Amazing Grace escrita por Val Rodrigues
Notas iniciais do capítulo
Bom dia. Tudo bem?
Pov Manoela
O pequeno salão que alugamos para a cerimônia não era longe. Ainda assim, fizemos o percurso em silencio, cada um envolvido em seus próprios pensamentos.
Nathan apertou minha mão, assim que descemos do carro e eu me senti ainda mais ansiosa.
— Tudo bem? Você ficou calada o caminho inteiro.
— Acho que estou um pouco ansiosa._ Confessei. _ E também não sei o que fazer.
— Não se preocupe com isso. Ele pediu abrindo a porta de casa e eu ofeguei levando as mãos a boca.
— Nathan... Emocionei-me ao notar um caminho com passos e rosas vermelhas, levando na direção do nosso quarto. _ Você é cheio de surpresas. Falei o olhando e ele se aproximou me abraçando. Meu coração aos saltos.
— Esta tudo bem meu amor. Falou e só então percebei que tremia.
— Me desculpe...
— Não se desculpe. Jamais se desculpe por ser você. Ele falou erguendo meu queixo com os dedos. O beijei. Ainda em seus braços, com os olhos fechados murmurei.
— Eu te amo. Mas estou apavorada... uma lagrima caiu e ele secou.
— Teremos todo o tempo do mundo. Garantiu me olhando.
E eu senti tanta confiança, tanto amor em seus olhos que palavra nenhuma conseguia explicar.
— Não quero esperar. _ Continuei corajosamente. _ Ate agora a única coisa que me vem à mente nestes momentos é a dor. Mas eu sei que com você vai ser diferente. Quero que me mostre como é ser amada. Quero que nossas lembranças substituam qualquer outra imagem em minha memória.
Ele encostou a testa na minha beijando a ponta do meu nariz.
— Se em algum momento, se sentir desconfortável, me avise e paramos, tudo bem? _ Acenei concordando. _ Nunca vou machucar você. Murmurou.
— Eu sei. _ Sorri. _ Confio em você.
Ele sorriu me beijando. Senti seus braços me erguerem e nos levar para o quarto. Quando minhas costas tocaram o colchão e seu corpo envolveu o meu, cada partícula do meu corpo reagiu, e ali só restavam, ele, eu e nosso amor.
Esperamos todo este tempo e foi simplesmente perfeito.
....................
— Acorda dorminhoca. Nathan beijou meu pescoço e eu me encolhi sentindo cócegas.
— Já amanheceu? Perguntei bocejando.
— Sim. E temos que ir buscar nosso filho. _ Ele falou e eu pulei da cama assustada. _ Calma.
— Você falou com a Megan?
— Sim, ele esta bem, mas acho que estranhou um pouco ambiente e demorou para dormir.
— Meu bebê...
— Vai tomar um banho e nós vamos busca-lo. Ele disse me acalmando.
— Esta bem.
Nos arrumamos em tempo recorde. Quando tocamos a campainha, Claudio abriu a porta com cara de sono. Kaio estava no colo de Megan.
— Entrem. Ele pediu e eu praticamente invadi a sala indo ao encontro deles.
Megan o colocou em meus braços assim que eu os alcancei e eu abracei meu pequeno sentindo seu cheirinho inconfundível.
— Acho que ele sentiu sua falta. Megan falou e eu olhei.
— Obrigada Megan. E desculpe incomoda-la assim.
— Não foi nada. Senta e amamenta ele. Fica a vontade. Amor, vamos à cozinha fazer um café.
Ela chamou e eles saírem, provavelmente para me dar mais privacidade.
Megan tinha razão. Kaio sugava faminto e meu coração doía ao vê-lo assim.
Nathan sentou ao meu lado e beijou a cabecinha.
— Ei amor. Esta tudo bem. _ Balancei a cabeça concordando e ele secou uma lagrima no meu rosto. _ Não chora.
— Não estou chorando. Falei com a voz embargada.
Ele não falou nada, mas permaneceu nos olhando. Nathan pegou Kaio para faze-lo arrotar e acabamos tomando café com Claudio e Megan enquanto nosso pequeno dormia tranquilamente no bebê conforto.
— O casamento de vocês foi tão lindo. _ Megan começou e eu sorri. _ E as palavras do pastor? Tão intensas, não é? Ela refletiu e percebi Claudio dar um beijo em seu rosto.
Eles formavam um casal lindo juntos e só faltava o filho que ela tanto sonhava para completar aquela família linda e trazer mais felicidade.
— Obrigada. Ficamos a conversar um pouco mais antes que resolvi que era hora de voltarmos para casa.
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Alguns meses depois...
— Pai, que surpresa! Falei ao vê-lo parado a minha porta ao lado de um homem que eu não conhecia.
— Oi filha. Como esta? Perguntou me abraçando de lado.
— Bem. _ Respondi me soltando. _ E o senhor?
— Onde esta o Nathan? Perguntou ignorando minha pergunta.
— Ele esta no trabalho. Respondi olhando dele para o homem com expressão séria ao seu lado.
