Pequenas Mentiras escrita por unalternagi


Capítulo 2
Segunda coisa: não fique tão surpreso




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Segunda coisa: não fique tão surpreso

Entre as festas de fim de ano, viagens e o mês de janeiro inteiro se preparando para a temporada de disputas e premiações, Jasper deixou muita coisa passar, uma delas foi o pensamento sobre Alice.

Como quando dormimos e sonhamos com algo muito bom, ao acordar passamos por um tempo relativamente longo de nostalgia, mas o novo dia começa e precisamos deixar o sonho bom para lá, logo ele cai no esquecimento, logo não causa tanto desconforto pensar nele. Para Jasper, o pensamento da garota misteriosa foi exatamente aquele.

A bebida existente no sistema dele no dia em que a conheceu, ajudou que ela fosse ignorada.

Ignorada, até a metade do mês de fevereiro.

Diariamente, pessoas se conhecem das maneiras mais inusitadas e, inúmeras histórias de amor, começam com o encontro clichê, porém não planejado. E, por mais que nem Alice e nem Jasper planejassem se reencontrar, o destino, ou Deus, ou universo, ou qualquer força intangível que pode ser nomeada, agiu pelos dois.

Jasper estava de volta à Austrália para assinar um contrato e gravar um comercial, era coisa de poucos dias, logo teria que voltar para Los Angeles onde passaria mais duas semanas antes de escolher seu próximo destino.

Nos primeiros dois dias de volta ao país, ele foi apenas trabalho e eventuais descansos, mas na terceira noite, ao receber uma mensagem de Steve para ir a uma festa grande, Jasper pensou que merecia aquele intervalo. Adorava festas, bebidas, pessoas, e ele precisava socializar um pouco senão poderia acabar ficando louco, ainda mais que aquilo, precisava encontrar uma mulher com quem passar a noite.

Chegou à boate conhecida e ganhou a pulseira VIP assim que furou a fila. Dentro do ambiente ele foi direto para a cabine do DJ para conversar com Steve, logo depois, saiu pela a pista para que pudesse chegar na área VIP, mas ele nunca completou o caminho porque, no meio de uma música animada, ele enxergou Alice se movimentando da mesma forma hipnotizante que fazia no aniversário dele há dois meses.

Ele sorriu, por um momento agradeceu à quem quer que tivesse pregado aquela peça nele. Queria muito conhecer aquela garota melhor, ignorou o conhecimento sobre ela ser nova, nova demais para os padrões dele, ele queria apenas uma noite e, parecia que ela saberia lidar com aquilo.

Com passadas lentas e discretas ele foi se aproximando da mulher, ela continuava a dançar, ele se perguntava como que as batidas pareciam ter sido coreografadas com cada movimento que ela fazia, desde as mãos que passavam pelos cabelos bem tratados até as pernas e quadris que pareciam perfeitos demais para serem reais. Jasper começou a imaginar aquele vestido amassado no canto de seu quarto, ele queria muito estar com ela.

—Coincidência – foi o que ele disse perto dela.

Alice bateu o cotovelo na costela dele quando sentiu alguém invadindo seu espaço pessoal. Ela era muito boa em se defender, fizera inúmeras aulas de defesa pessoal e odiava quando alguém a abordava de surpresa daquela forma, mas se sentiu quase culpada quando viu quem era.

—Não se chega assim em ninguém – ela brigou quando o surfista abaixou tentando recuperar um pouco de ar e pensar através de toda a dor que enublou o pensamento dele.

—Você não me dá condição, garota – ele falou meio sem ar e ela gargalhou.

—Você quem não sabe chegar em uma pessoa, eu fico chocada em como tantas modelos tenham caído nessa sua falta de maneiras – ela falou debochada.

Tinha pesquisado sobre a vida dele na noite em que se despediu dele na praia e, sem muita surpresa, descobriu que era um galinha de primeira, nunca tinha ficado com a mesma mulher por tanto tempo quanto tinha estado com Maria e, por aquele simples fato, ela era pintada em inúmeras revistas de fofoca como namorada dele até uma que demonstrou a possibilidade deles terem se casado no Havaí, mesmo que Jasper nunca a tivesse levado para lá.

—Normalmente são elas que chegam em mim – Jasper contou voltando a ganhar postura.

—Faz mais sentido se pensar assim então – a loira disse bem humorada.

Ela estava mais pacífica com Jasper e ele gostou de perceber aquilo.

—Bonita, trouxe seu drink – um homem falou nas costas de Alice e ela sorriu, abraçando a cintura dele.

—Obrigada – ela disse dando um beijo no rosto do moreno bem apessoado.

