A Dama do Coração Partido escrita por Claen


Capítulo 25
Hora de Cumprir uma Promessa




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Após o relato detalhado de Steven Edwards do que havia se passado naqueles últimos três meses, uma coisa era mais do que certa: ele estava completamente arrependido.

A tristeza tomava conta daquele homem, mas havia verdade em seus olhos. Naquela última hora, ele tinha exposto os piores momentos de sua vida e eu não duvidei de uma palavra sequer. Estava claro que nenhum dos presentes naquela sala tinha duvidado, e o perdão que ele pedia, já lhe tinha sido concedido, contudo, ainda faltava o perdão mais difícil de todos: o da esposa. E aquela ainda era uma situação delicada.

— Dr. Edwards, - manifestou-se Holmes, finalmente – após ouvir sua versão da história, percebo que não estive muito longe da verdade absoluta. Precisamos contatar a Scotland Yard e nos inteirarmos do que Wright disse depois que saímos de lá. Se ele manteve sua história inicial, creio que teremos alguns detalhes interessantes a contar ao Inspetor Lestrade para aumentar um pouco a lista de acusações contra esse senhor e dar-lhe mais alguns anos de pena para cumprir.

“- Já no seu caso, Dr. Edwards, confesso que não sei se o senhor e seus colegas cometeram algum crime passível de punição. Nunca ouvi dizer que é crime forjar a sua própria morte, mas com certeza não é algo ético ou louvável. Esse é um caso para que o Inspetor Haylock avalie. Em meu ponto de vista, o senhor é culpado apenas de ter péssimas ideias, assim como também de ser um marido desnaturado e um pai relapso, mas acho que isso não é motivo para levá-lo à prisão. Concorda comigo, Inspetor?”

— Inteiramente, Sr. Holmes. Para falar a verdade, essa também é a primeira vez que me deparo com uma situação dessa e tenho dúvidas quanto à legislação, mas esclarecerei rapidamente. Primeiramente preciso me comunicar com a Scotland Yard, afinal, o fato se deu dentro da cidade de Londres, portanto a jurisdição é deles. Se dependesse de mim, o senhor não teria contas a acertar com a justiça, porque a meu ver, tudo o que passou durante esses meses, já foi punição suficiente, mas como ainda precisarei averiguar, o senhor está proibido de deixar Bedford até termos uma resposta definitiva.

— Eu entendo, Inspetor. Se eu tiver que pagar algum débito com a justiça, eu o farei.

— Nós também. – disse Cooper em seu nome e em nome da noiva.

— Pois bem, ficamos acertados assim. Dr. Cooper e Dra. Packard também estão proibidos de deixar a cidade temporariamente.

— Sim, senhor. – acataram os dois em uníssono.

— Bem, acredito que nossa missão está cumprida por aqui, Holmes.  – concluí - Penso que já não existem mais mistérios em Bedford para nós.

— Talvez não haja mais mistérios, mas eu ainda tenho uma missão a cumprir... – respondeu Holmes de forma vaga e mudando de assunto em seguida. - Infelizmente, não será possível para nós voltarmos para Londres por enquanto. Já é tarde e as estradas estão péssimas no momento, por isso gostaria de pedir ao dono da casa, para que permita a mim, ao Dr. Watson e ao Inspetor Haylock, que pernoitemos aqui.

— Mas é claro, Sr. Holmes! Isso é o mínimo que posso fazer. Não temos muitos quartos, mas creio que é possível acomodar a todos. Agora, se me derem licença, eu preciso ver minha filha. Estou morto de saudades!

Pela primeira vez vimos um sorriso no rosto do jovem médico, que antes de subir a escadaria rumo ao quarto onde a pequena Angela dormia, deu um forte abraço nos dois empregados que lhe restaram. Claire e Benningfield foram os únicos fiéis à Sra. Edwards até aquele instante e ele lhes era muito grato por tudo.

Em seguida, os dois empregados foram buscar lençóis, cobertores e travesseiros, e trataram de conseguir encontrar acomodações para todos nós. Foram necessários alguns minutos de análise dos cômodos da casa, mas tudo se ajeitou.

Haylock e eu ficamos com os dois sofás da sala. Holmes com a cama de armar, que eu havia usado na noite anterior, e dormiu no escritório. Cooper e Packard ficaram com o quarto de hóspedes que já não seria mais usado por Claire, que agora poderia voltar ao alojamento dos empregados.

Não foi a melhor noite que eu já havia passado, mas estava longe de ser a pior. O sofá era um pouco pequeno e tive de me encolher, mas pelo menos foi uma madrugada tranquila e sem nenhum sobressalto ou visita de algum “fantasma” indesejável. Assim que amanheceu, nos levantamos com o cantar dos pássaros.

Ainda estava bem frio, mas não nevava há várias horas. A neve já tinha diminuído bastante e as estradas estavam livres para seguirmos nosso caminho.

Quando me encontrei com Holmes na sala de jantar, percebi que ele estava preocupado e parecia não ter dormido bem durante a noite.

Ele se serviu apenas de uma xícara de chá e não permaneceu à mesa com os demais. Carregou sua xícara para a varanda e sentou-se no banco que havia lá. Curioso para saber o que se passava, também peguei uma xícara de chá e o segui.

— O que foi Holmes? Ainda está preocupado com a Sra. Edwards, não é?

Ele tomou um gole da xícara e sorriu.

