Um pequeno problema escrita por Celso Innocente


Capítulo 4
Menino homem.




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A mulher sentou-se ao seu lado e também sem saber o que fazer alegou:

— Vamos juntos entender o que está acontecendo! O que você foi fazer naquela casa ali atrás?

— É a casa de meus padrinhos. Mas eles não estão mais lá!

— Quem são seus padrinhos?

— Helias e Alice. Mas eles sumiram! Tem um velhinho morando lá!

— Ouça menino, ali onde você foi não moram Helias e Alice. Aliás, nessa rua não mora esse casal. Eu conheço todo mundo por aqui.

— Eu venho na casa deles todos os dias! Eles moram naquela casa! Mas por que a rua está tão diferente? A rua não tem asfalto. A rua da minha casa também é diferente! Minha casa é diferente. E meus pais não estão lá! Tem outra mulher morando lá.

— Venha comigo — levantou-se Luciana, arrastando-o pela mão. — Vamos agora conversar com a tal mulher que mora na casa de seus pais.

Ele a acompanhou, entrando e sentando-se no banco traseiro do carro, enquanto Luciana gritava:

— Filha, eu vou com esse menino na casa da avó! Você vem com a gente?

— Não! — Respondeu ela ainda no quarto.

Em poucos segundos o carro já deixava a garagem e o portão tornava a se fechar sozinho.

— Quem fechou o portão? — Questionou-a o menino.

— Um leve toque com o dedo nesta alavanca e ele me obedece — riu Luciana, mostrando ao pequeno a alavanca do farol alto do veículo.

Não se passara nem cinco minutos e o carro estacionava seu em frente a mesma casa em que o menino estivera de manhã.

— Esta é a sua casa? — Perguntou virando-se para o menino.

Ele acenou que sim, depois questionou:

— Como você soube vir aqui se eu não disse onde era?

— Também preciso entender esse mistério — deu de ombros ela. — Também preciso encontrar meu marido.

— O que aconteceu com seu marido?

— Ainda não sei! Venha comigo.

Ambos desembarcaram e mesmo sem chamar abriram o portão e adentraram, chegando até a sala de estar onde encontrou sua proprietária, que já caminhava a seus encontros.

— Foi ele quem esteve aqui pela manhã, dona Maria?

— Foi! Encontrou seus pais, menino?

            — Este menino acordou em minha cama usando as roupas do seu filho e sequer sabe quem é ele. Disse que mora aqui! Não sei o que está havendo. Ele deve ter passado por algum trauma e deve estar com algum tipo de amnésia.

            — Não sofri trauma e nem tenho esse negócio que você falou! — Protestou o pequeno.

            — Tadinho! — Comoveu-se a idosa. — Como ele foi parar lá? Regis o levou?

            — Não sei! Não o vi ainda hoje! Nem sei aonde foi parar!

            — Aonde a senhora mora? — Perguntou o menino à idosa. — O que está fazendo em minha casa? Por que minha casa está tão diferente? Onde está a minha mãe e o meu pai… e meus irmãos?

            — Menininho… — insistiu Luciana. — Preste atenção. Esta aqui não é a sua casa! Igual a outra casa que também não é de seus padrinhos! Aqui só mora esta mulher! Que por sinal é a minha sogra… mãe do meu marido. Todos os filhos dela estão casados.

            — O que está acontecendo? — Assustado ele só podia mesmo era chorar. — Eu quero encontrar os meus pais!

            — Calma que a gente vai encontrar seus pais! Vamos agora à polícia!

            — Não! — Apavorou-se mais. — Na polícia não!

            — Precisamos ir. Meu marido também está sumido e eu não sei aonde ele foi parar.

            — Não quero ser preso!

            — Você não será preso! Imagina!

            — Nem quero ir pro orfanato!

            — Você não vai pro orfanato! Claro que não! Eles irão nos ajudar a encontrar seus pais.

— Não quero ir na polícia!

Luciana aproximou-se do aparelho de televisão desligado e mostrando a ele perguntou-lhe:

            — Sabe o que é isso?

            — Televisão.

            Ligou-a e assim que as imagens em nitidez perfeita surgiram, o menino emendou:

            — Imagem colorida.

            — Você já viu televisão?

            Ele balançou os ombros como a dizer “poucas vezes”

            — Por que você diz que aqui é a sua casa?

            — Eu moro aqui! — Foi convicto. — Está diferente, mas eu moro aqui faz mais de um ano!

            — O que está diferente nesta casa e a que você diz morar?

