ela confiara em mim para contar algo tão pessoal. 

Não consegui dormir. Sempre que fechava os olhos meu cérebro criava imagens me pregando peças. Levantei assustado da cama. Suspirei. Quatro e vinte da manhã. Conformado, resolvi tomar um banho. Ficar na cama estava impossível. Aproveitei o tempo extra para correr e espairecer a mente.

Após outro banho segui para o quartel de Bombeiros. Trabalhava lá há quatro anos desde que voltei para esta cidade, para total deleite da minha mãe, e até então estava contente com o meu trabalho.

Durante meu turno, me obriguei a me concentrar a cada chamada, não podia me dar ao luxo de distração ou a alguém poderia pagar com a vida por um erro meu. 

Mas quando, na manhã seguinte, encerrei meu plantão, tudo o que queria era ve-la novamente, mesmo estando exausto. 


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Notas finais do capítulo

E agora gente? Será que anda este relacionamento?



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