The Phantom Agony escrita por Yuma Ashihara


Capítulo 4
Experiências de pós-morte


Notas iniciais do capítulo

Estou aqui mais uma vez rsrs' Demorei um pouquinho, mas foi por uma boa causa! Eu precisava de concentração para escrever esse capítulo, e tudo funcionou muito bem depois que Shadow foi lançada! Aliás, essa música combina tão perfeitamente com a fanfic que resolvi colocá-la neste capítulo, e ficou incrível!

Eu quero agradecer por todos os comentários que estou recebendo de vocês que estão amando a história tanto quanto eu estou amando escrever, e espero continuar agradando com os próximos capítulos!

Betei muito rapidamente, mas assim que tiver um tempinho eu faço uma betagem decente rs'

Boa leitura a todos!



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Depois de ouvir toda aquela história sobre os irmãos Kim, achei mais do que justo compartilhar a minha própria com Namjoon, obviamente mencionando todos os eventos em que poderíamos ter nos encontrado no passado. Assim como eu, Namjoon também ficou extremamente surpreso por descobrir que o rapaz que havia ajudado no pátio era eu e por estar compartilhando agora detalhes sobre a minha amizade com Seokjin que até então ele não conhecia.

Admito que falar sobre aquilo acabou me deixando infinitamente mais leve nos dias que se seguiram, além de ter ajudado a melhorar o nosso relacionamento dentro daquela casa. Namjoon e eu passamos a conversar todos os dias depois que ele chegava do trabalho, e eu sequer deixava os outros espíritos passarem da porta da frente quando o mesmo chegava, afinal, também não queria ser perturbado dentro da minha própria casa.

Começamos a trocar conhecimento e a pensar em diversas teorias que pudessem explicar o que estivesse acontecendo. Namjoon também não conseguia entender o por quê de não conseguir deixar aquela casa e quais era os motivos que me mantinham preso ali, mas em uma coisa tanto ele como eu concordamos: Provavelmente a casa era apenas um objeto que foi usado para algo maior.

— Você conseguiu ir até a esquina quando te dei a permissão para sair. E se, de alguma forma, você foi preso nessa casa para que pudéssemos nos encontrar?

Pela primeira vez toda aquela loucura começava a fazer sentido, principalmente quando começamos a juntar os fatos. Namjoon e eu realmente tivemos diversas oportunidades de nos conhecermos quando ainda estava vivo, primeiro na minha infância, quando fui agredido, e depois quando nos mudamos para Seoul e comecei uma amizade com seu irmão. O por quê de nunca termos nos encontrado antes e isso ter acontecido justamente após a minha morte ainda continuaria sendo um mistério, mas se juntarmos tudo isso com o fato de ter conseguido sair de casa depois da permissão de Namjoon, não seria difícil chegar a conclusão de que alguma coisa estranha estava nos conectando.

Namjoon se lançou sobre a cama, suspirando pesadamente enquanto encarava o teto pensativo. As olheiras em baixo de seus olhos indicavam o quanto estava cansado e necessitado de uma boa noite de sono.

— Vamos tentar sair amanhã, juntos. - Ele disse de repente, atraindo a minha atenção mais do que depressa. - Se nós estamos conectados de alguma forma, e se as suas roupas brancas significarem o que estou pensando, você está livre para ir onde quiser, desde que eu esteja ao seu lado.

— Hã? - Fiz uma careta, confuso, sentando-me ao seu lado na cama enquanto cruzava os braços. Naquele momento eu voltei os olhos para as minhas roupas brancas. De fato, eu havia parado de pensar nelas por conta do que aconteceu nos últimos dias. - E no que você está pensando?

Vi um sorriso brotar em seus lábios, seguido de uma risada nasal. Namjoon levantou a cabeça para olhar para mim.

— Que talvez você seja o meu anjo da guarda ou o meu mentor espiritual. - Disse simplista, e eu apenas ergui uma das sobrancelhas.

