A Volta da Raposa escrita por Claen


Capítulo 8
Um Velho e Perigoso Inimigo




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Buenas noches, señores.— cumprimentou educadamente o comandante recém-chegado, enquanto tirava o chapéu.

Não apenas os De La Vega estavam surpresos, mas boa parte dos convidados também. Diego, apesar de tudo, conseguiu se recompor em apenas alguns segundos e logo foi ao encontro do novo comandante.

Buenas noches, Comandante.

— O senhor parece surpreso em me ver, Don Diego.

— Surpreso? O senhor não sabe o quanto, Capitão Monastário!

Os dois trocaram um aperto de mão nada sincero. Don Alejandro fez o mesmo.

— Como vai, Don Alejandro?

— Eu vou muito bem Capitão, e o senhor?

— Melhor impossível, Don Alejandro! Feliz por estar de volta.

— Viu, Don Diego, que surpresa nós trouxemos? – disse o Sargento, nem tão animadamente. Monastário com certeza também não lhe trazia boas lembranças.

— E que surpresa, Sargento! Mas diga-me Capitão, o senhor e o seu amigo, Dr. Pina, não tinham saído daqui presos por ordens do vice-rei, há três anos? – perguntou Diego sem nenhuma cerimônia.

— Diego, que modos são esses?! – repreendeu Don Alejandro, pela pergunta inoportuna do filho. Não que ele próprio não quisesse perguntar a mesma coisa, mas aqueles não eram a hora nem um lugar para isso.

— Ora, meu pai, só estou curioso... – respondeu inocentemente.

— Não se incomode, Don Alejandro. Bem, Don Diego, muitas coisas aconteceram depois de toda aquela situação lamentável, mas creio eu, que essa seja uma história para outra ocasião. Não acho que deveríamos estragar sua festa de aniversário, falando desse tipo de assunto.

— De maneira nenhuma Capitão, eu adoraria ouvir suas histórias. Venha, acompanhe-nos até a sala e poderemos ter uma conversa mais tranquila.

— Já que o senhor insiste.

— Eu faço questão. O senhor nos acompanha, Sargento?

— Claro, Don Diego!

Enquanto se dirigiam à sala, cruzaram com Don Miguel e suas filhas. O Capitão não deixou de notar a presença da bela senhorita que arrumava a fita nos cabelos da irmã.

— E quem é esta encantadora senhorita? Não vai nos apresentar, Don Diego?

— Mas é claro, que falta de educação a minha! Estes são Don Miguel Robles e suas filhas Teresa e Guadalupe. Don Miguel, senhoritas, este é o novo... antigo... quer dizer, atual comandante do povoado de Los Angeles, o Capitão Enrique Sanchez Monastário.

O capitão mal conseguia tirar os olhos de Lupita e imediatamente fez uma reverência enquanto beijava sua mão demoradamente. Só depois disso é que cumprimentou Don Miguel.

— É um prazer conhecê-los.

— O prazer é nosso, Capitão Monastário.

Diego teve a impressão de que Monastário estava olhando demais para Lupita e isso o incomodou mais do que ele achou que incomodaria, e praticamente puxando-o pelo braço, o conduziu até a sala.

— Vamos Capitão, estou curioso para saber o que aconteceu nestes anos em que esteve ausente. – apressou-o Diego – Don Miguel, senhoritas, divirtam-se e sintam-se como se estivessem em sua casa. Voltaremos em breve.

— Muito obrigado, Diego. – respondeu Don Miguel com uma mesura.

Poucos passos depois, o pequeno grupo deu de cara com Bernardo, que quase derrubou a bandeja que carregava quando viu o comandante recém-chegado.

Monastário percebeu a surpresa de Bernardo e deu risada enquanto o cumprimentava, mesmo sabendo que o criado não podia ouvir.

— Olá, Bernardo.

O criado, sem conseguir disfarçar sua surpresa muito bem, respondeu ao cumprimento com um sorriso e um aceno.

Logo após este encontro, o grupo finalmente adentrou a sala. Todos se sentaram curiosos para ouvir a história de Monastário, exceto o Sargento Garcia que estava mais interessado em degustar o delicioso vinho e saborear um belo pernil de carneiro que estavam sobre a mesa.

