Pokémon - Luz do Amanhecer escrita por Benihime


Capítulo 16
Sob o sol de Alola




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Ao preparar o café da manhã, Gary estranhou o fato de que tudo estava tão quieto. Depois, ao olhar no quarto de hóspedes, não ficou mais surpreso com o fato. Calista já havia se levantado. Um bilhete sobre o travesseiro dizia que ela havia ido caminhar na praia.

O neto do professor Carvalho comeu e se vestiu o mais rápido que pôde, então foi se juntar à sua namorada. Encontrou-a perto do paredão rochoso onde haviam estado na noite anterior.

Calista estava de costas, olhando para o mar, empoleirada em uma grande rocha. IceFire se encontrava deitada na areia logo atrás de sua treinadora, tirando um cochilo.

— Bom dia. — O rapaz disse. — Acordou cedo.

— Bom dia. — A morena lhe sorriu por sobre o ombro, num gesto melancólico. — Na verdade ... Eu não dormi muito. Fiquei pensando nas performances de ontem à noite.

— Caramba, Caly! Se eu soubesse que você ficaria triste desse jeito, nunca teria te levado para assistir.

— Não seja bobo, eu adorei assistir. É só que ... Fiquei pensando no que você disse. Sobre encontrar outra coisa que eu goste.

Um grito agudo rompeu o silêncio da manhã antes que Gary pudesse responder. Calista assentiu e o rapaz disparou na frente, correndo na direção do som.

Demonstrando a sincronia adquirida através de anos de convivência, IceFire se abaixou no momento exato em que a morena se voltou para ela, facilitando que Calista a montasse. Era cedo e a praia estava deserta, o que permitiu que voassem quase paralelamente ao chão, apenas alto o bastante para não levantarem nuvens de areia.

Foi questão de segundos até alcançarem Gary. O rapaz estava na parte rasa do mar, onde as ondas encontravam a areia, e não muito longe se encontrava um Tentacruel, contra quem Umbreon batalhava. Calista chegou a tempo de ver uma Injeção Venenosa daqueles enormes tentáculos lançar o pokemon tipo Sombrio vários metros para trás. 

A jovem treinadora saltou para a areia, fincando os calcanhares no solo para diminuir o impacto da queda e manter o equilíbrio. Foi um salto perfeito.

IceFire reagiu rápido, voando mais baixo e planando de modo que uma de suas asas funcionasse como lona de proteção. Umbreon bateu contra ela, girou e conseguiu recobrar o equilíbrio, dirigindo um aceno de cabeça agradecido para a Charizard ao cair graciosamente sobre as quatro patas e voltar à batalha com Bola das Sombras.

— Vamos lá, Fire, use Ás dos Ares e entre na briga também!

IceFire obedeceu, enquanto Tentacruel atacava Umbreon com Onda de Lama. Rápida, a Charizard lançou o Pokemon Luar para cima com um golpe de sua cauda poderosa, permitindo que evitasse o ataque. Ao invés disso, a onda venenosa foi na direção de uma menina que assistia a batalha. Só o que Calista teve tempo de ver foi que era pequena, delicada, com cabelos loiros, e que tremia de pavor da cabeça aos pés.

Com a coordenação perfeita que os anos de dança lhe haviam garantido, a morena correu e agarrou a garota pelos ombros. As duas caíram, rolando pela areia para longe do golpe venenoso.

— Você está bem? — A jovem inquiriu, se pondo de pé e puxando a criança consigo, satisfeita ao vê-la assentir. — Ótimo. Agora corra! Saia logo daqui.

Olhos verdes como grama a encararam, enormes e cheios de pavor, brilhando de lágrimas. Calista suspirou alto, exasperada. Aquela menina não iria a lugar algum, assim como não desviara da Onda de Lama. A criança estava paralisada de pavor.

— Ei, Caly! — Gary chamou, lançando-lhe um olhar rápido por sobre o ombro. — Tudo bem?

— Estou bem. — Calista garantiu. — Ande logo, vamos acabar com essa coisa feia de uma vez.

Umbreon usou Psíquico, prendendo o Tentacruel no lugar e infligindo dano com o movimento super efetivo enquanto IceFire atacava com Garra das Sombras. Cortes se abriram no topo do corpo do pokemon água-viva, que soltou um grito agudo de dor e recuou rapidamente para mar aberto.

— Boa! — Gary comemorou — Afugentamos ele! Valeu, Caly!

— O prazer foi meu, garoto.

