A Dama do Coração Partido escrita por Claen


Capítulo 24
Edwards Conta Sua Versão - Parte 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/782117/chapter/24

— Essa foi a ideia que tivemos em nosso momento de aflição. Se tudo desse certo, Wright não teria a quem ameaçar, pois isso de nada adiantaria, nem se preocuparia que nosso trabalho gerasse frutos, porque ele estaria, supostamente, perdido para sempre.

“- Agora vejo a estupidez de nosso plano e quantas pessoas sofreram por isso, mas naquele momento estávamos tão desesperados, que não pensamos direito, só agimos por impulso.”

“- A decisão tinha sido tomada e tudo precisava ser rápido e acontecer ali no hospital mesmo. Nós não tivemos tempo para planejar todos os detalhes, mas decidimos que a morte deveria ser causada por um acidente. Emily jamais concordou conosco e dizia que era preciso pensar melhor antes de fazer algo desse tipo, porque teria muitas consequências e desdobramentos no futuro, mas eu não a escutei e me deixei cegar pela possibilidade de perder tudo o que tinha conseguido para aquele miserável.”

“- Claramente, ela era a única pessoa sensata daquele grupo, mas acabamos praticamente obrigando-a a participar do plano, assim como, Joshua Thomas, que também era um grande amigo desde a época da faculdade. Ele sabia da importância de nosso trabalho e entendia o perigo que Wright representava, por isso aceitou fazer parte da farsa, contanto que garantíssemos que seu envolvimento jamais viesse à tona. Juramos que isso nunca aconteceria, mas não contávamos com o senhor, Sr. Holmes. Acho que acabamos de quebrar nosso juramento.”

“- O plano era que quando ninguém estivesse olhando, eu fingiria ter caído da escada, enquanto Henry e Emily se encarregariam de fazer o alvoroço necessário para chamar a atenção de todos. Nós estávamos tão nervosos que quase perdemos o controle e acabamos cometendo erros infantis.”

— E foi justamente um destes erros infantis que me levou a desconfiar de que havia algo estranho em toda a história. – comentou Holmes – Creio então, que foi um de seus amigos quem declarou que o senhor havia caído enquanto corria em direção à sala de emergências, sem se dar conta, de que para um bom observador, isso não faria sentido.

— Fui eu quem acabou dizendo isso. – confessou Emily Packard – Eu estava tão apavorada que quando as pessoas começaram a fazer perguntas, essa foi a única coisa que me ocorreu.  Só me dei conta de que não tinha lógica quando, mais tarde, vi a declaração estampada em todos os jornais. Torci para que ninguém prestasse atenção a esse detalhe, mas infelizmente o senhor prestou.

— Para a sorte de vocês, quando li a matéria no jornal, mesmo achando estranho, não dei muita atenção ao fato. Só investiguei a fundo, depois de receber a visita da Sra. Edwards, que aconteceu apenas meses depois do fato.

— Como eu gostaria que o senhor tivesse descoberto naquele instante e nos impedido de continuarmos com o plano! – exclamou Edwards tristemente – Mas infelizmente, isso não aconteceu e nós seguimos em frente.

“- A primeira parte do plano tinha dado certo e aos olhos de todos, eu estava morto. Dessa forma, eu ficaria livre para ir embora com minha família para outro país, quem sabe, e continuar meu trabalho longe de tudo, mesmo que de uma maneira clandestina. Henry e Emily me acompanhariam depois. Porém, foi aí que nos demos conta da insensatez que tínhamos acabado de cometer: Emma não sabia de nada e não tínhamos como contar a verdade para ela.”

“- Como dizem, as notícias ruins voam com o vento e antes que pudéssemos tentar avisá-la, ela já estava sabendo do “acidente” e obviamente tinha acreditado, afinal, não havia motivos para não acreditar. Ela ficou tão desesperada que precisou ser sedada naquele dia.”

“- Não há palavras capazes de descrever o que eu senti quando vi que tinha agido como um monstro, porque embora minha preocupação fosse proteger Emma, confesso que fui egoísta e me preocupei mais com meu trabalho do que com minha família, ou então jamais teria feito tal coisa. Estávamos todos perdidos e sem saber o que fazer, a não ser continuar com a farsa.”

