A Volta da Raposa escrita por Claen


Capítulo 42
Agora é com você, Bernardo




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Eles esvaziaram os copos, mas não beberam a garrafa toda, porque aquela noite seria muito delicada e eles precisariam estar com todos os seus sentidos bem aguçados.

Poucos minutos depois, Bernardo se despediu do patrão e saiu para cumprir sua missão. De início ele ainda não sabia muito bem como faria para entregar a carta ao Capitão, mas não precisou ir muito longe para ter uma ideia.

Assim que desceu as escadas e chegou ao salão da taverna, ele avistou o Sargento Garcia, que bebia com seu amigo, o Cabo Reyes, e foi cumprimentá-los. Naquele instante ele decidiu que a dupla de soldados seria a responsável por fazer a carta chegar ao seu destinatário.

— Olá, pequenino! Venha, venha beber conosco! – chamou Garcia com a ajuda de um aceno, logo que o viu se aproximando.

Bernardo retribuiu o aceno, mas fingiu que não estava entendendo o convite do soldado, fazendo com que Garcia continuasse o chamando com vários acenos na intenção de que ele o compreendesse. O mudo achava graça do Sargento e fingia cara de confusão, mas depois de algum tempo, decidiu que já era hora de parar de torturá-lo com a brincadeira e foi ao encontro da dupla de soldados trapalhões.

Os dois já tinham esvaziado duas garrafas de vinho e a terceira estava a caminho na bandeja de Maria. Era comum encontrar o animado Sargento bebendo na taverna, mas desta vez era diferente. Ele parecia melancólico.

— Eu estou muito triste, sabia pequenino? – disse Garcia cabisbaixo, olhando para seu copo vazio.

Bernardo assentiu com a cabeça, como se estivesse entendendo e Garcia continuou desabafando, porque mesmo acreditando na mentira de que Bernardo fosse surdo, sempre conversava com o mudo como se ele pudesse compreendê-lo.

— Sabe, Bernardo, além de ser obrigado a prender todas aquelas pessoas e vê-las sendo torturadas, estou achando que também vou perder a recompensa pela captura do Zorro. Não vou ganhar nada se ele se entregar ou se estiver morto em algum lugar.

— Mas, Sargento, o senhor vem tentando prender o Zorro há tanto tempo e nunca nem conseguiu chegar perto. Achei que o senhor já tinha desistido... – intrometeu-se o Cabo.

— Como pode dizer uma coisa dessas, Cabo? Já se esqueceu de que eu fui o único a conseguir acertar esse bandido? – indignou-se Garcia com o comentário do amigo.

— Mas não foi sem querer, Sargento? – retrucou o Cabo confuso.

— De onde você tirou essa ideia, Cabo? – ofendeu-se Garcia com o novo comentário do soldado - É logico que foi tudo muito bem planejando por mim.

— Ah, é que eu achei que o senhor tinha acertado ele sem querer, quando nos topamos naquele dia. – disse Reyes inocentemente, realmente acreditando que tivesse se confundido.

— Claro que não! – negou solenemente.

Bernardo fingia não entender os dois soldados, mas acompanhava toda a discussão da dupla tentando segurar o riso, enquanto tomava o copo de vinho oferecido pelo Sargento insaciável, que ainda tinha espaço para outra garrafa.

— Traga mais uma, Maria! – pediu o Sargento.

— Nossa, Sargento, o senhor não acha que já bebeu demais? – perguntou Reyes preocupado.

— É que hoje o dia está muito estranho, Cabo. Preciso de mais uns goles para ver se as coisas começam a fazer sentido.

— Mas o senhor tem dinheiro para tudo isso?

— Bem... não. – confessou, mas logo deu um jeito de encontrar um financiador - E é por isso que você vai pagar a conta.

— Eu, Sargento?  - perguntou o Cabo desolado - Eu não tenho mais nenhum centavo. Só vou ter dinheiro na semana que vem, quando receber o meu soldo.

— Você ouviu Maria? O Cabo vai pagar na semana que vem, então coloque na conta dele.

— Mas, Sargento... o senhor também vai receber na semana que vem, aí o senhor vai poder pagar a conta.

— Eu jamais negaria a sua honra de poder pagar uma bebida para o seu Sargento! – disse como se estivesse fazendo um favor ao pobre Cabo.

— Tudo bem, Sargento. – desistiu Reyes, completamente vencido - Maria, traz mais uma garrafa, mas essa vai ser a última.

Essa era a oportunidade que Bernardo estava esperando. Quando Maria voltou com a nova garrafa de vinho, ele se levantou repentinamente fingindo não tê-la visto e quase derrubou sua bandeja. Ele prontamente foi ajudá-la e no meio da confusão e quase queda da garrafa, aproveitou a chance para pegar a bandeja e colocar a carta de Diego sobre ela sem que ninguém percebesse.

Enquanto a moça se retirava para limpar o vinho que tinha derramado no vestido, o criado deixou a bandeja sobre a mesa dos soldados, mas para seu desalento, nem Garcia nem Reyes notaram a presença do papel dobrado, pois estavam mais interessados em encher seus copos pela última vez naquele dia. Então ele precisou intervir.

Ele tocou no ombro do Sargento e apontou, bastante curioso, para a folha de papel que estava claramente endereçada ao Capitão Monastário. Foi somente nesse instante, que Garcia finalmente viu o bilhete. Ele perguntou a todos os presentes se algum deles havia colocado a carta lá, mas ninguém assumiu a autoria do ato. Para a sorte de Bernardo, todos estavam ocupados demais com seus próprios assuntos, para perceberem sua rápida manobra.

— É para o Capitão. Será que eu devo abrir? – perguntou Garcia, em busca de um conselho.

Bernardo e Reyes o incentivaram a ler, por mais que não fosse para ele.

— É melhor eu ler primeiro mesmo, - concordou Garcia, já bastante curioso - porque se for alguma coisa sem importância, eu evito levar outra bronca do comandante. Acho que meu traseiro não aguenta outro chute...

Ele desdobrou o papel e começou a ler. A cada linha, seus olhos se arregalavam mais e mais, enquanto o Cabo entendia menos e menos o que estava acontecendo.

— O que foi, Sargento? É algo importante? – perguntou finalmente.

— Importante? Essa é a coisa mais importante de todas! Venha Cabo, precisamos entregar isso imediatamente ao Capitão! Com licença, pequenino, precisamos ir.

Assim que disse isso, ele se levantou incrivelmente rápido e saiu arrastando o Cabo pelo braço, sem nem deixá-lo terminar o último gole de seu copo. Bernardo achou graça ao perceber como o corpulento sargento podia ser bastante ágil quando queria.

Ao ver que tinha conseguido cumprir sua missão, Bernardo seguiu satisfeito de volta para o quarto do patrão. Agora eles precisariam esperar para ver qual seria a reação de Monastário.


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