Amazing Grace escrita por Val Rodrigues


Capítulo 12
Capitulo Doze


Notas iniciais do capítulo

Este capitulo foi muito especial para mim, por que foi dai que nasceu a ideia da historia e o titulo. Entao gostaria muito de saber a opinião de voces.
Boa leitura meus amores.



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— Vai sair? Dona Valentina perguntou e eu a olhei amarrando meu tênis.

— Pensei em dar uma caminhada. Pode dar uma olhada no Kaio para mim, por favor. _ Pedi. _ Ele ainda esta dormindo.

Ela colocou a bandeja no criado mudo e me olhou com carinho e preocupação.

— Claro que sim. O dia esta lindo hoje, aproveite.

— Obrigada. A abracei.

Sai porta a fora sentindo a brisa leve soprar em meu rosto. O sol estava nascendo e uma rajada de vento frio me invadiu. Fechei meu casaco, respirando fundo, sentindo o ar invadir meus pulmões.

Comecei a caminhar devagar, minhas pernas tremulas e o coração acelerado.

Há quanto tempo eu não saia de casa?

Apertei o passo sentindo o sangue correr em minhas veias. A trilha verde ao meu redor, o silencio da natureza e o batuque do meu coração se misturando. Deixei as imagens correr por minha mente enquanto minhas pernas ganhavam força e velocidade. Ao meu redor, tudo era apenas um borrão.

Eu queria minha de vida de volta...

 Corri ate meus pulmões gritarem por ar. Parei me dobrando ao meu, puxando o ar com força. Minha garganta seca queimava. As pernas trêmulas pelo esforço.

Ajeitei o meu corpo ficando ereta e olhei ao redor. O sol já aquecendo minha pele. Por quanto tempo eu havia corrido? Me preparei para voltar quando o som me chamou atenção.    A voz suave cantava ao som de um piano. Mas o que mais chamou atenção foi a letra da canção.

 Maravilhosa graça, quão doce é o som

Que salvou um miserável como eu

Eu estive perdido, mas agora fui encontrado

Era cego, mas agora eu vejo

Me aproximei ouvindo o som ficar mais nítido.

Foi a graça que ensinou meu coração a temer

E a graça meus medos aliviou

Quão preciosa foi a aparição da graça

Na hora em que eu acreditei

Um pequeno grupo de pessoas se reuniam ali. Todos alheios a minha presença. Permaneci quieta sentindo a canção esmagar a minha alma e apenas deixei que as lagrimas caíssem do meu rosto.

Minhas correntes se foram, Eu fui liberto

Meu Deus, meu Salvador, me resgatou

E como num dilúvio, Sua misericórdia chove

Amor sem fim

Graça maravilhosa

Como eu queria que aquelas palavras fossem verdades em minha vida.

Eu me sentia acorrentada naquela nuvem de tristeza que envolvia minha alma. E mais do que nunca precisava ser resgatada. Eu não tinha mais forças para continuar lutando, era como se a qualquer momento fosse me afogar naquele mar de angustia.

O Senhor prometeu-me o bem

Sua palavra assegura minha esperança

Ele meu escudo e porção será

Enquanto a vida durar

E ali, exatamente onde eu estava, ergui os olhos para o Céu e murmurei.

— Se o Senhor esta me ouvindo, eu preciso de ajuda. Deus eu preciso da sua ajuda. _ Repeti com mais intensidade. _ Preciso do Senhor, eu não aguento mais viver assim.

— Quer entrar? Uma voz perguntou e eu me virei notando uma senhora de cabelos grisalhos na porta. A olhei em duvida se deveria seguir ou não.

— Eu só estava passando. 

— Você é bem vinda aqui se quiser. Completou e eu me vi caminhando em sua direção enquanto secava meu rosto. Com a mão, ela me indicou que sentasse.

Um senhor de pé falava ao pequeno grupo que o ouvia atentamente.

— “Pois o Filho do Homem veio buscar e salvar o que estava perdido”.  Ele falou.

Eu estou perdida. Pensei fechando meus olhos enquanto mais lagrimas fluíam.

— Se você esta assim, perdido, sem esperança, sem perspectiva, me escute com atenção. Aqui, neste Livro escrito há milhares de anos, mas tão atual quanto um livro escrito hoje. Aqui esta escrito: “Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês', diz o Senhor, 'planos de fazê-los prosperar e não de causar dano, planos de dar a vocês esperança e um futuro.”

Esperança. Futuro. Duas coisas que eu não tinha no momento.

— Se você quiser, somente se quiser, venha a frente que nós iremos orar por você.

Sem pensar, sem pestanejar, levantei percorrendo a pequena distancia ate ele.

Eu precisava disso, como precisava do ar para respirar.

— As lutas tem sido difíceis não é? Elas tem roubado sua alegria, sua força, sua vontade de viver. Confirmei com um gesto imperceptível por que era a mais pura verdade.

— Deus neste momento eu oro a Ti para que o Senhor cure os corações feridos, fortaleça os enfraquecidos, dê ânimo novo e fé genuína.  Pai eu te peço que o Senhor lave os corações de toda tristeza, magoa, vergonha e coloque a alegria do Senhor. Em nome de Jesus.  “Se você confessar com a sua boca que Jesus é o Senhor e crer em seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo.