— Eu acho que até consigo esconder minhas investigações e descobertas de você, mas falho miseravelmente quando tento esconder o que sinto. – constatou ele.

— Por mais que você insista em dizer que não sente muita coisa. – confirmei achando graça.

— Você tem razão, Watson.  – confessou. - Estou preocupado, mas não exatamente com a saúde dela, porque tenho certeza de que já está melhor. Minha preocupação vem do fato de saber que ainda não cumpri completamente com minha missão aqui em Bedford.

— Não? E o que falta ainda?

— Quando fomos ao hospital e entrei em seu quarto, eu fiz um acordo com ela.

— E como você poderia ter feito um acordo com uma pessoa inconsciente?

— As pessoas são criaturinhas engraçadas, meu caro Watson, e por mais que me seja difícil admitir, eu sou uma dessas criaturinhas.

— Com certeza você não é nenhum ser de outro planeta.

— Creio que você, em sua qualidade de médico, já tenha presenciado em inúmeras ocasiões, familiares e amigos conversando com pessoas inconscientes.

— Sim, muitas vezes. Nós até encorajamos que eles façam isso.

— Embora eu sempre tenha achado que isso fosse algo inútil, porque nunca foi provado que eles pudessem ouvir uma só palavra, naquele momento eu achei que deveria falar algo. Algum tipo de encorajamento para que ela se esforçasse em sair daquela situação. Eu sei que é ridículo....

— Não. Isso não é nada ridículo. Isso é compaixão, é empatia. – respondi, surpreso em saber daquilo. - Sinto muito, meu amigo, mas acabei de diagnosticá-lo e acho que não vai gostar do que tenho a dizer, então aguente firme: VOCÊ É HUMANO!

Quando eu disse aquilo, ele soltou uma gargalhada, como acho que nunca tinha visto. Foi algo tão contagiante que comecei a rir também. Aquele momento bobo, pareceu ter trazido leveza às nossas almas depois daqueles dias pesados.

— Mas afinal, o que você disse a ela? Qual foi o trato? – perguntei curioso.

— Resumindo, eu lhe prometi que desvendaria todo o caso e voltaria para contar-lhe tudo, contanto que ela se esforçasse para se recuperar e me dizer o nome do causador de sua enfermidade.

— E ela cumpriu mesmo a parte dela no acordo, não foi?

— De fato. Agora preciso cumprir a minha antes de ir embora, mas assim como o Dr. Edwards, também temo causar-lhe mais dano. Preciso de uma opinião profissional. O que devo fazer, Dr. Watson?

— Essa é mesmo uma situação complicada...  – precisei concordar - Acho que você vai ter que usar algumas habilidades que geralmente não exercita muito. Você vai precisar de calma e sutileza. Acho que conseguirá contar tudo aos poucos e talvez a surpresa não seja tão grande como imaginamos, afinal, o choque maior já foi. Talvez a ideia de Edwards em tentar lhe mandar pistas não tenha sido completamente inútil e ela já tenha começado a ligar os fatos em seu subconsciente, principalmente depois do choque de tê-lo visto. Acho que é mais fácil para ela acreditar que ele está vivo do que acreditar ter visto um espírito.  Além disso, ela estará dentro de um hospital cercada de cuidados e amparada pelo Dr. Young e por mim. Acho que você consegue dar conta do recado.

Ele ficou pensativo por alguns instantes, mas rapidamente tomou uma decisão.

— Você está certo, Watson! Eu sou um cavalheiro e cavalheiros sempre cumprem suas promessas. Vamos imediatamente para o hospital!

Ao dizer isso, levantou-se rapidamente e me deixou falando sozinho, para variar. Eu preferi ficar lá por mais alguns minutos do que correr atrás dele. Terminei meu chá enquanto contemplava a paisagem. A manhã estava razoavelmente bonita, se compararmos ao horror que tinha sido no dia anterior e pude ver que aquele era mesmo um belo lugar, se tirássemos os fantasmas da equação.

Quando entrei, encontrei um Holmes com a voz alterada, conversando com Edwards que tinha a feição preocupada.

— Deixe de ser covarde, pelo menos uma vez, homem! – exclamava Holmes. – Agora é a hora de terminarmos com esta história de uma vez por todas.

— Mas eu tenho medo que mais um choque como esse possa matá-la...

— Então o que vai fazer? Ontem você disse que não fugiria nem se esconderia mais. Mudou de ideia?

— Não é isso... eu só não acho que este seja o momento apropriado...

— Se não quiser vir, então não venha, mas eu e estou saindo agora mesmo para contar-lhe toda a verdade, com ou sem a sua presença ou seu aval. – disse Holmes, já sem paciência.

— Vá com o Sr. Holmes, Steven. – aconselhou a Dra. Packard. – Já chega de mentiras e sofrimento. Apesar de tudo o que aconteceu, Emma é uma mulher forte e conseguirá lidar com a verdade. Eu sei que o que você teme não é a reação dela e sim o fato de que ela talvez não o perdoe, mas não se preocupe com isso. Ela o ama e o perdoará. Acredite.

O jovem médico ficou em silêncio e não teve como rebater a alegação da amiga. Ela estava certa, ele tinha medo de perder o amor da esposa e se acovardava com isso.

— E então, o senhor vai conosco ou não? – insistiu Holmes, dando-lhe um ultimato.

Depois de alguns instantes, ele finalmente se decidiu.

— Vou!


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