“- Joshua declarou a causa mortis como fratura cervical das vértebras C1 à C3 e em pouco tempo tudo estava pronto para o velório. Eu jamais conseguiria me fingir de morto dentro de um caixão na presença de meus parentes e amigos, então precisei ser drogado. Henry ministrou uma dosagem altíssima de antiarrítmico para dar realismo a minha suposta morte. Naquela condição, meus batimentos estavam extremamente lentos e a respiração quase imperceptível. Ele e Emily se encarregaram de fazer com que tudo durasse o menor tempo possível, para que assim que o caixão saísse das vistas de todos, eles me pudessem me tirar de lá e enchê-lo com pedras. Isso é o que se encontra enterrado em minha sepultura nesse momento: um caixão cheio de pedras e arrependimento.”

“- Depois de meu “enterro”, eu permaneci escondido em Londres por cerca de um mês, deprimido pensando na idiotice que havia feito, mas já era tarde e eu não podia mais voltar atrás. Eu queria contar a Emma toda a verdade, mas tive medo do que isso poderia causar a sua saúde. Também não podia recuperar as pesquisas, que estavam em casa, ou seja, praticamente nada tinha saído como o planejado, exceto a parte em que Wright tinha acreditado que eu estava morto.”

“- Meu único consolo era saber que aquele salafrário já não tinha interesse em prejudicar Emma e Angela, uma vez que minha suposta morte resolvia todos os seus problemas. Não adiantaria ele interrogar Henry, porque apesar de saber que as pesquisas estavam em minha casa, eu nunca lhe contei onde exatamente as tinha escondido, para que ele fosse sincero ao negar saber da verdade quando lhe perguntassem.”

 “- Henry sempre foi mais que um amigo, ele é um verdadeiro irmão, e me escondeu na casa que tinha herdado dos pais em Oxford. Fiquei lá por mais um mês, remoendo minhas angústias, sem ter ânimo para voltar ao trabalho. Praticamente desisti de tudo, porque aquilo que um dia tinha sido meu orgulho, meu sonho de salvar vidas, agora tinha se tornado meu maior pesadelo.”

“- A chama da descoberta havia se apagado em nós e não havia mais motivação para continuarmos nosso trabalho, no entanto, era difícil conceber a ideia de que tudo aquilo que tínhamos feito seria em vão, então Henry teve uma ideia. Ele conhecia alguém que poderia seguir com nossas pesquisas. Seu nome era Jean-Baptiste Chevalier, um médico francês e seu amigo.”

“- O Dr. Chevalier vinha fazendo um trabalho parecido com o nosso lá na França e estava muito animado em nos ajudar a concluir nosso projeto. Henry e Emily viajaram até lá para conversarem com ele e foi por isso que desapareceram por algum tempo, gerando sua desconfiança. Chevalier aceitou colaborar conosco, mas para isso, ele precisava de minhas anotações, que agora estavam guardadas em minha antiga casa, bem longe do meu alcance.”

“- Eu realmente gostei da ideia de que as pesquisas fossem concluídas algum dia, mesmo que por outra pessoa, mas para isso eu precisava recuperar minhas anotações e não sabia como fazê-lo. A única forma de tê-las de volta seria retornando a Bedford, mas eu não tinha coragem para voltar lá, até que um motivo muito forte me deu o incentivo que faltava.”

“- Pouco tempo depois, fiquei sabendo, por meus amigos, que algo estranho vinha se passando em minha antiga casa e isso começava a afetar a saúde de Emma. Soube que ela andava muito assustada e isso era muito perigoso. Quando descobri que seu medo vinha por acreditar que a casa estava sendo assombrada, fiquei ainda mais preocupado, porque a conheço muito bem e sei que ela jamais acreditou nesse tipo de coisa e se ela estava cogitando tal possibilidade, era porque algo realmente estava acontecendo. Então reuni os cacos que ainda restavam de minha hombridade e decidi que precisava voltar para casa. Algo me dizia que isso era coisa do Wright.”

“- Deixei Oxford e passei os dias seguintes entre Londres e Bedford vivendo quase como um andarilho. Meus cabelos já estavam um pouco mais compridos e também tinha deixado a barba crescer para que pudesse andar incógnito pela cidade e observar tudo o que acontecia. Passei a vigiar Emma por onde ia, porque queria saber se mais alguém a seguia, afinal, Wright já havia feito isso antes e nada lhe impediria de fazer novamente. Ele provavelmente não tinha deixado o assunto para trás e imaginava que minhas pesquisas poderiam estar na casa. Ele não era bobo.  Fiquei de vigília perto da casa por várias noites até que, há cerca de uma semana, finalmente vi dois indivíduos invadirem. Não os abordei, mas os segui e confirmei que trabalhavam para Wright.”

“- A cada dia eu ficava mais angustiado e precisava contar a verdade para Emma, mas não sabia como fazê-lo, até que pensei em lhe mandar pistas para que ela descobrisse pouco a pouco e o choque não fosse tão grande.”

