Amazing Grace escrita por Val Rodrigues


Capítulo 2
Capitulo Dois


Notas iniciais do capítulo

Tudo bem com vocês? Mais um capitulo...



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Pov Nathan

Apertei sua mão gélida enquanto a ambulância corria pelas ruas da cidade. Olhei seu rosto com o oxigênio, os olhos fechados, a expressão sofrida e pesada. Do outro lado, um paramédico verificava seus batimentos, com os olhos atentos e mãos ágeis.

Assim que chegamos ao hospital, ela foi levada pela equipe, e eu fui impedindo de continuar ao seu lado. Incapaz de ficar sentado, fiquei a caminhar pelo corredor tentando me acalmar, torcendo para receber noticias.

— Nathan. _ Dona Giselia chamou, se aproximando de mim. _ O que esta fazendo aqui?

— A senhora disse que o hospital estava cuidando dela. Que iam ajuda-la. _ Meu peito subia e descia e, eu respirei fundo sabendo que não poderia descontar nela minha frustração. _ Não funcionou Dona Giselia. 

Sua expressão tornou-se séria.

— Do que é que você esta falando?

— A garota. Ela quase caiu de uma ponte hoje. Seus olhos arregalaram-se, perplexa.

— Como ela esta?

— Eu não sei. Eles a levaram e me impediram de entrar.

— Tudo bem. Me escute. _ Pediu pondo a mão em meu ombro e só então notei que havia recomeçado a andar. _ Vou entrar, ver como ela esta e trago noticias. Tente ficar calmo.

Acenei concordando. A passos rápidos, ela adentrou pela mesma porta onde anteriormente a garota tinha passado. Sentei-me em um dos bancos ali e orei. Orei com todas as minhas forças. "Por favor, Senhor, que ela fique bem."  

— Nathan. _ Ergui a cabeça me pondo de pé em um sobressalto. _ Ela vai ficar bem.

— Vai ficar? Perguntei estranhando e ela me olhou.

— Ela precisa de ajuda Nathan. Não sou psicóloga, mas de longe posso ver que ela esta despedaçada. Explicou. 

— Eu sei. Vou cuidar disso. Disse decidido.

— O que vai fazer? Você nem ao menos a conhece. Ela perguntou preocupada.

— Ainda não sei, mas não posso simplesmente deixa-la aos cuidados hospital pela segunda vez. _ Disse ela baixou o olhar acenando. _ Posso vê-la? Só um pouco. Insisti quando ela abriu a boca para dizer algo.

— Eu ia dizer que ela me pediu para te ver. _ Espantado, a encarei de volta. _ Venha, vou te dar um crachá de visitante.

Caminhamos em silencio. Ansioso, passei pelas macas onde pessoas permaneciam em observação. Ergui a mão, afastando a cortina. Ela estava deitada, enquanto um soro caia lentamente em seu braço. Não usava mais o oxigênio e de certa forma, respirei um pouco mais aliviado. Foi horrível vê-la tentar respirar sem conseguir.

Avaliei seu rosto notando a palidez e as olheiras roxas logo abaixo dos olhos.  O que poderia ter acontecido para fazê-la desistir da vida ainda tão jovem?

Ela abriu os olhos e me encarou. Aqueles mesmos olhos que sempre voltavam a minha mente.

— Oi. Disse ainda parado no lugar. Da ultima vez, ela se assustou com minha presença e não queria que o mesmo acontecesse agora.

— Oi. _ Sua voz um pouco rouca. _ Obrigada por vir.

— Como você esta se sentindo? Perguntei finalmente me aproximando e ela desviou o olhar.

— Bem. Respondeu em um fio de voz. Acenei concordando.

A ultima coisa que ela estava no momento era bem e eu sabia disso. Um passo de cada vez Nathan. Lembrei a mim mesmo.

— Manoela? _ Perguntei olhando a identificação acima de sua cabeça. Ela concordou em um aceno. _ Sou o Nathan. _ Estendi a mão que ela tocou fracamente. Seu toque suave e macio.

— Obrigada Nathan. Por me ajudar, as duas vezes. A olhei.

— Sempre que precisar Manoela. Disse e ela baixou o olhar soltando nossas mãos. _ Não se preocupe. _ Comecei quando o silêncio nos envolveu. _ Vai ver que tudo vai melhorar.

Garanti e ela me olhou sem muita convicção. Ainda assim, um sorriso fraco surgiu em seus lábios.

—Obrigada. Repetiu.

Ainda permaneci ali, com ela por mais alguns instantes.

Estranhamente, sentia necessidade de abraça-la, de protegê-la do que quer que a atormentasse.

— Por que não descansa um pouco? Sugeri e ela acenou concordando, voltando a deitar a cabeça no travesseiro. 

