A Dama do Coração Partido escrita por Claen


Capítulo 23
Edwards Conta Sua Versão - Parte 1




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Quando Holmes terminou sua exposição dos fatos, percebi que o que ele tinha me contado anteriormente era apenas uma versão resumida da história. Como sempre, tudo parecia tão simples e óbvio, que eu chegava a me irritar comigo mesmo por não ser capaz de ver os detalhes tão claramente como Holmes os via. Contudo eu não era o único a me surpreender com suas habilidades, já que metade dos presentes naquela sala estava atônita, enquanto a outra metade tinha a culpa estampada em suas faces.

— Equivoquei-me em algum ponto, Dr. Edwards? – perguntou Holmes, querendo ouvir a resposta do médico, mesmo já sabendo qual seria ela.

— O senhor tem razão em praticamente tudo, apenas alguns detalhes lhe escaparam. Sua fama é realmente merecida, não há como negar. – respondeu ele surpreendentemente aliviado, como se um peso enorme saísse de cima de seus ombros.

— Então eu gostaria que o senhor nos fizesse a gentileza de esclarecer esses detalhes. – pediu Holmes. - Creio que ainda não compreendo os motivos exatos da formulação de um plano tão singular como esse, apenas para se livrar de Wright. Vocês poderiam ter se utilizado de soluções mais simples, como ir à polícia, por exemplo. Sei que existe um motivo mais forte por trás disso.

— E o senhor tem razão nisso também.  Existe um outro motivo. – confirmou o médico, cabisbaixo. - Naquela hora, essa pareceu ser a única solução possível, mas agora, eu vejo que absolutamente nada justifica o que fizemos.

— Pois então, conte-nos. Estamos curiosos! – quase implorei.

— Bem, senhores, vamos aos fatos.  – disse Edwards, finalmente dando início a sua narrativa - É verdade que Henry e eu começamos a ter problemas com o diretor do hospital e seus patrocinadores no exato momento em eles que descobriram que nossas pesquisas poderiam ajudar uma quantidade incalculável de pessoas, ao mesmo tempo em que diminuiria consideravelmente o lucro deles. A cada dia que passava, a pressão para que parássemos com tudo aumentava.

“- Wright viu que suas ameaças de nos demitir e de se apoderar de nosso trabalho à força, com a ajuda de seus advogados, não surtiam efeito e começou a ficar preocupado, porque tinha um contrato a cumprir com as farmacêuticas. Quando finalmente entendeu que não cederíamos, ele resolveu mudar o tom da ameaça, que se transformou em algo bem mais sério.”

“- Certa tarde, ele me chamou em seu escritório para dizer que tinha encontrado uma forma de me obrigar a desistir de tudo e sequer precisaria gastar um penny com advogados. Eu achei graça e não levei a sério, mas na mesma hora, ele pegou o telefone, discou um número e depois me passou a ligação. Não sei com quem falei, mas do outro lado da linha, uma voz masculina que me deu calafrios, afirmava ter observado minha esposa o dia inteiro, desde o momento em que tínhamos nos despedido no portão de casa naquela manhã.”

“- Ele começou descrevendo-me exatamente como ela estava vestida. Depois contou que ela tinha ido dar suas aulas na escola e mais tarde, voltado para casa e brincado por um bom tempo com nossa filha no jardim. Eu queria acreditar que aquilo não era verdade, mas após todo aquele relato detalhado da rotina de Emma, não havia como duvidar. Quando terminou, ele garantiu que se eu não obedecesse a Wright, eu não voltaria a ver minha esposa e filha nunca mais.”

“- Eu simplesmente congelei naquele instante e não tive reação alguma, pois tinha certeza de que aquela ameaça era muito séria. Ao ver minha expressão desesperada, o patife riu, porque sabia que tinha vencido e em seguida me deu um ultimato. Ele queria o trabalho interrompido e as pesquisas em suas mãos até o fim da noite, ou então eu deveria começar a me despedir das duas.”

— Que desgraçado! Ele foi capaz disso?! – indignei-me.

— Sim, Dr. Watson. Quando saí de lá, eu estava pálido e minhas mãos tremiam. Eu não conseguia raciocinar direito e quase que inconscientemente, segui para a sala de Henry, onde também estava Emily, e lhes contei o que tinha acontecido. Estávamos preocupados com a segurança de Angela e Emma e não havia como avisá-la do que estava acontecendo, porque o miserável com certeza continuava a observá-la. Se ele descobrisse que ela sabia de algo, seria pior.

“- Estávamos todos nervosos e desesperados, mas não era justo que no final, aquele desgraçado conseguisse o que queria, então tivemos uma ideia extrema que salvaria minha família e também nosso trabalho.”

“- Henry e eu já tínhamos decidido pedir demissão antes de sermos expulsos e, por sorte, eu tinha levado todo o trabalho para minha casa um dia antes e escondido num lugar bastante seguro, mas depois daquelas ameaças, isso não pareceu ser suficiente para nos proteger de Wright. Era necessário tomar uma atitude imediata.”

“- Não podíamos simplesmente sair e denunciá-lo à polícia sem nenhuma prova. Garanto que não acreditariam em uma só palavra que disséssemos e provavelmente, ainda acabaríamos processados por calúnia e difamação, uma vez que Wright tem muitos amigos influentes, inclusive juízes de fama questionável. Então era preciso bolar um plano que o deixasse de mãos atadas. Um plano que fizesse com que as pesquisas fossem interrompidas temporariamente como ele queria, mas que jamais lhe desse a chance de pôr as mãos nelas e nem de ameaçar minha família: ele precisava acreditar que eu estava morto e que tinha levado todos os segredos de nosso trabalho para o túmulo comigo.”


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