Pequenas Mentiras escrita por unalternagi


Capítulo 3
Terceira coisa: não estou escondendo




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Terceira coisa: não estou escondendo

Pela janela do quarto os primeiros raios de sol brilhavam contra a pele das costas descobertas de Alice. Jasper estava deitado ao lado dela, enquanto criava padrões de desenhos imaginários por ali, ele deixava os mais diversos devaneios tirarem a atenção dele, mas sem nunca deixar aquele momento para trás. Ela era tão linda.

Ultrapassando todos os traços harmoniosos de seu rosto, desde a personalidade difícil até a parte mais sensível de seu ser. Jasper estava perdidamente apaixonado e, dentre todas as pessoas no mundo, não imaginava que logo ele estaria tão nervoso para o que aconteceria naquele dia.

Era a final do World Championship Tour, também conhecido como Circuito Mundial, o campeonato era o mais importante do esporte no qual Jasper era profissional. A final seria na Austrália, uma das praias favoritas de Jasper e todo mundo quem ele mais amava estaria na praia. Seus pais, familiares, amigos mais próximos, sogros e, de todas as pessoas mais importantes, a mulher que estava adormecida ao lado dele estaria ali, no melhor lugar, sem perder um só segundo como ela tinha prometido e vinha fazendo pelos últimos dois anos e alguns meses.

Durante os primeiros meses de namoro dos dois, as mais diversas revistas contaram sobre Alice e começaram as mais infundadas fofocas sobre os dois. Especulações sobre a amizade de Alice e Seth, possíveis voltas de Jasper com Maria e mais doze modelos e atrizes que já tinham passado pela cama de Jasper eram sempre a primeira páginas de revistas sensacionalistas, mas com graça e, quase sem grandes empecilhos, eles passaram por tudo, juntos.

Aquilo dava a confiança necessária da Jasper. Eleazar e Carmen o adoravam, os pais de Jasper então, ele brincava que gostavam mais de Alice do que dele mesmo, então não tinha nada o impedindo.

Conseguia ouvir o celular vibrando sem parar, mas não ligava, sabia que ainda estava cedo e Alice já tinha planejado tudo, com calma e maestria ela tinha feito um horário perfeito para aquele dia, assim ele estaria bem e descansado para fazer tudo o que tinha que fazer no dia cheio, mas ela não contou com a insônia que o tomou.

Quase uma hora depois o celular dela despertou alto e Jasper desligou-o, se sentando na cama devagar. Alice despertou aos poucos e sorriu ao vê-lo, sentado.

—Era para eu te acordar – ela falou manhosamente abraçando a cintura dele, ainda deitada.

—Estou muito ansioso – ele contou.

—Não tem o porquê, o título é seu – a mulher disse com certeza e ele sorriu, apaixonado, virando o rosto para enxergar o rosto dela contra a coxa dele, ela estava de olhos fechados, preguiçosa e ele sorriu.

—Tenho tempo para um banho? – ele perguntou e Alice assentiu, ainda devagar demais.

Jasper levantou da cama, o sorriso travesso brincando em seu rosto.

—Vai fazer isso, eu vou preparar o seu café, daí-JASPER – Alice reclamou quando ele a tirou da cama a jogando em seu ombro.

Alice era pequena e leve, Jasper treinava muito e tinha muita força nos braços, a combinação das duas coisas tornava Alice quase uma boneca nos braços ágeis e fortes do surfista.

—Eu não tomo banho sem você, braveza, não quando estamos no mesmo país – ele contou e ela riu socando o bumbum dele.

—Coloque-me no chão agora mesmo – ela ordenava.

Ignorada por completo, ele os levou ao banheiro, ajudava o fato dos dois já estarem nus, Jasper apenas entrou no box e só depois de ligar o chuveiro que colocou Alice no chão, embaixo da água gelada o que fez a estudante o abraçar fortemente, tentando fugir da temperatura.

—Não precisa ser frio.

—Sempre precisa, Lili – ele disse docemente apontando para sua animação matinal.

Alice sorriu travessa e, juntos eles cuidaram daquilo antes de terminar o banho e seguirem para o quarto para preparar o desjejum. O restante da manhã e a tarde foram turbulentas com tudo o que tinham a fazer, Jasper não conseguiu mais falar com Alice, mas não houve um só segundo em que ela tenha desviado os olhos dele, morta de orgulho como sempre se sentia quando o via fazendo aquilo que ele tanto amava.

