Choose Me. Love Me. escrita por Clementine


Capítulo 3
Um dia depois


Notas iniciais do capítulo

Olá 0/

Um capitulo fresquinho saindo, desejo que gostem.

Boa leitura :)



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Não dá para esquecer se nunca deixou de sentir

 

Uma brisa gelada tocava o rosto de Grissom sempre que alguém entrava no bar fazendo o vento que soprava lá fora assobiar por entre as frestas da porta. O ambiente era muito aconchegante, ele admitiu para si mesmo. O local era iluminado por lustres com lâmpadas amareladas, conferindo uma penumbra que combinava muito bem com as paredes de tijolos cru de aparência propositalmente velha. Uma música conhecida tocava ao fundo, todos pareciam gostar.

Assim que chegou ali Grissom percebeu que aquele bar era o parquinho do laboratório. Por ficar a apenas três quarteirões do Departamento de Criminalística da Polícia de São Francisco, aquele parecia ser o local perfeito para um pouco de diversão depois do trabalho de seus colegas de profissão. A quantidade de policiais que lá estavam confirmou a impressão que teve assim que se sentou, podendo observar com tranquilidade o que acontecia a sua volta. Bem próximo de onde estava sentado havia uma mesa com alguns policiais que pareciam bem animados, como se tivessem comemorando algo. Muito diferente da dupla próxima ao balcão do bar, formada por dois rapazes vestidos impecavelmente, que pareciam estar numa discussão calorosa. Supôs que fossem advogados recém-formados, pois tinham uma aparência bem jovem, quase ingênua para a profissão. Ainda explorando o ambiente viu um ou dois rostos que não lhe pareceram estranhos, talvez os tivessem visto no dia em que foi ao laboratório, mas não tinha certeza, e tão pouco estava interessado, pois a chuva lá fora logo chamou sua atenção.

Através das grandes janelas de vidro Grissom assistiu o céu ficar cada vez mais escuro. Na rua as pessoas corriam abrindo seus guarda-chuvas, pisando raivosamente nas pequenas poças d’água nas calçadas. Logo a água escorrendo pelo vidro da janela fez toda a paisagem lá fora ficar embaçada, sendo impossível enxergar com nitidez, pois tudo parecia uma pintura borrada. Subitamente era como se não estivesse mais lá, se deixou levar pelo barulho agradável da chuva e o cheiro agridoce que sempre fica no ar, o fazendo recordar certo dia que ele jamais vai esquecer.

Aquele era um entardecer muito límpido, olhando lá de cima tudo parecia reluzir quando de repente uma chuva de verão caiu e, num gesto tão repentino quanto aquelas gostas que caiam do céu, ele sentiu seus dedos entrelaçados, então olhou para o lado e a viu sorrir. Sorriu de volta não por obrigação, mas sim porque Sara estava emoldurada pelo laranja do pôr do sol, porque compartilhavam um toque tão íntimo enquanto a garoa que caia deixava no ar o cheiro gostoso de terra molhada que as chuvas trazem. A mistura de todas essas coisas o fez ser invadido por um sentimento bom. Sempre se lembraria dela quando sentisse esse cheiro novamente.

Se Grissom não estivesse afundado em suas lembranças teria visto Jim abrir a porta do bar num gesto cavalheiro para a moça bonita que entrou na sua frente, e o ouviria reclamar por não ter onde pendurar o casaco molhado.

— Nunca é tão glamouroso como nos filmes. – disse afrouxando o nó da gravata. – É molhado e deixa a roupa grudando no corpo. Já pediu alguma coisa? Uísque? – Jim fez o gesto da casa para o garçom que logo trouxe duas bebidas.

— Quem se atrasa paga a conta. – brincou.

— Ah, deixa disso, os quinze minutos são só para criar um suspense. Você deveria saber. – devolveu divertido. - Por falar nisso, como vai a senhora Grissom?

— Obrigado. – falou ao garçom quando este lhe serviu. – A senhora Grissom está ótima. - Brass viu o uísque descer pela garganta de Grissom quando ele tomou uma dose generosa num único gole, bem característico de quando as coisas não vão nada bem, ao contrário do que havia acabado de escutar.

— Por que veio até aqui? – Brass não é de fazer rodeios, apesar de ter ignorado qualquer comentário sobre a falta de aliança na mão do amigo.

— Porque você me convidou.

— Ora Gilbert, agora só falta me dizer que só veio pra ver o meu rostinho bonito.

