Procura-se um amor para o meu papai e uma babá escrita por Lux Noctis


Capítulo 2
Segundo contato




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A sexta de manhã passou quase torturante! Foram todas as questões para as quais não estava preparado, afinal, não havia estudado. Mas valeu o desespero, nada fazia a hora passar mais rápido do que não estar preparado para nada do que poderia acontecer, e definitivamente, Kiba não estava.

Quando por fim a última tortura acabou, pegou carona com Naruto, aproveitando-se de que o amigo sempre passava por ali para voltar para casa para o almoço. Vez ou outra aproveitava a deixa para almoçar com ele e Sasuke, naquela tarde recusou o convite, precisava chegar cedo e deixar preparado algo para quando voltasse de seu bico como babá aquela noite. 

Em casa, após um banho, comeu um pacote de snacks enquanto preparava o que comeria de almoço bem mais tarde, e de janta quando voltasse. Fatiou legumes e os deixou num pote tampado na geladeira para não estragar. Ligou para Shino, confirmando o horário que deveria chegar, sabendo que as normas do site exigiam 15 minutos de antecedência ao combinado. E por mais que Kiba fosse Kiba, não se atrasava pois isso custava-lhe estrelinhas, e com a falta dessa visibilidade perderia boa parte de seu ganha pão. 

Estava habituado àquilo, a empreitada que era cuidar dos filhos dos outros; lembrava-se bem até, de como fora sua experiência com duas pestinhas. Uma criança só era muito mais fácil, agradecia por seu novo contratante ter apenas 1. 

Nem ao menos notou quando pegou o celular e novamente abriu o app onde conseguia “ver” mais sobre Aburame Shino, e isso era piada, não tinha absolutamente nada no perfil do homem, tirando, claro, a nota altíssima dada por qualquer outra babá que trabalhou em sua casa.

As informações que tinha era: não havia uma senhora Aburame. E a criança era criada sob regras que fazia-o se assustar. Detalhes pequenos, almoço pronto, um quase atraso! Precisou correr para se aprontar a tempo. Um banho bem refrescante, coisas interessantes a se levar na mochila, um e outro tira gosto, jogos que seriam até mesmo educativos. Kiba era precavido, estava pronto à qualquer faixa etária que fosse cuidar. Levava também na mochila joguinhos eletrônicos que fossem de fácil compreensão à mentes pequeninas e em construção. Quando seguiu para longe de seu apê, não demorou a chegar no metrô, desceria na próxima parada, mas ao menos lhe pouparia tempo de caminhada. Ouvia música em seus fones, tamborilava os dedos à barra onde se segurava para manter-se de pé sem se permitir cair pelos esbarrões costumeiros. Ainda tinha tempo de sobra, era curioso como sempre se atrasava para tudo na vida, menos para aquele trabalho. Era uma boa forma de manter a renda, não lhe dava tanta aporrinhação quanto achava que daria, tinha às vezes até sossego para revisar alguma matéria da faculdade, ou jogar um joguinho qualquer enquanto a criança tirava seus cochilos de tarde. Ok, às vezes ele cochilava junto, mas e daí? 

Ria enquanto lembrava-se das vezes que havia acontecido. Meneava a cabeça a fim de espantá-las de sua mente enquanto direcionava-se ao prédio que lhe fora dado como endereço de seu novo trabalho. O porteiro era simpático, lhe sorriu afirmando que Aburame Shino havia deixado-o ciente que tão logo ele chegaria. Ainda assim interfonou para indicar que o rapaz estava subindo. 

No elevador havia guardado os fones, alinhado as vestes e se olhado no interior de portas espelhadas; estava um gato. Ainda assim passou as mãos pelos cabelos espetados e com pomada de modelar. Fazia caras e bocas, era um jovem cheio de vida, afinal. Não esperava que quando as portas abrissem desse de cara com Aburame Shino a esperá-lo. Não sabia onde enfiar a cara, tampouco o que falar. Coçou a nuca um tanto desconfortável com o mico recente. Mordeu o lábio inferior, rindo um tanto nervoso, vermelho feito um morango maduro. 

—  Boa tarde. —  A voz fez com que se arrepiasse da cabeça aos pés, não é que o maldito tinha um timing perfeito e uma voz gostosa pra caramba? 

—  Bolá! —  era isso. O fim da dignidade. Podia notar a forma incisiva que era olhado, mesmo com aqueles óculos escuros a tapar os olhos de Shino. Notou a sobrancelha erguida, num sinal absurdamente claro de que não havia entendido o que fora aquilo. Oras, nem mesmo ele havia entendido, ficou na dúvida entre “boa tarde” e “olá”, mas falar “bolá” fora a gota d’água! 

