Trio Maravilha escrita por Karina A de Souza


Capítulo 5
Sem Testemunhas


Notas iniciais do capítulo

Olá fantasmas e poeira que rondam essa fanfic. Oh, aquilo é uma teia de aranha???



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—Calea, ei, ei, olha pra mim. Ei. Tá me ouvindo?

A garota piscou algumas vezes, conseguindo focar no rosto ansioso de Missy logo em seguida.

—O que... Como a gente chegou aqui?-Murmurou, olhando o próprio quarto com confusão.

—Andando. Você veio meio arrastada, mas tudo bem.

—Eu não me lembro...

—Você entrou em choque. Como se sente?

—Eu... Eu... -Franziu a testa, então arregalou os olhos. -Eu matei um cara!

—E lá vamos nós de novo. -Murmurou.

—Eu matei ele!

—Calea...

Mas a garota não estava mais ouvindo, dizendo coisas que, em sua maioria, eram incompreensíveis, enquanto o choro ameaçava surgir.

Vendo que era mais uma tentativa inútil, Missy tocou a cabeça da garota e a fez dormir instantaneamente.

—Como foi?-O Mestre perguntou, quando a Senhora do Tempo voltou para a sala de controle.

—Péssimo, de novo. Toda vez ela acorda e é a mesma coisa. Será que a quinta tentativa trás sorte?

—Não devia ficar apagando ela.

—E o que eu devia fazer? Posso sentir o cérebro dela pifando, soltando faíscas e começando a esfumaçar. Calea não vai conseguir lidar com isso.

—Mas precisa. Você não pode deixá-la dormindo para sempre.

—Eu sei disso, Júnior. -Cruzou os braços. -Nós mandamos bem lá, hoje. E o hospital explodiu maravilhosamente.

—É. Foi.

—Eu estava pensando...

—Ah, isso é péssimo.

—E... Acho que devíamos chamar o Doutor, para falar com Calea.

—O que?

—Talvez ele consiga ajudá-la.

—Missy, se o Doutor souber que deixamos Calea matar alguém, vai levá-la embora. Nunca mais vamos vê-la ou ouvir falar dela. O Doutor nos deixou levá-la uma vez, não acho que vai acontecer de novo.

—Então vai lá e fala com ela.

—Eu? Não. Por que eu?

—Por que eu tentei quatro vezes e não deu em nada. Além disso, vocês são próximos. Ou algo assim. Quando não está sendo um babaca, ela te escuta. Lembre-se que quando entrou nessa TARDIS, ela veio atrás de você. Não de mim.

—Vamos... Dar um tempo a ela. E ver o que acontece. -Missy revirou os olhos.

—Que seja. Vou acordá-la de novo. Quando sentir que está pronto e corajoso, você pode ir falar com ela.

***

Quando a porta abriu, Calea suspirou e se ajeitou na cama como se quisesse sumir para dentro colchão.

—Missy, eu já falei que quero ficar um pouco sozinha.

—Você está “um pouco sozinha" há uma semana artificial. -A garota franziu a testa. -E não, não é a Missy.

—O que você quer?-Se sentou, encarando o Mestre.

—Quero saber o que esta fazendo. Se trancou aqui e não saiu mais.

—Não tô fazendo nada.

—Esse é o problema. -Fez uma pausa. -É sobre a última viagem? Sobre ter matado aquele cara?

—Não, não é.

—Garota, eu praticamente te ensinei a mentir, não vem com essa.

—Você pode estar acostumado a matar pessoas, mas eu não. Não é assim pra mim. São vidas e... Eu devia mesmo tomar essa decisão? Escolher quem vive e quem morre?

—Você estava se defendendo. Missy e eu teríamos morrido, você teria parado numa mesa de laboratório. Ter reagido, ter nos salvado e salvado a si mesma fez toda a diferença. Nenhum de nós estaria aqui agora. Você entende isso?

—Entendo. Mas eu não consigo tirar da minha cabeça aquela cena se repetindo e repetindo... E os pesadelos...

—Você precisa...

—Não me diz pra deixar pra lá ou superar. Não diz.

—Eu não ia. Ia te dizer que precisa encontrar um jeito de lidar com isso, um jeito de não afundar nessa situação. Querendo ou não, aconteceu. Você está aqui, está viva, e aquele cara está morto. É como foi, e como vai continuar sendo. Lide com isso, antes que isso te destrua.

***

—Não sei o que disse pra ela, mas Calea saiu do quarto. -Missy comentou, retocando a maquiagem num canto. -Eu estava tendo outra briga com a cozinha quando ela passou no corredor, me cumprimentou e foi pra biblioteca. Parece bem melhor. Sabia que ela ia superar uma hora ou outra, mas achei que demoraria mais.

—Não acho que ela tenha superado. Acho que está tentando viver. Você e eu fizemos coisas que não queríamos ter feito. Mas continuamos aqui, dia após dia, e lidando com isso como podemos. Calea é sensível, mas está tentando fazer o mesmo. -Missy ficou em silêncio por alguns longos segundos.

