A Escuridão Além escrita por Karina A de Souza


Capítulo 2
Amigos


Notas iniciais do capítulo

Decidi postar hoje por que deu vontade. É isto. Mas como geralmente não estou em casa sábado, os capítulos vão ser aos domingos caso eu não estiver.
Hoje temos mais alguns personagens de Nigthflyers aparecendo.
Curiosidade: incialmente, o 12th Doctor ia ser o Doutor dessa história, mas mudei de ideia, pois queria escrever mais sobre a Doutora.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/779784/chapter/2

Ivy tinha procurado a Doutora por quase toda a nave, tirando as partes que ela não conhecia, e alguns corredores terrivelmente escuros. A Nightflyer era uma bela nave enorme, mas era inegável que seu interior às vezes parecia ter saído de algum filme de terror científico.

—Está perdida?-Uma garota perguntou, se desencostando da parede.

—Acho que sim. Fui procurar uma amiga e agora... Não tenho certeza de onde estou.

—Ala Norte, a maioria dos depósitos fica por aqui. Sua amiga é aquela loira, a de roupas curiosas, não é?

—Ela mesma. -A outra assentiu.

—Está na sala de controle, com o Capitão Eris. Eu a levo até lá. -Começaram a caminhar. -Sou Melantha.

—Ivy.

—Ouvi dizer que Thale te atacou. As coisas correm rápido na Nightflyer.

—Com certeza.

—Uma parte da tripulação tem medo do Thale. Outra o odeia. E uma pequena porcentagem o usa pra se divertir.

—De que jeito?

—Ele pode entrar na sua cabeça, não é? Então pode, por exemplo, colocar na sua mente que você está numa praia afrodisíaca por aí. É claro que o grupo que anda atrás dele prefere fantasias perigosas e até mortais.

—Em qual grupo você se encaixa?

—Acho que nos que prefere não se aproximar muito, só por cautela. Devia considerar fazer o mesmo. Nem sempre é culpa dele, mas Thale gosta de assustar e afastar as pessoas. Acho que todos os L-1 são assim.

Ivy não tinha nenhuma resposta pra isso, parecia um comentário um tanto preconceituoso, mas ela não sabia nada sobre como eram os L-1. Preferiu ficar em silêncio.

Ao entrarem na sala de controle, Ivy passou os olhos pelas pessoas trabalhando, até encontrar a Doutora, concentrada em um computador com o Capitão Eris. Segundos depois, antes que a Senhora do Tempo tocasse o painel, faíscas saíram do painel do lado, assustando todos, inclusive a própria Doutora.

—Você está bem?-Ivy perguntou, se aproximando.

—Estou. Essa foi por pouco. Estou acostumada com naves dando problema. Você sabe como é a TARDIS.

—Sei. Estava te procurando. Não te achei no seu quarto.

—O Capitão Eris precisava de uma mãozinha aqui, decidi ajudar. Talvez leve um tempo. Por que não vai até o refeitório tomar café? Nos encontramos mais tarde.

—Tudo bem. Toma cuidado, tá?-A Doutora sorriu.

—Eu sempre tomo cuidado. -Observou Ivy se afastar. -Ou talvez não. Capitão, -Se virou. -onde estávamos?
***

—Adorei seu cabelo. -Uma mulher disse, parando ao lado de Ivy, com sua bandeja em mãos. Tinha os cabelos longos, enrolados e loiros, assim como um sorriso simpático.

—Obrigada.

—Sou Tessia.

—Ivy.

—É nova aqui, não é? Bem, eu trabalho na estufa. Tem abelhas lá, caso quiser conhecer. É um bom lugar.

—Valeu.

—Tessia. -Um homem chamou, sentando em outra mesa.

—Foi bom falar com você. Seja bem vinda à Nightflyer. -Tessia disse, acenando para Ivy com a cabeça, e sentando com Rowan. -O que foi aquilo?

—Você não ouviu que ela e a amiga invadiram a Nightflyer? Não sabemos o que querem aqui. É melhor ficar longe.

—Não seja tão dramático. Ela parece uma boa pessoa.

—Você acha isso de tudo mundo.

—É um bom jeito de ver as coisas, querido.

Enquanto isso, na mesa de Ivy, Agatha estava perguntando se podia se sentar com ela. A garota assentiu, e a dra. logo o fez.

—Como foi a primeira noite na nave?-Agatha perguntou.

—Boa. Quarto legal. Mas ouvi uns sons estranhos.

—É normal.

—Normal como os problemas na nave? Acabei de ver faíscas voando de um painel.

—É o primeiro voo oficial da Nightflyer. É comum que apareçam problemas. Mas vão ser resolvidos, como todos os outros. -Deu um gole no suco. -De onde você é?

—Brasil.

—Mesmo? Ivy parece um nome americano. -A garota deu de ombros, sem querer explicar que esse na verdade não era seu nome.

—Então... Qual é a dessa nave? Vocês estão fazendo o que, exatamente?

—Estamos procurando vida extraterrestre. Nosso planeta, como sabe, está em péssimas condições. Precisamos de recursos e de algo que o mantenha vivo. Karl acredita que encontrando vida fora da Terra, podemos pedir ajuda à eles.