A morena arquejou de surpresa quando a garota loira, que até então simplesmente se agarrara ao seu braço com as duas mãos, a abraçou pela cintura e desatou em um choro histérico.

Surpreso, Gary viu sua namorada abraçar a criança, acariciando seus cabelos loiros e sussurrando algo que ele não conseguiu ouvir. A garotinha enfim se acalmou e ergueu um pouco o rosto. Só então, ao ver aquele perfil, foi que o rapaz a reconheceu.

— Lillie? Lillie, é você?

A criança ergueu completamente o rosto e o encarou, sua testa se franzindo em confusão por um segundo antes de sua expressão relaxar em surpresa e alívio. É claro, na confusão do ataque do Tentacruel, a principal preocupação de Gary havia sido tirar a menina da linha de alcance dos ataques. E ela, pelo jeito, estivera aterrorizada demais para reconhecê-lo.

— Oi, Gary. — A garotinha disse, sorrindo timidamente.

— Vocês se conhecem? — Calista inquiriu, embora não parecesse surpresa.

Gary e Lillie responderam com um "sim", ambos falando ao mesmo tempo.

— Essa é a Lillie, filha da minha chefe. — O rapaz explicou. — Eu te falei dela, lembra?

— A garota que te falou sobre o chalé na praia?

— Isso. Ela mesma. O que você estava fazendo aqui sozinha, afinal? E por que aquele Tentacruel estava aqui? Espere aí! Sua mãe sabe que você saiu?

— Sabe. Ela está em uma das ilhas aqui perto com minha tia, fazendo pesquisa de campo. — A loirinha explicou — Mas ela disse que era perigoso, e que viriam me buscar assim que terminassem. Mamãe pediu pra eu ficar na praia, então fui procurar conchas ... Aí aquele Tentacruel apareceu e ... E me agarrou ...

Lillie se interrompeu, estremecendo de medo, e Calista mais uma vez a abraçou. Gary viu a filha de sua chefe se agarrar à sua namorada como se a conhecesse desde sempre. Não ficou muito surpreso. Calista sempre tivera um jeito especial de cativar as pessoas, especialmente crianças.

— Bom, é melhor ficarmos com você. — Gary declarou. — A chefe vai querer ouvir sobre o que aconteceu. Um Tentacruel tão perto da praia ...

— Pense nisso depois, amor. — Calista disse. — Vem, Lillie, conheço um bom lugar. Não é muito longe. Pode ficar com a gente até sua mãe voltar.

Lillie assentiu e os três caminharam de volta até o paredão rochoso no final da praia, acomodando-se nas rochas proeminentes na parte mais rasa do mar.

— Acha que aquele Tentacruel vai aparecer de novo? — Gary inquiriu.

— Duvido. — Foi a resposta de Calista. — Nós o machucamos bastante. Mas não custa manter os olhos abertos, por precaução.

— O Gary me falou de você. — Lillie declarou momentos depois, sua voz baixa traindo um interesse vivaz. — Ele me contou que você é a Rainha de Kalos e sabe tudo sobre pokemon. Até mais do que a minha mãe! E também que você é uma treinadora super forte!

— Bom, ele mentiu.

A resposta de Calista foi tão imediata que fez Lillie rir, lançando um olhar zombeteiro a Gary. O olhar da mulher mais velha não foi tão bem humorado. Sob o sorriso cativante, aqueles olhos verdes disparavam adagas.

— Rainha de Kalos? — Ela repetiu sarcasticamente. — Sério, garoto?

— Você seria. — Ele rebateu, tentando se defender. — E sabe disso.

— Já falamos sobre isso. — Foi a reposta. — Se você não parar de ficar se gabando por aí, juro que chamo aquele Tentacruel de volta e te dou de comida para ele.

— Nossa, que medo! — Gary revirou os olhos. — Ei, Lillie, estou ouvindo um helicóptero. Deve ser a sua mãe.

O helicóptero não demorou a surgir no horizonte. Lillie se pôs de pé, pulando e sacudindo os braços de modo a ser vista pelo piloto. O veículo pousou não muito adiante na praia, e Calista paralisou ao ver a passageira descer.

Era uma mulher alta e esbelta, de porte elegante, com cabelos de um loiro intenso que estavam presos em uma trança. Ela usava uma simples camiseta sem mangas, verde musgo, calças pardas de boca larga e botas de caminhada pretas. 

Calista só relaxou quando a recém chegada endireitou a postura após passar sob as hélices que ainda giravam. O rosto era ligeiramente mais arredondado, os cabelos loiros alguns tons mais claros, e os olhos, verde-água. Somente ao perceber esses detalhes a irmã de Ash se viu capaz de respirar novamente.

