Pokémon - Luz do Amanhecer escrita por Benihime


Capítulo 17
Laço de Amizade




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— Nada mal, Inari. — Calista elogiou entusiasticamente, dirigindo um sorriso para a pequena pokemon tipo Gelo e erguendo o rosto em seguida para fitar seu namorado. — Gary, vamos fazer uma pausa, ok?

O rapaz assentiu e Umbreon voltou para perto de Mirabelle, enquanto Calista se curvava e Inari pulava em seus braços. A pokemon tinha as orelhas caídas e uma expressão abatida no rosto.

— Ei, é sério. — A morena lhe disse. — Você foi ótima. Estamos só começando, ok? Sem pressão.

Gary simplesmente as observou, surpreso. Quando Calista pedira a ele e Umbreon que ajudassem a treinar Inari, os dois concordaram imediatamente. O que o rapaz não esperava, conhecendo o temperamento de sua namorada como conhecia, era vê-la demonstrar tanta paciência.

Ele próprio já estaria frustrado àquela altura, dado o quanto Inari era ruim em batalhas. Não que fosse fraca, mas era assustadiça e sempre fugia nos momentos mais críticos, abandonando a batalha para se esconder atrás de sua treinadora.

Para surpresa do rapaz, a irmã de Ash não desistiu e não perdeu a calma em momento algum. Encorajadora, incentivara Inari até que enfim a Vulpix tomou coragem e começou a batalhar para valer. Bastante ágil e muito pequena, era quase impossível acertá-la. Isso, somado à ótima combinação de ataques que Calista lhe havia ensinado, fazia dela uma ótima pokemon para ser usada em batalhas.

A segunda parte do treinamento tinha a ver com a graciosidade dos ataques. Assim como Mirabelle ou IceFire, cada ataque lançado por Inari deveria combinar precisão com beleza estonteante. Isso era algo que Calista aprendera durante seu período como Coordenadora Pokemon em Hoenn e Sinnoh, um hábito do qual nunca se livrara.

— Ei, bobão. — A jovem chamou jocosamente. — Vai ficar aí me encarando o dia inteiro? Sei que sou bonita, mas não tanto assim.

Gary riu daquele comentário e sentou ao lado dela na toalha que haviam estendido na areia. Inari e Calista já estavam acomodadas, com a morena acariciando distraidamente a pokemon enrodilhada em seu colo.

Umbreon e Mirabelle brincavam ruidosamente de pega-pega na beira do mar, um jogo que parecia consistir principalmente em atirar água um no outro. A Sylveon era mais rápida e se mantinha sempre fora de alcance, usando suas fitas para vez por outra derrubar o Pokemon Luar de cara nas ondas que vinham lamber a areia. A cena fez Gary e Calista rirem.

— O casal perfeito. — A irmã de Ash comentou sonhadoramente. — Eles ficam bem juntos.

— Espero que o mesmo possa ser dito de nós.

— Eu não contaria com isso. Não se pode competir com a perfeição. — Calista sorriu, se pondo de pé e chamando Mirabelle, encarando sua parceira com um ar de desafio. — Muito bem, garota, me diga: o quanto você aprendeu assistindo aquelas performances?

A Sylveon ergueu o queixo em uma atitude arrogante, revirando os olhos para sua treinadora e bufando com impaciência.

— Ok, então. — Calista riu. — Já que você se lembra de tudo, não vai se importar de me ajudar a ensinar Inari, vai?

As duas pokemon protestaram em voz alta, Inari chegando ao ponto de se encolher novamente atrás de Calista, que abandonou a fachada e fechou a cara para as duas.

— Mira, deixe de ser boba e me ajude, ok? — Ela disse rispidamente. — E você, Inari, não precisa ter medo. A Mirabelle sabe muito bem o que vai acontecer se ela não se comportar. Não é, Mira?

Mirabelle protestou alto antes de ceder com um profundo suspiro de contrariedade. Calista lhe acariciou o topo da cabeça em resposta, se demorando atrás de suas longas orelhas como sabia que ela gostava, logo fazendo a Sylveon ronronar de prazer.

— Ok, Inari, você primeiro. Basta seguir o ritmo, ok?

A pequena Vulpix assentiu e Calista começou a bater palmas, ditando o ritmo. A pokemon raposa fez o possível para acompanhar, mas tropeçou e caiu de cara na areia.

— Continue se esforçando, raposinha. — Calista disse carinhosamente. — Você vai acabar pegando o jeito. Mira, por favor, mostre como se faz.

A pokemon tipo Fada assentiu, caminhando cheia de si para o centro do palco improvisado feito na areia. Dessa vez foi ela mesma quem ditou o ritmo, o qual Inari não conseguiu acompanhar. A Vulpix constantemente errava os passos e tropeçava, o que acabou fazendo Mirabelle perder a paciência.

— Já chega! — Calista interferiu, furiosa, ao ver a Sylveon bater em Inari com suas fitas. — Será mesmo que você nunca ouve nada do que eu digo? Caramba, Mirabelle! Talvez seja a hora de eu usar a Ryu no seu lugar.