— Se quiser eu não digo. Mas também vim pela bebida.

— Certo, se vai levar a conversa por esse caminho, vou ser direto em minhas perguntas. Por que veio a São Francisco? Sei que tem pleno direito de exercer seu livre arbítrio sem precisar responder as perguntas desse velho enjoado aqui, mas estou fazendo isso por toda a consideração que tenho por você, e gostaria enormemente que retribuísse.

Brass não sabia de nenhum compromisso que pudesse ter levado Grissom a São Francisco. Nenhum seminário, palestra ou corrida de baratas, nada. Ficou feliz ao saber que reveria o amigo depois de tanto tempo, mas desde que o viu ficou curioso para saber o motivo que o levou até a cidade. Grissom parecia diferente, um pouco mais estranho que o normal.

— Passei por alguns problemas que acredito que não sejam novidades para você, se bem te conheço... Tirei o mês de férias e agora estou aqui.

No fundo Grissom sabia o que tinha ido fazer em São Francisco, mas não queria admitir nem para ele mesmo, muito menos dar explicações para quem quer que fosse. Quando estava em Las Vegas sentia que precisava fazer isso, que era coisa a certa, mas agora já não tinha certeza se essa foi uma boa decisão.

— Eu precisava vir. – concluiu girando o copo em cima da mesa, lhe fazendo parecer angustiado.

— Deve haver um motivo maior, você sabe que sim. Mas por enquanto aceitarei essa resposta, até porque preciso tratar de outros assuntos com você.

— Tudo bem com a Ellie?

— Quando foi que tudo vai bem com a Ellie? Essa pergunta já virou retórica. – tomou a bebida como se precisasse de encorajamento para continuar. - Da última vez que tive notícias ela havia sido presa por roubar um cliente, se é que você me entende.

— Espero que tenha deixado ela resolver tudo sozinha dessa vez, do contrário ela nunca vai aprender.

— Você está certo, meu amigo, assim como estou quando digo que você seria melhor pai do que eu.

— Não diga bobagens, Ellie que é uma filha ingrata.

— Que seja, então. - deu de ombros - Vamos deixar esse assunto de lado, eu te chamei aqui por que quero lhe fazer uma proposta. É um pedido, na verdade. Na próxima semana Nick vai para um teste em Quântico, ele quer trabalhar no DEA, o garoto é cheio de perspectivas. - declarou um tanto orgulhoso. - E um perito do noturno está afastado por suspensão disciplinar, são tempos difíceis.

— Então me parece que sua política não está funcionando como você gostaria. - alfinetou.

— O que quer dizer?

— O que eu quero dizer? Não pense que não entendi a situação entre Sara e Nick. Há alguns anos você não toleraria esse tipo de comportamento displicente. – pausou para pedir mais uma dose, Brass também quis.- Não me surpreende que tenha subordinados em suspensão disciplinar.

— Eu tocaria nesse assunto mais tarde, mas já que você chegou nele primeiro, - ajeitou a postura antes continuar, para parecer mais sério - Nick e Sara são os melhores peritos do laboratório. O que eles fazem nas horas vagas é problema deles, desde que não afete o desempenho profissional.

— E por que diabos você falaria esse assunto comigo?

— Porque tomei para mim a responsabilidade de zelar por ela. Considero Sara como uma filha, você sabe. Por isso estou tendo essa conversa com você.

Esse era um dos motivos pelo qual Grissom nutria grande apreço pelo amigo. Saber que Sara estava em tão boas mãos era algo que o confortava, ela não poderia ter proteção melhor.

— Você poderia ser mais claro, Jim. Honestamente, não entendo aonde quer chegar com essa conversa.

— Eu não sei quando e nem onde, mas sei que aconteceu algo entre vocês dois. Se tem uma coisa que meus cabelos brancos sabem, é quando um homem está envolvido por uma mulher, e vice-versa.

— Se tivemos alguma coisa, como você insinua, foi no passado, acabou. Sara está com Nick agora.

— Tem razão, mais uma vez. Eu só fiquei inquieto pelo frio cumprimento de vocês ontem, sequer deixaram claro que já se conheciam. Eu não me preocuparia se tivessem trocado elogios mas, aquilo foi bem estranho.

— Sei o que quer dizer, não pense que para mim foi indiferente. Mas ela parece estar bem, não é? É o que importa pra mim, eu só quero que ela seja feliz.

