Amazing Grace escrita por Val Rodrigues


Capítulo 1
Capitulo Um


Notas iniciais do capítulo

"Muito animada com o começo de um novo projeto... Vamos S2.



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Pov Manoela

— Vá embora daqui.

Ele ordenou segurando forte em meu braço, me puxando com brusquidão para fora.

— Pai, por favor, eu não tenho para onde ir. Me deixe ficar.

Pedi desesperada. Minhas pernas falhando no processo, levando o meu corpo ao chão.

— Quem é ele Manoela? Quem é o desgraçado que te engravidou e não foi homem o suficiente para assumir a responsabilidade?

Seu rosto estava vermelho e ele parecia pronto a explodir a qualquer momento. 

— Eu não posso contar. _ Neguei desesperada. A simples menção aquele homem me trazia calafrios. _ Por favor, pai...

— Por que não? Ele é casado? É isso? _ Ele gritou enraivecido, tirando suas próprias conclusões e eu balancei a cabeça negando. O único som eram os meus soluços. _ Você manchou a honra da nossa família, e isto é imperdoável. _ Sua voz era baixa, fria e cortante. 

— Pai. Me desculpe...

Tentei mais uma vez segurando pela mão. Em um solavanco fui novamente ao chão.

— É melhor ir de uma vez. _ Ordenou.  _ Veja se valeu a pena sua escolha. Sua mãe teria vergonha de você. 

Seu olhar carregado de magoa e desapontamento me partiam ao meio.

Quando ergui a cabeça com os olhos embaçados pelas lagrimas, ele já estava voltando para dentro de casa.

— Pai. Gritei agoniada.

Ele parou e por um breve instante uma pontada de esperança surgiu em meu ser. Seus olhos gélidos pousaram em mim, suas palavras me dilaceraram.

— Eu não tenho mais filha. 

....................

Balancei a cabeça, como se o movimento pudesse afastar todo o pesadelo que minha vida se transformara. Olhei ao redor tentando identificar onde estava, após as palavras do meu pai que me rasgaram por dentro, eu saí sem rumo, apenas caminhando, um passo de cada vez, ate sentir a urgência de me afastar daquela casa e começar a correr, sem direção, sem amparo, apenas eu e minha dor.

Os minutos se transformaram em horas, mas eu não parava de caminhar. Não conseguia. Se parasse ia desabar.  

A chuva ficou mais forte. Os raios e trovões povoavam o céu provocando arrepios em meu corpo encharcado. Trôpega, apertei a pequena bolsa que estava comigo e tentei encontrar um lugar, qualquer lugar para me abrigar, quando avistei um toldo onde a chuva parecia não atingir. Tremendo de frio e cansaço, fiquei a olhar a chuva a cair enquanto minhas lagrimas caiam em seu próprio ritmo.

Eu estava sozinha. Completamente sozinha. E esta constatação me devastou.

 Abracei meu próprio corpo, sentindo minhas pernas cederem por conta própria, enquanto eu deslizava de encontro a parede fria em minhas costas.

E agora? O que eu faria?

Não sei em que momento adormeci, totalmente esgotada, mas acordei com o completo silencio  ao meu redor. A chuva havia cessado, a única coisa que eu podia enxergar era a escuridão da noite.

O medo me envolveu esmagando meu coração ferido. Senti os lábios doerem a medida em que eles batiam descontrolados. Tentei levantar, mas meu corpo parecia pesar toneladas e a cabeça duas vezes mais.

Meu coração gelou quando percebi um vulto se aproximar.

"Não quero morrer". Gritei internamente em pânico.

— Moça, consegue me ouvir?

A voz dele parecia distante. Tentei me mover mais uma vez, antes da escuridão me tomar.

..................................................

 

Pisquei devagar.

A primeira coisa que percebi foram as paredes brancas ao meu redor. Lentamente, as lembranças foram retornando, e sobressaltei-me tentando levantar. 

— Fica calma. _ A mesma voz ecoou em meus ouvidos, fazendo o pânico retornar e eu agarrei as barras do lençol. _ Você esta segura agora. 

— Onde estou?

Consegui pronunciar em um fio de voz, sem conseguir encara-lo. O medo gelava a minha alma.

— No Hospital. _ Ele respondeu. "Hospital? Mas como?" — Você desmaiou mais cedo na rua. Fique tranquila, vai ficar tudo bem.

"Não. Nunca mais as coisas vão ficar bem." Meu subconsciente avisou e eu senti meus olhos queimarem com a lembrança involuntária.

— O que foi? Esta com dor? _ Ele perguntou se aproximando e eu me encolhi ainda mais na cama. _ Eu vou chamar alguém...

Minha cabeça girava enquanto eu me esforçava para trazer o ar aos meus pulmões, as palavras dele se perdendo no ar. 