Jasper percebeu os músculos do homem, o sorriso perfeito, feições fortes de um nativo e então percebeu que Alice não o estava dando condição, apenas sendo tão simpática como era de seu costume, como tinha sido da primeira vez que se viram e ele ficou desconfortável.

—Bem, eu vou indo – ele disse com um sorriso fraco.

—É Jasper Whitlock, certo? O surfista? – o homem perguntou e Jasper assentiu, prontamente.

Não era de ser rude, então logo ele e Seth Clearwater conversavam sobre o assunto que Jasper mais amava: Surf. Alice voltou para as amigas enquanto era assistida com interesse por ambos os homens que viravam amigos. Jasper não deixou a turma de Alice por um segundo e, já nos primeiros raios da manhã, saiu de lá enturmado com todos.

Em pequenos grupos, todos foram se separando enquanto Alice, Seth e Jasper conversavam, até que os três ficaram sozinhos do lado de fora da boate esperando algo que Jasper não saberia dizer o que era.

—Minha carona chegou – Alice contou.

Estranhamente, Jasper reconheceu o carro preto e pensou se ela era muito rica e tinha um motorista particular ao ver o mesmo homem a esperando, entretanto, daquela vez uma mulher estava no banco de carona.

—Seth, vai dirigir? – a mulher perguntou e o garoto sorriu.

—Sra. Brandon, eu parei de beber há um bom tempo, estou bem, prometo – o garoto respondeu simpático.

Jasper queria poder dizer o mesmo, ao invés disso, forçava a mente a lembrar do nome do hotel em que ficava para poder chamar o carro de aplicativo para busca-lo.

—Você eu não conheço – a mulher disse.

O surfista demorou um tempo para perceber que era com ele que ela falava, então, com um sorriso bem aberto, ele foi até a janela dela, oferecendo a mão. Quando ela apertou ele beijou de forma galante e disse, com a voz arrastada de alguém que, claramente, está lesado por bebidas.

—Sou Jasper Whitlock, madame, é um prazer imensurável conhece-la – ele falou embolado.

—Sou Carmen Brandon, a mãe de Alice. Esse é Eleazar, meu marido – ela apresentou.

Jasper esticou a mão para o mesmo homem que buscou Alice no dia do aniversário dele.

—É um prazer conhece-lo, senhor – Jasper voltou a repetir.

Alice segurava a porta aberta, enquanto encarava Jasper, meio preocupada com como ele chegaria em casa naquele estado.

—Iremos levar Alice para tomar café por conta do aniversário dela e depois ela nos deixará no aeroporto, gostaria de nos acompanhar? – Carmen perguntou simpática.

Eleazar não gostou do rapaz, o tinha visto em dezembro e agora ainda não achava que era um bom partido para sua filha, mesmo assim, se manteve quieto durante todo o tempo, entre Jasper aceitar o convite até a metade do café da manhã, quando Jasper começou a agir mais sobriamente.

—Peço desculpas, eu não imaginava que faria qualquer coisa além de dormir depois daquela festa – Jasper falou realmente envergonhado.

—Não tem problema, pelo menos Alice não volta sozinha do aeroporto – Eleazar falou e Jasper assentiu.

Ele acompanhou Alice por toda a manhã. Pagou o desjejum de todos por se sentir tão grato pela hospitalidade deles e, junto com Alice, deixou os pais dela no aeroporto para que eles pudessem voltar para casa.

Os Brandon era uma família tradicional da Nova Zelândia, com muitos hectares de fazendas, produziam azeite e cervejas artesanais, tinham uma boa fortuna e Jasper ficou surpreso ao saber que era sobre aquilo que Alice estudava na faculdade porque seria a única herdeira deles e pretendia administrar todas as fazendas de sua família. A garota era ainda mais interessante do que pareceu à primeira vista.

Era por aquela razão então que ela era tão forte como Jasper percebera desde o primeiro contato que teve com ela.

Jasper deixou-os confortáveis para se despedirem, esperou no carro por Alice e, depois de meia hora que tinha saído, ela voltou com o rosto inchado, respirando devagar. Colocou os óculos escuros ao entrar no carro e começou a dirigir sem lançar sequer um olhar para Jasper.

—Quer conversar? – ele perguntou e ela negou rapidamente.

Tardiamente, Jasper lembrou que Carmen tinha citado o aniversário de Alice, então Jasper pensou em voltar a falar de coisas boas.

—Então, hoje é o seu aniversário? – ele perguntou e ouviu um pequeno soluço irromper do peito da garota.

—Será na quarta-feira.

Jasper ficou um pouco confuso, tentando fazer as contas do dia atual. Domingo? Ele achava que sim. Alice ligou o rádio e um CD do Maroon 5 começou a tocar, era uma das bandas que Jasper menos gostava, mas ele resolveu deixar pra lá, não entraria naquele mérito em um momento que ela estava tão para baixo.

