A Volta da Raposa escrita por Claen


Capítulo 41
Recado ao Capitão




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Assim que Bernardo se foi, Diego entrou na taverna para dar sequência ao seu plano.

Ele não estava tão apresentável como de costume, por isso se desculpou pela situação de suas roupas sujas de sangue. Porém, todos haviam presenciado o que tinha acabado de acontecer na praça e ninguém se espantou ou se incomodou com aquilo, muito pelo contrário. Todos conheciam Don Alejandro e se compadeciam de sua situação.

— Sinto muito por Don Alejandro. – disse Maria entristecida, assim que avistou o rapaz – Estou rezando para que ele e todos os outros saiam logo daquele lugar horrível.

— Muito obrigado, Maria. – agradeceu Diego beijando as mãos da moça e deixando-a enrubescida.

— Fique tranquilo, Don Diego. – continuou a garçonete - Tenho certeza de que o Zorro está bem e que ele virá ajudar a todos.

— Você acha que ele vai se entregar como o Capitão pediu? – perguntou Diego em busca, na realidade, de um conselho.

— O Zorro é um homem bom. Se não houver outro modo de salvá-los, acredito que ele vai se entregar sim.

— Quem sabe, não é mesmo? – disse Diego com um sorriso discreto, ainda mais seguro de que tinha tomado a decisão certa. Ele entendia que a opinião da moça, representava a opinião da maioria das pessoas, e saber que teria o apoio e compreensão da população o deixava mais tranquilo.

Maria se despediu e continuou com seus afazeres, pois o lugar estava movimentado e ela tinha muitas mesas para servir.  Diego, então, foi até o balcão falar com o taverneiro, que na mesma hora lhe ofereceu o melhor e mais caro quarto disponível.

Diego não se incomodou com o preço e aceitou o quarto, porque ele já conhecia o aposento e era exatamente o que ele precisava.

O lugar era bastante espaçoso e possuía duas janelas opostas. Uma delas dava para a praça e possibilitaria a ele observar tudo o que acontecia à distância e a outra dava para os fundos da taverna, o que era perfeito para a entrada e saída do Zorro.

— Meu criado, Bernardo, vai voltar daqui a pouco com uma muda de roupa. – comunicou Diego ao taverneiro - Deixe-o subir, por favor. Também gostaria de uma garrafa de vinho. Será que poderia pedir a alguém para levar até o quarto?

— Pois não, Don Diego. Assim que Maria terminar de servir as mesas, peço para ela que leve sua bebida.

— Obrigado. – Agradeceu Diego e subiu as escadas que levavam ao andar de cima onde ficavam os quartos.

Quando entrou, foi direto para a janela com vista para a praça. Ele afastou a cortina e olhou mais uma vez para os homens humilhados e feridos lá embaixo e sua resolução de dar um fim em tudo ficou ainda mais forte.

Observando a pequena escrivaninha, ele viu uma pena e um tinteiro e sorriu. Isso era bom, porque ele pretendia escrever uma carta, porém não tinha visto nenhuma folha de papel, então se sentou à escrivaninha e abriu as gavetas. A procura foi rápida, pois logo na segunda tentativa encontrou as folhas. Pegou uma delas, molhou a pena na tinta preta e começou a escrever. Quando terminou, guardou a carta no bolso interno do casaco e se deitou na cama.

Enquanto observava o teto do quarto, completamente absorto, ele pensava no que poderia acontecer ao final daquele dia. Ele não tinha a intenção de adormecer, mas acabou cochilando e só acordou quando Bernardo voltou com suas coisas.

Nesse meio tempo, Maria também já tinha trazido o vinho, mas ao ver que ele dormia, não quis incomodá-lo e deixou a bandeja com a garrafa e dois copos sobre a mesinha de cabeceira.

— Bernardo, que bom que voltou. Quanto tempo eu dormi? – perguntou para si mesmo enquanto procurava pelo relógio. Quando o encontrou viu que já passava do meio-dia.

