A Volta da Raposa escrita por Claen


Capítulo 49
Um Ato Covarde




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Tudo aconteceu muito rapidamente e os expectadores precisaram de alguns instantes para compreender o que tinha acabado de se passar.

Depois do forte barulho, o que eles viram foi a jovem Lupita Robles caída no chão, ferida e sangrando, enquanto uma pistola, na mão do Capitão, ainda fumaçava do tiro recém-disparado.

Ele não trazia a arma consigo, mas a tinha tomado do soldado que o havia amparado depois do empurrão de Diego.  Logo depois, num movimento rápido e certeiro, ele disparou contra a moça completamente indefesa.

— Ela já estava me irritando e eu precisei calar a boca dela. – justificou-se friamente.

Todos ficaram perplexos com a atitude completamente inesperada de Monastário, mas se mobilizaram, quase que imediatamente, para socorrer Lupita. Diego, por sua vez, permaneceu estático observando a cena, enquanto Monastário ria, ainda com a arma em punho. No entanto, aquele já não era mais um riso normal. O Capitão parecia ter finalmente perdido o juízo por completo e seu ato covarde foi demais até mesmo para os próprios soldados. Então Garcia, juntando toda a coragem que possuía, deu voz de prisão ao seu comandante.

— Soldados, prendam o Capitão Monastário! – ordenou ele, mesmo ainda que sem muita firmeza.

Surpresos e confusos, os soldados não souberam como reagir diante aquela ordem e apenas se entreolharam.

— Não seja ridículo, Garcia! Eu sou seu comandante! – vociferou Monastário.

— O senhor é o meu comandante, mas não está acima da lei. – argumentou Garcia, agora com um pouco mais de convicção - Atirar em alguém completamente indefeso é um crime muito grave, principalmente para um oficial do exército. Capitão Enrique Sanchez Monastário, entregue sua arma e sua espada. O senhor está preso.

— Não me faça rir, seu gordo idiota. Soldados, prendam o Sargento Garcia por se amotinar contra seu comandante! – contraordenou Monastário.

Os soldados ficaram ainda mais perdidos, sem saber a qual ordem deveriam obedecer.

— Agora saia da minha frente, seu imbecil, porque eu tenho um duelo para terminar. – assim que disse isso, Monastário empurrou Garcia para o lado, conseguindo deslocar o soldado corpulento apenas poucos centímetros, mas não imaginou que logo em seguida seria atingido em cheio por um forte soco no rosto.

O soco não tinha partido do Sargento e sim de Diego, que havia conseguido se aproximar sem ser notado, usando o soldado grandalhão como escudo.

Ao receber o golpe, Monastário caiu atordoado e dessa vez não conseguiu mais se defender. Diego estava furioso e ao ver que seu oponente se encontrava desarmado, também jogou sua espada longe e decidiu terminar aquela disputa com os próprios punhos.

Antes que o Capitão pudesse se erguer, Diego desferiu outro soco furioso que o levou de volta ao chão e também lhe arrancou um dente. Dessa vez, o rapaz não deu chance para que Monastário conseguisse se recuperar e se lançou sobre ele.

Diego o agarrou pelo uniforme e começou a desferir socos e mais socos em seu rosto. O sangue de Monastário se misturava com o sangue que escorria pelo braço de Diego.

— Você gosta de torturar pessoas inocentes? Gosta de machuca-las e fazê-las sofrer? Gosta de humilhar a todos que são mais fracos que você? Gosta? Responda seu desgraçado! – gritava Diego enquanto o esmurrava, completamente fora de si. Pela primeira vez em sua vida, ele sentia uma raiva tão grande, que achava ser capaz de tirar a vida de alguém. Por sorte, Don Alejandro estava por perto para intervir e evitar uma tragédia.

— Pare, Diego! – gritou o velho fazendeiro desesperadamente, enquanto se aproximava lentamente com o auxilio de Bernardo.

Ao ouvir a voz de seu pai, Diego parou, mas seu coração continuava cheio de raiva.

— Eu preciso acabar com esse desgraçado de uma vez por todas, meu pai! – respondeu Diego, furioso. Ele estava ajoelhado sobre o corpo de Monastário e continuava o segurando pela gola do uniforme.

— Eu te entendo e sei que ninguém o culparia se fizesse isso, mas você não é assim, meu filho. Solte-o. Por favor. – pediu Don Alejandro quase que em súplica.

— Não, pai. Isso acaba hoje! – respondeu Diego seriamente.

— Não faça isso, filho. – disse Don Alejandro tocando carinhosamente o ombro de Diego. – Olhe para ele. Ele já não pode fazer mais nada contra ninguém. Isso já está acabado.

— Escute o seu pai, Don Diego. – concordou o Sargento Garcia – Não vale a pena mata-lo. Eu garanto ao senhor que ele será preso e terá o que merece.

— Ele já foi preso uma vez, Sargento. O senhor se lembra, não é? E veja o que aconteceu: nada. Ele voltou ainda pior para nos castigar. Quem me garante que isso não vai acontecer de novo? – retrucou Diego, ofegante pela raiva e pelos golpes que tinha acabado de desferir.

Garcia não respondeu, pois sabia que ele tinha razão. Sabia que Monastário tinha amigos importantes e que talvez pudesse se safar outra vez, mas ele não podia fazer nada além de tentar cumprir as leis.

Ainda não convencido de que a disputa já tinha acabado, Diego pegou a espada de Monastário que estava caída a poucos centímetros de distância, e pressionou a lâmina fortemente contra seu pescoço. Dessa vez, Don Alejandro precisou intervir com mais veemência.

— Pare, Diego! – ordenou seriamente.

Ao ouvir seu pai sendo tão severo, algo despertou dentro dele e ele se sentiu como um garoto desobediente. Seus olhos se arregalaram e ele jogou a espada longe. Ele parecia ter voltado a si e saído do transe de ódio que o tinha dominado por alguns instantes. Quando se deu conta do que estava prestes a fazer, sentiu medo e vergonha de suas próprias atitudes.

— Meu Deus, o que eu estava fazendo? – perguntou a si mesmo.

Ele olhou para o rosto ensanguentado do Capitão e quase não acreditou ter sido o responsável por tamanha violência, e então o largou. Apesar de tudo, Monastário estava consciente, mas completamente vencido.

— O que eu fiz? Perdoe-me, meu pai! – implorou Diego ao se levantar e ir em direção a Don Alejandro.

— Não há nada a ser perdoado aqui. Você sabe que é o meu herói, o meu orgulho e o orgulho de todo esse povo.

— Obrigado por ter me impedido de cometer um crime do qual eu jamais me perdoaria.

— É para isso que servem os pais. – disse Don Alejandro com um sorriso terno, enquanto abraçava o filho.

E com essas palavras, Diego se entregou vencido às lágrimas e ao abraço reconfortante do pai, enquanto todo o povoado de Los Angeles assistia àquela cena, comovido e guardando um silêncio respeitoso.


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