Procura-se um amor para o meu papai e uma babá escrita por Lux Noctis


Capítulo 1
Primeiro contato




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Quando começou com os bicos, aqueles empregos temporários para pagar suas contas e ajudar com a faculdade, Kiba nunca pensou que “babá” seria uma opção a se considerar. Quando junto à uma criança, voltava aos velhos tempos e queria ser um igual, não um adulto.

Talvez por esse singelo motivo se dava bem com os pequenos, tinha brincadeiras e mais brincadeiras, tinha disposição, não muito pulso firme, mas pelas poucas horas que passava com elas por dia, bastava. 

Claro, nem sempre conseguia complementar a renda com seus serviços como babá, havia ainda aquela pitada de preconceito quando viam em seu perfil a foto, o nome, e o sexo. Restava então servir também bebidas na balada gay onde seu amigo era dj. Contava com Naruto para as indicações, sempre conseguia uma vaga ou outra como bartender. Não que fosse exímio, mas fazia suas piruetas com as garrafas para atrair os olhos dos clientes às bebidas mais caras que uma simples cerveja. Boa saída em bebidas, boa entrada em dinheiro; pro caixa e pro bolso do Kiba. 

Aquela semana por exemplo, a renda foi finalmente alcançada após duas noites seguidas de um árduo trabalho, deixando acumular seus trabalhos na faculdade, como teria tempo de fazê-los se passava a noite em claro, e repunha o sono durante o dia? No meio tempo entre uma coisa e outra: comia. 

—  Oe, Kiba! Tem uma notificação no sininho no canto superior da tela! —  Naruto berrou para o amigo que voltava à sala com duas garrafinhas de cerveja trincando. 

No cantinho da smart tv, ficavam todas as notificações importantes à Kiba, poderia vê-las e acessá-las dali, usando o console do videogame para ler, e até mesmo responder se fosse de seu interesse. O sininho em questão era sobre seu perfil no site de baby care. Onde babás dispunham suas informações, horários de disponibilidade, e pais e mães desesperados pediam por socorro. O site, inteiramente verificado, apenas pessoas cadastradas e com um certificado permaneciam no site, eram estrelados de acordo com a opinião dos pais contratantes, o que dava à Kiba uma vantagem, por mais que houvessem pouquíssimos homens no site, Kiba era o mais estrelado, entre homens e mulheres. O que só fazia crescer seu ego, claro. 

Quando pulou no sofá, entregando a garrafa ao amigo, buscou seu console para clicar nas opções, vendo que sim, haviam entrado em contato. Buscavam uma babá para a tarde de sexta, pelo prazo curto, haviam se proposto a pagar o dobro do valor cobrado por hora. O detalhe chamou a atenção de Kiba, a pessoa não tinha foto no perfil, mas também era muito bem votado entre as babás que lhe prestavam serviços. 

—  Vai aceitar? —  Naruto pulou do chão acarpetado para o sofá, fazendo a ondulação costumeira pelo peso a mais. 

—  O preço tá bom, e não é tão longe daqui. Sexta não tenho compromisso, e preciso sempre de uma grana extra. —  A resposta veio seguida de um movimento de ombros, quase um “estou a toa mesmo, por que não?”, e aquilo era extremamente a cara de Kiba. —  Pede aqui um encontro antes.

—  Nunca entendi isso, você precisa se encontrar com os pais antes? É site pra tomar conta de crianças, ou apimentar a relação de dois velhos cansados?

Às vezes eram imaturos demais para a idade que tinham, paciência, coitados de quem tinham de lidar com eles diariamente, como Tsume fazia antes de vê-los bater as asinhas e voar para longe - não tanto assim - da barra de sua saia. 

Naruto ganhou uma ‘almofadada’ contra o rosto, fazendo derramar um pouco da cerveja no estofado em tom de chumbo. Levantou rindo, mas reclamando, para voltar com um pano úmido para tirar o cheiro da cevada do material de camurça. Perdeu a troca de mensagens de seu melhor amigo, para com aquele que gostaria de contratar seus serviços. O encontro ocorreria naquele mesmo dia, às 17h no café próximo ao apê de Kiba, para sorte do rapaz que não estava com ânimo e vontade de se despender para muito longe, tinha ainda uma revisão de matérias a fazer, e voltar cedo seria primordial, já que boa parte da tarde estava ocupado com Naruto… jogando. 

—  Já sabe, qualquer coisa me liga. —  Naruto falou ao se despedir, esperou para sair junto de Kiba, vendo-o trancar o apartamento simplório, muito mais uma kitnet, mas insistiam em chamar de apartamento. Era o que conseguia pagar sem se apertar nas contas, contando com a ajuda de Tsume, claro.

—  Vai fazer o quê, fugir do trabalho e ir me buscar de moto? —  questionou enquanto desciam as escadas, o elevador havia quebrado no mês retrasado, e até agora o síndico não havia movido um dedo sequer para acionar algum conserto. —  Relaxa, esse site é mais confiável que aquela nossa última viagem de final de semana. 

—  Qualquer coisa é! 

Riram enquanto Naruto subia na moto, dando partida para não se atrasar, era um homem cheio de trabalhos aqui e acolá, sempre tocando numa festa e outra, ainda mais numa quinta-feira. A vida dos jovens pedia por música, e ele, bem, ele se doava! 