—Parece um tiro no escuro. -Agatha sorriu, dando de ombros.

—Às vezes é o que basta.

—Onde Thale entra nisso? As pessoas não parecem querê-lo aqui. Por que trazê-lo?

—Não sabemos como os alienígenas vão se comunicar. Nos filmes, todos falam a nossa língua. Mas e na vida real? Thale é telepata, pode se comunicar com eles.

—Como um tradutor.

—Exatamente. Algumas pessoas podem não gostar da presença dele aqui, mas Thale é necessário. E acho que conviver com outras pessoas fará bem à ele. Os L-1 costumam ser isolados. Às vezes até por eles mesmos.

—Entendi. -Ivy terminou seu café e olhou em volta, pensando no que fazer. Agatha, percebendo isso, viu uma oportunidade.

—Você já foi até a nossa floresta? Fica numa das esferas. É incrível. Parece mesmo que está ao ar livre. Devia ir até lá.

—Ah. Legal. -Levantou, pegando a bandeja vazia. -Vou passar lá.
***

Agatha estava certa. A floresta da Nightflyer parecia qualquer outra no planeta Terra. Era apenas um pouco mais silenciosa que as de verdade.

Árvores de todos os tipos, até mesmo umas longas e grossas, podiam ser vistas, todas desaparecendo no chão de Terra escura. Havia algumas trilhas e um banco ou outro. Era um lugar incrível.

—Está me seguindo?-Ivy virou, dando de cara com Thale.

—Eu podia te acusar da mesma coisa. -Cruzou os braços. -Agatha me falou daqui e eu... Ah. -Assentiu. -Ela é esperta.

—É, sim.

—Esse lugar é bem legal.

—É. E as pessoas quase não vem aqui.

—Por isso você vem aqui?-Thale deu de ombros.

—É um bom palpite.

Passos pesados foram ouvidos, e logo um dos guardas, armado, apareceu. Passou o olhar de Ivy para Thale, parecendo tê-lo notado pela primeira vez, e recuou um pouco. O garoto continuou encarando-o, até o guarda se afastar e sumir depressa.

—Então você gosta mesmo de assustar as pessoas. -Ivy comentou, se perguntando o que Thale tinha mostrado telepaticamente ao guarda. Ele demorou um pouco até olhar pra ela.

—Às vezes. É bom pra afastar pessoas indesejadas.

—Vai me colocar pra correr também?

—Seria bem fácil.

—Sei. -Sorriu um pouco. -Bem, a floresta parece grande, acho que podemos dividir sem invadir a mente do outro ou socar a cara de alguém.

—Isso não nos faz amigos.

—Não, não faz. -Começou a se afastar, aproveitando para esconder o sorriso que se formava. -Não faz nem um pouco.
***

Thale raramente aparecia no refeitório, independente da refeição. Mas, naquele dia, decidiu ir jantar com os outros, o que significava que sentaria num canto com sua bandeja, encarando qualquer um que considerasse sentar na mesma mesa. Aquele olhar sempre funcionava... Pelo menos com a tripulação normal da Nightflyer.

Ivy, surgindo de repente, sentou do outro lado da mesa. Thale tinha a notado desde que ela entrou no refeitório, mas não tinha pensado que ela ia sentar com ele.

—O que foi?-Ela perguntou, encarando-o. -Só vim jantar.

—Tem outra mesa ali.

—Não gosto daquela mesa. -Sorriu. -Isso não nos faz amigos.

—Não mesmo. Não quero uma amiga esquisita.

—E eu não quero amigo que explode cérebros. Parece que estamos de acordo e isso não nos faz amigos.

—Que bom que fizeram amizade, finalmente. -Agatha comentou, parando ao lado da mesa. Thale e Ivy trocaram um olhar e tentaram não rir. Agatha, sempre observadora, notou. Era difícil esconder algo dela. -O que foi? O que eu perdi?

—Nada. -Thale respondeu. -Tá tudo bem.

—Que bom. Vou deixá-los conversar. -Se afastou, sentando com Karl, Rowan e Tessia.

—Ela parece legal. -Ivy comentou.

—Ela é. -O garoto concordou.

—Hey, Thale. -Um homem sentou ao lado dele. Ivy fingiu se concentrar na comida. -Reuni os outros, estamos te esperando. Nós vamos hoje, não vamos?

—Não. Hoje não.

—Por quê? Tá todo mundo ansioso por isso. Não pode furar com a gente assim.

—Eu disse que hoje não.

—Escuta, não pode só tirar isso da gente...

Segurou o braço de Thale, sobre a mesa. Ivy ergueu o olhar, e prendeu a respiração. O homem se afastou do garoto como se ele tivesse o queimado, então levantou e saiu rapidamente.

—Não pergunta. -Thale disse, se voltando para sua bandeja.

—Tudo bem. -Murmurou.