 

— Esta tudo bem. _ Uma enfermeira disse se aproximando. _ Tente se acalmar. _ Pediu e eu a olhei. Era uma senhora de meia idade e olhos piedosos. _ Respire. Apenas respire. _ Pediu e eu a segui obedecendo seu comando. _ Isso mesmo. Ela deu um pequeno sorriso. _ Qual é o seu nome?

— Manoela. Respondi ainda com o coração aos saltos.

— Manoela. Eu sou a enfermeira Gisélia.

— Como eu cheguei aqui? Repeti a pergunta, desta vez em voz alta. 

— Não se lembra? _ Perguntou e eu neguei. _ Este rapaz a encontrou na rua quase desmaiada e a trouxe.

Olhei atrás dela vendo o mesmo homem que saíra em busca de ajuda.

"Era ele o estranho que se aproximou de mim na rua?" Desviei o olhar quando percebi que ele me olhava de volta, e concentrei minha atenção na enfermeira que anotava algumas coisas em sua prancheta.

— Como esta se sentindo? "Mal. Muito mal." Quis dizer. _ Alguma dor? Ela perguntou quando não respondi sua pergunta anterior.

— Minha cabeça dói e meu corpo esta pesado. _ Falei notando pela primeira vez a garganta arranhar. _ Acho que estou com um pouco de dor de garganta também.

— Certo, eu vou avisar a medica que você acordou. Só um instante.

— Não. Não vá. Fique aqui, por favor.

Pedi sentindo pânico voltar. Nunca mais queria ficar sozinha com homem algum.

— Esta tudo bem, Manoela. Você esta segura aqui.

Afirmou tocando minha mão e só então percebi que agarrava seu braço fortemente.

— Me desculpe. Pedi envergonhada.

— Não tem problema. Declarou, voltando-se para o homem parado junto a porta em seguida. _ Nathan pode esperar lá fora um pouco? _ O estranho me olhou por um breve momento, antes de concordar com um aceno. _ Obrigada. _ Disse quando ele já estava na porta.

— Você esta bem? _ Ela perguntou e eu acenei. _ Não precisa ter medo Manoela, nem ficar nervosa. _ Apertou minha mão. _ Por que não me conta o que aconteceu? _ Neguei efusivamente com a cabeça.

Falar tornaria tudo real e eu só queria esquecer. Ela soltou um longo suspiro antes de me olhar novamente.

— Tudo bem. Uma coisa de cada vez. Eu já volto, esta bem? Acenei concordando.

Permaneci a encarar a porta por onde ela passou. Não pensei em nada, minha mente estranhamente vazia, como se eu estivesse assistindo a tudo de fora, como uma mera expectadora. 

O barulho da porta me despertou dos pensamentos quando ela retornou com outra mulher que identifiquei ser a médica que ela falara antes. Não demorou e eu já estava diagnosticada e medicada, e mais uma vez, só restaram a enfermeira simpática e eu no quarto.

— Quem eu aviso que você esta internada neste hospital? Dona Gisélia questionou ajeitando o soro.  

— Não tenho ninguém.

Mais uma vez, senti o buraco no peito retornar. Era tão estranho, como se ele sugasse o meu ar. 

— Preciso de alguém responsável para colocar na sua ficha. Um parente próximo, talvez. _ Ela tentou novamente.

— Desculpa. Murmurei. Infelizmente para nós duas, eu não tinha a quem pudesse recorrer no momento. 

— Manoela. Ela começou com a expressão séria, sentando-se na ponta da minha cama. _ O que fazia naquela calçada tão tarde da noite? _ Permaneci em silencio. Como contar que havia sido expulsa de casa? _ Eu sei que é difícil se abrir e confiar em alguém que você acabou de conhecer. Mas você parece ser uma jovem de boa família, alem do mais, não posso ignorar o fato de que você não forneceu um endereço, nem nada que pudesse indicar algum parente seu, ou uma casa para morar. _ Baixei o olhar, buscando as palavras para explicar. _ Me desculpe se estou sendo invasiva, mas quero garantir que fique bem. _ A preocupação e empatia nos seus olhos me desarmaram. 

— Meu pai me expulsou de casa. Por isso eu estava na rua. Por isso não posso contatar ninguém, nem fornecer um endereço. Por que eu não tenho.

Senti braços me envolverem. Um abraço caloroso, amigável, reconfortante, enquanto mais lagrimas escorriam por minha face.

— Sinto muito. Deve estar sendo muito difícil para você. _ Concordei balançando a cabeça. _ Que bom que foi o Nathan a te encontrar, ele é um bom garoto. A mãe dele e eu somos amigas há anos. _ Ela sorriu com o comentário e eu funguei secando o rosto. _ Sabe de uma coisa? Tem um lugar onde você pode ir, pelo menos por enquanto. Em sua situação atual, não pode ficar vagando por ai. Eu vou falar com a Assistente social do Hospital e ver o que ela pode fazer. 