— É sério? Eu, Min Yoongi, um anjo da guarda? - Disse debochadamente, em seguida rolando os olhos em escárnio. - Essa é a coisa mais estúpida que já ouvi você dizer desde que nos conhecemos.

Namjoon acabou rindo, mas ainda assim se levantou e se sentou na cama de frente para mim.

— Por que seria algo estúpido? Na verdade isso faz muito sentido na minha cabeça. - Ele fez uma pausa para suspirar. - Na escola as outras crianças sempre eram acompanhadas por pessoas de branco, e alguns adultos também. Eu sempre fui a única criança que nunca teve esse tipo de acompanhamento.

— O Taehyung também é o seu anjo da guarda então? - O encarei ainda sem acreditar.

— Acredito que ele seja o de outra pessoa, apesar de eu ter... "Transformado" ele. - Namjoon fez aspas no ar com os dedos. - Yoongi, estou dizendo isso porque as suas roupas são idênticas às roupas que essas pessoas de branco usavam, e também por você ser o único a continuar preso aqui comigo. - Ele suspirou pesadamente, voltando a se deitar. - Eu li na internet que todo médium precisa de um mentor, por isso que estou cogitando essa hipótese.

Fiquei encarando Namjoon por longos minutos após aquelas palavras. Talvez devesse ponderar sobre aquela hipótese, afinal, apesar de nunca querer se envolver e de estar sempre fugindo e negando as próprias habilidades, Namjoon com certeza entendia mais desse assunto do que eu.

Deixei o quarto para que ele pudesse descansar como se devia e então fiquei passeando entre os cômodos da casa. Espíritos não dormem, espíritos não sentem sono, espíritos não ficam cansados. Passar o tempo dessa forma era extremamente entediante, não conseguir segurar o controle remoto para ligar a televisão, não conseguir girar as maçanetas... Era extremamente entediante e desanimador não ser mais capaz de fazer as coisas normais que eu fazia quando estava vivo.

Acabei me sentando em uma cadeira que Namjoon deixava perto da janela e fiquei olhando para o movimento noturno do lado de fora. Aquilo me fazia lembrar das diversas noites de insônia que tinha na adolescência e das horas em que eu passava com o caderno sobre o colo escrevendo as minhas composições. Eu sempre gostei de compor à noite, pois sempre senti que era acolhido por aquela escuridão que parecia abraçar todos os meus sentimentos doloridos e conflituosos.

De repente acabei me vendo pensando no meu antigo sonho de me tornar um cantor e compositor, sentindo novamente aquele maldito aperto no peito sempre que as cenas do dia da minha maldita humilhação vinham à tona. Eu admito que após aquilo eu tenha tentado voltar a escrever e compor, mas a dor era tão grande e intensa que já não conseguia mais transmitir em palavras o que de fato estava sentindo, principalmente por não conseguir encontrar palavras que pudessem descrever aquilo.

Os sentimentos que acumulei para mim mesmo naquela época apenas me causaram depressão, ansiedade e uma imensa vontade de morrer. Eu já não queria mais viver em um mundo onde as pessoas precisavam pisar e humilhar umas as outras para se sentirem superiores ou para conseguirem o que queriam. A única coisa que o jovem Min Yoongi queria naquela época era desabafar tudo de ruim que sentia, expôr em palavras o quanto se odiava. A única coisa que eu queria naquela época era que as pessoas me ouvissem, que fossem atingidas e que, de alguma forma, acabassem se identificado com aquelas palavras e soubessem que não estavam sozinhas, pois pelo menos eu também sentia o mesmo que elas.

A única coisa que eu queria naquela época era sentir que não estava sozinho.

— Eu quero ser uma estrela do rap. Eu quero ser o melhor. Eu quero ser um astro do rock, eu quero que tudo seja meu. Eu quero ser rico, eu quero ser o rei. Eu quero ganhar, eu quero ser... 