—Onde eu te deixo? – ela perguntou depois de um tempo.

Jasper disse o nome do hotel e ela dirigiu sem voltar a falar, ele mesmo ficou no silêncio de seus pensamentos. Dia vinte e um de fevereiro, quarta-feira seria dia vinte e um. Alice estacionou de qualquer jeito e Jasper desceu do carro agradecendo por tudo, ela ainda assim não olhou para ele, apenas assentiu e arrancou com o carro assim que ele fechou a porta.

Não era nada com ele, ele tinha aquela consciência, mas de qualquer jeito, não gostou de vê-la daquela forma. Imaginou se ela sentia muita falta dos pais e, mais que aquilo, imaginou qual era o relacionamento dela com Seth.

Subiu para o quarto de hotel luxuoso e, sem achar possível dormir, ficou mexendo no celular, queria saber mais sobre Alice. Achou primeiro o perfil de Seth na rede social e, com felicidade, reparou que o status de relacionamento dele estava como “solteiro”, teve certeza de que, se alguém namorasse Alice, não iria querer esconder aquilo, então depois de mais alguns cliques, ele começou a seguir Alice enquanto via cada foto que ela já postara. Era mesmo muito próxima dos pais e não tinha amigas frequentes, algumas que apareciam vez ou outra, mas as grandes estrelas eram os pais dela, ela mesma e inúmeras fotos de paisagens lindíssimas.

Jasper ficou um tempo perdido em Alice.

Os dias passaram, nenhuma nova conversa aconteceu entre os dois, terça-feira de manhã Jasper tinha que voltar para Los Angeles, mas, a caminho do aeroporto, parou em uma floricultura. O maior buquê foi encomendado com uma cesta enorme de café da manhã.

Na quarta-feira de manhã, enquanto assistia uma aula de economia, Alice foi surpreendida com um entregador chamando-a na porta da classe.

Ela não costumava querer chamar aquele tipo de atenção, então foi amaldiçoando a vida da pessoa que tinha feito aquilo, até assinar e pegar os presentes grandes demais. Não se importou em ler nada, pegou a chave do carro e guardou tudo lá dentro antes de voltar e terminar de assistir as classes do dia.

No final do período, mais curiosa do que quando recebeu, ela correu para o carro para ver quem tinha mandado tudo aquilo, no fundo sabia que só poderia ter sido Seth, ele nunca esquecia o aniversário dela, mas o cartão a surpreendeu mais do que qualquer outra coisa o teria feito.

Infelizmente, por incontáveis compromissos, tive que voltar para Los Angeles ontem e, por mais que eu gostaria de passar seu aniversário com você – como você passou o seu comigo -, ficarei devendo essa. Mesmo assim, espero que seja um belo dia, se for um pouco menos bonito que você já será lindo pra caramba.

Que não lhe falte saúde, felicidade e amor (se acredita nessa besteira). Espero que nem uma sombra da desanimação que vi no seu rosto domingo volte a bater contra você nem hoje nem em nenhum outro dia do ano.

Seja muito feliz, garota, e não perca tempo na sua crise dos vinte anos, você ainda é nova demais.

—J. Withlock

Alice se viu sorrindo bobamente e, mais que rápido, alcançou seu celular. Entrou na rede social reparando a quantidade de seguidores que ele tinha ali. Imaginou que ele não deveria nem checar as mensagens, mas precisava agradecer de alguma forma.

Obrigada, o café da manhã será um ótimo almoço e, por mais que eu não seja fã número um de buquês de flores, abrirei uma exceção para esse tão belo.

Obrigada mesmo pela delicadeza.

Contra qualquer expectativa de Alice, Jasper não a deixou sem respostas e, a partir do aniversário dela, não houve um só dia em que eles não conversaram. Antes apenas por mensagens, depois com algumas fotos, então por telefone, até que as videochamadas começaram a acontecer diariamente.

Apesar das vidas ocupadas e, às vezes, a falta de tempo e problemas entre fuso-horários e compromissos. Se algo ruim acontecesse um queria o apoio do outro, se a coisa fosse boa então, a primeira coisa era a vontade de ligar para dividir a felicidade e satisfação.

Diferente do ano anterior, em seu aniversário de vinte e seis anos, uma namorada era tudo o que Jasper queria, e – antes da meia-noite – Alice tinha concordado em assumir o posto, tornando do surfista o homem mais contente da Austrália.


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Notas finais do capítulo

Estou estruturando para entendermos um pouco o que vem a acontecer a seguir.

Espero que estejam gostando!