A Dama do Coração Partido escrita por Claen


Capítulo 15
Angela




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/782117/chapter/15

Durante o trajeto até a casa, me dei conta de que o Dr. Edwards devia estar mesmo muito empenhado em suas pesquisas, porque de lá até o Hospital St. Bartholomew, era uma distância razoavelmente longa, de mais de uma hora e meia de viagem. Ele poderia trabalhar no hospital de Bedford se quisesse, mas preferia fazer isso em outra cidade.

 A casa da Família Edwards ficava um pouco afastada do centro da cidade e precisamos de cerca de 40 minutos para chegarmos lá. Foi um passeio agradável, apesar do frio e do silêncio de Holmes, que apenas balbuciou poucas palavras durante todo o caminho, reagindo monossilabicamente aos meus comentários a respeito da bela paisagem. Conforme nos afastávamos do centro, a neve diminuía, revelando montanhas e florestas distantes, assim como belos campos floridos. Volta e meia, podia-se ver algum gado pastando tranquilamente.

Foi nesse cenário bucólico, que finalmente encontramos a tão famosa “casa assombrada”. A primeira vista, era uma bela casa, bastante ampla e com um terreno enorme ao seu redor. Também pude observar a existência de uma pequena horta com alguns legumes e verduras, assim como algumas árvores frutíferas.

— Bem, senhores, chegamos. – disse Bennigfield, assim que parou a carruagem. – Sejam bem-vindos.

Descemos e ele nos acompanhou até a porta, onde fomos recebidos por uma senhora simpática de uns 50 anos, que usava um avental e um lenço na cabeça, cobrindo os cabelos escuros já meio grisalhos.

— Olá, Claire! Esses são o Sr. Sherlock Holmes e o Dr. Watson. – apresentou-nos à senhora.

— Ah! A Sra. Emma falou muito dos senhores. É um prazer conhece-los. Eu sou Claire, a cozinheira.

— Quer dizer que foi a senhora que encontrou a Sra. Edwards? – perguntou Holmes, enquanto a cumprimentava.

— Sim, fui eu mesma. Não imagina o susto que levei ao ver a pobrezinha caída lá... – disse a senhora com grande pesar.

— Bom, acho que não devemos falar disso aqui fora, está meio frio. – intrometi-me, praticamente me convidando para entrar na casa o quanto antes para me aquecer. – Por que não entramos e conversamos sobre isso lá dentro?

— O senhor tem razão, doutor. – concordou a cozinheira. – Vamos entrando, porque eu acabei de fazer o almoço e só estava esperando vocês chegarem para pôr a mesa.

— Oh, que maravilha! Vamos lá então, muito obrigado! – exclamei ao saber da novidade. De lá de dentro vinha um cheiro delicioso, que parecia de ensopado, e nesse instante me dei conta de que estava morrendo de fome, pois não havíamos comido nada desde que tínhamos deixado a Baker Street, só tomado um café na estação de trem.

Assim que entramos, pudemos ver que a casa, que apesar de não ser das mais refinadas, era muito bonita, bem mobiliada e decorada, com certeza valia um bom dinheiro e a Sra. Edwards tinha razão em não aceitar as propostas de O’Neill.

Passávamos pela sala de estar a caminho da sala de jantar, quando fui surpreendido e quase torci o tornozelo, ao pisar em uma bonequinha de pano que estava caída no chão, ao lado do sofá.

— O senhor se machucou, Dr. Watson? – perguntou a empregada, preocupada. - Angie deve ter deixado cair e nem percebemos. Mil perdões!

— Não foi nada, eu estou bem. – respondi agachando para pegar a boneca sorridente com cabelos vermelhos de lã.

— Ah! A pequena Angela! Gostaria de vê-la antes de almoçarmos. É meio improvável, mas talvez ela possa ter visto algo que não entenda e queira nos contar. – disse Holmes.

— Contar? – perguntou Claire sem entender. – Acho que ela não vai poder contar muita coisa, Sr. Holmes.

— E por que não? Ela tem algum problema de fala? – perguntou meu colega curioso.

— Não é isso. – disse a cozinheira achando graça – É porque...

Antes que Claire pudesse responder, a própria Angela tratou de explicar, quando desatou num choro estridente lá do andar de cima. Nesse instante, nos demos conta do mal entendido que tínhamos criado em nossas cabeças: a filha de nossa cliente era apenas um bebê. Era estranho, mas curiosamente, Holmes e eu supusemos que a menina já fosse mais crescida, embora Emma Edwards jamais tivesse dito algo que nos levasse a pensar tal coisa. Acho que assim como eu, Holmes não tinha pensado muito na criança até aquele momento ou então já teria chegado à conclusão de que ela não poderia ter mais do que cinco anos.

Saber que Angela era um bebê partiu-me ainda mais o coração. A pobre criança já havia perdido o pai e no momento estava afastada da mãe, que convalescia no hospital. Agora eu entendia melhor o desespero de nossa cliente, e principalmente sua preocupação com a filha. Entendia também porque a Dra. Packard queria ver a menina antes de voltar para Londres.

Seguimos Claire pelas escadas até finalmente chegarmos ao quarto da dona da casa, onde o berço estava. Assim que nos aproximamos, pude ver que era uma linda garotinha de cerca de um ano, de cabelos negros ainda curtinhos e enormes olhos azuis e brilhantes, como os da mãe. Claire foi logo pegá-la no colo.

— Não chore, meu amor. – disse carinhosamente a simpática cozinheira, que aparentemente agora tinha se tornado a babá também, enquanto colocava a cabeça da menina junto ao peito, o que pareceu acalma-la um pouco. - Eu sei que está com saudades da mamãe, mas logo, logo ela vai estar de volta, você vai ver.

Entreguei a boneca, que ainda estava comigo, para a menina que a abraçou enquanto fechava os olhos. Pouco tempo depois, já estava dormindo no colo de Claire.

Assim que confirmou que a menina tinha realmente dormido, ela a colocou de volta no berço e saímos na ponta dos pés para não acordá-la e descemos novamente rumo à sala de jantar, onde poderíamos conversar mais a vontade e ter uma bela refeição quente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Dama do Coração Partido" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.