— Manu, este é o detetive Meireles. Ele é o novo delegado da Delegacia da nossa cidade.
O homem me estendeu a mão, e por educação fiz o mesmo, aceitando o cumprimento.
— Prazer em conhecê-la Manoela. Apertei sua mão rapidamente, voltando minha atenção ao meu pai novamente.
_ O senhor não me avisou que viria. Aconteceu alguma coisa?
— Decidi de ultima hora. Nós precisamos conversar. Falou e eu acenei liberando o espaço da porta para que eles entrassem.
Nos sentamos no sofá e eu os encarei aflita. Algo na postura tensa do meu pai, me deixando em alerta.
_ Acho que encontramos o infeliz que te fez mal. Pisquei perplexa.
— Como é? Murmurei olhando de um para o outro.
— Manu venha comigo. Você precisa abrir uma queixa contra ele para que a justiça possa prende-lo.
— Espera. O que o senhor disse?
— É verdade Manoela. Estamos investigando a tempos e seu depoimento seria muito importante.
— Já faz tempo que isso aconteceu. Rebati.
— Pelo que seu pai me contou, você ainda era menor de idade quando o abuso aconteceu. Então você ainda pode prestar queixa. Explicou.
— Vamos Manu, quanto antes resolvermos isso, será melhor. Avise ao Nathan, pegue o que precisa para você e para o Kaio e vamos para a minha casa.
— Eu não vou. Falei negando com a cabeça.
— Filha, eu sei que é difícil de enfrentar esta situação...
— Não. O senhor não sabe. _ Disse o cortando. _ Eu demorei tanto para me sentir bem novamente, para voltar a viver. Pai, eu quero deixar o meu passado para trás.
— Sim, eu seu disso, mas precisamos pegar este infeliz. Ele precisa pagar pelo que fez a você.
— Eu não contei nada na época por que queria justamente evitar tudo isso. Não quero que as pessoas olhem para mim e digam “coitada.” Não quero ter que ver as pessoas me julgando ou falando de mim por ai. Tudo o que eu quero agora é poder viver com tranquilidade com o Nathan e criar o Kaio ensinando o Caminho certo para ele. _ Parei tomando fôlego. _ Pai me desculpe, mas não posso fazer o que esta me pedindo.
— Manoela me escute um momento, por favor. _ O detetive começou e eu o olhei sem nenhuma disposição de ouvi-lo, mas isso não o impediu de continuar. _ Você tem todo o direito de viver a sua vida sem deixar que este desgraçado a prenda em suas teias, mas ele esta por ai a solta e pode fazer a mesma coisa a outras garotas, meninas inocentes como você. Precisamos fazer tudo o que pudermos para captura-lo.
Baixei o olhar indecisa e incomodada por suas palavras e apertei monhas mãos, tentando raciocinar com clareza.
— Eu não vou mais incomoda-la, mas peço que pense nisso um pouco mais antes de decidir. Obrigado por me receber. Boa tarde. _ O detetive saiu tocando o ombro do meu pai. _ Vou esperar la fora. Vi quando meu pai acenou concordando.
Meu pai soltou um longo suspiro antes de me olhar.
— Filha, eu, mais do que ninguém quero que seja feliz e que deixe tudo isso para trás, mas ele precisa pagar pelo que fez. A policia precisa colocar este infeliz atrás das grades. Sei que não posso obriga-la a fazer e vou respeitar o que você decidir filha. Pense com calma, converse com seu marido e decida depois.
— Esta bem. Concordei. Ele sorriu me abraçando.
— Eu vou indo, estou de carona com o detetive Meireles. Me liga quando decidir? Acenei concordando. Ele beijou minha testa e depois o Kaio no andador, antes de sair.
A porta bateu deixando um eco atrás dele.
E agora? O que eu faria?
Soltei um longo suspiro abraçando meu corpo no sofá. Eu enterrei todas estas lembranças no fundo da minha memória, em um lugar onde jamais gostaria de voltar a acessar, e só de imagina-las saindo, ganhando forma novamente, meu corpo tremia.
Um pouco aérea, dei uma rápida olhada em Kaio que continuava distraído com o som da televisão. Procurei o celular discando o numero de Nathan. Já estava desistindo após vários toques quando sua voz soou na linha.
— Oi amor. Ouvi sua voz sorridente. Apertei os lábios sendo invadida por uma imensa vontade de chorar. _ Alo, Manu? Nathan falou e eu me dei conta de que não havia dito nenhuma palavra sequer.
— Oi. Comecei.
— O que foi? Esta tudo bem? É o Kaio? Perguntou e desta vez sua voz soou preocupada.
— Não se preocupe. O Kaio esta bem.
— E você? Ele perguntou.
— Eu só queria ouvir sua voz. Falei.
— Agora eu estou preocupado. O que aconteceu?
— Tem uma coisa que eu preciso falar quando você chegar. Não queria mentir para ele, mas também não queria falar por telefone. Ponderei.
— Sobre o que? Questionou.