—Santo Universo, quando você se tornou essa coisa sensata? Parece o Doutor falando.

—Okay, agora você foi longe demais. Cai fora da minha sala de controle.

—Esse é o Mestre que eu conheço!-Ficou de pé e apontou pra ele. -Mas só pra você saber: é nossa sala de controle, Júnior. Não me faça bater na sua cara redonda.

E saiu, sumindo pelo corredor, falando sozinha.

Uma luz piscou num canto do console, mostrando que uma mensagem havia chegado, o que era uma coisa bem rara.

Abriu a mensagem na tela. Eram coordenadas, assinadas por um nome familiar.

O Mestre hesitou, mas mexeu no painel de controle, adicionando as coordenadas da mensagem, e fazendo a nave ir direto para lá.

Ele não sabia exatamente por que estava fazendo isso. Podia só ignorar a mensagem. Podia responder com uma provocação ou uma grosseria. Mas algum motivo, naquele dia, ele resolveu ir até o Doutor.

***

—Pontual. -O outro disse, vendo o antigo amigo se aproximar.

—Você é o único com uma máquina do tempo que consegue se atrasar para alguma coisa.

—Não vem ao caso. Eu te chamei aqui por que é importante. Na verdade estou surpreso por ter vindo.

—Talvez eu tenha ficado curioso. E faz tempo que não ridicularizo sua cara velha.

—Você vai deixar as piadas de lado quando ver o que preciso te mostrar.

—É outra tentativa de me comover com refugiados de planetas que explodi?

—Não. É uma execução.

—O que?

Mas o Doutor não respondeu, apenas começou a andar. O Mestre o seguiu, se lembrando mentalmente de ficar alerta caso o outro estivesse o levando para alguma armadilha que o colocaria numa prisão ou pior. O Doutor podia surpreender às vezes, mesmo depois de séculos e séculos de atrito entre eles.

Chegaram numa barreira feita de pedras. Lá em baixo havia algumas pessoas reunidas numa pequena construção aberta de mármore, que podia ser vista de todos os lados. Arquibancadas rodeavam o local, mas estavam vazias.

Um dos homens lá em baixo fez um sinal, e outros dois sugiram, puxando uma mulher com eles. Ela vestia branco, o Mestre reconheceu o traje como o de execução padrão do lugar, e tinha cabelos negros tão longos que ele achou que ela tropeçaria neles.

Os homens a fizeram ficar de joelhos, com um pouco de violência demais. A prisioneira se ajeitou, usando as mãos algemadas para isso, e tirou o cabelo do rosto.

O Mestre a reconheceu no mesmo momento.

Era Calea.

—Impossível. -Murmurou, olhando por cima do ombro na direção da TARDIS, mesmo que não pudesse vê-la dali.

—O que é que estão todos olhando?-Calea gritou. O Mestre nunca tinha a ouvido gritar daquele jeito, nem mesmo com ele. -É, vocês me pegaram, seus bastardos! Espero que estejam felizes!

—O que ela...

—Calea foi presa por 49 crimes diferentes, em todo o Universo. -O Doutor contou. -Foi presa duas vezes, fugiu, até que a pegaram e a mandaram para cá, onde ficou presa até agora. Até o dia da execução.

—Não é possível...

—Você quer chamar alguém para ser sua testemunha?-Um dos homens perguntou. Calea olhou pra ele como se pudesse arrancar seu coração com os olhos.

—Não há ninguém para chamar. -Avisou. -Todos se foram. Só há eu. E vocês sabem disso.

—É direito seu ter alguém na execução, incluindo líderes espirituais ou religiosos...

—Vocês querem me matar, então vamos logo com isso. Por que, acredite, se eu me soltar, vou destruir cada um de vocês. Começando por você.

O homem se afastou e fez outro gesto. Calea olhou para cada um presente, uma ameaça clara no olhar, então três homens se colocaram atrás dela, armas em mãos.

Tiros foram ouvidos.

O corpo da prisioneira foi para o chão.

Calea Hostton estava morta.

***

—Aconteceu alguma coisa?-Calea perguntou. -A TARDIS pousou, então decolou e pousou de novo. -Terminou de arrumar a cama. -Tem algum problema?

—Quero que pegue suas coisas e saia da TARDIS agora.

—O que?-Girou, encarando o Mestre. -Por quê?

—Eu disse agora.

—Está me expulsando?-Sem resposta.

Calea olhou em volta, um pouco perdida, então começou a enfiar algumas coisas numa mochila.

O Mestre continuou parado na porta, sem realmente olhar para o que estava acontecendo.

Calea terminou de arrumar a mochila e começou a sair, mas parou, jogando a chave de fenda sônica no chão, aos pés do Mestre.

—Talvez queira ficar com isso.

E saiu correndo.


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Notas finais do capítulo

Era aqui que vocês queriam problemas mais sérios? Tomem problemas mais sérios! Kkkkk A coisa tá feia né? É, eu sei, é um dom meu fazer drama e confusão.
Até o próximo... Se tiver alguém aí do outro lado.



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