— Mamãe! — A menina loira exclamou, correndo na direção da recém chegada, que passou um braço protetor por seus ombros. — Cadê a titia? Ela não estava com a senhora?

— Sua tia precisou resolver um imprevisto. — A mulher mais velha respondeu. — Ela vai nos encontrar no Paraíso Aether mais tarde.

Até mesmo a voz, Calista percebeu, era parecida. A mãe de Lillie a fazia lembrar da região de Sinnoh, e do quanto fora covarde ao fugir como fizera. Olhar para aquela mulher era como ver um fantasma. Como voltar no tempo, e de uma forma nada agradável.

— Obrigada, Gary. — Calista ouviu a loira dizer, o que a fez perceber que estivera perdida demais nas próprias recordações para prestar atenção na conversa. — Minha Lillie definitivamente tem que aprender a cuidar melhor de si mesma.

— Não foi nada, chefe. — Gary respondeu. — Na verdade ... Fiquei curioso sobre como um Tentacruel acabou chegando tão perto da cidade. Eles normalmente ficam em mar aberto.

— Sim, uma ocorrência bem peculiar. — A mulher concordou pensativamente. — Na verdade, esse é o segundo motivo para minha pesquisa de campo hoje. Ouvi relatos sobre outras aparições desse pokemon.

— Não precisa se preocupar com isso, chefe. — O jovem garantiu, confiante. — Nós podemos cuidar de tudo.

Nós, huh? — A loira sorriu novamente, dessa vez com uma pontada de malícia, voltando seus olhos verdes para Calista. — E suponho que você seja a Rainha de Kalos sobre quem tanto ouvi falar.

— Não, senhora. — A morena corou e dirigiu a seu namorado um olhar de reprovação. — Quer dizer ... Sim. Foi de mim que ouviu falar, mas nunca conquistei o título. Gary tende a exagerar, às vezes.

— Entendo. — A mulher deu uma risadinha, parecendo divertir-se com a resposta da morena, e estendeu uma das mãos. — Sou Lusamine. Prazer em conhecê-la.

E lá estava o fantasma novamente, a lembrança de um dia nublado de inverno. Respirando fundo e se esforçando para afastar a memória, Calista aceitou o cumprimento com um sorriso.

— Sou Calista.

— É um prazer, Calista. Gary me disse também que você sabe muito sobre pokemon. — Lusamine declarou, com um leve toque de malícia bem humorada na voz. — Isso é verdade, ou ele estava exagerando novamente?

— Não, senhora. — Calista respondeu com uma risada. — Isso é verdade, ou pelo menos gosto de pensar que sim.

— Ótimo. — A loira sorriu calorosamente. — Venha visitar o Paraíso Aether quando puder. Garanto que será muito bem vinda.

— Obrigada, senhora.

— Apenas Lusamine, por favor. — A mãe de Lillie pediu em tom jovial. — Posso já ser mãe, mas não sou assim tão velha.

O pedido a pegou de surpresa por um momento, mas Calista se viu rindo em seguida, cativada pelo carisma daquela mulher. Não muito depois ela e Lillie partiram, deixando a morena e seu namorado a sós na praia novamente.

Por diversão, Calista concordou em ajudá-lo a investigar o incidente do Tentacruel, decidindo procurar pelo ar com IceFire enquanto seu namorado ia à cidade conversar com algumas pessoas e averiguar o que Lusamine dissera sobre "outros relatos."

A irmã de Ash agradeceu por aquele tempo longe de olhos humanos, somente ela e IceFire sobrevoando o mar, atentas às ondas.

— Acha que Lusamine sabe de alguma coisa? — A morena inquiriu a certa altura, se inclinando preguiçosamente sobre o pescoço de sua parceira. — Quer dizer ... Você também notou, não é? As duas são muito parecidas. Talvez sejam parentes. Irmãs, até. Quem sabe?

A Charizard lhe dirigiu um olhar de impaciência por sobre o ombro, ao qual Calista respondeu com um sorriso apologético. Sabia que sua pokemon ainda detestava qualquer menção àquele assunto tanto quanto ela própria. O gosto amargo da derrota ainda feria o orgulho de ambas, mesmo tantos anos depois.

— Tem razão, tem razão. Preciso esquecer o que aconteceu. Pena que seja tão difícil. — A irmã de Ash suspirou profundamente, endireitando a postura e conferindo as horas no relógio em seu pulso. — É melhor voltarmos, já estamos voando há quase uma hora.