— Eu confesso e acredito. Murmurei sentindo pela primeira vez uma esperança me invadir.

Um sentimento novo e poderoso aquecer meu coração.

A mesma senhora que me convidou a entrar me abraçou forte e eu senti ali um carinho novo e ate desconhecido, mas que eu gostava tanto.

Outras pessoas também estavam ali, sendo abraçadas e chorando, como eu.

— Todos precisamos de um Salvador, minha jovem. Acenei incapaz de falar. O sorriso misturado as lagrimas.

— Preciso ir agora. Ela acenou concordando.

— Volte quando quiser. As portas estão sempre abertas.

— Obrigada.  

Voltei a caminhar percorrendo o caminho de volta. O coração martelando no peito. Mas desta vez, um tanto mais leve e esperançoso. O caminho de volta foi um pouco mais longo e eu me vi ansiosa para chegar e abraçar meu pequeno. 

— Você demorou menina. Dona Valentina falou e eu a abracei emocionada.

— Obrigada Dona Valentina, por tudo. Por me ajudar com o Kaio, por cuidar de mim agora e antes disso também.

— Você esta bem? Aconteceu alguma coisa? Perguntou preocupada.

— Eu conto tudo depois. Agora quero ver meu pequeno. Onde ele esta? Ainda não acordou?

— Acordou. Nathan estava dando banho nele no quarto.

— Nathan já chegou? _ Perguntei surpresa e ela acenou. _ Obrigada. Dei um beijo em seu rosto a pegando desprevenida e corri para o quarto. 

Nathan estava vestindo Kaio e olhou para a porta assim que a abri de supetão. 

— Manu... Ficou de pé.

— Oi amor. O abracei e ele me segurou pela cintura. Me apertei ainda mais a ele, sentindo a saudade rasgar meu coração.

— Você esta bem? Ele perguntou me abraçando.

— Estou melhor. Respondi deitando a cabeça em seu ombro. Ainda não estava pronta para soltá-lo.  

Kaio choramingou engatinhando pela cama e eu me soltei de Nathan para abraça-lo.

— Oi meu amor. Esta tudo bem. Mamãe esta aqui. Sorri para ele o enchendo de beijos e o abracei apertado.

Nathan me olhou nos abraçando em seguida. Sorri começando a contar o recém ocorrido e explicar a forma que tudo aquilo mexeu comigo enquanto terminava de vesti-lo e dava a mamadeira.

— Nossa. Isso é tão surreal. Ele disse perplexo.

— Você acredita? Perguntei receosa.

— Claro que sim. Garantiu.

— Quer ir comigo amanha? Perguntei.

— Vai voltar la?

— Sim. Confirmei.

— Amanha não dá. Tenho um turno dobrado.

— Verdade. Esqueci de sua escala de trabalho. Como estão as coisas por la? E a sua família?

— Bem. Tudo certo. Respondeu me olhando.

— Que foi? Perguntei sem graça com seu olhar sobre mim.

— Você parece diferente. Observou.

— Eu me sinto assim também. Respondi.  

 

 

 

Pov Nathan

Manoela estava diferente e eu não era o único a notar. Seu pai e dona Valentina também perceberam.

Foi por isso que segurei um pouco mais nossa inevitável conversa e prometi que iria com ela neste lugar na minha próxima folga.

— Ei, Nathan. Esta distraído hoje. _ Lucas, meu colega de trabalho jogou a mangueira e eu a segurei começando a enrolar. _ O que foi?

Ele perguntou sentando-se ao meu lado em cima do caminhão.

— É uma longa historia.

— Bem, nós temos um turno de 36 horas para cumprir, então entre um chamado e outro, você pode me contar o que esta te deixando tão pensativo. Falou sério, porem amigável.

— Você frequenta a Igreja, não é?

— Todo domingo e terça-feira, sempre que não estou escalado para o trabalho. _ Confirmou, com alegria. _ Por que? 

— Você acredita que Deus pode falar com alguém?

— Sim.

Foi sua resposta firme que me fez olha-lo.

— Olha só, eu não estou duvidando. Eu acredito em Deus. Mas como Ele pode falar com uma pessoa?

— De diversas formas Nathan. Uma delas é pela Bíblia, o famoso manual da humanidade. Mas não é a única. Porque a pergunta?

— Aconteceu tanta coisa e eu não sei mais se sou capaz de continuar suportando tudo.

— Do que você esta falando? Qual é o problema Nathan? Perguntou e eu me vi contando tudo, sem receios, sem ressalvas. Apenas me vi desabafando.

— Você passando por tudo isso e não disse nada, cara? Somos mais que colegas de trabalho, somos amigos.

— Você me conhece. Justifiquei deixando meus ombros caírem. 

— Sim. Você é do tipo reservado. Lucas soltou um longo suspiro antes de encarar o amigo. — Por que não faz o mesmo?

— O que?

— Quer saber se o que ela te contou é real ou fruto da imaginação dela.

— Eu não disse isso. Me defendi de imediato.