— Obrigada. Agradeci realmente grata. 

..............................................

 

 

Pov Nathan

Levantei da cadeira apressado assim que percebi a Dona Gisélia sair do quarto dela.

— Como ela esta? Perguntei a assustando com minha aproximação brusca.

— Você ainda esta aqui? _ Ralhou me encarando de volta. _ Não vai trabalhar amanha cedo?  

— Sim, mas eu queria saber como ela esta antes de ir. Tentei novamente.

Ela parou de remexer no prontuário e me olhou. Não pude ignorar a preocupação em seu semblante, apesar do profissionalismo em sua voz.

— A garota esta sendo tratada. Você já fez sua parte, agora pode ir para casa descansar.

Eu poderia ter ido embora. Eu deveria ter feito isso, na verdade. Mas aqueles olhos não saiam da minha mente. Fiquei preso em seu olhar no momento em que cruzaram com os meus.

Baixei a cabeça tentando encontrar as palavras certas para convencê-la a me dar mais informações já que eu não era um familiar.

— Me escute Nathan, eu conheço você desde pequeno e sei muito bem de sua tendência a ajudar as pessoas, mas neste momento, é melhor deixar o Hospital cuidar disso. Aconselhou-me. 

— Claro. Obrigado Dona Gisélia.

— De nada, diz para sua mãe que eu mandei um abraço. Acenei concordando.

...................................

Fechei os olhos assim que meu corpo tocou o colchão, sentindo a exaustão me envolver. Após um breve banho, tudo que eu precisava era uma boa noite de sono antes de recomeçar no dia seguinte. Contudo, la estava novamente: Aqueles olhos. Como se me pedissem ajuda. Mas como? O que poderia ter acontecido aquela garota para oprimi-la assim?

 

 

POV Manoela

Centro de acolhimento para mulheres em situação de rua.

O letreiro provocou um calafrio em meu corpo, e por um instante travei, incapaz de andar. Apertei minha bolsa como uma espécie de escudo a minha frente.

Nunca, em toda a minha vida, me imaginei em lugar assim.

Mas o que eu poderia esperar da vida agora? Tudo fora arrancado de mim. Todos os meus sonhos, meus planos, nada fazia sentindo. Sequei o rosto com raiva, não importava o quanto eu chorasse nada poderia trazer minha vida de volta.

Continuei caminhando, deixando aquele lugar atrás de mim. Uma melodia suave invadiu meus ouvidos. A canção era triste e ao mesmo tempo esperançosa.

"Esperança," Era uma palavra inexistente em minha vida. Fiquei ali parada apenas ouvindo e deixando que ela enchesse meu coração. Por um momento apenas.

De alguma maneira precisava, dar um fim a está dor e a agonia que envolvia meu coração. Por mais que eu tentasse, não conseguia enxergar um futuro onde eu me encaixava, não mais. Meu futuro fora roubado e eu só queria que esta dor fosse embora de uma vez.

Com as mãos tremulas toquei meu ventre um pouco maior que o normal.

— Me desculpe. _ Murmurei. _ Eu não sou forte o bastante para continuar. 

Parte de mim morreu quando aquilo aconteceu. A outra parte se foi quando fui expulsa de casa pelo meu pai e descobri que jamais poderia esquecer aquela noite, por mais que eu tentasse com afinco. Deixei que os olhares de repulsa e julgamento voltassem a minha mente preenchendo cada cantinho do meu ser com desespero e agonia que me quebrava. Eu não tinha mais forças para lutar.

Tudo isso ia acabar. Tudo ia passar. Respirei fundo, trazendo a memória a canção recém descoberta sentindo o frio me envolver. O tipo de frio que cobertor algum era capaz de aquecer.

As lagrimas continuavam a cair. "Tudo bem. Vai passar." Repeti a mim mesma.

A imensidão do rio a me chamar. Tão fácil. Tão rápido. Eu queria aquela calmaria.

De olhos fechados, senti o vento forte sobre meu corpo, estremecendo-me, desequilibrando-me.

— Não. _ Alguém gritou e eu abri os olhos. O estranho segurava-me pelo braço. _ Segure-se em mim.

Ele gritou quando o medo me envolveu e eu comecei a me debater apavorada. "Não quero morrer". Pensei enquanto me agarrava a ele com toda a força que tinha.

De alguma maneira fui puxada e tossi incontrolavelmente, quando meu corpo tocou o chão me fazendo dobrar ao meio em busca de ar.

— Esta tudo bem. Esta tudo bem. _ Repetia enquanto eu tremia e chorava ao mesmo tempo. _ Peguei você. Esta tudo bem. _ Murmurava enquanto seus braços me envolviam.


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Notas finais do capítulo

E então? Vale a pena continuar?
Ansiosa para saber o que vocês acharam deste primeiro capitulo.
Bjs e até o próximo...



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