Ryu, a Dragonair, fora um presente que Calista recebera de uma amiga na região de Johto muitos anos atrás e desde sempre inimiga mortal de Mirabelle. Assim que se conheceram, na época uma Dratini e uma Eevee, as duas se tornaram rivais, e a situação só se agravou depois que Mirabelle evoluiu para um tipo Fada.

Ao ouvir o nome de sua antiga rival a Sylveon soltou um arquejo alto de indignação, virou as costas para sua treinadora e foi sentar na beira da água, ao lado de Umbreon, completamente emburrada. Com bem pouco esforço, Calista podia ver a fumaça de raiva saindo daquelas longas orelhas azuis.

Gary tinha o nariz quase enterrado no livro sobre fatos pokemon que Calista lhe dera meses antes, no dia em que haviam começado a namorar. Ele mal se apercebera da pequena discussão entre as duas parceiras. A morena, ainda irritada, foi se juntar a IceFire, que se encontrava enrodilhada pouco antes da linha da água, observando as ondas sonhadoramente.

— É lindo, não é? — Calista disse baixinho. — Parece infinito.

A Charizard assentiu, esticando o pescoço na direção do céu e abrindo as enormes asas enquanto se punha de pé, batendo-as de leve para alongar a musculatura. A irmã de Ash esqueceu a irritação e sorriu, compreendendo imediatamente a intenção de sua pokemon.

— Voar? Boa ideia! Estou dentro! Ei, Gary, Fire e eu vamos dar uma volta. Você vem com a gente?

— Não, obrigada. — O rapaz respondeu. — Fico aqui. Cuidado, sua maluca.

Para surpresa de todos, Inari correu até Calista, batendo levemente em suas pernas com as patas para chamar atenção. A jovem olhou-a por sobre o ombro.

— O que foi, raposinha? — Ela inquiriu — Você quer vir junto?

A Vulpix lançou um rápido olhar para Mirabelle antes de assentir. Calista tomou a pokemon nos braços e IceFire se abaixou para facilitar que a morena a montasse.

Uma vez que sua treinadora deu o sinal verde, a Charizard decolou. Enquanto voavam cada vez mais alto, Inari soltou um gritinho de medo e escondeu o rosto no peito da irmã de Ash.

— Ei. — A morena disse. — Qual é a graça de voar se for para esconder o rosto desse jeito?

A Vulpix enterrou seu rosto mais fundo, tremendo de medo. Calista a abraçou mais forte.

— Abra os olhos pequenina. — A jovem kantoniana disse suavemente. — Eu nunca te deixaria cair. Não precisa ter medo.

Lentamente, Inari ergueu o rosto para fitar Calista, que lhe dirigiu um sorriso. O gesto a fez recobrar um pouco de confiança. Mesmo ainda encolhida nos braços de sua treinadora, a pokemon manteve os olhos bem abertos dali em diante.

IceFire pegou leve a princípio, mais planando do que realmente voando. A velocidade constante e o vento fresco aliviando o calor do dia serviram para acalmar Inari, que logo criou coragem suficiente para olhar para baixo. Ao fazer isso, soltou uma exclamação de deleite.

— Lindo, não é? — A mulher morena riu. — Sempre adorei isso. Daqui de cima, o oceano parece feito de diamantes.

A Vulpix se esticou para ver melhor, seus olhos brilhando de fascínio e dardejando em todas as direções. IceFire soltou um ruído que só poderia ser descrito como uma risada, trocando um olhar divertido com Calista.

— Lembra do nosso primeiro voo juntas, logo depois de você evoluir para Charizard? — A mulher inquiriu — Nunca vou esquecer o susto que você me deu.

A Charizard realmente riu dessa vez, um som grave e gutural do fundo da garganta, então acelerou e voou ainda mais alto. Haviam algumas poucas nuvens bem baixas no céu, pequenas e que mais pareciam flocos de algodão. Elas eram seu alvo, e a pokemon nivelou voo após atingi-las, planando entre as nuvens.

Calista segurou Inari com mais força e estendeu a mão livre, que até então estivera pousada no pescoço de IceFire, segurando uma tira especial adaptada à gargantilha da pokemon. A substância vaporosa da nuvem correu por entre seus dedos, molhando-os e deixando-os frios como gelo. Inari, curiosa, se esticou e estendeu uma pata, espelhando a posição de sua treinadora.

— Ei, Fire. — A morena ergueu a voz para ser ouvida acima do som do vento e do bater das asas da Charizard. — Vamos mostrar a Inari o que é voar de verdade.

A pokemon tipo Fogo concordou, fechando as asas e disparando como uma flecha na direção do oceano, voltando a abri-las no momento exato, nivelando voo a poucos centímetros das ondas e usando uma de suas patas para espirrar água em suas duas companheiras, o que fez Calista cair na gargalhada.

Inari então surpreendeu ambas ao se libertar do braço com o qual sua treinadora a envolvia, saltar e se equilibrar entre as asas de IceFire, usando Pó de Neve nos esguichos de água, como havia feito durante a apresentação no píer. As gotas solidificadas caíram novamente sobre o oceano, brilhando sob o sol como pequeninos diamantes.

— Uau! — A morena exclamou, impressionada. — Isso foi lindo! Seu ataque Pó de Neve fica mais forte a cada dia!

