A Dama do Coração Partido escrita por Claen


Capítulo 3
A Dama Revela Seu Drama




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— Vejo que já está mais tranquila. Em que podemos ajudá-la, senhora? – indagou Holmes, curioso.

— Bem, Senhor Holmes – começou ela meio receosa – como eu havia dito, meu nome é Emma Edwards, moro em Bedford e, como o senhor bem disse, fiquei viúva há pouco mais de três meses. Sempre me considerei uma pessoa sensata e realista, mas de umas três semanas para cá, já não sei de mais nada.

— O que quer dizer com isso senhora? – perguntei, já bastante curioso.

— Eu preciso que os senhores me ajudem. Eu ando tão assustada que já não sei se o que se passa comigo é real ou se estou perdendo a razão. Acho que não aguentarei por muito mais tempo se não conseguir uma resposta.

— Como assim, senhora Edwards? Creio que não estamos entendendo. – inquiriu Holmes tão perdido quanto eu. – A senhora poderia ser mais clara.

— Perdoem-me senhores. Eu realmente estou apavorada. Vou contar-lhes tudo do começo.

— Eu agradeço.

— Senhor Holmes, eu sofro de arritmia cardíaca e não é bom para minha saúde ficar assustada como eu venho ficando ultimamente. Minha condição não é tão grave como a de outras pessoas com problemas cardíacos, e eu convivia com minha doença sem maiores dificuldades, principalmente pelo fato de meu falecido esposo ser um médico cardiologista respeitado, mas agora sem tê-lo ao meu lado, as coisas se complicaram bastante.

— Perdoe-me a intromissão, mas o seu esposo seria o Dr. Steven Edwards? – perguntei curioso.

— Sim, Dr. Watson. O senhor o conheceu?

— Apenas por sua reputação. Ele vinha fazendo grandes progressos com as pesquisas sobre as doenças cardíacas e seus tratamentos.

— Exatamente doutor. Além de ser sua esposa, eu também participava de suas pesquisas.

— Agora eu me lembro, Watson. Lembro-me de ter lido sobre sua morte nos jornais. Eu sinto muito pela sua perda.

— Obrigada. É muito difícil aceitar, quando o destino nos prega uma peça de tanto mau gosto. É quase impossível de acreditar que um médico possa morrer dentro de um hospital, cercado de médicos que nada conseguem fazer. Ele cuidava de mim com tanto amor e carinho, que a doença já não era mais um medo para mim. Porém depois de sua morte, fiquei perdida. Levei um tempo para me recompor e quando finalmente minha vida voltava aos trilhos, eu comecei a ouvir barulhos e a ver coisas estranhas em minha casa.

— Curioso... – balbuciou Holmes.

— Nunca fui uma pessoa religiosa e nem de acreditar no sobrenatural, mas não consigo encontrar uma explicação racional para as coisas que andam acontecendo. Também tenho a estranha sensação de uma presença me acompanhando por toda a parte. Por favor, senhor Holmes, me ajude a encontrar uma explicação para tudo isso. Meus nervos estão à flor da pele e minha condição piorou muito nesses dias. Os remédios já não fazem tanto efeito. Se não estou louca ainda, sinto que ficarei muito em breve e não posso deixar minha filhinha só. Agora eu sou a única pessoa que ela tem nesse mundo.

Nesse instante nossa visitante não conseguiu mais conter e as lágrimas que já há algum tempo marejavam seus olhos e ela começou a chorar. Eu imediatamente ofereci-lhe meu lenço e fui ao seu auxílio. Percebi que ela tinha voltado a ficar bastante nervosa e depois de saber de sua doença, realmente me preocupei com seu estado.

Chequei seu pulso e constatei que estava bastante acelerado e perguntei-lhe sobre a medicação que costumava tomar. Ela me disse que ainda não o havia tomado naquele dia e aconselhei que aquele seria um bom momento para fazê-lo e ela obedeceu minha orientação. Enquanto eu realizava uma rápida consulta com a moça, Holmes permanecia em silêncio, apenas pensando. Pensando em que, eu não poderia dizer e acredito que ninguém além dele próprio poderia dizer o que se passava dentro daquela cabeça.  Só voltou a falar depois que ela já estava recomposta.

— Longe de mim querer ofendê-la, Sra. Edwards, mas a senhora já se consultou com um psiquiatra? – perguntou ele sem nenhuma cerimônia, praticamente chamando-a de maluca.

— Que pergunta é essa Holmes? – intervi chocado com a falta de delicadeza de meu colega.

— É uma pergunta justa, Watson. Garanto que você está pensando o mesmo que eu.

— Ora, seu... – não continuei com minha revolta, porque aquele bastardo me conhecia realmente bem. Confesso que a hipótese de ela estar apenas abalada psicologicamente depois da morte do marido tinha me passado pela cabeça. Era muito mais fácil crer nisso do que em forças sobrenaturais e presenças invisíveis.

Apesar da pergunta deselegante de Holmes, nossa visitante não se incomodou, pelo contrário. Achou graça de minha tentativa de defendê-la.

— Não se incomode doutor, o senhor Holmes tem razão. É uma pergunta válida e ele não foi a primeira pessoa a me fazê-la. A polícia de Bedford perguntou a mesma coisa quando fui procurá-los. Apesar de uma patrulha ter passado uma noite observando a casa, pude ouvi-los fazendo piadas o tempo todo. Depois de algum tempo comecei a cogitar a possibilidade de estar enlouquecendo, mas antes de procurar um psiquiatra, preferi procurar o senhor, Sr. Holmes.

Por várias ocasiões, acordei e encontrei objetos fora do lugar, coisas quebradas pelo chão. Os dois únicos empregados que me restaram também juram ter visto coisas estranhas. Eles também estão muito assustados e desejam deixar a casa, só não o fizeram ainda por minha causa. Não querem me deixar sozinha com a menina lá. Eu não posso deixar a casa, porque não tenho para onde ir. Meus pais já morreram há muito tempo, assim como a mãe de Steven. O pai dele mora atualmente nos Estados Unidos. Ele veio para o funeral, mas já voltou para a casa.

— Bastante incomum sua história, de fato... – sussurrou Holmes.

— Apesar de todas as coisas estranhas, eu não teria vindo procurá-lo, se não tivesse recebido isso ontem de manhã. – enquanto falava, ela vasculhava a pequena bolsa em busca de algo, até que tirou um envelope e entregou a Holmes. Curioso, me levantei e fui ver de que se tratava. Fiquei de pé ao lado de meu colega enquanto ele abria o tal envelope.

De lá ele tirou um pedaço de papel dobrado e em seguida virou o envelope de cabeça para baixo fazendo com que caíssem duas alianças em sua mão estendida. Após observar as alianças e verificar que uma delas pertencia a nossa convidada e a outra a seu falecido marido, ele desdobrou o papel e pudemos ler a única frase escrita em letras trêmulas contida nele: “nem a morte nos separará”.

— A senhora tem certeza de que essas são as suas alianças? Não seriam cópias?

— Tenho certeza.

— Elas foram roubadas da senhora em algumas dessas noites atribuladas?

— Não senhor Holmes, elas não foram roubadas, porque não estavam comigo. O que me deixou apavorada, foi o fato de as alianças terem sido enterradas junto de meu marido.


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