Seria mais sensato se manter calado, lidar só com a criança, seria muito menos vergonhoso. Mas quem  disse que seguir os conselhos era a praia dele?!

—  Você sabe que eu não ia dizer aquilo não é? Digo…

—  Bolá? Suspeitei. —  Shino parecia tão calmo, Kiba nem sabia que ele se divertia, ria por dentro. 

Caminhavam lado a lado até o apartamento de Shino, ele havia tido a ideia acolhedora de recepcioná-lo desde o elevador, não esperava encontrar uma cena como aquela, claro. 

Não era longe, o elevador do apartamento 9c. 3 apartamentos por andar, 12 andares. Um prédio inteiramente familiar, Kiba já havia ido ali, no 4b e no 8b. Motivos diferentes, mas não calhava dizer. Deixou os sapatos no genkan. Fora informado pelo dono do apê que havia um par de surippa para ele, calçou-os então. Parecia não haver criança nenhuma ali. NENHUMA! Seria pegadinha? 

—  Papai? —  a voz era tão doce, calminho. Surpreendeu-se ao ver a cabeleira loira e os olhos tão azuis. 

O pequenino sorria, tinha o quê, pouco mais de 5 anos? Tão pequeno, mas com olhos tão vivazes! A roupinha era clara, com exceção do shorts em cinza escuro. Não calçava surippa e sim meias antiderrapantes com a ponta com cara de bichinho. Kiba observou Shino tomar a frente e se agachar frente à criança.

—  Lembra que o papai falou que precisaria trabalhar hoje, e que você não ficaria com a Tenten? Esse é Inuzuka Kiba, vai passar a tarde com você hoje, seja bonzinho, okay? —  Havia uma calma ainda maior quando falava com o pequeno, e fez com que Kiba sorrisse pelo ato. Observando os olhinhos curiosos do pequenino a observá-lo sobre o ombro do pai. Não se pareciam em basicamente nada. Tirando uma pintinha que ambos tinham no pescoço, era idêntica pelo o que pode notar em pouco tempo. 

O menear de cabeça fora a resposta, e apenas. Não tardou para que o loirinho seguisse para o sofá, pulando sobre ele enquanto trazia para perto um livrinho de colorir. Havia lápis de cor, giz de cera e canetinha sobre um forro plástico no sofá, Shino parecia mesmo um homem precavido sobre quanto a deixar o filho pintar.

—  A sala é ambiente livre, ali a frente tem uma mesinha da altura dele, ele gosta de modelar massinhas. —  Shino seguiu numa breve tour no apê, indicando que Kiba o seguisse, e ele o fez. A tv ficava fixada à parede, assim como o aparelho da tv à cabo, e o dvd, estes sobre uma prateleira. Abaixo havia um pequeno raque, onde filmes infantis ficavam guardados, alguns livrinhos também. —  A cozinha é logo aqui, sinta-se em casa para consumir o que sentir vontade. Inojin é alérgico a amendoim, portanto não tenho nada assim em casa. 

Kiba meneava a cabeça, indicando que prestava atenção nos detalhes que lhe eram ditos; Inojin era alérgico a amendoim, ok. Tinha livre acesso à cozinha, duplo ok. 

—  Não pretendo me demorar, informei à você ontem, mas ainda assim, imprevistos podem acontecer. Portanto se precisar de qualquer coisa, ou se algo acontecer por aqui, me ligue. —  Shino trazia pesar na voz, não gostava de deixar Inojin com pessoas novas, não gostava da idade do rapaz ser tão pouca, e menos ainda de ter que se ausentar pela tarde assim. Mas aquela palestra não poderia ser adiada, e Tenten não estava disponível, havia quebrado o pé.

—  Não se preocupe, tenho certeza que o Inojin e eu nos daremos muito bem, ele parece fácil de lidar. 

Havia o sorriso. Não qualquer sorriso, mas o sorriso. Kiba era bom nesse famoso sorriso. Era alegre, daqueles que passava a sensação de que não havia nada no mundo que ele não pudesse resolver. Passava a tranquilidade necessária aos pais desesperados, e a certeza de que cuidaria bem de seus filhos em sua ausência. Shino confiou, a credibilidade do rapaz era boa, era bem quisto em meio aos demais pais que contratavam seus serviços como babá, a agência era licenciada. A mesma de Tenten, e até mesmo ela havia indicado o rapaz. 