A Vulpix abriu um sorriso, cheia de si por receber aquele elogio. Calista pensou novamente na apresentação no píer. Fora simplesmente um jogo, pura diversão, apenas algo com o qual se distrair mas, quanto mais pensava naquilo, mais a morena sentia queimar dentro de si o fogo da paixão, um fogo que pensara ter sido extinto quando fora obrigada a parar de competir.

Mas a espontaneidade de Inari trouxera de volta o antigo entusiasmo com toda a força da primeira vez em que Calista assistira à apresentação de uma Coordenadora Pokemon.

Não precisa ser perfeita, ma petite. As palavras soaram em sua memórias, claras como a água do oceano brilhando sob o sol. Precisa ser você mesma e fazer o que é certo para você, ou seu talento não valerá de nada. E o mais importante: precisa se divertir. Esse é o principal dever de uma boa artista.

Fantina. É claro. Fora ela a primeira a despertar seu interesse pela coordenação pokemon, quando vira a líder de ginásio se apresentar com sua Mismagius. E também fora ela quem lhe dera aquele conselho, como uma espécie de presente de despedida.

Calista sentiu uma onda de remorso ao perceber que estivera tão obcecada em ser perfeita que desprezara as palavras de sua amiga. Naquele momento, porém, tudo ficou óbvio, e o interesse casual das últimas semanas se solidificou em pura determinação enquanto a jovem finalmente percebia que estivera tão cega por seu próprio padrão de perfeição que fechara os olhos para qualquer outra possibilidade que não aquela imposta por si mesma.

Era nisso que Calista estava pensando quando IceFire as levou de volta para a praia algum tempo depois. Gary estava sentado, ainda lendo. Não parecia ter se movido nem mesmo um centímetro.

— Se eu soubesse que você iria ficar com o nariz enterrado nesse livro ... — A morena declarou jocosamente. — Jamais o teria comprado.

— Não vá me dizer que está com ciúmes de um livro. — O rapaz rebateu sem erguer os olhos. — Isso é demais até para você, Caly-Nite.

— Seu bobalhão arrogante. — Ela riu. — Venha comer. É hora do almoço. Se quer mesmo ficar lendo o dia inteiro, alimente esse seu cérebro de ervilha.

A resposta ácida dela fez Gary soltar uma sonora gargalhada. Calista pegou a cesta com os lanches que haviam preparado naquela manhã antes de saírem e os dois almoçaram juntos à sombra do guarda-sol. Depois de comerem o grupo se deixou ficar, preguiçosamente aproveitando aquele dia de verão.

Calista de repente se pôs de pé, prendendo descuidadamente os cabelos negros em um rabo de cavalo e arrancando por sobre a cabeça o vestido que usava, revelando um biquíni branco.

— Ei, Arya. — A jovem chamou. — Vi uma ilha perto daqui quando estávamos voando. Quer ir dar uma olhada?

Arya, a Popplio, que dormitava à sombra do guarda-sol, ergueu a cabeça e abriu um sorriso entusiasmado, assentindo várias vezes para demonstrar sua concordância e pulando de pé. Calista riu ante a prontidão com a qual a pokemon concordara com a aventura.

— Suponho que você queira continuar lendo. — A morena declarou, e Gary assentiu sem erguer os olhos da página. — Voltamos logo, então.

— Não se meta em encrencas.

— Calado, garoto.

Essas palavras foram praticamente atiradas por cima do ombro, enquanto Calista e Arya se dirigiam para a água. IceFire as acompanhou, mais uma vez se curvando para que sua treinadora pudesse montá-la.

A ilha era maior do que o esperado, embora a praia fosse muito pequena. A faixa de areia era logo interrompida por árvores, tão cobertas por cipós e entremeadas de outras plantas rasteiras que formavam uma vegetação densa quase impossível de penetrar. IceFire rosnou baixo, sem gostar nem um pouco daquilo, mirando inquieta a linha das árvores.

— É, eu sei. Também não gosto muito disso. — Calista concordou, dando um tapinha no ombro musculoso da pokemon para acalmá-la. — A mata é fechada demais. Fique aqui, está bem? Se ouvir qualquer sinal de problema, volte o mais rápido que puder e traga Gary para cá. Estou contando com você, garota.

A Charizard assentiu solenemente enquanto Calista e Arya caminhavam juntas na direção das árvores.

— Hey, Arya, olhe ali! — A jovem treinadora exclamou. — Olhe só aquela flor!

As duas apressaram o passo até a flor, aninhada entre as raízes protuberantes de uma grande árvore. Parecia um lírio, porém maior. Suas pétalas não eram amarelas nem laranja, mas de uma cor muito mais intensa. Cintilava na luz do sol que se filtrava entre as folhas, fazendo a flor parecer feita de ouro.

— Que linda! Me pergunto que tipo de flor é essa. Droga, como eu queria ter trazido a minha câmera!

A Popplio apontou para um espaço entre as árvores, um espaço onde a vegetação era menos densa, formando uma espécie de trilha rústica e quase imperceptível, porém transitável. Calista hesitou, encarando a trilha sombria pensativamente.

