Pokémon - Luz do Amanhecer escrita por Benihime


Capítulo 8
O despertar




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Ash e Gary deixaram o centro pokemon juntos. Era manhã cedo, e o restante do grupo ainda não havia acordado.

— Boa viagem, babaca. — O irmão de Calista disse.

— Se cuida, Ash-boy. — Gary respondeu, vendo Ash fazer uma careta com aquele apelido. — E fique de olho naquela teimosa da sua irmã. Não deixe ela se meter em nenhuma encrenca.

— Como se isso fosse possível. — Ash respondeu, rindo. — Mas pode deixar, vou fazer o melhor que eu puder.

Gary estendeu a mão direita. Ash aceitou o cumprimento. O aperto de mãos foi breve, porém firme. Podiam negar o quanto quisessem, mas aqueles dois sempre haviam sido bons amigos, mesmo implicando um com o outro.

O neto do professor Carvalho ergueu os olhos para as janelas do segundo andar do centro pokemon, pensando na noite anterior. Sem despedidas ali. Sabia que, se tentasse, acabaria ficando com ela. Simplesmente não conseguiria resistir.

— Gary Carvalho, eu não acredito nisso!

A voz feminina quebrou o silêncio da manhã, borbulhando de fúria. Surpresos, os dois rapazes viram Calista deixando o centro pokemon. Kyle, seu Lucario, a amparava com um braço ao redor de sua cintura e ela mancava pesadamente, mas mesmo assim mantinha a cabeça erguida, seus olhos luzindo de raiva.

— Caly! — Ash protestou, indo ao encontro de sua irmã. — Não devia tentar se levantar, sua teimosa! Você sabe que precisa descansar!

— Caramba, Ash, pare com isso! Eu estou bem! — A morena protestou. — Quanto a você, Gary Carvalho ... Ia embora sem se despedir? Fugindo como um covarde?

A testa de Gary se franziu em contrariedade enquanto seus olhos castanhos escureciam levemente, demonstrando sua irritação.

— Não sou covarde. — O rapaz declarou, um pouco mais alto do que o necessário.

— Pois parece. — A morena rebateu no mesmo tom exaltado, cruzando os braços. — Um covarde e um idiota, fugindo assim depois de ontem à noite!

— O que aconteceu ... ?

A pergunta de Ash foi interrompida por um cortante "cale a boca" de sua irmã mais velha, que ainda encarava Gary. Por um momento, ela pareceu prestes a lhe dar um soco. A expressão do rapaz não estava muito diferente. Os dois se encararam por alguns segundos, como lutadores em um ringue.

— Quer saber? — Ele rosnou. — Que se dane!

Encurtando a distância entre eles, Gary parou a centímetros de Calista. A jovem se desvencilhou do apoio de Kyle no momento exato em que Gary a segurou pelos antebraços, puxando-a para si.

Ela colidiu contra o peito do rapaz com tanta força que os dois quase perderam o equilíbrio. O neto do professor Carvalho a soltou por um breve momento, apenas para passar um braço ao redor de sua cintura e prendê-la com firmeza.

Calista sabia o que viria a seguir. Sabia também que bastaria uma palavra sua para que Gary a soltasse. Mas não queria dizê-la. Pela primeira vez em um bom tempo, estava satisfeita em deixar outra pessoa tomar o controle.

O beijo foi brusco, quase feroz. Não que a jovem se importasse. Ela meramente passou os braços pelo pescoço de Gary, correspondendo com entusiasmo. Quando se separaram ambos estavam sem fôlego, e Ash estava abobado de surpresa.

— Agora ... — Gary disse, sua voz agora com um toque de diversão. — Vou levar você de volta lá para dentro, e você vai ficar na cama como os médicos mandaram. Chega de bancar a durona, entendido?

— Entendido, general. — Calista cedeu com uma risada.

— Você vai se atrasar, Gary. — Ash interferiu. — Pode deixar que eu cuido dela.

— Certo. Até mais ver, Ash ... Caly.

O rapaz colocou Calista no chão e Ash imediatamente a apoiou, passando um braço por sua cintura. Ele podia ser seis anos mais novo, mas era tão alto quanto Calista e ainda mais atlético devido a tantos anos viajando. Conseguia suportar o peso de sua irmã mais velha com facilidade, o que não deixou de surpreendê-la. Estava acostumada demais a vê-lo como um menininho, e talvez esse fato nunca fosse mudar.

