A Dama do Coração Partido escrita por Claen


Capítulo 14
O Comprador




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A previsão de Holmes se provou correta e em menos de 30 minutos, dois policiais chegaram a delegacia trazendo o Sr. O’Neill. Ele não estava efetivamente preso, porque também não tínhamos provas contra ele. Ele apenas tinha sido “gentilmente” intimado a comparecer a delegacia para prestar alguns esclarecimentos.

— Obrigado por ter vindo, Sr. O’Neill. – disse o Inspetor Chefe Haylock.

— Como se eu tivesse tido outra opção... – resmungou ele, enquanto era conduzido até a sala de interrogatório.

— Eu sou o Inspetor Chefe George Haylock e estes são o Sr. Sherlock Holmes e o Dr. Watson.

Os nomes não produziram nenhuma reação no ruivo rechonchudo com cara de poucos amigos.

— Ficamos sabendo que o senhor esteve em nossa cidade algumas vezes, buscando adquirir alguns imóveis. Isso é verdade? – começou Haylock.

— Sim, eu compro e vendo imóveis. Qual é o problema com isso? Por acaso é ilegal?

— Não, não é, Sr. O’Neill. Porém, gostaria de saber por que estava tão interessado em adquirir o imóvel da família Edwards. Dizem por aí que o lugar é assombrado. Isso não incomoda o senhor?

O homem corpulento soltou uma gargalhada ao ouvir a pergunta do Inspetor.

— Não me faça rir, Inspetor. Não me diga que o senhor acredita nessas bobagens?

— Bem, eu não acredito, mas muitas pessoas acreditam. E o mais curioso é que a suposta assombração, só se manifestou depois da sua primeira visita...

— O senhor está insinuando algo? – disse O’Neill, começando a levar o interrogatório um pouco mais a sério.

— É interessante ver como almas penadas conseguem desvalorizar um imóvel, não é? Elas dariam ótimos colegas de trabalho para corretores imobiliários. Vocês formariam uma bela equipe, e o melhor de tudo é que nem é preciso lhes pagar um salário, afinal, já estão mortos mesmo! – brincou Haylock. O sarcasmo do jovem inspetor pareceu agradar a Holmes, pois tenho certeza de que vi um sorriso discreto no canto de seus lábios enquanto assistia a tudo em silêncio.

O’Neill percebeu que o Inspetor não era bobo como ele imaginava e não respondeu ao comentário.

— Olhe, Sr. O’Neill, se deseja ficar em silêncio para mim não tem problema, mas sabemos que está metido nisso. O senhor pode nos dizer a verdade, principalmente quem era o seu comparsa, ou pode ficar aqui e levar a culpa sozinho, enquanto ele segue a vida tranquilamente. A escolha é sua.

O irlandês viu que não valia a pena ficar calado e então decidiu colaborar.

—Olhe, Inspetor, - começou - eu ganho a vida comprando e vendendo imóveis.  Faço isso por conta própria e às vezes sou contratado para intermediar o negócio. No caso desse imóvel em particular, eu estava apenas intermediando o processo. Meu cliente disse especificamente para comprar a tal casa e foi bastante insistente nisso.

— Mas a dona não queria vender, não é?

— Não queria mesmo. Minha oferta inicial até que foi razoável, mas ela parecia ainda não ter amadurecido a ideia de vender a casa. Falei com meu cliente que me disse para voltar e insistir, mas achei curioso quando ele me disse para oferecer menos do que da primeira vez. Isso com certeza é exatamente o oposto do que costumo fazer.

— E que explicação ele deu para baixar o valor?

— Ele apenas disse que em breve a casa desvalorizaria, mas não me disse o motivo e nem como sabia disso. Fiquei intrigado e voltei à cidade, onde fiquei sabendo da história da tal assombração. Achei engraçado e resolvi me aproveitar da situação e oferecer ainda menos do que tinha sido autorizado, desse modo, eu ia levar uma graninha a mais se o negócio fosse fechado, mas como já sabem, ela não aceitou. Voltei a insistir há alguns dias e ela recusou novamente. Cheguei à conclusão de que eu não iria conseguir nada daquela mulher e desisti. Fiquei mais alguns dias e fechei outros negócios, até que hoje de manhã, voltei para Londres para dizer ao meu cliente que estava desistindo, porque a dona era dura na queda.

