Um pequeno problema escrita por Celso Innocente


Capítulo 5
Uma nova família




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Enquanto retornavam para casa Luciana lembrou que o menino estava assim perambulando desde que acordou pela manhã.

            — Você passou o dia todo sem comer? — Especulou ela.

            — Eu comi dois pastel e um guaraná.

            — Onde você conseguiu dois pas…téis?

            — O homem da casa de lanches me deu.

            — Como deu? Assim… de graça!?

            — Eu disse a ele que nem tinha dinheiro, mas ele me deu mesmo assim.

            Luciana olhou desconfiada pelo espelho retrovisor, observando o jeito assustado do menino no banco traseiro, forçou uma nota de vinte Reais de sua carteira e entregou-lhe perguntando:

            — Conhece esta nota?

            — Este não é o dinheiro do Brasil!

            — O dinheiro de onde você mora se chama… Cruzeiro?

            — Sim! — Concordou forte.

            — Amanhã a gente passa lá e eu pagarei seus pastéis. Tá bom?

            — O moço disse que não precisa pagar — deu de ombros. — Mesmo assim acho que é bom pagar.

O carro acabava de ser desligado em sua garagem. Os dois desembarcaram e na sala de estar encontraram Maysa de óculos escuro, assistindo a uma animação de dinossauros na televisão.

            — Achou a casa dele, mamãe? — Perguntou a menina.

            — Acho que a casa dele é aqui mesmo!

            — Não moro aqui! — Protestou o menino.

            Luciana apanhou na estante outro óculos escuros e entregou ao menino dizendo:

            — Use-o.

            — Pra quê! Nem tem sol!

            — Use-o! — Insistiu a mulher.

            Mesmo sem entender o porquê, o menino colocou os óculos e quase que imediatamente gritou:

            — Voti, o dinossauro rex pulou da televisão!

            Luciana segurou-o pelos ombros e olhando firme para seus olhos escondidos pelos óculos, especulou-o:

            — Já tinha visto algo igual?

            — Não! — Negou ele com o auxílio da cabeça.

            — Você já viu algum dinossauro desses? — Riu Maysa.

            — Claro que não! Eles nem existem de verdade!

            — Muito bem! Você deve estar hiper cansado! —Arrastou-o para o seu quarto, Luciana. — Tire essa roupa e tome um banho, enquanto termino de preparar a janta.

            Tirou-lhe os óculos e seguiu para o quarto da filha.

            O que será que ela quis dizer com termino de preparar a janta, se nem estivera em casa durante toda a tarde para que tenha começado tal atividade?

É que tal jantar seria o mesmo do almoço, bastando apenas requentá-lo, o que por sinal, graça às tecnologias modernas, como panela elétrica, forno micro-ondas e embalagens térmicas, se tornava muito ágil.

            Menos de dois minutos depois voltara ao seu quarto com uma toalha, outra camiseta branca e um short de algodão azul, ambos de sua filha.

            Como o menino já teria adentrado ao banheiro, empurrou a porta abrindo-o, ao qual ele assustou-se protegendo seus genitais com ambas as mãos protestando:

            — Ohw! Eu estou aqui!

            — E o que tem isso? — Questionou Luciana. — Sei que você está aqui!

            — Sou homem!

            — Vê lá! Estou enjoada de ver seu pênis! — Ironizou ela. — Claro que não tão pequenino!

            Pendurou a toalha e as roupas no box e foi ajudá-lo a ajustar a temperatura da água do aquecedor solar.

            — O que é pênis? — Especulou o menino, ignorante a tal assunto tabu em sua família.

            — Esse negocinho que você tá tentando esconder com as mãos — riu a mulher.

            — De onde vem a água deste chuveiro? — Especulou ele, ainda protegendo os genitais.

            — De duas caixas gigantes em cima da casa.

            — Quem coloca ela lá?

            — Em nosso caso, existe um poço que tem uma bomba elétrica que leva a água até uma das caixas. Onde não existe um poço, a água vem de um reservatório que a colhe de um rio.

            Já debaixo do chuveiro percebendo a temperatura ideal para tal banho, insistiu:

            — E quem esquenta a água?

            — O Sol.

            — Agora está de noite. Não tem Sol.

            — O Sol esquenta ela durante o dia e deixa em um reservatório térmico para que usemos quando quisermos.

            — O que é… térmico?

            — Você gosta de perguntar. Não?

            — É que eu não sei o que é, ué!

            — Reservatório térmico é uma caixa grande de aço, que não entra e nem sai ar, com isso mantém a água fervendo.

            Aguardou um pouco. Como ele se calou, ela insistiu:

            — Mais alguma pergunta?

            — Não! — Negou simplesmente. — Agora posso tomar banho sozinho?

            — É bom mesmo — ironizou ela. — Senão você vai arrancar esse negocinho aí de tanto puxar!

Percebendo o que involuntariamente fazia, o menino sentiu-se tímido, a mulher apanhou as roupas sujas no chão e se retirou para a cozinha.

            Na passagem pela sala, Maysa lhe interrompeu:

            — Mamãe, ele vai ficar aqui em casa?

            — Por enquanto vai, filha.

            — E vai ficar usando minhas roupas?

            — Acho que você não se importa em emprestá-las, não é?

            — Tá! — Deu de ombros a filha. — Só que é de menina!

            Foi até o terceiro dormitório, onde preparou uma das duas camas, deixando-a pronta para receber novo inesperado hóspede e seguiu para a cozinha, no intuito de preparar mesmo o jantar.

            Dez minutos depois, o menino, novamente de óculos, estava sentado no sofá da sala, assistindo com a menina ao mesmo filme de dinossauros em imagens tridimensionais.

            — Você vai ficar morando com a gente? — Perguntou-lhe Maysa.

            — Vou ficar até a sua mãe ajudar a achar meus pais.

            — Ele é bonitinho, mas você não pode paquerá-lo, tá filha — ironizou a mulher que acabava de chegar.

            — Eu não! Acha?!

            — Não acha que ele seja bonito? — Riu Luciana.

            — É! — Deu de ombros a menina. — Até que é! Mas não vou namorar ele!

            — Também não quero namorar ela! — Protestou o menino.

            — Não acha minha filha linda?

            — Ela é muito linda! — Finalmente esboçou leve sorriso o pequeno, forçando os óculos para a testa. — Até parece princesa!

            — Ooooh! — Entusiasmou-se Luciana. — Viu só, filha! Que galanteio! Meu marido nunca fala isso pra mim!

            — Obrigado! — Riu Maysa balançando os longos cabelos macios. — Mas somos pequenos pra namorar.

            — Vocês nem podem se enamorarem, certo? Depois eu explico o porquê.

            — Já sei por que, mãe! Ele é mais novo do que eu.

            Poucos minutos depois, Luciana fizera os dois pausarem tal filme da televisão e se dirigiram os três para a copa, onde passaram a jantar.

            — Só mora vocês dois nessa casa gigante?

            — Não! — Negou Maysa. — Mora eu, minha mãe, meu irmão Arthur e meu pai.

            — Cadê eles?

            — Arthur foi pra escola, meu pai tá sumido desde cedo — dirigiu-se para a mãe. — Ainda não tem notícias do pai, mãe?

            — Acho que sei o que está acontecendo — tentou explicar Luciana. — Depois eu explico.

            — Quantos anos tem… Arthur? — Perguntou curioso o menino.

            — Dezessete! E eu tenho outro irmão! George! Ele tem vinte e dois. Só que não mora mais conosco!


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