Confiou e rumou para um banho rápido, arrumou-se em igual rapidez, não havia tempo a perder. Do quarto ouvia Inojin narrar à Kiba as aventuras de Mister Garrett, o sapo. Quando despediu-se deles, abraçou Inojin pedindo para que se comportasse, e que obedecesse o senhor Inuzuka. Não era preciso dizer que a criança olhou para Kiba com o típico jeitinho de quem contestava o pai sobre a idade do tal senhor Inuzuka, mas era detalhe. 

—  Qualquer coisa...

—  Eu sei, eu sei. Relaxa, eu sou ótimo com crianças, quando você voltar ele vai estar tão encantado por mim que vai querer ir embora comigo. —  Piscou em implicância, havia leveza em tudo o que fazia, desde o toque suave nos cabelos loiros de Inojin, sentado ao sofá, até mesmo a acompanhar Shino até a porta da própria casa, despedindo-se enquanto a trancava. 

Quando voltou à sala viu o pequeno colar algo sobre o quadro, outrora mencionado por Shino. Era um pequeno imã no formato de X. Curioso aproximou-se, abaixando-se próximo ao pequeno, olhando o que ele havia marcado como feito: tarefas diárias; escovar os dentes após o café (x), após o almoço (x). Arrumar a cama (x). 

Ele havia marcado o X no “escovar os dentes após o almoço”, Kiba achou engraçado, era tudo tão regrado! 

—  Você marca esses xis sempre? —  Puxou assunto como quem nada queria, sentando-se no sofá, observando Inojin afirmar veemente com a cabeça. 

—  Você não tem quadrinho em casa? O papai disse que todos têm! 

Bem, Kiba não poderia contestar o que o pequenino tomava como certo e verdade, se dissesse que nas outras casas ele não via aquilo, colocaria em risco seja lá o que fosse que Shino queria ensinar ao filho. 

—  Podemos ver desenho? —  Inojin questionou-o enquanto ajeitava-se no sofá, os olhinhos brilhando para a tv a frente e os filmes dispostos, organizados por ordem alfabética. Tinha verdadeiras relíquias ali! 

Puta merda, tinha Rei Leão! Era certo que Kiba queria ver desenho!!

—  Claro, que tal O Rei Leão?

Inojin fez cara de espanto, pulou do sofá tão rápido que Kiba pensou que ele fosse fugir. Animado, correu até o dvd, ligando tudo com suas mãozinhas pequenas e abrindo a capa do filme, colocando-o no espaço para o cd enquanto voltava feliz ao sofá.

—  Esse é meu preferido! 

Estava explicado o ânimo. 

 

Viram o filme, fizeram pipoca. Kiba descobriu que o pequeno gostava de desenhar, fazia isso enquanto via o filme, reencenando o momento da pedra do rei, quando Simba era apresentado a todos como futuro rei. Descobriu também que Inojin, assim como ele, adorava morangos. Tinha muitos na geladeira. Fartou-se então. Chateou-se quando notou que seus planos de atacar a geladeira resumia-se nisso, não havia nada de carne ali, soube então; por intermédio de Inojin, que Shino e ele eram vegetarianos. Dava pra palpar o desânimo, isso, claro, se Inojin tivesse notado o intento guloso de Kiba ao abrir a geladeira. 

Tirando aquele percalço, estava tudo nos conformes. Inojin gostava de cortar os morangos para comê-los, descobriu então que para ele havia uma faquinha se acrílico, basicamente inofensiva à pele, mas eficaz contra os morangos. Fez brigadeiro, enfeitaram com os morangos e comeram, aquilo era novidade ao loirinho. Kiba sabia os efeitos que poderia surtir, só não imaginou que fosse tanto. Estava elétrico, nunca antes havia ingerido tanto açúcar, estava uma pilha ambulante e recém carregada! 

Correram pelo apartamento, brincaram como se tivessem a mesma idade. Inojin divertia-se, dizendo que o papai não tinha tanto ânimo para correr, mas bem, normalmente ele mesmo não saia correndo e pulando pelo sofá. 

Quando havia realmente se cansado, a casa estava de pernas pro ar. Mas Kiba ria, havia realmente se divertido com aquela criança, Inojin era esperto para sua idade, e normalmente centrado, a culpa de tanto estardalhaço era certamente pelo chocolate, tsc! Açúcar em excesso, mas havia valido a pena! 