IceFire assentiu e as duas voltaram para a praia perto de Hau'Oli, se encontrando com Gary no mesmo ponto de onde haviam partido.

— Hey. — A morena disse ao saltar das costas de sua parceira. — E aí, descobriu alguma coisa?

— Nada. Achou aquele bicho feio?

— Nem sinal. Talvez tenhamos melhor sorte outro dia. — A irmã de Ash respondeu secamente, fincando as mãos nos quadris e encarando Gary com irritação. — Quanto a você ... Não pense que escapou só porque fiquei calada na hora. Rainha de Kalos, é? Caramba, Gary, eu nem estava mais competindo quando começamos a sair!

— Estava sim. Não se lembra? No dia do festival.

— Ah, qual é! — A morena rosnou, jogando as mãos para o alto em um gesto de frustração. — Isso foi muito antes de nos tornamos um casal oficial. Você não cresce nunca, garoto? Precisa mesmo ficar sempre se gabando de tudo?

— Certo, certo. — Ele cedeu impacientemente. — Será que não dá para simplesmente esquecer isso? De qualquer jeito, a Lillie exagerou também. Eu não disse que você era a Rainha de Kalos, só contei a ela que você estava na competição.

Isso fez a irmã de Ash hesitar. Os olhos dela encararam seu namorado como se quisessem ler sua alma.

— Sério? — Ela inquiriu enfim. — Você não está só tentando se safar?

— Nem por um segundo. — O rapaz garantiu. — Eu juro.

— Está bem. — A ex performer relaxou e esboçou um sorriso de desculpas. — Sinto muito por ter ficado com raiva de você.

— Tudo bem. Eu também tenho um pouco de culpa, afinal.

— Vamos deixar isso pra lá. — Calista deu de ombros, numa atitude bem humorada. — O que passou, passou. Certo?

— Eu concordo. — O rapaz passou um braço pela cintura dela enquanto voltavam a caminhar. — Está com fome? Pensei em irmos comer Malasadas.

Os olhos da morena brilharam ante aquela sugestão. Calista adorava Malasadas, e Gary sabia muito bem disso.

O casal caminhou em silêncio. Uma vez comprados os doces, os dois se acomodaram em um banco em uma das muitas áreas verdes de Hau'Oli.

— Então ... — Foi a irmã de Ash quem quebrou o silêncio. — O que é o Paraíso Aether?

— Uma espécie de cidade flutuante. — Gary respondeu. — Com vários laboratórios e até uma área de conservação para pokemons ameaçados.

— 'Tá, mas o que vocês fazem lá?

— Pesquisa. — Foi a resposta. — Sobre meio ambiente e como ele afeta certas espécies de pokemon. Algumas são sobre os pokemon em si, como evoluem e se desenvolvem ... E, é claro, tem alguns de nós que trabalham diretamente com os pokemon resgatados, quase como criadores. Eles são tratados, reabiltados e, se possível, devolvidos à natureza.

— E o que você faz?

— Pesquisa ambiental. Minha supervisora, Wicke, é demais. Você iria adorá-la. Ela parece um pouco com a sua mãe.

— Com a minha mãe?! — Calista exclamou, rindo com tanto gosto que quase engasgou com um pedaço de sua Malasada. — Não quero nem imaginar!

Gary caiu na gargalhada com a reação exagerada de sua namorada.

— Você vai gostar dela. — O rapaz garantiu após conseguir se controlar. — Isso é ... Se quiser ir até lá. Está tudo bem se achar que não vale a pena.

— Gary, eu praticamente cresci no laboratório do seu avô. — A morena o lembrou. — Sei melhor do que ninguém o valor de uma boa pesquisa. É claro que quero conhecer o Paraíso Aether. Quando podemos ir?

— Amanhã. Tudo bem pra você?

Calista meramente sorriu, assentindo em concordância. O dia seguinte chegou rápido e, como combinado, o casal pegou a balsa para visitar o Paraíso Aether logo no começo da tarde. Foram recebidos nas docas por uma mulher baixinha de rosto meigo emoldurado por cabelos castanho-claros cortados curtos e gentis olhos verdes escondidos atrás de óculos de moldura larga.

— Gary! — Ela chamou. — Que bom, eu ia mesmo ligar para você.

— Oi, Wicke. — Gary respondeu. — Aconteceu alguma coisa?

— Maggie está dando trabalho ao doutor Kelp. Pode dar uma olhadinha nela, por favor?

— É claro. A propósito, Wicke, esta é Calista. Minha namorada.