— É, talvez você tenha razão. — Ela concordou enfim. — Vale a pena procurarmos um pouco. Eu adoraria levar uma dessas de volta comigo para tentar descobrir que tipo de flor é.

A jovem e sua pokemon seguiram na direção da trilha quase oculta entre as árvores. Não muito adiante, um zumbido baixo à esquerda de onde estavam chamou-lhes a atenção.

Calista nem hesitou em deixar a trilha para seguir o som, satisfeita ao encontrar um caminho relativamente limpo até sua origem: uma árvore mais baixa do que a maioria das outras, ornada por grandes flores vermelhas que a morena reconheceu imediatamente como hibiscos.

Pokemons voavam ao redor das flores, pequenos seres cujas asas transparentes com semicírculos marrom-claros na base eram quase maiores do que seus corpos amarelos. Suas patinhas, pequenos círculos no final de longas e delgadas pernas negras, tocavam as flores delicadamente antes que suas asas os impelissem para longe.

A morena se distraiu observando aqueles pokemon que quase dançavam entre os hibiscos, tanto que chegou a pular de susto quando Arya cutucou sua perna com uma nadadeira.

— Quieta. — A treinadora kantoniana sussurrou. — Venha cá e olhe isso. É incrível!

A Popplio obedeceu, saltando para se empoleirar no ombro de sua treinadora. As duas observaram o balé dos pequenos pokemon em absoluto silêncio por vários minutos, até o som de passos pesados quebrar a tranquilidade.

— Droga! — Calista sibilou baixinho, seus olhos dardejando na direção do som. — Ainda está longe. Vamos voltar para a praia, Arya.

As duas dispararam pela trilha de plantas selvagens. Calista era naturalmente rápida, mas sua perna ferida não pôde aguentar mais do que uma curta corrida. Seu pé direito ficou preso em uma raiz, fazendo-a soltar um grito agudo de dor.

A irmã de Ash perdeu o equilíbrio e caiu, rolando pela trilha estreita até bater contra o tronco de uma árvore. Felizmente não batera com tanta força para se machucar seriamente, mas sabia que acabaria com um hematoma.

Arya parou de chofre, olhando preocupada para a forma caída de sua treinadora.

— Vá. — A morena ordenou, ainda sem fôlego pela colisão com o tronco da árvore. — Avise IceFire. Agora, Arya!

Foi nesse momento que o pokemon saiu de entre a vegetação, derrubando algumas pequenas árvores e arrancando cipós com uma facilidade assustadora que comprovava sua força bruta.

A criatura era alta, parecendo um urso bípede. Suas pernas e a parte superior do corpo eram pretas, mas a cabeça era cor de rosa, com algo que lembrava uma tiara branca com orelhas de urso. Seu focinho também era branco, e curto, como o de um Ursaring. Seria até mesmo fofo, não fosse o rugido assustador emitido pelo pokemon ao avistar a jovem morena.

Os pequenos olhos negros da criatura fitavam Calista, focados como lasers, e as enormes patas negras com almofadinhas cor de rosa se estenderam em sua direção. Arya se pôs no caminho, usando Áqua Míssil para atingir o pokemon direto no peito antes que encostasse em sua treinadora. Isso deu tempo para que a jovem rolasse para fora do caminho, se escondendo entre os densos arbustos.

A morena levou alguns segundos, mas finalmente reuniu forças para se pôr de pé. Sabia, porém, que sua perna direita não aguentaria qualquer esforço por algum tempo.

Calista agarrou uma das muitas trepadeiras que pendiam ao seu redor, usando o resistente cipó como uma corda para escalar a árvore mais próxima. Teve sorte de conseguir agir rápido, antes que o pokemon urso atingisse o local onde estivera com um golpe de seu braço poderoso.

— Arya, aqui! — A morena chamou. — Pule, eu puxo você para cima.

Mas a pokemon tipo Água, apesar de ter relanceado um olhar em sua direção, não lhe deu ouvidos. Ela simplesmente balançou a cabeça em negativa e continuou em posição, com uma expressão determinada no olhar. Calista imediatamente soube que aquilo era por causa de suas broncas frequentes, na qual acusava a Popplio de ser somente um atraso para seu time, uma palhaça que só gostava de fazer pegadinhas e não tinha utilidade nenhuma em batalhas.

O pokemon urso atacou com Braço Martelo, atingindo a pokemon tipo Água em cheio. Apesar de obviamente mais fraca do que seu adversário, Arya era determinada e revidou imediatamente com um golpe Cachoeira direto na cara do adversário, o que lhe deu tempo suficiente para saltar e se pôr fora de alcance logo antes de ser atingida por um Mega Soco.

— Que merda! — Calista, precariamente empoleirada no galho mais baixo da árvore que escalara, gritou. — Recue, sua teimosa! Você vai acabar se machucando desse jeito!

Outra vez Arya não lhe deu ouvidos. Mesmo ferida por aquele poderoso Braço Martelo, ela se recusava a desistir. Tinha algo a provar, e não queria recuar até consegui-lo.