Pisquei demoradamente com aquilo, encarando o meu próprio reflexo pelo vidro da janela. Sequer havia percebido quando comecei a cantarolar aquilo tão repentinamente, mas que resumiam perfeitamente o que eu queria quando era mais novo. Meus olhos estavam marejados, conseguia ver isso pelo reflexo do vidro e os meus lábios levemente trêmulos evidenciavam o meu estado quebrado, consumido pela depressão, perdido por não saber o que fazer.

— Todo dia eu imaginava até onde eu iria. Eu encarei a realidade e me vi aqui. Sim, hm, uma sombra aos meus pés. Olho para baixo e ela está ainda maior. Eu corro, mas a sombra me persegue. Tão escura quanto a intensidade da luz.

Puxei o ar para os meus pulmões antes de continuar, agora com as palavras de Taehyung em minha mente enquanto o aperto em meu peito parecia aumentar ainda mais. A sua história de vida, o que passou com o seu agente e o que culminou em sua morte, e eu sequer sou capaz de ajudá-lo no único momento em que ele realmente precisa da minha ajuda. Tudo isso formando um maldito nó em minha garganta, tão doloroso e que me dificulta respirar. O fato de não saber o que está acontecendo comigo e o que tudo isso de vida após a morte significa e que me faz tremer violentamente.

— Eu estou com medo, voar tão alto é assustador. Ninguém me disse o quanto era solitário aqui em cima. Eu posso dar um salto no ar, mas também posso cair.

As palavras de Namjoon também voltavam frescas em minha mente, tudo o que ele vinha passando em toda a sua vida por ter nascido com uma carga como aquela, por simplesmente não aceitar a si próprio e querer fugir de todo aquele turbilhão de sofrimento que parece não ter fim. Eu o entendo, realmente o entendo por querer fugir, por querer se preservar.

— Agora eu sei que fugir pode ser uma opção também. As pessoas dizem que é grandioso estar sob essa brilhante luz. Mas minha sombra que cresce e me engole se torna um monstro. Lá em cima, bem alto, cada vez mais alto. Eu subo mais alto e a tontura se apodera de mim. Eu subo, subo e eu odeio isso. Eu rezo, rezo, esperando que eu fique bem.

Apoiei os braços no batente da janela, puxando os meus cabelos loiros enquanto deixava as lágrimas escorrerem pelo meu rosto, os olhos fechados, os dentes trincados, a respiração ofegante e aqueles malditos sentimentos conflitantes. Não importa o quanto eu lute contra, essa coisa ruim sempre volta para me atormentar, até mesmo depois de morto.

— No momento em que estou voando tão alto quanto desejei, minha sombra cresce naquela desolada luz ofuscante.

Puxei meus cabelos com mais força, sequer medindo a intensidade da minha voz naquele momento.

 Por favor, não me deixe brilhar! Não me deixe cair! Não me deixe voar! Eu estou com medo agora!

Abri os olhos e encarei o meu reflexo no vidro. Era a primeira vez que me via naquele estado, nunca havia chorado e desabado daquela forma na frente de algum objeto reflexivo, e era tão humilhante me ver naquele estado tão deplorável e sensível no qual eu me encontrava naquele momento. Eu me sentia vulnerável, quebrado, e com medo, um terror constante do que poderia vir a acontecer.

— O momento em que eu me vejo no meu pior é também o momento em que estou voando mais alto.

Acabei me levantando da cadeira, mas as pernas trêmulas me levaram de encontro ao chão. Acabei ficando de quatro, apoiando os braços no chão enquanto socava o mesmo com uma das mãos, praguejando alto:

— Por favor, não me deixe brilhar! Não me deixe cair! Não me deixe voar! Eu estou com medo agora!

E naquele momento me faltaram palavras para continuar o que quer que eu estivesse cantando, o sôfrego rap de antes agora dando lugar aos meus soluços altos e grunhidos por conta do choro incessante e do terror repentino que havia se apossado do meu corpo tão de repente.