— Antes que eu me esqueça ... — A jovem kantoniana disse, estendendo para Gary um papel dobrado. — Meu número. Dê notícias, Gary Carvalho.

— Pode deixar. — Gary sorriu ao colocar o papel com o número de Calista no bolso. — Promete que vai se cuidar? Nada de encrencas?

— Eu tenho vinte e três anos, pirralho. — Ela rebateu, brincalhona. — Posso perfeitamente ficar longe de encrencas.

— O problema é se as encrencas vão ficar longe de você.

— Engraçadinho. Agora vá, e boa sorte com sua pesquisa.

— Até mais ver, Caly-Nite.

— Até mais, Gary-Ados.

Calista ficou olhando até Gary desaparecer de vista, depois disso Ash a ajudou a voltar para dentro, carregando a irmã escada acima até seu quarto e colocando-a na cama. Então sentou-se ao lado dela, encarando a parede do lado oposto do quarto. Parecia não saber o que dizer.

— Ash ... — Calista chamou. — Minha perna ... Foi bem ruim, não foi?

Ela podia sentir a gravidade do ferimento, mas os médicos haviam sido vagos quanto a sua exata situação. Apenas um bando insuportavelmente otimista, sempre pregando uma melhora rápida e total.

— É, foi.

— Quão ruim é o ferimento?

— O bastante. Alguns tendões foram bem danificados. — Foi a resposta, ainda sem ousar olhar para ela, o que sempre fora um mau sinal. Honesto como era, Ash só evitava olhar alguém nos olhos quando queria esconder alguma coisa. — Os médicos acham que vai ser repouso total por no mínimo dois meses.

— Dois meses? Acho que posso aguentar.

— E depois ... Você vai ter que evitar forçar essa perna. — Ash finalmente ergueu os olhos para encontrar os de sua irmã, sua expressão envolta em sombras de preocupação e tristeza. — Nada de dançar, ou correr, ou fazer qualquer esforço maior do que uma caminhada. Por no mínimo um ano.

A morena perdeu o fôlego. Os médicos haviam sido bem categóricos quanto a não forçar a perna direita, mas nunca lhe disseram nada daquilo.

— O que?! — Calista finalmente conseguiu falar, sua voz um guincho de pura indignação. — Um ano?! Ah, aqueles malditos Gengars! Vou voltar lá e matar cada um deles!

— Eles são fantasmas, mana. — Ash revirou os olhos, embora parecesse decididamente abalado com a reação forte de sua irmã. — Já estão mortos, sabia? Bom, tecnicamente.

— Pois eu vou encontrar um jeito de mata-los de novo. — Calista rosnou, com lágrimas de raiva começando a se acumular em seus olhos. — Pode acreditar, eu encontro um jeito. Um ano! Que merda! Isso não pode ...

— Já chega. — Ash interrompeu com firmeza, segurando a morena pelos ombros. — Ficar com raiva não vai resolver nada. Você precisa descansar, Caly. Poupe energia. Só assim vai melhorar mais rápido.

Foi aí que Calista finalmente cedeu, explodindo em lágrimas, soluçando tanto que logo sentiu falta de ar. Ash a abraçou até que enfim os soluços se acalmaram e as lágrimas pararam de cair. Só então os braços do rapaz afrouxaram ao redor de sua irmã mais velha, que se deixou cair contra os travesseiros, pálida e com o rosto ainda molhado de lágrimas.

— Descanse, mana. — O rapaz moreno disse. — Eu ... Trago seu café da manhã daqui a pouco, ok?

— Não estou com fome.

Ash sentiu uma pontada no peito, a súbita urgência de insistir e implorar como um garotinho. Era mais do que simples preocupação, ele se sentia totalmente impotente. Detestava ver Calista fazer aquilo consigo mesma, mas não tinha como impedir. Era a pior parte de tudo aquilo.

— Caly ... — O rapaz quase implorou, afastando uma mecha negra grudada na bochecha de sua irmã. — Não faça isso. Por favor.

— Ash, eu estou bem. É sério. — A morena afirmou, abrindo um pequeno sorriso, embora Ash pudesse ver que o gesto era forçado. — Só estou cansada, ok? É melhor eu tentar dormir mais um pouco.