A Popplio se ergueu nas nadadeiras traseiras e seu corpo começou a brilhar, aumentando rapidamente de tamanho. Uma estrutura que lembrava uma saia cresceu ao seu redor, se estendendo até a cauda, que também se alongou. Suas orelhas de abano se tornaram ainda maiores e ficaram eretas como antenas, enquanto pequenas esferas que lembravam bolas de algodão cresciam em suas pontas. Seu focinho se alongou ainda mais, ficando um pouco mais estreito na base. A esfera cor de rosa na ponta se tornou menor, também, e suas nadadeiras dianteiras se tornaram mais longas, enquanto as traseiras se tornavam mais largas, tudo isso em questão de meros segundos, e a pokemon evitou outro Mega Soco com um ágil salto mortal reverso, enquanto o brilho ao seu redor finalmente esmaecia e permitia que sua nova forma fosse vista por completo.

A pokemon recém evoluída usou Voz Desarmante, lançando um raio de corações roxos na direção do estranho urso selvagem, e então fez algo que sua treinadora não esperava: criou vários balões coloridos ao seu redor. Isso confundiu o adversário, que errou o golpe seguinte, uma massiva Queda de Corpo. A Brionne então estendeu as duas barbatanas frontais na direção do oponente e de sua boca saiu uma rajada glacial que até mesmo Calista, empoleirada seguramente na árvore, pôde sentir.

Vento Gelado!, a jovem treinadora percebeu com uma onda de orgulho. Arya aprendeu o golpe Vento Gelado!

O golpe tipo Gelo pareceu atordoar o oponente, mas ainda não o bastante para enfraquecê-lo a ponto de dar a batalha por encerrada. A pokemon tipo Água, porém, não percebeu isso e foi pega de guarda baixa por outro Mega Soco que a lançou pelos ares, fazendo-a bater com toda a força contra o tronco da árvore em que Calista estava empoleirada.

A Brionne, porém, se pôs de pé novamente. Não estava disposta a desistir ainda. Antes que o pokemon urso pudesse atacar, uma sombra se interpôs entre os dois lutadores, acertando-o diretamente no peito com um poderoso soco. O punho sombrio brilhou por um momento ao fazer contato, o que Calista reconheceu como um golpe Soco Drenagem.

A jovem não sabia, mas o pokemon urso era um Bewear, uma combinação dos tipos Normal e Lutador. Ao ser atingido pelo golpe super efetivo e perceber que estava em desvantagem de dois contra um, o pokemon selvagem se virou e sumiu mais uma vez entre a densa vegetação. Mal ele sumiu de vista, Calista pulou da árvore e foi até Arya.

— Você foi incrível, Arya! — A irmã de Ash exclamou. — Você está bem? Aquele último Mega Soco foi bem forte, deve ter feito um dano e tanto.

A pokemon mal deu atenção àquelas palavras, pondo-se de pé devagar. Obviamente estava dolorida por ter batido contra o tronco da árvore com tanta força.

— Venha cá. — Calista disse gentilmente, ajoelhando-se para ficar da mesma altura de sua pokemon. — Você está com dor, eu posso ver. Deixe eu ajudar.

A Brionne ainda hesitou mais um segundo, mas enfim se aproximou de sua treinadora. A jovem gentilmente massageou a área dolorida nas costas da pokemon, procurando por qualquer sinal de um machucado mais sério e suspirando de alívio ao não encontrar nenhum.

— Sinto muito pelo que eu disse. — A morena disse baixinho. — Você é uma pokemon incrível, Arya, e eu nem tinha percebido isso. Acha que pode me perdoar por ser tão cabeça oca?

A pokemon não respondeu por um momento, então se voltou e pulou nos braços de sua treinadora, envolvendo-a pelo pescoço com as barbatanas dianteiras. Calista riu e retribuiu o gesto, abraçando-a apertado.

— Hey, ainda precisamos descobrir que pokemon nos ajudou. — A jovem disse momentos depois. — Afinal de contas, temos que agradecer, não acha?

A Brionne assentiu, mas continuou agarrada à sua treinadora. Revirando os olhos, Calista a pegou no colo enquanto olhava ao redor, procurando algum sinal entre a vegetação. Seus olhos recaíram sobre algo amarelo que aparecia sob uma moita, e um sorriso coloriu seus lábios.

— Achei você! — Ela declarou. — Está tudo bem, pode sair daí. Não vou te machucar.

O pokemon misterioso não saiu de sob o arbusto, mas pareceu hesitar. Um farfalhar de folhas indicou que se movimentava, e Calista viu as pontas negras de duas orelhas aparecerem entre a folhagem, junto com o brilho de um par de olhos que a observava atentamente.

— Pode sair. —  A morena repetiu, sorrindo para o pokemon relutante. — Não precisa ter medo de mim, só quero agradecer. Foi muito corajoso nos ajudar daquela maneira.

Algo que lembrava uma Garra das Sombras saiu de sob as folhas com um farfalhar, estendendo-se com hesitação na direção da irmã de Ash.

— Caly! — Uma voz familiar soou, juntamente com passos que corriam a toda velocidade pela trilha estreita. — Até que enfim, sua doida! Que diabos! Por que você demorou tanto? Quase morri de preocupação!