Ivy não sabia o que Thale mostrado àquele homem, mas com certeza não era bom.
***

A Doutora tinha terminado de ajudar o Capitão Eris. Não tinha sido um dia muito produtivo, pois quando algo era consertado, outra coisa desandava. Ela perdeu a conta de quantas vezes teve que usar a chave de fenda sônica ou levou choques ou teve que desviar de faíscas. A TARDIS costumava ter seus problemas, mas nunca, em nenhum momento, parecia estar fazendo aquilo de propósito.

Não que isso pudesse ser possível. A Nightflyer era apenas uma nave, uma que tinha uma atmosfera meio sombria às vezes e tinha seus defeitos. Não havia nada além disso.

Continuou seu caminho até o quarto de Ivy. Tinha prometido encontrar a garota horas e horas atrás, mas ocupada como estava, acabou não indo.
De repente, alguém apareceu no meio do corredor. Alguém que ela conhecia, mas não via há muito tempo.

River Song.

—O que está fazendo aqui?-Perguntou, se aproximando.

—Você me esqueceu, não foi?

—O que? Não. Do que está falando?

—Não vou desculpá-la por isso. -Então desapareceu, como se fosse feita de fumaça.

A Doutora recuou, tentando entender o que tinha acabado de acontecer. Olhou em volta, para o corredor mal iluminado, e voltou a andar, agora mais rápido.
***

—É bem simples na verdade. -Thale disse, assim que Ivy tinha acabado de se sentar.

—Tá, deixa ver se eu entendi... Essa máquina vai me mostrar lembranças minhas, repassando-as como se estivessem acontecendo agora mesmo. Um filme em 3D de mim mesma.

—Meio que é, mas a gente não usa 3D há anos. Tá ultrapassado.

—Okay.

—Quer começar?-Ela assentiu. -Te vejo quando acabar. -Fechou a porta, deixando-a sozinha naquela pequena sala redonda.

Flashes de luz saíram das coisas circulares em volta de Ivy, e alguns foram diretamente para os seus olhos, lendo suas lembranças.

A primeira coisa que ela viu foi a irmã.

Jessie parecia a mesma. Com sua roupa habitual do fim de semana, que era nada mais que um pijama confortável. Os cabelos longos bem penteados e lisos como sempre. Ivy nunca entendeu como a irmã nunca tinha o cabelo bagunçado.

—Jess!-Exclamou, se aproximando dela. A outra sorriu e a abraçou com força. O contato parecia extremamente real.

—Como está, maninha? Olhe só pra você! Pronta pro fim de semana?

—Pronta. O que temos dessa vez?

—Vou te deixar escolher. O que você quer fazer primeiro? Podemos jogar um jogo. Assistir um filme ou uma série. Podemos comer todos os nossos doces favoritos. Uma sessão de fotos? Que tal jogar no Xbox? Podemos fazer penteados uma na outra!

—São... Muitas opções.

—Eu sei. Mas você precisa escolher logo, antes que ele venha.

—Ele quem?

—O que homem que virá me matar.

—O que?-Ivy recuou. -Não... Tem algo errado.... Thale? Thale, está me ouvindo? Eu quero sair!

—Nós não temos muito tempo. Será nosso último momento juntas e então... -Fez uma arma com as mãos, apontando pra própria cabeça. -Eu vou morrer.

—Isso não é uma lembrança. Não aconteceu assim!

—É claro que foi. Você não lembra? Eu vou morrer.

De repente, a sala da casa estava escura, e Jessie estava chorando. Um homem estava atrás dela, seu braço em volta do pescoço da garota, uma arma em sua cabeça.

Ivy tentou se mexer, fechar os olhos ou qualquer outra coisa, mas tudo o que pode fazer foi ver a irmã morrer... De novo.
***

Quando Thale entrou na sala circular, Ivy estava caída no chão, encolhida, enquanto chorava. Ele se abaixou perto dela, mas parou antes de tocá-la.

—Ivy? Ivy, você tem que levantar. -Sem resposta.

Focou na parte de trás da cabeça dela, enquanto entrava em sua mente, tentando lhe mostrar coisas e sentimentos reconfortantes. Aos poucos, o choro da garota suavizou e ela se sentou, secando o rosto com a mão.

—O que aconteceu?-Thale perguntou.

—Tinha algo errado... Não era minha lembrança, não aconteceu daquele jeito. Não foi assim.

—Talvez... Não sei, a máquina esteja com defeito. Como o resto dessa nave.

—Eu quero sair daqui.

—Eu sei. Vem. -Se levantou, esperando-a fazer o mesmo para guiá-la para fora.

Ivy parou na porta, observando a luz que vinha da máquina, parecendo sinistra agora, e se apressou em seguir Thale pra longe dali.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

"O homem se afastou do garoto como se ele tivesse o queimado" até parece um tipo de humor duvisoso, por que Thale ateou fogo nesse cara, de verdade, lá no começo da série Nigthflyers kkkkk Eu percebi isso só agora.
Karl, o cientista, costumava ver a filha morta andando pela nave. Quando pensei em quem a Doutora veria, River parecia a escolha perfeita.
Quanto à "máquina das memórias", também podemos ver algo assim acontecendo com Karl.
Mas o que estaria acontecendo? Fantasmas? Ilusões? Talvez um telepata? ~música de mistério~
Até o próximo capítulo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Escuridão Além" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.