— Eu estou com medo agora... - Sussurrei para mim mesmo enquanto encolhia o meu corpo no chão.

Na verdade eu estava apavorado e mais perdido do que nunca.

Ainda demorei um bom tempo para me recuperar, e então voltei o corpo para a janela apenas para conferir o meu atual estado, rindo nasalmente em desgosto. Aparentemente fantasmas também ficavam com o rosto inchado após chorar daquela maneira.

Recompondo-me minimamente, fui até o quarto de Namjoon apenas para conferir se ainda estava dormindo, afinal, apenas naquele momento percebi o quão alto estava o meu tom de voz, e fiquei imensamente aliviado ao perceber que ele ainda estava em seu sono pesado. Com isso, voltei para a sala e voltei a me sentar sobre a cadeira, encarando o lado de fora esperando o amanhecer.

Depois da nossa conversa naquela noite Namjoon passou a me convidar para sair mais vezes, insistindo na teoria de que talvez eu tivesse uma ligação de mentoria ou de anjo da guarda com ele. Por muito tempo eu não quis acreditar nisso e, até mesmo, mudava de assunto quando ele começava a falar sobre esse tipo de coisa.

Admitia que estava com medo de me decepcionar de novo, como naquele dia em que saí com Taehyung. E ainda não havia me recuperado plenamente do meu último surto da madrugada.

Porém, depois de tanto insistir acabei cedendo à sua vontade. Em matéria de teimosia Namjoon e Seokjin eram idênticos, e era justamente por ser uma pessoa de pouca paciência que estava, naquele momento, exatamente na mesma esquina onde fui com Taehyung, alguns passos atrás de onde fui puxado violentamente para dentro de casa.

Minhas mãos tremiam um pouco por conta do nervoso enquanto encarava um Namjoon sorridente à minha frente. A rua estava vazia naquela hora, o que possibilitava que conversássemos livremente sem parecer que ele estava falando sozinho.

— Namjoon eu ainda acho que isso é uma péssima ideia. - Comentei, inflando levemente as narinas enquanto ele me encarava divertido.

— Vamos Yoongi, eu tenho certeza que isso vai dar certo. - Insistiu, dando um passo para trás, mas ainda ficando de frente para mim.

— E se não der? - Voltei os olhos para ele, ainda duvidando daquela teoria louca.

— Você vai ser puxado de volta para dentro de casa, e então teremos que pensar em outra coisa. - Disse simplista, rindo da minha expressão de indignação.

— Acha justo só eu me foder nessa história toda? - Perguntei ainda indignado e ele riu mais alto, colocando as duas mãos nos bolsos da calça jeans que usava.

— Sem dor, sem ganhos. Já ouviu essa frase antes, não? - Ele deu de ombros e eu suspirei pesadamente, apertando os olhos com os dedos. - Vamos, você também sabe que essa é a única forma de validarmos essa tese. E se você der mais um passo eu faço alguma coisa por você também.

Ergui uma das sobrancelhas e voltei a encará-lo.

— O que diabos você pode fazer por uma alma penada que nem eu? - Perguntei um pouco debochado.

— Sei lá, talvez eu possa fazer uma reza para ver se o seu espírito evolui. - Respondeu debochado, dando de ombros.

Cretino.

Balancei a cabeça negativamente algumas vezes e fechei os olhos. Eu queria dar aquele passo, mas ao mesmo tempo não queria, pois sabia o que iria acontecer depois. A dor infernal no meu corpo, a fraqueza e perda de energia que mal me permitiam andar... Eu não queria sentir isso de novo. Mas, ao mesmo tempo, se eu não tentasse nunca iríamos descobrir se aquela teoria estava certa ou não.

Respirei fundo novamente e, mesmo relutante, dei o primeiro passo. Estava com os olhos fechados e pronto para sentir aquela maldita pressão na altura do estômago que iria me puxar para trás.