A jovem se pôs de pé, virando-se a tempo de ver Gary sair de trás de uma árvore acompanhado por Umbreon e Mirabelle. Calista sorriu. IceFire estava sempre protegendo-a. A Charizard certamente fora buscar o rapaz assim que ouvira os ecos da luta na mata.

— Oi, amor. — A ex performer disse casualmente. — Desculpe. Tivemos um ... Contratempo. Mas está tudo bem agora.

Gary ergueu uma sobrancelha para sua namorada, seus lábios se curvando em um sorriso zombeteiro.

— Deixe eu adivinhar ... Por "contratempo" você quer dizer que acabou se perdendo de novo?

— O que?! — Calista fingiu estar ultrajada com aquela suposição. — Por que você acha isso, garoto?

— Porque você sempre teve péssimo senso de direção. Especialmente quando está distraída. E, se a evolução de Arya é alguma indicação, você teve uma distração e tanto.

A treinadora kantoniana sorriu, trocando um olhar divertido com a Brionne em seus braços, que sufocou uma risadinha cobrindo a boca com uma das barbatanas dianteiras. Calista sentiu que seu coração ia derreter ante a fofura do gesto.

— Você nem imagina, rapaz. — Ela respondeu, rindo. — Certo, Arya?

A pokemon tipo Água assentiu, dando mais uma risadinha.

— De qualquer jeito, que tal ficarmos por aqui? — Gary sugeriu. — Eu pensei nisso antes de vir te procurar, então acabei trazendo nossas mochilas.

— Boa ideia. — Calista aprovou, dando-lhe um beijo estalado na bochecha. — Eu sabia tinha um motivo para gostar de você.

— Engraçadinha. Ande, vamos sair da mata antes que algum pokemon selvagem apareça.

IceFire os esperava na praia. A Charizard soltou um rugido gutural ao vê-los, sua expressão preocupada relaxando visivelmente.

— Ei, garota! — Calista sorriu, indo ao encontro de sua fiel pokemon. — Assustei você, é?

A Charizard assentiu enquanto sua treinadora passava o braço livre por seu longo pescoço. A pokemon tipo Fogo retribuiu o abraço envolvendo-a com suas enormes asas.

— Você se preocupa demais, sabia? — A morena provocou carinhosamente. — Eu vou ficar bem. Sempre acabo ficando, de um jeito ou de outro. Além do mais, Arya estava comigo.

IceFire franziu a testa e ergueu o pescoço, encarando-a severamente. A irmã de Ash riu de novo.

— Ok, tem razão. — Ela cedeu. — Nem sempre eu me saio bem dessas situações. Mas somos todas duronas, você sabe disso. Não precisa se preocupar tanto.

Outro grunhido relutante em resposta indicou que a Charizard não concordava totalmente com aquelas palavras. Calista lhe acariciou o focinho antes de se acomodar ao lado de Gary, que havia estendido a toalha de piquenique na sombra das árvores.

Arya finalmente a soltou, mas apenas para se acomodar em seu colo. A morena riu e lhe fez um carinho, observando distraidamente enquanto Mirabelle e Umbreon brincavam perto da água.

Enquanto a morena descansava, contou a seu namorado sobre o que acontecera. Ele notou que ela acariciava a cabeça de Arya de tempos em tempos enquanto falava, num gesto quase inconsciente, e que mesmo semi adormecida aquilo fazia a Brionne sorrir. Isso o deixou satisfeito. Sendo testemunha do começo tenso da relação daquelas duas, eram bom ver que finalmente estavam se dando bem.

O jovem pesquisador explicou que o pokemon que as atacara era um Bewear, e fez Calista jurar nunca, jamais se aproximar de um daqueles sozinha. Quando ela inquiriu o motivo, ele lhe revelou que várias pessoas já haviam perdido a vida para aqueles pokemon. Eram considerados um dos pokemon mais perigosos de Alola devido à sua força, capazes de partir a espinha humana com um único golpe de seus braços poderosos.

Ao ser inquirido sobre o pokemon misterioso que as ajudara, o rapaz expressou curiosidade. A descrição de Calista sobre o que vira de relance sob a folhagem espessa pouco antes que ele aparecesse, porém, o fez empalidecer.

— Aquilo ... — O rapaz disse entredentes. — É provavelmente o pior pokemon que você poderia ter encontrado. Aquilo era um Mimikyu, Caly. Um pokemon tipo Fantasma. Você teve sorte de não tê-lo visto. Um relance sob o disfarce de um Mimikyu pode te matar.

— O que?! Isso é ridículo!

— Mas é verdade. Um pesquisador aqui em Alola tentou ver o que havia embaixo do disfarce, e morreu em poucos dias de uma doença desconhecida. Ele ficou louco, Caly. Completamente louco.

— Ridículo. — A morena bufou. — Coisas assim não acontecem. Deve ter havido outro motivo.

— Foi Wicke quem me contou isso. O pesquisador que morreu era o pai dela. — O rapaz revelou, exasperado. — Agora, deixe de ser teimosa e me prometa que vai ficar bem longe daquele pokemon. Estou falando sério, Caly!

Calista não respondeu. Logo depois, se pôs de pé e anunciou sua decisão de se embrenhar novamente na trilha em busca de uma foto da árvore de hibiscos que vira mais cedo. Gary não gostou nem um pouco da ideia.

