A Dama do Coração Partido escrita por Claen


Capítulo 4
Holmes Faz Suposições




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Aquelas palavras não pareceram ter produzido muito efeito em Holmes, mas fizeram meu coração saltar. Como assim? Como as alianças enterradas com o marido estavam agora nas mãos de Holmes?

— A senhora tem certeza de que foram enterradas com ele? – perguntou Holmes.

— Sim. A dele estava em seu dedo e eu mesma coloquei a minha em seu dedo mindinho durante o velório.

— Agora entendo seu pavor, senhora. – comentei já começando a ver minha imaginação voar para longe com histórias de fantasmas e assombrações. – Eu também estaria com medo se fosse a senhora.

— Você é tão crédulo, meu caro Watson! – disse Holmes achando graça de minha reação. – Não me diga que acredita que a Sra. Edwards está sendo assombrada pelo fantasma do marido?

— Não sei, existem tantas histórias não explicadas por aí... – respondi meio sem graça.

— Muito me admira um homem da ciência, um médico, acreditar em tais bobagens! Quantas vezes eu preciso dizer que fantasmas não existem? Nossa visitante está sendo assombrada, eu concordo, mas garanto que essa assombração está bem viva. Diga-me, a senhora tem intenções de se mudar de sua casa?

— Sim. Desde a morte de meu esposo, sinto que a casa ficou grande demais para nós, vazia demais... Assim que conseguir vendê-la, pretendo me restabelecer em outro lugar, no entanto, não consigo encontrar um comprador disposto a pagar o que estou pedindo, principalmente depois que as... histórias sobre a casa começaram a se espalhar pelas redondezas. Não queria que o que está se passando fosse de conhecimento público, para evitar bisbilhoteiros e piadistas, mas como o senhor bem sabe, fofocas se espalham rapidamente.

— Alguém demonstrou grande interesse por seu imóvel? Um interesse maior do que o das outras pessoas?

— De fato... tem um senhor que já me fez 3 propostas, mas elas são de apenas um terço do valor da casa. Não posso aceitar, porque preciso do dinheiro para comprar uma casa mais modesta e guardar o restante, assim poderemos sobreviver desse dinheiro e de meu próprio salário de professora. Steven deixou alguns bens, mas não gostaria de mexer em nada, quero reservá-los apenas para o futuro de minha filha.

— Pois bem, eu lhe garanto que ele voltará outras vezes, e a proposta vai ser cada vez menor, e a senhora vai acabar aceitando, porque ninguém mais lhe fará ofertas, afinal, quem é que compraria uma “casa mal-assombrada”? – concluiu Holmes.

— O senhor acha que isso tudo pode ser uma artimanha desse senhor?

— Tenho certeza de que ele está forçando-a a querer sair da casa. Dessa forma além de ele conseguir seus objetivos, também sairá lucrando por comprar um imóvel completamente desvalorizado por sua má fama. Em pouco tempo ele provará que não havia nada de errado com a propriedade e a venderá por seu real valor, tendo um grande lucro.

A explicação de Holmes até tinha alguma lógica e pareceu trazer certo alento ao coração da senhora Edwards e ela começou a cogitar a hipótese de que ele poderia ter razão. Porém, senti que algo não estava certo. Aquela explicação era simplista demais para Sherlock Holmes, não parecia algo de seu feitio.

— Mas e as alianças? – perguntou a moça.

— A senhora disse que colocou a aliança poucos minutos antes do enterro. Nos minutos seguintes o caixão ficou diante da senhora o tempo todo?

— Na realidade não. Depois do velório o caixão foi levado pelos amigos de meu marido para uma outra sala para ser preparado para o enterro. Ele ficou lá por cerca de dez minutos.

— A senhora concorda que alguém poderia ter se apoderado das alianças nesse meio tempo?

— Eu... eu acho que poderia ser possível, mesmo não acreditando que nenhuma das pessoas presentes seria capaz de fazer isso, muito menos envia-las para minha casa depois. Seria uma brincadeira de péssimo gosto. Eram todos amigos de meu esposo, médicos do Hospital St. Bartholomew.

— Mas seria possível, não é mesmo?

— Sim, seria... – balbuciou a moça pensativa.

Eu havia me deixado levar pela narrativa cheia de pavor da Sra. Edwards e também começava a acreditar que existia apenas uma explicação sobrenatural para os fatos apresentados, porém, com a explicação tão simples de Holmes, me senti envergonhado de ter cogitado a possibilidade. Tudo era perfeitamente explicável de uma forma bastante plausível e bem mais crível do que espíritos inquietos.

— Perdoe-me senhor Holmes. Agora vejo como fui tola e como me deixei influenciar pelo medo irracional que senti. Sinto-me envergonhada por ter vindo incomodar os senhores com um assunto desses.

— Não diga isso senhora. – tentei animá-la – Qualquer um teria tido a mesma reação, especialmente depois de ter sofrido uma perda tão grande.

— Obrigada, Dr. Watson. – respondeu envergonhada, mas aparentemente mais tranquila.

— Minha sugestão – disse Holmes - é que a senhora volte até Bedford e conte ao Chefe de Polícia minhas suposições e peça-o para investigar esse tal comprador e garanto que seus fantasmas desaparecerão. Este homem é um verdadeiro criminoso. Ele tem cometido diversos crimes como invasão de domicílio, especulação imobiliária e principalmente, ele está atentando contra a sua vida, devido a sua condição.

— É verdade Sr. Holmes, farei isso. Mais uma vez, me desculpem por tomar o seu tempo e muito obrigada por tudo.

Dizendo isso, ela respirou profundamente e se levantou. Despediu-se educadamente e eu a acompanhei até a porta. O tempo tinha melhorado um pouco, já não garoava mais, porém o frio ainda persistia.

— Adeus, doutor.

— Adeus. Sra. Edwards. Cuide-se bem e tome os remédios corretamente, afinal sua filha precisa de você.

— Farei isso, doutor. Muito obrigada.

Enquanto nos despedíamos à porta, fomos interrompidos por Holmes que para nossa surpresa veio apressado ao nosso encontro.

— Senhora, espere um minuto. – chamou ele enquanto descia as escadas. – Quando for à polícia, diga ao Chefe de Polícia que Sherlock Holmes garantiu que seria necessário manter vigilância em sua casa, principalmente à noite, para pelo menos inibir ação de algum invasor a mando desse senhor até que ele seja encontrado. Se em uma semana a polícia de Bedford não descobrir nada, eu farei questão de ir atrás desse delinquente, pessoalmente.

— Muitíssimo obrigada, Sr. Holmes. O senhor não é como o descrevem...

Pela primeira vez pudemos ver um sorriso em seu rosto. Sua alegria e alívio foram sintetizados em um abraço apertado de despedida e agradecimento em meu colega. Por que eu nunca recebia abraços das mulheres bonitas? Bom, isso não vem ao caso, o que importa é que a moça seguiu de volta para Bedford com o coração mais leve.

No final das contas, minha previsão não tinha se concretizado, pois apesar de termos recebido uma visitante com uma situação bastante inusitada, ela não foi inusitada o bastante para convencer Holmes a aceitar o caso e isso me incomodava. Ele não costumava agir dessa forma. Por mais que não fosse um caso tão desafiador, Holmes a deixou ir embora apenas com suposições e sem uma solução concreta para o problema. E se ele estivesse errado? Isso era quase impensável, mas Sherlock Holmes também é humano e pode falhar. Eu estava cismado, precisávamos conversar.


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