Ela o amava tanto.

O nervosismo era gritante entre todas as pessoas ao redor dela e, com educação, pediu que ninguém falasse com ela enquanto a competição não acabasse.

Jasper estava irrequieto, mas surfar era a coisa que o tranquilizava, então não houve erros, tudo o que fez foi perfeito e, no final de tudo, não poderia ter sido diferente, ele venceu. Em segundo lugar ficou um brasileiro e em terceiro um americano, ambos amigos de Jasper.

O grito foi quase uníssono quando Jasper foi tido como o campeão. O cantor australiano, também amigo de Jasper sorriu amplamente e, enquanto ainda preso no meio de inúmeras pessoas, Jasper fez o sinal para ele.

Dedilhando uma música inédita, um espaço foi aberto na praia pelos organizadores do evento e, com uma delicadeza e fluidez, dançarinos deram início ao flash mob que vinha sendo treinado havia meses, Jasper foi andando, pedindo licença, não tinha nem pegado o troféu, ele precisava fazer uma coisa mais importante, ele tinha outro lugar onde estar.

Alice estava fixada na letra e dança que acontecia a frente dela, sentia a emoção tomando seu peito por completo, ele sequer havia pegado o troféu, onde estava Jasper?

É uma coisa de ouro que nós temos— o cantor finalizou.

Jasper pulou na frente de Alice e ela soltou um grito assustado. A praia toda ficou em silêncio, todas as câmeras que focavam na competição agora filmavam aquele momento tão íntimo da vida dos dois.

—Filho da mãe – ela reclamou e ele gargalhou, pegando as mãos dela nas dele.

—Eu preciso falar com você – ele explicou.

—O seu troféu – foi o que Alice falou, emocionada, já entendendo o que acontecia ali.

—Não vale de nada – ele disse firme, ela mordeu os lábios, mania que tinha quando estava ansiosa – Você é tudo o que eu tive procurando por minha vida inteira, mesmo antes de eu perceber que eu procurava por algo. Como uma chave para o meu cadeado, se não fosse você, não haveria ninguém mais. O vazio se encheu quando você apareceu – Jasper começou, já emocionado – Eu te amo tanto que às vezes penso que um aneurisma vai explodir em meu peito – ele disse e ela soltou uma risada para o exagero do namorado tão inquieto a sua frente – Quero que seja minha, da mesma forma que me fez seu desde que eu a vi pela primeira vez – ele disse.

Alguém entregou uma caixinha para ele. Nem Alice, nem Jasper saberiam dizer quem foi. Com uma felicidade arrebatadora o joelho esquerdo dele tocou o chão e ele viu o rosto emocionado da mulher de sua vida, adornado com o sorriso que ele tanto amava.

—Casa comigo, amor, deixe-me passar o resto da minha vida tentando lhe fazer o mais feliz que eu for possível, mesmo que não seja nem comparado com como você me faz sentir. Faz desse dia o mais inesquecível – ele pediu e ela sorriu.

—Você acabou de ganhar-

—Você? – ele cortou e ela bufou, ajoelhou na frente dele.

—Você me ganhou mesmo quando era apenas um ridículo misógino – ela brincou e ele riu, a abraçando.

—Tem que falar sim, não vou aceitar meias palavras – ele concluiu.

—Eu caso com você, surfista de araque – ela brincou e ele riu.

A aliança foi posta no lugar do qual não sairia tão cedo e o beijo compartilhado foi ovacionado por fãs que os assistiam dos mais remotos lugares.

Jasper Whitlock ganha troféu e noiva

Foi um dos títulos mais lidos nas revistas ao redor do globo. Contaram sobre o namoro, uma retrospectiva desde os escândalos até aquele momento tão deles na praia. As famílias estavam contentes, a festa de noivado foi enorme e, finalmente chegaram ao fim daquele semestre de aulas de Alice.

—Eu bombei – ela disse quando entrou no carro do noivo na tarde de novembro.

—Não seja boba, meu amor – o surfista disse.

Alice sempre tinha essas besteiras de se achar menos esperta do que realmente o era. Quanto mais reclamava, maior era sua nota.

—Estou falando sério, não é possível que eu tenha ido bem nessa prova, você tem que saber disso – ela falou frustrada – Te falei que eu tinha que ter estudado mais.

