— Sr. Governador Interino, que surpresa recebê-lo aqui hoje! – começou Don Alejandro com a maior cordialidade do mundo ao ver o homem saindo da carruagem.

— Don Alejandro, o que aconteceu com o senhor? – perguntou o governador completamente assombrado por ver o estado em que o fazendeiro se encontrava. Foi difícil para Don Arturo reconhecer o mesmo homem que o havia visitado dias antes, porque além de aparentemente estar ferido, ele agora parecia um verdadeiro maltrapilho, com as roupas sujas e semi-rasgadas. Isso lhe pareceu muito estranho, sem contar o fato de ele ter tido a impressão de que todo o povoado estava reunido na praça.

— Minha intenção era realmente a de surpreender a todos, mas parece que o surpreendido aqui fui eu! – constatou o Governador Interino, ainda sem saber o que pensar da cena que presenciava.

Olhando mais atentamente, ele observou que havia duas aglomerações distintas de pessoas. Na primeira, próxima ao portão do quartel, ele pôde ver um grupo de soldados reunidos ao redor de um outro, que parecia estar ferido no chão. Na segunda, há alguns metros de distância da primeira, também parecia haver mais alguém ferido no chão, mas a quantidade de pessoas reunidas ali era muito grande e ele não conseguiu ter certeza do que via.

— O senhor pode me dizer o que está acontecendo aqui, Don Alejandro? E está tudo bem com o senhor? Perdoe-me a sinceridade, mas o senhor me parece péssimo!

Don Alejandro riu do comentário, mas não viu escapatória e sabia que teria que contar a verdade.

— Eu estou bem, ou pelo menos vou ficar em breve. Agora o que aconteceu aqui, já é algo um pouco mais difícil de explicar. – respondeu ele, coçando a cabeça grisalha e escolhendo cuidadosamente as palavras que usaria.  Resolveu então, ver se conseguia ganhar um pouco de tempo enquanto pensava em uma forma de modificar levemente a história que contaria – Mas diga-me, o que o trás aqui, Sr. Governador?

— Bem, depois da visita do senhor, confesso que fiquei intrigado com o que me contou e decidi vir falar pessoalmente com o Enrique. Preciso tirar algumas questões a limpo. Se o senhor me der licença, eu tenho que ir até o quartel.

— É claro, Excelência. Mas não será preciso entrar lá, pois o Capitão está bem ali na frente do quartel. – disse Don Alejandro enquanto apontava para a aglomeração de soldados.

— Deus do céu! É ele quem está ferido? - perguntou o Governador, preocupado.

— Sim, senhor. – respondeu o fazendeiro, meio hesitante.

— Mas o que aconteceu? Quem o feriu? Vamos lá vê-lo. Capitão Aurellana, venha conosco. – chamou o Governador Interino, bastante apressado.

Don Alejandro não tinha percebido que um dos soldados que vinha a cavalo era o antigo comandante do quartel de Los Angeles, o Capitão Roberto Aurellana.

O soldado obedeceu ao chamado e desmontou imediatamente de seu cavalo, enquanto os outros três se mantiveram em suas posições, próximos à carruagem.

— Capitão Aurellana, que bom revê-lo. – cumprimentou Don Alejandro com um forte aperto de mão.

— Digo o mesmo, Don Alejandro. O senhor saberia nos dizer quem feriu o Capitão Monastário?

— Bom... – começou meio vacilante, enquanto olhava para a outra aglomeração de pessoas e percebia que Zorro ainda não tinha conseguido fugir. Seu coração estava apertado, mas agora era tudo ou nada e ele decidiu contar a verdade, escondendo obviamente, o fato de que seu próprio filho era o bandido mascarado. – Bom... foi o Zorro, senhor.

— O Zorro! – repetiram os dois visitantes com surpresa.

— E eles conseguiram finalmente pegar esse bandido? – Perguntou o Governador Interino.

— Para falar a verdade não, mas ele está bem ali. – e apontou para a segunda aglomeração de pessoas. – Ele também está ferido e acho que não pretende fugir dessa vez. Creio que ele gostaria de falar com o senhor, e se Vossa Excelência puder acatar o pedido desse velho tolo, eu peço para que o escute. Se depois de ouvi-lo ainda achar que precisa prendê-lo, então faça, mas lhe dê uma chance de contar sua versão dos fatos primeiro.

O governador respirou fundo e viu que a situação era bem mais incomum do que imaginava, então resolveu pedir ao Capitão Aurellana que fosse chamar seu companheiro de viagem, que permanecia dentro da carruagem, ainda escoltada pelos demais soldados.