—  Quando o papai chama a tia Tenten —  era um indício, o pequeno era apegado à outra babá —,  acho legal, sabe? Mas não tão legal quanto você. — O sorriso fez o mundo e o coração de Kiba vibrar, parecia que haviam acendido todas as luzes daquele apê. O pequeno deitado no sofá, cansado e suado, mas muito mais cansado do que disposto a levantar e se refrescar. Estava com os olhos meio fechados, o sorriso o forçava a isso. —  O papai também gostou de você, ele falou muito pela manhã, ele não costuma falar tanto. 

Agora ele bocejava, mergulhado nos cafunés que agora recebia nos fios loiros como o sol. 

—  Você podia ficar, não é? Vejo que todas as famílias precisam de uma mamãe. 

Agora estava mais divagando do que concluindo algo. Estavam ambos jogados no sofá, o ar-condicionado quase não parecia dar vazão ao calor pelo excesso de corridas e brincadeiras, mas estavam confortáveis, os corpos aos poucos ajustando-se à temperatura. Inojin enfim dormindo. Não restou à Kiba muito mais do que acompanhá-lo, os bracinhos eram firmes em segurá-lo ali, como se temesse perdê-lo em meio ao cochilo. 

 

Se Shino soubesse que ao entrar em casa seria recepcionado assim, nem teria se dado ao trabalho de se anunciar. 

—  Tadaima! —  anunciou-se ao tirar os sapatos, calçando sua surippa. Desesperou-se pelo silêncio, o peito parecia apertar o músculo cardíaco, como se do nada o espaço fosse pouco, ou apertado. Precisou dar dois passos, deixando um pé descalço, para notar a zona que estava sua casa. Outrora tão impecavelmente arrumada. 

Só soube o que era respirar de novo, quando avistou em cima do sofá as cabeleiras de Inojin, que muito se parecia com Ino. 

Estava com a casa inteiramente revirada, certificou-se disso indo à cozinha. Em pouquíssimo tempo (tudo bem, havia saído de casa às 14h e retornado apenas agora, às 19h e 45min.) Kiba havia conseguido transformar seu precioso garotinho numa máquina de destruição, e a culpa certamente era daquele chocolate grudado na panela. 

—  Papai!! —  Mesmo sonolento Inojin berrou ao vê-lo, pulou no sofá, acordando Kiba. Correu e se jogou em Shino, sendo agarrado num abraço quentinho e apertado. —  O Kiba é a melhor babá do mundo! — Os olhinhos azuis brilhavam, exatamente como os de Ino quando ela lhe contava algo emocionante e empolgante à ela. De pensar que pouco dele Inojin havia herdado, era quase uma cópia fiel de sua melhor amiga já falecida. O pequenino sequer chegou a realmente conhecer a mãe, havia apenas histórias.

E por falar em história, Kiba precisaria de uma muito boa para explicar todo aquele auê! Levantou-se do sofá sorrindo amarelo, a mão coçando a cabeça e nuca, o rosto vermelho. Pôs-se então a arrumar as coisas, recolher as pelúcias espalhadas pela sala, por sorte os dvds ainda estavam intactos e em ordem alfabética.

Quando Inojin largou de Shino, voltou a se aproximar de Kiba, ajudando-o a guardar tudo o que haviam zoneado, marcando depois um X no espaço onde dizia: guardar os brinquedos ao término da diversão. 

—  Uma tarde agitada? —  Questionou enquanto voltava para calçar o outro pé da surippa que perdeu no desespero.

—  Ele é uma criança adorável, brincamos muito, tanto que ficamos cansados. —  Sorriu nervoso, não queria que logo aquele homem tivesse pensamentos errados a seu respeito, como profissional e como pessoa. —  Relaxa, sabe, eu vou limpar tudo. — Seguiu para a cozinha, acompanhado de Shino. Kiba estava inteiramente amassado. Dos cabelos às calças. Era esse o preço por reduzir sua idade à uma criança de 5/6 anos. Mas valeu a pena as risadas. 

—  Eu te ajudo. —  Shino não era de todo controlador, mas era ele quem agora se propunha a lavar a panela, havia o jeito certo de fazê-lo, e não deixaria isso a encargo do rapaz que havia dado chocolate à seu filho!

—  Papai! O Kiba pode ficar pra jantar? Acho que ele daria uma excelente mamãe. 

Não havia onde enfiar a cara, e isso os dois, Inojin sequer fazia ideia do que estava falando aos berros infantis na sala. 

—  Adoraria, ficar mais um pouco… 

Bem, o convite havia sido aceito.


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