A Volta da Raposa escrita por Claen


Capítulo 50
Senhor Zorro, ao seu Dispor




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— Obrigado, Sr. Zorro. – agradeceu um dos moradores que não se acanhou em se aproximar de pai e filho. Muitos seguiram seu exemplo, até que uma multidão já se aglomerava ao redor de seu herói improvável: o almofadinha, o atrapalhado, o desajeitado, Diego de La Vega. Eles ainda custavam a acreditar que era verdade, mas era. Don Diego era o Zorro.

Depois de muitos agradecimentos efusivos, Diego, Bernardo e Don Alejandro foram ao encontro de Lupita. A moça ainda jazia no chão da praça, mas já estava sendo socorrida pelo Dr. Ernesto e por Don Miguel.  A bala tinha acertado sua barriga e ela tinha perdido bastante sangue, mas de acordo com o médico, felizmente nenhum órgão vital parecia ter sido atingido.

Seu estado ainda exigia maiores cuidados, mas todos tinham plena confiança de que ela se recuperaria dentro de pouco tempo, afinal, Lupita era uma moça forte e teimosa demais para se deixar vencer por uma mísera bala.

No entanto, mesmo sabendo que a situação não era tão ruim quanto parecia, Diego estava preocupado. Ele se ajoelhou ao lado da moça e pegou sua mão carinhosamente, fazendo-a sorrir. Lupita estava fraca e sua cabeça repousava no colo do pai, mas ela ainda conseguia achar graça em toda aquela situação.

O rapaz não entendeu o motivo de seu riso e achou que ela pudesse estar delirando devido à perda de sangue.

— Qual é a graça? – perguntou ele curioso.

— Então quer dizer que o senhor me enganou direitinho? – perguntou ela, ainda sorrindo.

Depois de ouvi-la, Diego entendeu o motivo de seu riso e também sorriu aliviado por ver que estava tudo bem e que aquilo não era nenhum efeito colateral estranho da hemorragia.

— Pois é. Señor Zorro, ao seu dispor. – cumprimentou-a com sua mesura habitual. Ele colocou a mão na cabeça com a intenção de tocar aba do chapéu como sempre fazia quando saudava as pessoas, mas então se deu conta de que o chapéu já tinha caído há tempos de sua cabeça.

— Eu não acredito que você me enganou. – continuou ela, ainda incrédula enquanto tentava se sentar com a ajuda do pai - Logo eu, que me julgava tão esperta!

— Não se martirize, afinal, lembre-se de que eu enganei uma cidade inteira durante anos, incluindo o meu próprio pai. – disse ele enquanto dava uma piscadela para Don Alejandro.

— E foi mesmo! – concordou o fazendeiro sorrindo.

— Você me paga por ter me feito de boba! – reclamou ela enquanto dava um soco quase sem força em seu braço.

— Mil perdões. E como a senhorita gostaria que eu pagasse essa dívida? – perguntou ele em tom de brincadeira.

— Só tem um jeito de você me pagar por isso, Sr. Zorro. – respondeu ela.

— E como é? – perguntou curioso.

— Com um beijo. – disse a moça, finalmente.

— Seu pedido é uma ordem, Señorita Robles.

Ele se abaixou um pouco mais e beijou seus lábios carinhosamente, como há tempos desejava. E embora aquele não fosse o momento mais romântico do mundo, para os dois foi perfeito e também levou a multidão de curiosos à loucura. Don Alejandro e Don Miguel se entreolharam e sentiram que o plano inicial de juntar os dois parecia ter finalmente dado certo.

O casal ficou envergonhado com a reação do grande público e eles logo se afastaram. Diego tentou se levantar em seguida, mas a perda de sangue também começava a mostrar seus efeitos nele, porque se sentiu tonto e precisou se sentar novamente. E assim ficaram os dois, sentados e feridos no chão da praça, e ainda achando graça da péssima situação em que se encontravam.

— Zorro, - disse o Dr. Ernesto, que cuidava de Lupita. – precisamos estancar esse seu sangramento também, porque não me parece nada bem.

— Eu agradeço, doutor, mas cuide de Lupita primeiro, porque ela precisa dos seus cuidados bem mais do que eu. Dê uma olhada no Capitão também, por favor. Acho que acabei me excedendo um pouco... – pediu ele, já arrependido de seu descontrole.

O médico acatou o pedido de Diego e foi ver o estado de Monastário, enquanto voluntários improvisavam uma padiola para carregarem Lupita até a casa do Dr. Ernesto, onde ela, posteriormente, receberia maiores cuidados.

A população ainda se preocupava com a saúde de Diego e Lupita, mas não podia deixar de sorrir e festejar aliviada com a derrota do tirano Monastário, no entanto, a animação logo deu lugar à curiosidade.

Pouco tempo depois, os festejos foram interrompidos pelo som do trote de vários cavalos que se aproximavam rapidamente. Quando eles finalmente chegaram à praça, todos se surpreenderam ao ver que quatro cavalos, montados por soldados, escoltavam uma carruagem oficial.

Diante daquela cena, Zorro percebeu que era hora de partir, mas os visitantes inesperados já estavam muito próximos e ele mal tinha forças para se levantar, quanto mais condições de correr ou procurar sua máscara. A única coisa que conseguiu fazer foi se virar de costas.

Don Alejandro foi o único com presença de espírito suficiente no momento para fazer algo.

— Bernardo, procure a máscara do Zorro, deve estar lá no palanque. Rápido! Eu vou recepcionar nosso visitante. E você, fique aqui, Diego. – ordenou o fazendeiro.

Diego sorriu ao perceber que, assim que Don Alejandro se afastou, os moradores fizeram um verdadeiro escudo entre ele e os soldados recém-chegados.

Inicialmente, ele pensou que tudo estivesse perdido, mas logo depois percebeu que talvez aquele não fosse o fim do Zorro e sim o início de uma enorme cumplicidade entre ele e toda a cidade. Ele tentou se levantar outra vez, mas a fraqueza só aumentava e acabou voltando a cair ajoelhado.

— Ajudem-no! – implorou Lupita, antes de finalmente ser retirada da praça.

Os moradores imediatamente foram ao auxílio de seu defensor e o ajudaram a ficar de pé. Um garotinho tinha encontrado seu chapéu caído perto do poço da praça e o devolveu com muito orgulho. Diego o aceitou e colocou de volta na cabeça. Pouco tempo depois, Bernardo também apareceu trazendo a máscara e ajudou-o a recoloca-la.

Enquanto Diego era auxiliado pelos moradores, Don Alejandro foi ao encontro da carruagem e ficou muito surpreso ao ver que quem descia dela era o Governador Interino, Don Arturo Contreras.


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