Kiba pegou o celular a caminho da cafeteria, checando mais uma vez as informações sobre seu possível mais novo contratante. O nome constava, assim como a profissão, e os dados sobre a criança. Não constava estado civil, e a foto que outrora não aparecia, agora mostrava um homem com uma criança no colo, mas tão de longe que Kiba não conseguia ver o rosto de nenhum. Ampliou a foto, não foi por falta de tentativas! Mas logo cessaria sua curiosidade. 

A intenção era chegar, tomar um lugar para esperar por Aburame Shino, e então pedir uma fatia de torta no meio tempo. Os planos foram frustrados quando viu um homem se levantar e acenar ao lhe ver. Óculos escuro, roupa social, discreta mas bem apessoado. Calça cinza escuro, blusa em um preto sólido, tal como os óculos de armação em um atro profundo. 

—  Inuzuka Kiba? —  a voz grave fez com que reações muito involuntárias tomassem o corpo de Kiba, dentre elas o arrepio. Que apenas se intensificou com o aperto de mãos selado.  — Prazer, Aburame Shino. 

—  Um prazer. —  Quando notou já era tarde, restava colher os caquinhos da cara que haviam caído ao chão. Pigarreou, como um sinal de que aquilo não havia sido calculado, ficou vermelho, era claro, sentia o rosto quente, assim como a ponta das orelhas, mas ignorou o fato quando lhe foi indicada a cadeira para se sentar.

—  Desculpa por chamá-lo tão em cima da hora. Tinha uma babá certa para o dia, mas teve um pequeno imprevisto, e o site buscou os algoritmos de maior compatibilidade, o que me levou ao seu perfil. 

Kiba notava, desde o mover dos lábios, ao quase imperceptível umedecer após a explicação breve. Notou as mangas da blusa cobradas cuidadosamente pouco acima dos punhos, o relógio, os malditos óculos que o impossibilitava de saber para onde ele estava olhando, o tom marmóreo da pele. Os fios de um castanho intenso, grossos, mas muito bem alinhados com gel. 

—  Tudo bem, estou acostumado com pais que precisam de uma mãozinha em cima da hora. Sexta a tarde pra mim está ótimo, não tenho compromisso. —  Sorriu enquanto apoiava os cotovelos à mesa, pegando o encarte disposto ali para escolher o que beber, visto que Shino não o havia esperado para pedir uma xícara de café expresso. —  A senhora Aburame não vai nos acompanhar na entrevista? — questionou tão automático, normalmente pai e mãe vinham num só pacote, dois por um na entrevista com a babá. Era engraçado como as mulheres falavam mais abertamente com Kiba, enquanto os pais tendiam a olhá-lo com cara de quem ainda achava que seria uma pegadinha. 

—  Não tem nenhuma senhora Aburame —  ditou simplista bebendo o último gole de seu café. 

Não tinha onde enfiar a cara, no casaquinho que usava não dava, sob a mesa muito menos, a armação e os pés de metal impediam. Restava aguentar a vergonha sem olhar diretamente no rosto de Shino. 

—  Sinto muito.

—  Não por isso. 

Kiba não sabia, mas não havia o porquê sentir. Perdas ocorriam, Shino havia perdido a “senhora Aburame” antes mesmo de realmente tê-la, não que a quisesse ter. Era um comum acordo entre dois amigos de longa data, que ansiavam por ser pais, mas não pelo compromisso. Não quando Shino era… Shino, e Ino era Ino. Tampouco quando ficou a encargo de Shino cuidar do filho sozinho. 

—  Então… sobre amanhã. Algo que eu precise saber, que não esteja no seu perfil? —  Quando a garçonete veio lhes anotar o pedido, Shino pediu mais um café, e sorriu com o entusiasmo de Kiba ao pedir um especial de caramelo salgado com gotinhas de chocolate e marshmallow. Parecia o pedido de uma criança, a torta então, veio como a cereja do bolo! —  Algo que seja muito importante como, não deixar que veja tv, ou alguma restrição?

—  Não, ele sabe muito bem os horários dele, e temos um quadro de tarefas afixado na parede na sala. 

Caralho!, Kiba pensou ouvindo Shino falar sobre o filho. Que espécie de pai tinha um quadro de atividades e horários na sala? 

—  Se incomoda se perguntar até que horas pretende se ausentar? —  Ainda curioso demais para conseguir esquecer o quadro de avisos, tentando focar nas perguntas corriqueiras que fazia aos demais pais e mães. 

—  Até às 20h. É uma palestra à qual não posso faltar, ou adiar. Preciso comparecer, alguns alunos precisam de uma pontuação extra se quiserem passar nesse semestre.

Ah sim, claro, Shino era professor de faculdade. 

Os assuntos importantes, como horários a serem cumpridos, endereço, pagamento… todos tratados com seriedade, destreza e certa rapidez. Os primeiros encontros entre pais e babás eram assim, uma entrevista rápida, um conhecendo o outro, optando por manter ou não a contratação; Shino manteve. 

Quando em casa, livre dos sapatos, da calça que deixou jogada no sofá da sala, mas mantendo o casaco, as meias e a peça íntima, Kiba buscou o celular, verificando mais uma vez as informações sobre seu mais novo contratante. Não notou o sorriso ao lembrar de como o achou bem vestido, sério, calmo. 

Ainda tinha àquelas matérias para revisar antes da aula da sexta pela manhã, mas tudo o que realmente conseguiu fazer foi permanecer olhando o perfil quase nulo de Aburame Shino. Tão logo seria babá, e pelo o que ouviu do pequeno, não teria quase trabalho nenhum. 


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