            — A varanda era pequena. Não existia garagem. A sala era até aqui — mostrou onde dividia a sala no lugar que separa tais dois ambientes. — Deste outro lado ficava a cozinha. Aqui no canto tinha o fogão …

            — O fogão está na outra cozinha — emendou Luciana.

            — Não era aquele — negou o menino choramin-gando. — Ele era vermelho, feito de cimento.

            — Preste atenção, você disse que faz mais de um ano que mora nesta casa. Onde você morava antes?

            — No sítio, ué!

            O menino dirigiu-se a uma pequena estante ao lado do sofá maior e apontando para uma moldura com a foto de um bebê, perguntou à idosa:

            — Por que a senhora tem esta foto?

            — É uma linda moldura! — Alegou dona Maria. — Você gostou dela?

            — Na foto sou eu… quando bebê.

            — Ele pode até se parecer com você bebê — riu a idosa. — Mas com certeza não é! Ele é meu filho.

            — Esse cabelo pra cima e essa roupa que ficou parecendo vestido, faz meus irmãos rirem de mim todos os dias. Por isso eu sei que sou eu.

            — Como é o seu nome, menino? — Arrepiou-se Luciana.

            Ele apenas balançou os ombros como a perguntar “o que isto ajuda? ”

            — Você… mora aqui?

            — Eu moro. Mas está muito diferente.

            — Em que ano nós estamos?

            Deu de ombros como a não saber.

            — Quantos anos você tem?

            — Nove…

            — Em que ano você nasceu?

            Novamente os ombros responderam em negativa.

            — Quantas vezes o Brasil foi campeão na copa do mundo de futebol?

            Os ombros pequenos disseram que nem sabia o que era copa do mundo.

            — Em sua casa você nem tem televisão!

            — Só rico tem televisão — foi incisivo o menino.

            Luciana estava apavorada. Virou-se para a sogra:

            — Esse menino veio do passado! — Disse ela.

            — Não vim do passado! — Protestou ele.

            — Já andou em um carro igual ao meu?

            — Nunca! Ele é muito bonito e gostoso de andar.

            Voltou-se para o pequeno e especulou-o:

            — Você entrou em algum tipo de máquina que fez alterar suas coisas?

            — Não entrei em nenhuma máquina!

            — Dona Maria, esse menino embarcou em alguma máquina do tempo que o trouxe do passado para o nosso presente. A questão d’ele ter vindo sem suas roupas explica isso. Ninguém conseguiria viajar no tempo levando consigo coisas, porque elas são moléculas mortas. O estranho é que com isso meu… esposo desapareceu.

            — O que significa? — Estranhou a idosa.

            — Significa que eu acho que acabei de ganhar um lindo filho e perder um lindo marido…

            O menino não entendia nada. Nem mesmo a mulher idosa estava entendendo e emendou:

            — O que você quer insinuar?

            — Que eu não sei se vou ficar com ele ou devolvê-lo pra senhora. Este menino é o filho da senhora, do passado.

            A idosa observou com atenção o menino de pé naquela sala e então concordou:

            — Ele se parece muito com Regis quando pequeno. Mas como isso aconteceria? Como ele viria do passado?

            — Eu já falei, não vim de nenhum passado! — Protestou o pequeno.

            — Lembra que eu disse que uma vez recebemos a visita de uma pessoa que dizia nosso filho? — relembrou dona Maria.

            — Sim! A senhora comentou quando passei aqui.

            — Então! É o mesmo caso. Inverso. Esse menino se diz meu filho. E se parece com Regis.

            — Qual é o seu nome, garoto? — especulou Luciana.

            — Alex. Mas eu queria chamar Regis Alexander Cordeiro dos Santos.

            — Nossa! Pra que tanto?

            — É meu nome! — Deu de ombros.

            Luciana sempre chamava o marido apenas pelo primeiro nome que sequer se ostentava que o mesmo tinha um nome tão longo.

            — Pronto! — Suspirou ela perdida. — Uma parte do mistério está resolvida. Vou para casa, depois aviso a senhora o que vai acontecer.

            — E ele? — Perguntou-lhe a idosa.

            — Vou levá-lo comigo. É seu filho, mas é meu marido!

            — Não sou seu marido! — Protestou o pequeno. — Sou muito pequeno pra ser casado!

            — Pois é! — Riu desajeitadamente Luciana. — Vou ter que providenciar urgente mamadeiras e fraldas!

            — Não uso fraldas e nem tomo mamadeira!


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