...........................

— Desculpa a grosseria mais cedo. Pedi tomando um gole do café quente.

— Sua mãe surtaria se te visse daquela maneira. _ Dona Giselia brincou e eu baixei o olhar envergonhado. _ Esta tudo bem Nathan, eu entendo, você estava nervoso. E de certa forma estava certo quando disse que ela não recebeu o apoio que precisava.

— Sobre isso, posso pedir mais um favor?

— O que?

— A senhora esta alugando um quarto nos fundos da casa, não esta?

— Sim. Por que? Devolveu a pergunta, fixando os olhos em mim. Olhar este que sustentei, torcendo para que ela encontrasse em meus olhos, a resposta que eu não conseguia formular em palavras. 

— Alugue para mim. _ Pedi notando a confusão em seu rosto. _ A senhora disse que o Hospital a encaminhou para ajuda social.

— Sim, eu mesma cuidei disso. _ Confirmou. _ Ainda não sei por que ela não procurou e Centro de acolhimento. 

— É obvio que ela não tem para onde ir, e acho que se tiver que voltar para onde estava, não vai ser bom para ela, então alugue o quarto, eu cubro as despesas. Pedi angustiado e com medo de que ela tentasse novamente.

— Acha que ela vai aceitar?

— Diga a ela precisa de ajuda com a casa e em troca ela pode alugar o espaço. Eu cubro as despesas. Expliquei ansioso. 

— Nathan, por que esta fazendo isso? Você mal a conhece. Ela repetiu sua pergunta anterior. Em suas palavras não haviam criticas. Apenas preocupação.

 _ Os olhos dela. _ Refleti sendo o mais honesto que conseguia. _ Eles pedem ajuda, mesmo que ela própria não seja capaz de pronunciar. Não posso negar dona Giselia, fiz isso uma vez, se tivesse acontecido o pior hoje...

— Esta bem. Vou conversar com ela e ver o que consigo fazer.

— Convença a aceitar, por favor. Ela acenou concordando.

— Sei que quer ajuda-la, mas tome cuidado. Você ainda não sabe nada sobre ela, e casos assim, geralmente não são fáceis.  Seu tom tinha um aviso implícito. Acenei concordando.

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Pov Manoela

— Então?  Dona Giselia perguntou abrindo a porta do quarto e me dando passagem para eu entrar. _ O que achou?

— Dona Giselia, é lindo. Impressionada, vasculhei o quarto com os olhos.

— Minha filha se mudou para cursar a Faculdade de medicina e desde então, ele esta vazio. Por isso, decidi aluga-lo.

— Eu agradeço por pensar em mim, mas no momento, nem que eu quisesse, teria condições de pagar um lugar.

— Eu sei. E é por isso que eu tenho uma proposta para você. _ A olhei curiosa. _ Eu trabalho no Hospital mais tempo do que fico em casa, e sempre preciso me desdobrar para manter a limpeza, a organização, as roupas, enfim, tudo em ordem. Que tal se você me ajudar com isso, e ficar com o quarto em troca? _ Sua voz soou brincalhona quebrando um pouco a tensão que se instalara ali. _ Garanto a alimentação e uma cama quentinha.

— Eu não sei o que dizer. Confessei.

— Apenas diga que aceita. As coisas vão se ajeitar.

Suspirei emocionada. Aquela mulher mal me conhecia e estava abrindo a sua casa para mim.

— Obrigada Dona Giselia. Eu aceito. Decidi.

— Ótimo. Agora que tal um banho? Aposto que vai se sentir melhor. 

— Seria bom. Ponderei. Meu sorriso morreu quando percebi que não tinha uma única peça de roupa sequer para me trocar.

Notando minhas feições, ela caminhou ate o guarda roupa no canto do quarto e voltou com varias peças na mão colocando-as sobre a cama.

—  Acho que elas podem servir. Vocês duas tem quase o mesmo tipo físico.

— Sua filha não vai se importar que eu use as roupas dela?

— Não se preocupe com isso. O banheiro é a porta a direita.

Disse colocando a toalha em meus braços e saindo do quarto.  

Um banho quente, mesmo que rapidamente aliviou a tensão do meu corpo. Na cozinha, Dona Giselia preparou um lanche natural para nós duas e um suco, em troca lavei a pouca louça que usamos.

— Foi um dia cheio. Nós duas precisamos descansar. Ela disse finalizando a organização ao meu lado. 

— Obrigada Dona Giselia. Eu nem sei como agradecer tudo o que a senhora está fazendo por mim. 

— Continue forte menina. Sobreviva a este avalanche, ele vai passar, muitas coisas que acontecem em nossas vidas servem para nos fortalecer. Então viva bem. Cuide deste pequenino. _ Pôs a mão sobre a minha barriga e eu a olhei intrigada. _ Médicos e enfermeiros conversam no hospital.  Explicou, ante meu olhar.