Mas a pressão não veio.

Abri os olhos em completo choque, olhando para os meus pés, para Namjoon e em seguida em volta. Ainda estava do lado de fora e Namjoon sorria satisfeito para mim. Foi quando dei mais um passo, e outro, e depois mais um, até estar próximo o suficiente dele novamente.

Aquele projeto de médium estava certo afinal, aquela casa era apenas um elo que me prendeu até que finalmente pudesse me encontrar com Namjoon, porque, de fato, eu era ligado à ele de alguma forma.

Naquele dia Namjoon fez o favor de me acompanhar por todos os lugares em que eu queria ir. Seoul não havia mudado desde a minha morte, as pessoas ainda caminhavam apressadas pelas calçadas, as crianças brincavam nos parques, os outdoors ainda eram extremamente coloridos e anunciavam todas as novidades do mercado. Eram coisas tão simples, mas que naquele momento estavam me fazendo tão feliz que não conseguia deixar de sorrir por estar simplesmente caminhando pelas ruas novamente como uma pessoa comum e normal.

Foi então que Namjoon teve a brilhante ideia de me deixar acompanhá-lo todos os dias quando fosse trabalhar. Por mais que não pudesse me afastar muito dele, pelo menos enquanto ele estava no escritório eu poderia caminhar um pouco pelo quarteirão e espairecer. Mesmo com o meu raio de liberdade limitado, ainda era infinitamente melhor do que estar preso dentro daquela casa sem ter mais o que fazer. Ali, pelo menos, poderia ver o movimento urbano, ouvir algumas conversas e, quem sabe, até mesmo encontrar um ou outro espírito que queira conversar comigo sobre qualquer coisa. Era um momento em que eu poderia finalmente me sentir normal, e eu não podia ser mais grato à Namjoon por isso.

Nos dias que se seguiram nós saímos para lugares aleatórios, normalmente no seu horário de almoço ou depois do expediente. Não tive tempo livre o suficiente para desbravar Seoul como gostaria quando estava vivo e, sabendo disso, Namjoon fazia questão de me levar em lugares da cidade que eu nunca havia visto. E, apesar das outras pessoas não conseguirem me ver, Namjoon sempre conversava comigo e me explicava algumas coisas quando saíamos. Sua tática era sempre sair de casa com um par de fones bluetooth, desta forma as pessoas que o vissem falando aparentemente sozinho assumiriam que estivesse em uma ligação.

Tinha que admitir que Namjoon era realmente inteligente quando queria. Eu mesmo nunca teria pensado nisso.

Naquele dia caminhávamos lado a lado após o seu expediente, e eu olhava para a expressão cansada em seu rosto com certo pesar. Nunca tinha parado para ficar muito tempo no escritório onde ele trabalhava, pois não queria servir de distração, mas naquele momento acabei ficando curioso para saber no que Kim Namjoon trabalhava para ficar tão cansado daquele jeito todos os dias. E iria questioná-lo sobre isso de algo não tivesse chamado a minha atenção.

Estávamos indo na direção do ponto de ônibus quando uma cena me fez parar de andar, e Namjoon logo parou ao meu lado, os olhos delineados arregalando-se para a cena que se desenrolava ali. À nossa frente um homem estava sentado no banco sozinho, levemente encurvado para frente enquanto segurava o telefone celular em uma das mãos. Em suas costas uma criatura disforme agarrada em seus ombros resmungando palavras que não conseguia entender, e ao seu lado, segurando com força os braços daquela criatura em uma tentativa de afastá-la daquele homem de cabelos castanhos estava ele.

Kim Taehyung.

Eu fiquei em choque por reencontrar Taehyung daquela maneira, com os olhos marejados enquanto implorava para que aquela criatura deixasse aquele homem em paz, que mais do que depressa assumi se tratar de Jung Hoseok. No mesmo instante voltei os olhos para Namjoon, que estava sério, encarando a cena com o cenho franzido.