— Eu tenho uma missão para você, meu amigo. Venha, sente-se aqui. – e indicou a cadeira ao lado da cama.

O criado curioso, sem imaginar o que seu patrão queria, se sentou no lugar indicado e ficou bastante atento ao que lhe seria dito.

— Eu quero que você dê um jeito de fazer esta carta chegar até o Capitão. – e tirou a folha de papel dobrada do bolso onde a havia guardado.

Bernardo pegou o papel intrigado e perguntou se poderia ler.

— Mas é claro que sim. Vá em frente.

A carta era endereçada ao Capitão Monastário e continha as seguintes palavras:

“Caro Capitão Monastário,

Quero que saiba que seu recado chegou aos meus ouvidos e venho por meio desta dizer-lhe que farei como solicitou. Hoje, às vinte horas, eu estarei em frente ao quartel de Los Angeles, porém, tenho algumas condições.

Não é que eu esteja desconfiando de suas boas intenções, longe disso, mas antes de qualquer coisa, o senhor deverá redigir um documento anistiando todos os prisioneiros que hoje estão em suas celas. O mesmo deve ser assinado pelo senhor e por outras três testemunhas.

Tal documento deve ser apresentado aos cidadãos hoje à tarde para que todos estejam cientes de sua decisão e depois, ele deverá será entregue aos cuidados de um dos prisioneiros. Caso meu pedido seja acatado, me apresentarei como prometido, porém não pretendo me render sem lutar, afinal o senhor me conhece.

Chamo-o para um duelo justo em praça pública e lá nossas diferenças serão resolvidas. O resultado do duelo não deverá alterar o destino dos prisioneiros, ou seja, eles serão soltos e perdoados incondicionalmente, como o senhor já havia prometido. Já a minha prisão, essa vai depender do resultado de nossa pequena disputa. Se eu perder, o senhor me prende e eu ficarei à inteira disposição da justiça. Agora se eu vencer... bom, se eu vencer, posso dizer que o senhor não terá lugar em nosso querido povoado nunca mais.

                                                                  Z”

Bernardo ficou bastante consternado ao ver que Diego realmente estava disposto a se entregar e não aceitou fazer parte daquilo.

— Mas Bernardo, entenda que esse é o único jeito. Eu não sei o que vai acontecer hoje comigo, com o Zorro ou com o Capitão Monastário, mas eu prefiro que tudo acabe de uma vez por todas. Por mais que eu ame esse povo que tanto tem sofrido nas mãos de canalhas como Monastário, eu acho que já não consigo mais viver essa vida dupla. Não é fácil ser o apático Diego de La Vega durante o dia e o valente Zorro durante a noite. Eu já não posso mais... Você mesmo viu o que aconteceu. Eu me descuidei e acabei colocando meu pai e tantos outros em perigo.

Bernardo se entristeceu, pois apesar de ter muito orgulho em ser o ajudante do misterioso bandido, ele entendia os motivos de Diego. Era o rapaz quem durante anos vinha arriscando a vida toda vez que o povo precisava de ajuda. Ele também desejava que seu patrão finalmente pudesse descansar e ter uma vida normal. Só não queria que ele tivesse que enfrentar justo o extremamente habilidoso Capitão Monastário para conseguir isso.

Ele baixou os olhos e dobrou a carta, colocando-a junto ao coração, e depois sorriu para Diego, concordando em realizar seu pedido. A carta chegaria ao Capitão, custasse o que custasse.

— Obrigado, meu amigo. Eu não sei o que vai acontecer essa noite, mas por hora, vamos brindar ao Zorro, talvez pela última vez.

Ele pegou a garrafa de vinho e encheu os dois copos. Deu um para Bernardo e ficou com o outro para si.

— Saúde! – disse enquanto os dois copos se tocavam em um brinde.


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