O garoto não se deixou enganar, mas cedeu. Sabia que não adiantava discutir com Calista, então resolveu deixá-la sozinha. A jovem ficou deitada, encarando o teto. Foi arrancada de seus pensamentos por uma mão pequena em sua face. Ao se virar, ali estava o misterioso pokemon de olhos azuis.

— Oi. — A morena esboçou um sorriso fraco ao ser encarada por aqueles olhos cheios de preocupação. — Não se preocupe. Eu estou bem agora. De verdade.

O pokemon balançou a cabeça sem se deixar enganar e sentou no travesseiro, ao lado do rosto da jovem. Sua mão corria pela bochecha dela em uma carícia. Calista permitiu aquilo, se permitiu fechar os olhos e ter um momento de fraqueza.

— Quer saber? — Ela disse depois de alguns minutos. — Hora de descobrir que tipo de pokemon você é, pequenina.

Calista pegou sua pokedex sobre o criado mudo ao lado da cama e apontou o objeto para a pokemon, que a fitava com expectativa.

Meloetta. — O dispositivo declarou com sua voz robótica. — O pokemon melodia. Suas canções são cantadas com um método de vocalização especial que pode controlar os sentimentos daqueles que as ouvem.

A jovem kantoniana quase deixou a pokedex cair, olhando boquiaberta para a pequena pokemon de olhos azuis, que simplesmente deu uma risadinha, achando graça de seu espanto.

— Melo ... Etta? — Sua voz saiu em um sussurro atônito. — Uau! Eu não acredito!

Foi nesse exato momento que Calista ouviu passos apressados no corredor. Meloetta escondeu-se entre as mechas de seu cabelo no instante em que batidas frenéticas soaram na porta.

Era Ash. O jovem ofegava, e havia uma expressão de alegria quase selvagem em seus olhos.

— Caly ... — Ele disse. — Você não vai acreditar!

— Calma aí, Ash! — A morena exclamou, surpresa. — Desse jeito você vai ter um ataque cardíaco. Respire primeiro, fale depois. Venha aqui.

O moreno aceitou a mão estendida de sua irmã, mais uma vez sentando-se ao lado dela na cama. Ele respirou fundo três vezes antes de falar.

— Caly ... A mamãe ... Acordou.

Não houve como argumentar com Calista depois dessa notícia. Ash bem que tentou, mas sua irmã mais velha era tão ou mais teimosa do que ele. Em menos de uma hora Calista estava na porta do quarto de Dehlia, apoiada firmemente por Kyle e parecendo tão nervosa que poderia desmaiar a qualquer momento.

— Tem certeza? — Ash inquiriu.

— Tenho. — Foi a resposta. — Você entra primeiro.

— Como quiser, mana.

Ash entrou no quarto e Calista não conseguiu evitar um sorriso ao ouvir Dehlia chamar o nome de seu irmão em um grito de alegria.

Alguns minutos se passaram até o jovem abrir a porta, fazendo sinal para que Calista entrasse. Dehlia estava sentada na cama, recostada em alguns travesseiros, e seu rosto se iluminou ao ver sua filha mais velha. Kyle ajudou sua treinadora a se aproximar.

— Mãe ... — Calista disse, se esforçando para manter a voz firme. — Mãe, me desculpe. Eu sinto muito ... Por tudo.

A resposta de Dehlia foi tomar uma das mãos de Calista entre as suas. As duas mulheres ficaram em silêncio por um longo momento.

— Eu também sinto muito. — A mulher de cabelos castanhos disse enfim. — Você não faz ideia do quanto eu ...

A matriarca dos Ketchum se interrompeu, soltando um soluço abafado. Calista moveu a mão para segurar as de sua mãe, apertando com firmeza. Ambas tinham lágrimas nos olhos àquela altura, mas se recusavam a chorar.

— Acredito em você, mãe. — A morena garantiu. — Eu acredito agora.

Dehlia não conseguiu mais se impedir de chorar, assim como Calista. Ash balançou a cabeça, um sorriso se formando em seus lábios. O orgulho daquelas duas era maior do que um Wailord.

Sua mãe libertou uma das mãos, estendendo-a na direção dele. O rapaz aceitou o convite, se aproximando da cama. Em meio às lágrimas que ainda caíam, Dehlia sorriu. Sua família finalmente estava completa de novo.


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