— Olha, eu sei que você não quer se envolver nessas coisas, mas não podemos deixá-lo assim! - Disse à ele, voltando-me para Namjoon mais do que depressa. - Você não precisa fazer nada, só fique sentado do lado dele que eu tento ajudar o Taehyung com o que quer que seja aquela coisa!

Já iria na direção deles quando fui interrompido por Namjoon.

— Espera! - Ele disse para mim em um sussurro alto e então eu voltei os olhos para ele, que ainda encarava aquela criatura visivelmente tenso. - Eu... Já vi esse tipo de criatura antes...

— O que? - Franzi o cenho para ele sem entender, agora dividido entre olhar Taehyung e fitá-lo.

— É tipo um vampiro, um sanguessuga. - Explicou, mordendo o lábio inferior e finalmente voltando os olhos delineados para mim, os cabelos pretos caindo sobre o rosto em formato de coração. - Yoongi, você precisa tomar cuidado, esse tipo de criatura se alimenta de toda a energia positiva de uma pessoa ou de um ser espiritual. Ele não é igual as criaturas que você está acostumado a expulsar de casa.

— Calma Namjoon, explica isso direito! Como que você tem tanta certeza disso? - Perguntei, sentindo certo alvoroço subir pelo meu estômago até a minha garganta. Estava ficando ansioso por estar parado ali sem fazer nada.

— Eu já vi uma dessas criaturas com o Jin. - Disse. - Depois eu explico, mas tome cuidado, ele não vai se afastar pela força bruta, você precisa convecê-lo a parar.

Jin já esteve sob a influência de uma daquelas criaturas? Era um pouco difícil de acreditar nisso, e era igualmente difícil de se acreditar que existiam criaturas ou espíritos desformes que eram capazes de tamanha maldade como aquela. Porém, aquele não era o momento para pensar nesse tipo de coisa, eu precisava ajudar Taehyung a afastar aquela criatura de Hoseok o mais rápido possível.

Com isso em mente, vi Namjoon se aproximar calmamente do ponto de ônibus e se sentar ao lado de Hoseok, que ergueu o rosto oval para si quando ouviu a voz grave de Namjoon chamá-lo para puxar assunto. Nesse meio tempo eu me aproximei de Taehyung, que só foi notar a minha presença quando toquei em seu ombro.

— Y-Yoongi?! - Ele disse surpreso, os olhos arregalados para mim. Sorri brevemente antes de tocar em seus braços.

— Tae, você não vai conseguir ajudar o Hoseok assim. - Disse, suspirando brevemente. - Namjoon disse que precisamos convencer essa criatura ou... Seja lá o que isso for, a parar por conta própria.

— Mas... Como... - O rapaz de cabelos cinzentos voltou os olhos para o banco, encarando um Hoseok que ainda estava sentado curvado, provavelmente por conta da criatura que estava em cima dele, e um Namjoon ao seu lado que conversava sobre algum assunto qualquer.

Naquele momento Namjoon voltou os olhos escuros para trás, cruzando-os com os de um Kim Taehyung que engoliu em seco. Apenas naquele momento o rapaz soltou os braços daquela criatura, afastando-se aos poucos com as mãos trêmulas.

— O que faremos? - Perguntou para mim, e eu apenas suspirei pesadamente.

— Acho que vamos precisar ficar conversando com essa coisa até ela descer daí por conta própria. - Levei uma das mãos aos cabelos, jogando-os para trás. - Eu não sou muito bom com esse tipo de coisa, mas eu posso tentar... - Dei um passo para frente, tocando brevemente sobre aquela criatura. - Ei... Você... Você não parece muito bem...

Suspirei pesadamente pela enésima vez, tentando encontrar as palavras certas para usar naquele momento. Por que uma criatura como aquela iria se alimentar da energia positiva de alguém? Qual seria a real necessidade disso? Não é como se a positividade pudesse fazer a diferença na vida de alguém normal.