— Nick faz o melhor que pode.

— Foi o que eu pensei.

Grissom queria se dar por satisfeito com a constatação, mas apenas sentiu muito. Foi sincero quando declarou que deseja que Sara seja feliz, mas esqueceu de dizer que queria que fosse ao seu lado.

— No começo eu pensava que a vida que Nick a ofereceu fosse tudo o que ela precisava... Mas quem somos nós, meros mortais, para entender as complexidades de uma mulher? - falou levantando o copo num brinde solitário.

— Sara não é complicada, Jim. Ela é jovem, linda, inteligente, triste – pausou. - e sensível. É a pessoa menos complicada que conheço, e eu conheço gente à beça.

Se Jim ainda tinha alguma dúvida, se desfez de todas elas nesse instante. Mal podia acreditar que aquelas palavras saíram da boca de Grissom, o homem de aço, como dizem por aí. Grissom finalmente estava se abrindo, e parecia bem sincero em suas palavras. Brass foi pego de surpresa pela vulnerabilidade do amigo, e por isso não soube o que dizer de imediato. Então foi Grissom quem falou novamente.

— Ainda não me disse qual é sua proposta. - disse encerrando o assunto desconfortável. Já havia falado demais. Brass também achou por bem mudar o rumo da conversa.

— Eu seria eternamente grato se você auxiliasse o meu laboratório pelo menos enquanto Nick estiver fora. Já que está perdido na cidade eu não vejo problemas em aceitar meu convite.

— Vou pensar sobre isso com grande consideração.

— Eu resolvo toda a papelada entre os departamentos, e além do mais você não tem que pedir permissão para Heather, – elevou a mão esquerda fazendo referência a aliança que Grissom não mais usava. Por algum motivo achou que soaria engraçado, mas tudo o que conseguiu foi um olhar de desaprovação. - então não vejo motivos para recusar.

~~**~~

Deitada em sua cama enrolada num emaranhado de cobertas, Sara se perdia no silêncio do quarto que era interrompido apenas pelo som da chuva batendo contra a janela. Como uma imagem, uma voz e um par de olhos azuis podem acabar tão rapidamente com suas certezas como se elas nunca tivessem existido, era o que ela tentava entender. Durante muito tempo – salvo os momentos em que realmente pensava no assunto – esteve convencida de que nunca se sentiu tão bem em toda a sua vida como se sentia ao lado de Nick. Mas bastou ver Grissom novamente, ainda que tenha sido numa rápida ocasião com troca de muito menos que meia dúzia de palavras, para ela perder a fé no que vinha tentando fazer seu coração tomar como verdade.

Mais uma vez ela passou a mão sobre a capa do livro grosso de entomologia que lhe fazia companhia e ao mesmo tempo a fazia se sentir solitária numa nostalgia que parecia durar para sempre. Mas que droga de sentimento! Ela estava com Nick agora, ele a amava, ela o amava e assim que tinha que ser.

Na semiescuridão do quarto ela não teve nenhuma dificuldade em pegar o celular e ligar para Nick. Se lembrou de já terem passado horas ao telefone conversando sobre coisas que nem se recorda mais. Por que simplesmente pararam de fazer isso?

— Oi, Nick.

— Oi, gatinha.

— Desculpe se te acordei, acho que perdi o sono.

— Não, eu estou vendo o jogo com o Greg. Algum problema?

— Não, nenhum... eu só estou confusa. – por alguns segundos tudo ficou em silêncio, como se a ligação tivesse caído, mas logo depois Sara ouviu a gritaria ao fundo, com certeza o San Francisco 49ers estava na frente. Esperou as coisas se acalmarem para continuar. - Você acha que existe um gene para a autodestruição?

— Está mesmo fazendo isso? – Sara teve vontade de desligar quando ele gargalhou.

— Fazendo o quê?

—Você está em negação.

— Na verdade foi só uma pergunta. - desabafou. - Esqueço que você é muito impressionável.

— Você é adorável, sabia? Quer que eu vá até aí ficar com você?

— Com o SanFran vencendo você só está perguntando por educação, não é? – escuta outra gargalhada.

— Você me pegou.

— Tudo bem, vai ser bom eu ficar sozinha. Se divirta.

Se estava tentando se sentir melhor quando ligou, Sara fracassou na missão.


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Notas finais do capítulo

Prometo que o próximo capítulo será mais suave.

Até lá.



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