—Alice, você tinha que dormir para estar com a mente descansada, tenho certeza que isso a ajudou e você tirou a nota máxima – ele falou ainda tranquilo, a mão direita descansava na perna descoberta já que ela usava um vestido.

—Você não me respeita – ela falou de repente, ele levou um susto, tirando a mão do local.

—Do que está falando? – ele  perguntou ofendido.

—Que não se importa com o que sinto, se não quer conversar é só dizer – ela falou chateada, virando para a janela.

Jasper revirou os olhos, sem tirar a atenção da estrada. Chegou no apartamento de Alice no centro de Melbourne e a mesma saiu apressada assim que ele estacionou o carro, ele teve que correr para alcança-la.

—Para de ser assim.

—Pare você, por que desmerece as coisas que são importantes para mim? Não quero ter notas ruins, isso é o meu futuro todo, Jasper, meus pais dependem do meu êxito na administração, entende isso? Entende a pressão? Só tenho mais um ano de faculdade antes que me joguem lá no meio de tudo e eu não conheço nada, e se eu colocar tudo a perder? Irá me amar quando eu for uma fracassada? – a garota perguntou parecendo insana.

Jasper sabia que a pressão que ela sentia em relação àquilo que os pais propuseram a ela era imensa, mas também confiava no potencial dela.

—Amor – ele tentou antes de entrar no elevador, mas se calou quando a porta abriu e algumas pessoas desceram.

Sempre evitavam conversar se tinha gente desconhecida ao redor, mas de uma vez viram frases de conversas e discussões serem tiradas de contexto e virarem manchetes, ainda mais por vizinhos que sempre se tornavam superconscientes quando reparavam que era Jasper Whitlock ali.

Entraram no elevador e foram para a cobertura. O apartamento de Alice não era imenso, mas era excelente e muito bem arrumado, nos mínimos detalhes, por ela e Carmen.

A ideia veio enquanto o elevador parecia tomar uma eternidade para chegar em seu local.

—E se fôssemos viajar? – Jasper perguntou ao fechar a porta em suas costas.

Alice fez uma careta de tédio e foi para o quarto, o surfista a seguiu de perto.

—Estou falando sério, tola, você está muito tensa com a conclusão do curso, então acho que seria correto que fôssemos relaxar, aproveitar suas férias de verão como uma estudante em formação? – ele sugeriu.

Soou como música para os ouvidos de Alice, e o sorriso contido que ela tentou esconder, foi o bastante para dar confiança a Jasper.

—Sabe que preocupa-me e muito seu stress, ainda mais quando sei que você se preocupa tanto com esse futuro, mas vamos estar juntos sempre e você não vai falhar com seus pais, tenho certeza que meu sogrinho está que não cabe em si mesmo para lhe ensinar tudo o que ele sabe e aprendeu durante todos esses anos na fazenda, assim como o pai dele o ensinou, ele quer fazer com você, vida. Vai ficar tudo bem e não há pessoa no mundo mais preparada para isso do que você, sim? – ele disse chegando perto dela.

Alice relaxou por completo ao escutar tudo aquilo, ter aquele apoio significava muito para ela. Nada a assustava mais do que estar sozinha, então ouvir constantemente que não ficaria nunca só e, mais que isso, conseguir enxergar a verdade nas palavras de seu noivo era o que ela mais amava.

Era fim do ano, o aniversário de Jasper foi comemorado com os pais dele, o natal com os de Alice e a virada do ano foi comemorada com amigos, mas logo no dia primeiro de janeiro eles embaraçaram para o local mais especial do mundo para Jasper: o Havaí.

Naquele Estado tinha aprendido as maiores lições sobre surf, sua verdadeira paixão tinha crescido lá e, mais do que qualquer coisa, nunca tinha levado uma pessoa ao seu santuário. Alice era a primeira lá e, aquilo parecia especial, Jasper se sentia completo e satisfeito e a garota não estava muito diferente.

Não contaram para ninguém para onde iam, pegaram o jatinho de Jasper para não terem problemas com aquilo, na ilha Jasper era um desconhecido, sempre tinha sido, mas o destino voltou a brincar com eles quando uma foto borrada dos dois foi tirada logo enquanto faziam o check-in no hotel.

Aquele foi o primeiro sopro deferido contra o castelo de cartas que não aguentou muito mais tempo de pé.


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