— E se aquele Bewear aparecer de novo, hein? — Desafiou. — Acha que vai escapar uma segunda vez?

— Tenho certeza. — A morena respondeu, abrindo seu sorriso mais brilhante. — Vamos ver o quanto você aprendeu com o seu avô. Se Bewear é um tipo Lutador, qual é a fraqueza dele?

— Ataques do tipo Psíquico. — O rapaz respondeu de pronto. — E Voador. Mas você não tem um tipo Psíquico, e IceFire é grande demais para ir com você.

— Você esqueceu de um detalhe. — A morena riu. — Tipo Fada. E, por sorte, tenho a fadinha perfeita para o serviço bem aqui. Não é, sua encrenqueira?

A irmã de Ash olhou por sobre o ombro, chamando por Mirabelle. A Sylveon correu para se pôr ao seu lado. Tendo ouvido a história sobre o Bewear, estava morrendo de vontade de enfrentá-lo, o que não era surpresa para Calista. Aquela pokemon brigona sempre adorara batalhar.

A dupla se embrenhou mais uma vez entre as árvores, em um silêncio teimoso por parte de Mirabelle. Não muito depois, Gary e Umbreon as alcançaram, o que fez as duas revirarem os olhos em perfeita sincronia.

— É sério, garotos, não precisam vir. — Calista disse. — Sabemos cuidar de nós mesmas.

— Ficamos mais tranquilos assim. — Gary rebateu. — Desse jeito podemos evitar que vocês duas arrumem mais encrenca.

— Até parece, bobão. Eu não saio procurando encrenca por aí. As coisas simplesmente ... Acontecem.

— Claro. — O rapaz riu ironicamente. — Quando você está por perto. Encrencas seguem você como um Lillipup perdido.

A esse comentário Calista não deu resposta. O casal e seus pokemon seguiram em silêncio pela trilha rústica, com a morena liderando o caminho. Ao atingirem a árvore de hibiscos, Gary lhe revelou que os pokemon que voavam entre as flores eram chamados Ribombee, também conhecidos como "Pokemon Abelha Voadora".

A morena se distraiu por alguns minutos tirando fotos, e então declarou algo que surpreendeu seu namorado. O arquejo de surpresa do rapaz soou audível na quietude da floresta.

— Você quer fazer o que?!

— Encontrar aquele Mimikyu. — A morena repetiu com firmeza. — Ele salvou Arya, não pode ser um pokemon tão mau quanto você descreveu. E digo mais: vou capturá-lo, se puder.

— Você só pode ter ficado louca.

— Eu vou fazer isso de qualquer maneira. — Calista declarou, irredutível. — Você tem duas opções: pode me ajudar e se assegurar de que isso saia do jeito certo, ou pode me deixar agir por conta própria e ver no que dá.

— Está bem, está bem. — O rapaz cedeu. — Você venceu, Caly. Vamos acabar logo com isso.

Os dois começaram a procurar, e enfim chegaram a uma caverna, praticamente do outro lado da ilha. Calista sorriu.

— O lugar perfeito para um pokemon tipo Fantasma. — Ela declarou. — Fique aqui. É melhor eu entrar sozinha, para não assustá-lo tanto assim.

— Caly, eu não estava só tentando te assustar. Aquilo não era brincadeira. — Gary protestou. — Esses pokemon são perigosos de verdade.

— Amor, duvido muito que eles saiam matando as pessoas de propósito. — A irmã de Ash rebateu calmamente. — Pokemon tipo Fantasma tem má fama porque as pessoas tem medo. Eu, por exemplo, tenho uma Mismagius, e ela é a pokemon mais doce que alguém poderia encontrar. Muitas vezes só é preciso dar uma chance a eles.

Vendo que não adiantaria discutir, o rapaz cedeu e simplesmente observou enquanto sua namorada entrava na caverna. Ela caminhava devagar, deixando seus olhos se acostumarem com a luminosidade reduzida.

— Mimikyu. — A jovem chamou, sua voz ecoando entre as rochas. — Eu sei que você está aqui em algum lugar. Pode sair, eu não vou te machucar.

Alguns segundos se passaram, porém sem resposta. Calista continuou a caminhar. Uma pedra protuberante e afiada cortou a palma de sua mão, fazendo com que a jovem morena ofegasse de dor. Quase imediatamente um par de olhos brilhantes surgiu das sombras, encarando-a com preocupação.

— Mimikyu? — Calista inquiriu. — É você?

O Pokemon Disfarce assentiu, saindo devagar de seu esconderijo.

— Caramba, você me assustou! — A exclamação fez Mimikyu suspirar, um som triste, e Calista sorriu para tranquilizá-lo. — Não se preocupe, está tudo bem. Venha cá. Não vou te machucar.

O pokemon se aproximou devagar, com a cabeça baixa, enquanto a morena o analisava atentamente. Depois de superado o choque de ver pela primeira vez um pokemon tão peculiar, Mimikyu era absolutamente adorável.

— Aposto que todos fogem quando veem você, não é? — A jovem performer disse suavemente. — Deve ser bem solitário. Você se sente sozinho?