— Não se preocupe, conversamos quando chegar, esta bem?
— Manu, se não quer que eu me preocupe, me garanta que você e o nosso filho estão bem.
— Sim. _ Respondi. _ Nós estaremos em casa te esperando para jantar, tente não se atrasar.
— Vou estar ai o mais rápido que eu puder.
— Nathan. Chamei temendo que ele estivesse desligado.
— Sim? Sua voz voltou à linha.
— Eu te amo. _ Falei sentindo uma necessidade urgente de dizer aquelas palavras. _ Te amo muito.
— Eu também. Nos vemos daqui a pouco. Falou desligando.
Sentei de volta no sofá apertando o celular em minhas mãos. Eu não vou chorar. Não vou chorar. Pensei, sentindo meus olhos queimarem.
.............................
— Cheguei. A voz de Nathan encheu a casa, e sai do quarto ainda ninando Kaio nos braços. _ Oi amor, ele já dormiu? Perguntou beijando a cabeça do nosso pequeno em tom de voz baixo.
— Quase dormindo. Respondi após ganhar um selinho.
— Queria vê-lo acordado, mas não pude sair antes. Lamentou, como sempre acontecia quando seus plantões se prolongavam.
— Quer jantar? Perguntei.
— Sim.
— Vou coloca-lo no berço. Avisei.
.....................
_ Você disse que queria conversar hoje mais cedo no telefone. Ele disse me abraçando. Já havia jantado e agora estávamos ambos de pijama, deitado lado a lado, em nossa cama. Seu olhar sobre o meu.
— Sobre isso...meu pai veio aqui hoje. E trouxe um detetive com ele.
— Um detetive? Por quê? Nathan perguntou franzindo o cenho.
— Eles acham que encontraram aquele homem.
Nathan sentou-se surpreso e eu o acompanhei.
— Pegaram ele? Como? Quem é?
— Eu ainda não sei.
— Por isso sua voz estava aflita no telefone mais cedo. _ Falou me olhando e eu me aconcheguei em seus braços, voltando a nos deitar. _ O que vai acontecer agora?
— Eu estou tão confusa no momento. Por um lado, quero esquecer e deixar tudo isso para trás, mas por outro... o detetive disse que outras garotas pode ser vitimas dele.
— Não é tarde demais para uma denuncia? Nathan perguntou externando minha dúvida.
— Não sei bem. Não quis ouvir o que o detetive tinha a dizer, acho que por isso ele não explicou muita coisa.
— Mas esta pensando sobre isso desde então. _ Acenei, soltando um longo suspiro. Nathan me conhecia tão bem. _ O que pretende fazer? .
— Não faço ideia. O que acha que eu devo fazer? Perguntei buscando uma luz em meio ao caos da minha indecisão.
— A decisão é sua. _ Falou simplesmente. _ Ninguém pode obriga-la a tomar uma atitude que não se sente bem com ela.
— Vai concordar com a decisão que eu tomar? Perguntei, virando o rosto para olha-lo.
— Claro que sim. _ Afirmou. _ Quero o melhor para você.
O beijei longamente. Naquele momento queria apenas esquecer. Encostei minha testa na dele, para voltar a respirar novamente.
— Não quero pensar sobre isso agora. _ Murmurei, ainda de olhos fechados. _ Me ajuda a esquecer.
Nathan colocou suas mãos sobre minha nuca, me puxando para si, em uma reposta muda ao meu pedido.
...........................
— Café? Perguntou me estendendo a xícara e eu sorri agradecendo.
— Obrigada amor.
A parte boa do trabalho por escala de Nathan, era que havia muitos dias assim, onde ele ficava em casa, e se fazia presente em tudo.
O casamento não o fez perder o seu lado cuidadoso.
— Nossa. Acordamos tão cedo assim? Falei percebendo que o primeiro jornal da manha estava apenas começando na televisão.
Ele sorriu sentando-se ao meu lado e pegando um pouco do cobertor para si, com sua própria xícara em mãos.
— O que fazer? Nosso pequeno gosta de atenção logo cedo. Sorri.
Isso também não mudou. A forma com ele falava e tratava o Kaio tinha o poder de aquecer o meu coração, sempre.
— E você? Conseguiu dormir?
— Sim. Você me distraiu bastante. Sorrimos juntos.
— Mas?
— Eu acho que deveria pelo menos ouvir o que o detetive tem a dizer. Talvez eu não possa fazer nada, mas se eu puder, não quero ficar parada e depois descobrir que o mesmo aconteceu com outras garotas por causa da minha covardia.
— Ei. Olha para mim. _ Pediu segurando meu queixo. _ Você não é covarde.
— Então por que eu quero me esconder toda vez que algo acontece?
— Por que você é humana, não se cobre demais. Falou somente.
Levantei do sofá e caminhei ate a cozinha colocando a xícara na pia.
— Ainda assim, acho que preciso tentar. Eu vou ligar para o meu pai. Falei parando a sua frente.
— Tem certeza? Perguntou seriamente e eu acenei.
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