— E o senhor sabia por que ele queria tanto a casa?

— Não faço ideia. Ele nunca me disse e eu também nunca perguntei.

— E esse seu cliente era Jonathan Wright, não é mesmo?

Ele ficou em silêncio por alguns instantes, mas não adiantava negar, afinal tinha sido encontrado praticamente na porta da casa do homem.

— Sim, senhor.

— Bem, - disse Haylock, dirigindo-se a Holmes - não há dúvidas de que eles armaram tudo juntos.

— Não “armamos” nada juntos. – interrompeu O’Neill – eu fui contratado para prestar um serviço, nada mais. Não sei o que o senhor está querendo insinuar.

— Ele não está querendo insinuar nada, ele está dizendo com todas as letras, que você e Wright contrataram bandidos para assustar a Sra. Edwards e comprar seu imóvel bem abaixo do preço de mercado. – acusou-o Holmes, sem rodeios, já assumindo o interrogatório.

—Não senhor, não sei do que está falando. E-eu apenas fui contratado para comprar a casa...

— Não negue. Wright já está detido em Londres – disse Holmes, jogando verde para ver se conseguia uma confissão mais apropriada – e fomos informados de que ele confessou tudo enquanto você voltava para cá.  Ele disse que foi ideia sua chamar os arrombadores para revirar a casa e assustar a moradora, mas agora que percebeu que passaram da conta e quase a mataram, você decidiu ir embora.

— Como? O que aconteceu com a senhora? – perguntou o irlandês, aparentemente surpreso com a notícia.

— Não se faça de desentendido, O’Neill!  – Holmes continuou insistindo firmemente, já elevando o tom de voz, para ver se arrancava alguma outra informação.

— Não sei de nada, senhor. Eu realmente não tenho nada há ver com isso! – alterou-se o homem, já com as bochechas vermelhas.

— Não adianta negar, sabemos que o senhor está envolvido até o pescoço nessa história e se Emma Edwards morrer, além de ser acusado por formação de quadrilha e invasão, sua situação vai se agravar ainda mais, porque também será acusado de cúmplice de assassinato!

— Mas eu não fiz nada! Eu juro! Foi tudo ideia do Wright! – disse o homem já suando frio e perdendo completamente o controle.

— Ah... foi ideia do Wright então? – suspirou Holmes satisfeito ao finalmente ouvir o que queria.

O’Neill ficou em silêncio quando percebeu que já havia falado demais.

— Eu gostaria de chamar meu advogado, antes de prosseguirmos... – disse o irlandês já se sentindo derrotado.

— Fique à vontade para chamá-lo, o senhor tem esse direito, mas a partir de agora considere-se  detido.

Assim que deu voz de prisão a O’Neill, o Inspetor Chefe Haylock saiu da sala de interrogatório e nós o acompanhamos, deixando, o agora prisioneiro, em companhia de dois guardas.

— Parabéns, Inspetor Haylock! – congratulei-o pelo seu desempenho na sala de interrogatório – Agiu muito bem lá dentro.

— Obrigado, Dr. Watson. Espero ter ajudado.

— Você ajudou, meu rapaz, não tenha dúvidas. Agora já temos a confirmação de que ele e Wright estão juntos nessa história, porém, ele me pareceu realmente surpreso ao saber que a Sra. Edwards está mal de saúde. – pontuou Holmes.

— Bem, Inspetor Chefe Haylock, agora, deixo o caso em suas mãos, pois nosso tempo é curto e precisamos ir à casa da família Edwards para averiguar algumas outras suspeitas. Voltaremos para Londres amanhã bem cedo, mas não deixe de entrar em contato conosco, caso ele decida falar mais alguma coisa na presença do advogado.

— Mas é claro. Farei isso, Sr. Holmes.

— Vamos, Watson. Até mais, Inspetor. – despediu-se com um aperto de mão cordial.

— Até mais, Sr. Holmes. Foi um prazer dividir um interrogatório com o senhor. Até mais, Dr. Watson.

— Até mais, meu rapaz.

Assim que deixamos a delegacia, Bennigfield, que já nos aguardava pacientemente por pelo menos duas horas, conduziu a carruagem de volta para casa. Finalmente tinha chegado a hora de visitarmos a famosa residência da Família Edwards.


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