— Você não precisou dizer. Meu amigo você esta carregando este fardo pesado por tempo demais.  Então por que não faz o mesmo? Por que não entrega tudo a Ele. Suas preocupações, suas duvidas, seus medos, suas ansiedades.

— Eu gostaria de poder fazer isso.  

— Então faça. Ele só esta esperando que você o entregue.  A sua função como marido Nathan é amar a sua esposa, respeita-la, prover para a sua família, mas não pode querer fazer isso sozinho, com a força dos seus próprios braços. É exaustivo e não da em nada.

— Não tenho chegado a lugar algum este tempo todo. _ Admiti exausto. _ Achei que poderia cuidar dela, fazê-la esquecer o horror que viveu. Que podíamos recomeçar do zero, mas quando penso em tudo, parece que meus esforços foram em vão.

— Só Deus pode curar as dores da alma ferida. É um processo e ela vai chegar lá. 

— Enquanto isso, o que eu faço então?

— Tem uma frase bíblica, uma das que eu mais gosto aliás, que diz assim: "Venham a Mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve".

— Entregar... _ Falei e ele acenou. _ Quero fazer isso cara. Não consigo mais lutar assim. Estou cansado demais, sobrecarregado demais para continuar. Decidi.

— Esta é a melhor decisão que alguém poderia tomar.   

.......................

Pela primeira vez, desde que Manoela passou a ficar um tempo na casa do seu pai, eu dirigia com o coração tranquilo.

Eu ainda ansiava que ela voltasse logo para casa, lógico. A saudade da minha esposa e do meu filho continuava a crescer em meu peito. Mas agora eu sabia que não dependia de mim ou do que eu poderia fazer. Agora eu sabia que ela iria ficar bem. Que nós iríamos ficar bem.

— Você esta linda. Falei assim que desci do carro.

— Serio? _ Falou sorrindo. _ De jeans e camiseta?

— Somado a este sorriso e este olhar brilhante, esta deslumbrante. Bom dia amor. Me aproximei a beijando.

— Bom dia. _ Ela respondeu quando nos separamos. _ Você também esta lindo.  

— De jeans e camiseta? Usei suas palavras, já que estava usando exatamente isto, e nós dois gargalhamos juntos. 

— Você fica lindo com qualquer coisa que usar. Elogiou e meu coração aqueceu no peito. 

— Obrigado senhora Vargas. _ Brinquei lhe roubando outro beijo. _ Vamos?

— Sim.

— Onde esta o Kaio? Perguntei fazendo o retorno com o carro.

— Esta dormindo. Dona Valentina vai ficar de olho nele.

— Por onde eu vou? Perguntei e ela começou a nos direcionar.

Não era tão longe de carro, então chegamos em menos de 20 minutos.  

— Você voltou. Uma senhora simpática a abraçou e ela sorriu retribuindo o abraço.

— Dona Ana, este é meu marido, Nathan.

Ela sorriu para mim e me abraçou também.

— Um marido lindo Manoela. Disse ao me soltar.

— Obrigado Dona Ana. É um prazer conhecê-la.

— Posso dizer o mesmo.  Fiquem a vontade. O Culto já vai começar.

Nos acomodamos nas cadeiras vazias ali, o local era pequeno, mas preenchido por pessoas.

.................................

— Tudo bem? Ela perguntou quando o culto acabou e eu dirigia de volta para a casa do seu pai.

— Sim.

— O que achou? Perguntou.

— Foi bom. _ Ela balançou a cabeça, claramente esperando uma resposta mais elaborada da minha parte. _ Lembra do Lucas, meu parceiro do quartel de bombeiros?

— Sim. Respondeu.   

— Eles nos convidou para ir a Igreja dele.

— E o que você disse?

— Disse sim. Vou com ele no próximo domingo que estiver de folga.

— Eu posso ir também? A olhei de relance.

— Claro. O convite foi para nós dois.

— Pode funcionar. É mais perto de casa que esta. E talvez a gente possa voltar aqui, quando viermos visitar o meu pai.  

Meu coração acelerou e eu segurei o volante com um pouco mais de força que o normal.

— O que quer dizer? Perguntei tentando não criar expectativas.

— Quero voltar para casa Nathan. Freei o carro de repente.

O movimento brusco fazendo nossos corpos irem para frente.  Graças a Deus, não vinha nenhum carro logo atrás.

— Você vai voltar? Perguntei mais uma vez.

— Sim. Eu não sou boba de achar que meus pesadelos irão sumir de repente, mas meu lugar não é aqui, é em nossa casa, se você ainda quiser que eu volte.

— Eu estou esperando este dia há semanas. É claro que eu quero que volte. Ela soltou o cinto colocando sua mão em meu peito.

— Eu te amo. Falou antes de me beijar ardentemente e eu retribuir na mesma intensidade.  


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Notas finais do capítulo

Citações bíblicas entre aspas
Lucas 19.10
Jeremias 29.11
Romanos 10.9
Mateus 11:28-30

Link da musica: https://www.youtube.com/watch?v=yxBw3NTo9FQ
caso queiram ouvir.
bjs



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