A menos que essa pessoa não tivesse tido uma vida normal.

Um pequeno estalo se fez presente na minha mente naquele momento, e então eu engoli em seco ao sentir o nó em minha garganta voltar. E se aquela criatura, de alguma forma, tivesse tido uma vida tão miserável a ponto de se transformar em um espírito disforme que precisa de alimentar de energia para anestesiar a sua dor?

Aquilo fazia sentido, pelo menos na minha cabeça.

— Olha... Eu não sei o que houve com você, ou o que te levou a se tornar isso, mas... Eu entendo a sua dor. - Disse mordendo o lábio inferior e voltando os olhos para Taehyung, praticamente suplicando por ajuda naquele momento. - Nós dois entendemos como a vida pode nos deixar traumas incuráveis, e como é difícil entender como seguir adiante depois de mortos.

Taehyung pareceu entender aonde eu queria chegar com aquele assunto, e então se aproximou, ainda com as mãos trêmulas.

— Eu sei que você não gosta muito de mim. - Ele disse, rindo brevemente. - Eu... Ainda estou tentando entender tudo o que está acontecendo, sabe, essa coisa de estar morto e não saber o que fazer. - Ele abaixou a cabeça, em seguida tocando na criatura também. - Eu só quero que saiba que eu só te tratei de forma bruta porque estava desesperado... Você... - Vi lágrimas se formarem nos olhos de Taehyung naquele momento, este que os voltou para Hoseok no banco. - Você... Está machucando uma pessoa que eu amo muito, e eu entrei em pânico... Eu não quero que nada de ruim aconteça com ele e a única coisa que eu quero é proteger o homem que eu amo então por favor... Pare...

Taehyung abaixou a cabeça naquele momento, não conseguindo conter as lágrimas em seus olhos. Eu até mesmo me aproximei mais dele, passando um dos braços pelas suas costas procurando confortá-lo um pouco, afinal, ele não estava sozinho e precisava entender isso. Apesar de todas as desavenças que eu tinha com ele no passado, naquele momento eu conseguia vê-lo como um amigo, e também gostaria que ele me visse desta maneira.

No entanto, nós dois fomos surpreendidos quando os grunhidos daquela criatura pararam de repente e algo que parecia com uma cabeça se afastou da nuca de Hoseok. Taehyung e eu ficamos a encarar os seus movimentos e senti meu corpo se tencionar por alguns segundos, temendo o que aquela criatura faria a seguir. Segundo o que Namjoon disse, aquele tipo de criatura poderia se alimentar de outros espíritos também, o que tornava a mim e a Taehyung alvos fáceis.

No entanto, todo aquele clima de tensão foi interrompido pelo toque de um celular, e então meus olhos se voltaram para Hoseok. O rapaz de cabelos castanhos suspirou pesadamente enquanto encarava o visor, pensativo.

— Não vai atender? - Ouvi Namjoon perguntar enquanto o encarava curioso.

— Não sei se devo. - A voz rouca de um Hoseok que estava visivelmente deprimido se fez presente. - Essa pessoa... Deve estar entrando em contato pedindo a minha ajuda, e eu não vou ser capaz de ajudá-lo.

— Como você sabe se sequer está tentando? - Namjoon disse, suspirando e encostando-se melhor sobre o banco, atraindo os olhos do Jung para si. - Não custa nada ouvir. Se for algo que não esteja ao seu alcance você pode simplesmente dizer que não pode ajudar. Mas escute. - Namjoon sorriu amigável. - Às vezes tudo o que as pessoas precisam é que alguém as escute. Isso já é uma ajuda em tanto!

Hoseok piscou algumas vezes enquanto encarava Namjoon surpreso. Eu não sabia o que estava se passando na sua cabeça naquele momento, mas, de certa forma, fiquei feliz ao ver que ele voltou os olhos pequenos para o visor do celular e, mesmo com certa relutância, atendeu.