— E a primeira pista foram as alianças, não foram? – perguntei.

— Sim. Foi uma ideia idiota, mas achei que ela poderia começar a imaginar que algo não estava certo e cogitar a hipótese de que eu pudesse estar vivo.

— Concordo, foi uma ideia extremamente idiota. – intrometeu-se Holmes – Não consigo entender como um homem supostamente tão inteligente é capaz de ter ideias tão ruins sucessivamente! As únicas coisas que conseguiu com isso, foram deixá-la ainda mais assustada e trazê-la até mim.

— Infelizmente preciso concordar com o senhor. Eu já estava a ponto de jogar tudo para o alto e confrontar Wright, quando descobri que Emma estava indo procurá-lo, Sr. Holmes.

“- Eu a acompanhei de longe até a sua casa e depois de volta para Bedford. Diferentemente das outras noites em que mantive vigília, naquela havia dois policiais rondando a casa, mas eu precisava recuperar as pesquisas e meu desejo de estar perto dela era tão grande que não podia mais me esconder. Era a hora de revelar a verdade. Esperei que os guardas fossem para a frente da casa e entrei rapidamente pela porta de trás, assim como os arrombadores.”

“- Fui silenciosamente até o quarto e a observei dormir. Estava tão linda. Não tive coragem de acordá-la e desisti de contar a verdade, mas segui com o plano de recuperar as pesquisas. Eu as havia escondido no quarto e não no escritório como eles acreditavam. Eu morei naquela casa a minha vida toda e conheço cada centímetro dela. Eu havia feito um esconderijo de baixo do assoalho do quarto quando era criança. Costumava esconder meus tesouros lá e aquele era o lugar perfeito para esconder as pesquisas.”

“- Comecei a remover a tábua solta com muito cuidado e estava tão compenetrado na missão, que não reparei que Angela tinha acordado. A pobrezinha não me via há tanto tempo e eu estava tão diferente que ela não me reconheceu e começou a chorar. Tive que deixar a recuperação dos cadernos de lado também e fui até seu berço e peguei-a no colo. Olhei bem em seus olhos e ela para os meus. Com certeza me reconheceu e ao invés de chorar, começou a sorrir. Fiquei tão emocionado naquele instante, que não me dei conta de que Emma também tinha acordado com o choro de Angie e agora me via.”

“- Primeiro ela achou que estivesse sonhando, mas depois se deu conta de que aquilo era real e o choque foi tão grande que seu coração não aguentou. Eu entrei em desespero naquele momento e sabia que precisava fazer alguma coisa. Imediatamente comecei a fazer massagem cardíaca para trazê-la de volta. Não sei quanto tempo permaneci compenetrado naquilo, só sei que meus braços já não tinham mais forças, quando finalmente seu coração voltou a bater.”

“- Agora quem chorava, exausto e sentado no chão frio, era eu. Eu precisava levá-la para o hospital e ia fazer isso, mas então escutei passos no corredor e no mesmo instante me escondi embaixo da cama. Para minha sorte era Claire e ela viu Emma desacordada e agiu imediatamente. Se não fosse por ela, Robert e os policiais, não sei se minha esposa estaria viva hoje.”

“- Eu observei tudo, impotente, por debaixo da cama e assim que eles a levaram para o hospital, eu fui atrás. Demorei para chegar porque estava a pé, mas consegui entrar lá sem que ninguém me visse e fiquei mais tranquilo ao confirmar que estava sendo bem atendida. Eu queria ficar mais, mas a enfermeira me viu e eu precisei correr.”

“- Eu tinha combinado com Henry e Emily que iria pegar as pesquisas naquela noite e entregaria para eles na manhã seguinte, para que levassem para o Dr. Chevalier. Por isso que eles estavam na cidade naquele dia, não era porque tivessem algo a ver com toda a fatalidade.”

“- Por causa de tudo o que aconteceu, eu não consegui pegar meus cadernos. Não voltei na noite passada, porque sabia que os senhores estavam pernoitando na casa. Resolvi voltar hoje para completar a tarefa, mas os senhores arruinaram completamente meus planos. Jamais imaginei que voltariam tão rápido, muito menos que estivessem de olho em todos nós.”

“- Bem, essa é a minha versão da história. Sei que meu desespero e orgulho me levaram tomar decisões equivocadas que quase acabaram tirando a vida da pessoa que mais amo nesse mundo. Agora que já sabem que estou vivo, não há mais motivos para me esconder. Só espero que Emma me perdoe algum dia, assim como todos vocês.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Dama do Coração Partido" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.