Quis perguntar o quanto ela sabia, mas calei-me com medo da resposta. Definitivamente, ainda não estava pronta para uma conversa sincera.

...................................

 

Semanas depois...

— O que é isso? Perguntei, quando sem dizer nenhuma palavra, ela colocou um envelope em minhas mãos.

— Para você. Disse apenas e eu a olhei confusa.

Estava morando com ela há algumas semanas e estávamos nos dando incrivelmente bem.

Percebendo que ela não me daria nenhuma informação a mais, abri o envelope, me surpreendendo com o conteúdo.

— Eu não posso aceitar. Devolvi e ela negou com a cabeça.

— É seu. Você trabalhou por isso, lógico que não tem tanto quanto eu gostaria, mas pode ajudar com as coisinhas do bebê.

— Dona Giselia, nós combinamos de que eu ajudaria com a casa e em troca ficaria aqui. Então não parece certo que eu aceite receber algum dinheiro por isso. Acredite, a senhora já fez muito mais do que eu poderia imaginar e serei grata pelo o resto de minha vida. 

— Bem, sobre isso eu preciso te contar uma coisa. Venha, sente-se aqui. Pediu nos servindo um copo de suco. Esperei que ela guardasse a jarra na geladeira e sentasse a minha frente na mesa. _ Nathan me pediu para alugar o quarto para ele. Assim você poderia ter um lugar para ficar.

— O que? Por que ele faria isso?

— Eu não sei o que há entre vocês, mas ele se preocupa muito com você.

— Não há nada entre nós dois, dona Giselia. _ Expliquei tristemente. _ Não pode haver nada. 

— E por que não? Ele é um bom rapaz. Ela argumentou me olhando atentamente. 

— Eu não duvido disso. O problema sou eu.

— Manoela, está se cobrando demais. Mesmo a conhecendo ha pouco tempo, sei que você é uma boa garota.               

— Obrigada. Murmurei tocada por suas palavras. 

— Sabe o que eu tenho pedido em minhas orações nos últimos dias? _ Perguntou e eu neguei com um gesto de cabeça. _ Que o sorriso volte ao seu rosto. Que toda esta dor que você carrega, desapareça e você volte a sonhar. _ Agora nós duas chorávamos, no meio da cozinha. _ Você é mais forte do que imagina menina e sei que vai superar tudo isso.

Ela apertou a minha mão, esperando minha resposta.

—Obrigada. _ Agradeci. Não importava quantas vezes a agradecesse, não seria o suficiente. Esta mulher me deu mais que um teto, comida e uma cama, ela me deu sua amizade e seu apoio quando eu pensava que estava completamente sozinha. _ Muito obrigada, por tudo o que a senhora esta fazendo por mim. 

Logo a imagem de Nathan surgiu em minha mente, por duas vezes ele me salvou. Primeiro quando me encontrou na rua, depois na ponte, e agora isso.

— Então, ele está pagando meu aluguel este tempo todo?

— Sim, esta. É por isso que você não pode se negar a pegar este dinheiro. Ele é seu. _ Ela disse levantando-se da mesa e saindo da cozinha. _ Ah, mais uma coisa Manoela, eu sei que você não quer que ninguém saiba o que aconteceu e respeito sua decisão, mas, confie em mim, quando eu digo  que Nathan não é o tipo de homem que te julgaria por isso. Alem do mais, não é sua culpa, lembre-se disso, esta bem?

Balancei a cabeça ouvindo suas palavras e ela saiu me deixando pensativa.

Minha psicóloga, a quem recentemente comecei a frequentar, costumava falar a mesma coisa.

O problema era que eu não conseguia acreditar totalmente nisso. Sem que eu conseguisse deter, os pensamentos sobre aquela noite voltavam, e eu me pegava analisando meus passos, me perguntando o que aconteceria se eu tivesse feito algo diferente.

E se... e se eu tivesse pegado um táxi? E se eu não tivesse saído de casa? E se eu tivesse gritado mais alto, corrido mais rápido ou lutado com mais força?

De repente, a necessidade de vê-lo se tornou intensa. Precisava agradecê-lo. A medida que a ideia tomava forma em minha mente, o receio vinha junto. Meu coração dizia que ele era um homem bom, integro, enquanto em algum canto obscuro do meu cérebro, um alertava soava, me lembrando a manter distancia e me proteger.

Afastando todos os pensamentos ruins, tomei uma dose de coragem, decidida a procura-lo.

Por sorte ou ironia do destino, eu sabia onde ele morava, já havia ido la uma vez com a dona Giselia, então por que esperar?


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Notas finais do capítulo

Será que ela vai conseguir?



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