— Alô... Ah, oi, Jungkook. - Ele disse e Namjoon sorriu. Mas meus pensamentos foram interrompidos pela criatura em cima de Hoseok.

Mais especificamente pelo grunhido gutural que ela deixou escapar.

— Jung...Kook...

Tanto eu como Taehyung tivemos um espasmo de surpresa com aquilo, e até mesmo nos afastamos quando a criatura começou a se contorcer ainda em cima de Hoseok.

— Jung... Kookie?

Naquele momento tudo o que pude fazer foi observar aquela criatura, aos poucos, descer das costas de Hoseok até se deitar no chão. Até mesmo Namjoon se virou para olhar a forma como ela se retorcia e deixava escapar sons horrendos enquanto o corpo se deformava cada vez mais.

Porém, para o meu completo espanto, aos poucos a figura disforme começou a tomar uma forma humana. A pele escura começou a clarear, revelando braços e pernas magros. O rosto começou a tomar forma, os cabelos pretos e lisos até a altura do nariz pequeno enquanto os lábios volumosos estavam separados na medida em que ainda gritava. Até mesmo a voz horrenda agora estava mais suave e, quando menos percebemos, a figura disforme desaparecia, dando lugar agora à figura de um jovem e bonito rapaz, que chorava incessantemente enquanto se encolhia no chão.

Voltei os meus olhos para Namjoon, que parecia estar tão em choque quanto eu mesmo estava, tão hipnotizado pelo o que tinha acabado de acontecer que até mesmo chamou a atenção de Hoseok quando este terminou a ligação.

— O que houve? - O Jung perguntou, também olhando para trás.

— Nada... Eu... Pensei ter visto alguém que conhecia... - Namjoon mentiu, voltando-se para Hoseok com o melhor sorriso que conseguiu esboçar naquele momento.

Eu no entanto não consegui disfarçar o espanto, ainda encarando aquele rapaz ao lado de um Taehyung que também estava incrédulo, mas que mais do que depressa se aproximou do rapaz, segurando-o pelos ombros e erguendo-o para si.

— Taehyung, não faz isso! - Disse e me aproximei, pensando que ele fosse agredir o garoto.

— Jimin?! - A voz de Taehyung se fez presente, e então o rapaz de rosto oval e cabelos pretos abriu os olhos marejados, encarando a face bonita e delineada de Taehyung. - Jimin, é você?!

O rapaz estava com os olhos arregalados enquanto o encarava, puxando com força o ar para dentro dos pulmões. Seu rosto estava com um semblante confuso, provavelmente tentando entender o que estava acontecendo ali.

— Você... - Ele sussurrou, porém, antes que eu ou Taehyung pudéssemos dizer qualquer coisa o rapaz começou a se debater, obrigando o Kim a soltá-lo, e mais do que depressa se levantou, correndo para longe dali.

— Jimin! Espera, Jimin! - Taehyung chamou, e iria correr atrás se eu não o tivesse segurado pelo pulso.

— Não vai Tae, por favor! - Pedi, encarando-o nos olhos. No entanto Taehyung puxou o pulso de forma brusca, obrigando-me a soltá-lo.

— Eu conheço ele, Yoongi! Ele é o namorado do primo do Hoseok! - Taehyung praticamente gritou aquelas palavras. - Eu preciso ir...

— Taehyung!

Ainda chamei por ele mais algumas vezes, mas não adiantou. Fiquei ali parado por um longo tempo enquanto o observava correr atrás de Jimin, tentando entender o que tinha acabado de acontecer.

Foi então que voltei os olhos para Namjoon novamente, que estava me encarando de novo. Nossos olhares se encontraram por longos segundos enquanto imaginava que ele compartilhava dos mesmos pensamentos que os meus.

Se iremos ajudar Hoseok, precisamos entender o que houve com Jimin.


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Notas finais do capítulo

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