O pokemon tipo Fantasma assentiu timidamente, fitando a treinadora kantoniana com curiosidade. Ela estendeu uma das mãos, acariciando a "bochecha" de Mimikyu com a ponta de um dos dedos, rindo baixinho ao ver como o pokemon se inclinava na direção de seu toque. Parecia absolutamente desesperado por atenção.

— Quer saber? Eu não acho que você seja tão perigoso quanto todos dizem. — Calista declarou afetuosamente. — Você é mais do que bem vindo para vir comigo. Isto é, se quiser.

Mimikyu soltou um gritinho de felicidade, ansiosamente acenando sua concordância. A morena sorriu e deixou a caverna com seu novo amigo aninhado na curva de seu pescoço.

— Sua maluca!  Gary exclamou ao vê-la. — Não acredito que você capturou mesmo essa coisa! Por que quer ter um pokemon que pode te matar?

O Pokemon Disfarce se encolheu, escondendo-se sob os cachos de sua nova amiga. Calista lançou um olhar reprovador para seu namorado.

— Não, ainda não. Mas pode apostar que vou. — E, após dizer isso, a jovem se voltou para seu novo amigo com um sorriso gentil. — Ignore o Gary, ele não sabe do que está falando. Eu sei que você não vai me machucar. Você não quer me machucar. Certo, pequenino?

O pokemon tipo Fantasma assentiu por entre as mechas do cabelo da morena. Calista ergueu uma das mãos e gentilmente tirou seu novo amigo do esconderijo improvisado. Mimikyu era um pokemon tão pequeno que coube perfeitamente na palma da mão da irmã de Ash.

Só então a morena notou um detalhe: na orelha esquerda do Pokemon Disfarce havia uma fita cor de rosa amarrada, formando um diminuto laço. Tristeza, revolta e simpatia se misturaram em seus olhos verdes ao se dar conta do motivo pelo qual aquele pokemon selvagem parecera tão desesperado por carinho. Mimikyu não era selvagem, de forma alguma.

Sem comentar nada, a morena estendeu a mão livre para sua bolsa. Gary se surpreendeu ao vê-la pegar não uma das Ultra Bolas que comprara em Celadon, mas uma pokebola verde com quatro círculos vermelhos e um único círculo dourado na parte superior.

— Uma Bola Amizade! — O rapaz exclamou. — Onde diabos você conseguiu isso?

— Foi um presente do seu avô. — A morena respondeu — Ele me deu logo antes de virmos para Alola. Achou que podia ser útil.

Com outro sorriso gentil, a morena encostou o dispositivo em Mimikyu. O pequeno pokemon foi absorvido por um facho de luz vermelha, e a pokebola balançou três vezes na mão da jovem treinadora antes de soltar um sonoro clique.

Após captura-la, Calista imediatamente tirou a Pokemon Disfarce da pokebola. Mais uma vez a pequena criatura se aninhou na curva de seu pescoço, carinhosamente esfregando o rosto contra o dela, murmurando baixinho de puro prazer.

— Você tinha razão, Gary. — A morena disse ironicamente. — Que pokemon perigoso essa pequenina é!

— Você é inacreditável, Caly. — Gary declarou, balançando a cabeça com incredulidade. — Mas aposto que só deu sorte.

— Claro, amor. Chame como quiser. — Calista riu. — E você, pequenina ... Vou chama-la de Myiabi. O que acha?

A Mimikyu assentiu entusiasticamente, parecendo muito satisfeita. O casal se pôs novamente a caminho da praia, Umbreon e Mirabelle tomando a dianteira, brincando de esconde-esconde entre as árvores.

— Preciso admitir. — Calista disse depois de alguns minutos, seu tom mais satisfeito do que Gary ouvia em um bom tempo. — Isso é legal. Quase como começar minha jornada de novo. Exatamente do que eu precisava.

— Pensei que seu negócio fossem as performances.

— E são. — Foi a resposta. — Mas eu precisava de um tempo, e nem tinha percebido isso. No ritmo em que que tudo andava, eu teria um colapso nervoso antes das finais, ou acabaria me perdendo totalmente no meio daquele mundo de aparências.

— Quem sabe? — O rapaz respondeu. — Você talvez tivesse vencido.

— Talvez. — Ela lhe dirigiu um sorriso, e Gary se surpreendeu ao ver a confiança plácida naquele gesto. — Jamais saberei. Mas de uma coisa tenho certeza: você estava certo. Eu posso voltar. Posso transformar meu machucado em uma distinção, não uma limitação.

— Finalmente você percebeu! — O neto do professor Carvalho exclamou, satisfeito. — Com a sua determinação, Caly, tenho certeza de que você pode chegar aonde bem entender.

— Só determinação, huh? Não acha que eu tenha talento para vencer?

O rapaz corou e desviou o olhar, pego de surpresa. Calista o deixou ainda mais sem reação ao cair na  gargalhada. Uma risada real, de um jeito que ele não a ouvia rir desde que ela era adolescente.

Gary não havia percebido antes, não até ouvi-la rir naquele momento mas em Kalos, e mesmo após voltar para casa em Kanto, a risada de Calista havia sido cuidadosa, contida demais. Ele quase havia esquecido como a verdadeira risada dela soava.


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