— Mas conte-nos, Capitão, o que aconteceu depois da última vez que nos vimos? O senhor estava viajando na época papai, e eu acabei não te contando tudo o que se passou, mas o Capitão tinha certeza de que eu era Zorro. O senhor acredita numa coisa dessas? Ele até me prendeu e me fez duelar contra ele! Onde já se viu? Até hoje não sei como consegui sobreviver ao nosso pequeno duelo! O senhor me disse uma vez, Capitão, que eu era o espadachim vivo mais sortudo, e eu acho que tinha razão. – disse Diego achando graça – Mas isso são águas passadas não é mesmo, Capitão?

— Você, o Zorro? Mas que absurdo! – Don Alejandro deu uma risada nervosa, tentando demonstrar que aquele era o maior absurdo que já tinha ouvido na vida, mas no fundo sentiu uma ponta de preocupação. Na época ele não sabia da vida dupla do filho e Diego nunca tinha lhe contado este fato. Ficou realmente surpreso com o que tinha acabado de ouvir.

 - Seu filho diz a verdade, Don Alejandro. Hoje eu percebo como fui tolo. Excedi-me naquela situação, Don Diego, e peço desculpas.

— O que é isso Capitão, pensando bem, foi até engraçado.

— O senhor pode considerar assim, mas eu quase perdi tudo por causa de minha insensatez. Naquele dia, o vice-rei deu voz de prisão a mim e ao Dr. Pina, e poucos dias depois fomos julgados. Graças a Deus, provei que não tinha nada a ver com as denúncias de corrupção. O Dr. Pina era o verdadeiro responsável por tudo. Provei, inclusive, que os impostos que cobrava eram justos, porém Pina extorquia os moradores quando fazia a arrecadação e eu não sabia de nada.

— Ora, ora! Quem diria que o Dr. Pina era a verdadeira mente criminosa por trás de tudo! – disse Diego sem acreditar em uma palavra de que Monastário lhe dizia e inconformado por descobrir como aquele patife tinha sido astuto em conseguir jogar toda a culpa em seu comparsa e sair quase ileso de todas as maldades que tinha cometido.

— Sim, Don Diego. Confesso estar envergonhado por ter me deixado ser enganado por aquele mentiroso. – continuou Monastário, como se fosse a vítima em toda aquela situação. Se Diego e Don Alejandro não o conhecessem, com certeza acreditariam em sua inocência graças a sua magnífica atuação – Não havia provas contra mim, fui apenas condenado por negligência, por não investigar como deveria o homem em quem eu confiava cegamente e acreditava ser meu braço direito.

Fui suspenso por nove meses e ao término de minha suspensão, exerci apenas funções administrativas por cerca de um ano. Só depois disso, e graças à intercessão de nosso Vice-Governador e atual Governador Interino, que é um conhecido meu de longa data, é que fui enviado para o quartel de Santa Barbara onde estive até poucos dias.

Depois que o Governador Alcazar sofreu esse terrível atentado e o nome de Zorro surgiu como sendo o do possível autor de tal atrocidade, o Vice-Governador me chamou, pois sabia que ninguém conhecia esse marginal melhor do que eu e pediu para que eu voltasse a Los Angeles para finalmente capturá-lo. Se alguém pode fazer isso, esse alguém sou eu.

— Não tenho dúvidas disso Capitão! O senhor é a pessoa certa para tal missão! Um brinde à volta do Capitão Monastário! – propôs Diego erguendo a taça de vinho que segurava e os demais fizeram o mesmo.

— Muito obrigado, senhores. Tenham certeza de que, dessa vez, eu capturarei esse bandido!

— Agora vamos Capitão, divirta-se na festa, porque ela também é para o senhor.

— Obrigado, Don Diego. – agradeceu o capitão enquanto se retirava da sala quase que arrastando o Sargento Garcia, que não queria se afastar da garrafa de vinho que estava degustando.

— O senhor não vem, Don Diego? – perguntou o sargento bonachão antes de sair.

— Em alguns instantes, Sargento. Primeiro preciso falar com meu pai.

— Mas é claro, Don Diego. Com licença.

— Toda, Sargento.

Assim que os dois saíram da sala, Bernardo entrou esbaforido e Diego imediatamente entendeu sua ansiedade.

— Eu sei, Bernardo, eu sei.


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