— Então você é a jovem de quem Gary vive falando. — Wicke disse, dirigindo um sorriso gentil para Calista. — Você é mais bonita do que ele descreveu. Venha, posso lhe mostrar o lugar enquanto seu namorado termina com a nossa pequena Maggie.

— Pode deixar essa comigo, Wicke.

A voz já familiar de Lusamine fez todos se virarem. A loira trocou um rápido sorriso de cumplicidade com a jovem kantoniana, mas não teve tempo de cumprimenta-la pois Lillie, que vinha ao lado da mãe, correu para Calista e jogou os braços ao redor da cintura da jovem, abraçando-a com força.

— Oi, Lillie. — A irmã de Ash riu ao retribuir o abraço da menina. — É bom te ver também. Boa tarde, Lusamine.

— Boa tarde, Calista. — Lusamine respondeu calorosamente. — Podem ir, vocês dois. Lillie e eu faremos o tour com a nossa visitante.

— Tudo bem, chefe. — Wicke respondeu. — Como quiser.

— Até mais, Caly. Nos vemos na área de conservação.

— Tudo bem. — A jovem acenou brevemente para seu namorado. — Até mais tarde.

— Vem, Caly! — Lilllie exclamou, tomando uma das mãos da nova amiga. — Os Pikipek bebês nasceram ontem à noite, você precisa ver! São tão fofinhos!

— Lillie! — Lusamine exclamou, embora sua repreensão tenha sido suavizada por um breve sorriso ao ver sua filha tão animada. — Devagar, querida. Temos tempo. Não precisa correr.

A garotinha enrubesceu com a repreensão e diminuiu o passo, mas não soltou a mão de Calista. Havia se afeiçoado rapidamente à treinadora kantoniana.

Lusamine não teve reservas durante o tour, conversando animadamente e respondendo a qualquer dúvida que a jovem morena manifestasse. A irmã de Ash ficou surpresa com a inteligência e o charme bem humorado da presidente do Paraíso Aether, tão cativada por ela que mal percebeu o tempo passar. Só foi trazida de volta à realidade quando o celular de Lusamine tocou.

— Me desculpe, é urgente. — A presidente disse. — Eu preciso ir.

— Posso ficar, mamãe?

— Pode, contanto que prometa se comportar.

— Eu prometo. — A garotinha respondeu, assentindo entusiasticamente.

— Você não se importa de fazer companhia a ela, Calista?

— Nem um pouco. — Calista sorriu. — Será um prazer.

Lusamine sorriu e acenou em despedida ao se afastar, deixando Lillie sozinha com sua nova amiga. A garotinha tomou a mão da morena mais uma vez.

— Vem, deixe eu te mostrar os Pikipek. — Ela disse. — Eles são tão fofos!

Calista simplesmente riu e deixou que Lillie a guiasse até uma árvore. Havia um ponto oco no local onde os primeiros galhos se juntavam ao tronco, e foi ali que os Pikipek fizeram ninho. A dupla observou os pokemon bebês em silêncio por vários minutos, encantada.

— Você tinha razão, Lillie. — A irmã de Ash declarou enfim — Eles são mesmo fofinhos.

— Não são? — A menina loira deu uma risadinha, tirando algo do bolso. — Ah, eu quase esqueci! Isso é para você.

A treinadora kantoniana ficou surpresa ao receber o presente, um delicado chaveiro de contas coloridas na forma de uma flor.

— Obrigada, Lillie. É lindo. Você mesma fez?

A garota loira assentiu, mas não teve tempo de dizer mais nada, pois foi nessa hora que Gary chamou Calista. A morena foi ao encontro de seu namorado.

— E aí ... — Ele disse — O que está achando?

— Até aqui tudo bem. — Foi a resposta zombeteira. — Lillie é uma excelente guia.

— Vocês duas se deram bem, pelo jeito. — O rapaz comentou. — Ei, baixinha, a chefe não estava com vocês?

— Ela teve que ir. — Lillie respondeu, emburrada por ter sido chamada de baixinha. — Aconteceu alguma coisa importante.

— Ela é sempre assim, huh? — Gary provocou, bagunçando os cabelos loiros da garota. — Pronta para ir, Caly? A última balsa sai daqui a pouco.

— Claro. — A jovem assentiu. — Estou pronta. Acho melhor você entrar, Lillie. Sua mãe não vai gostar de ver você aqui sozinha.

— Tudo bem. — A menina concordou, fazendo biquinho. — Até outro dia, Caly.

Calista acenou enquanto a criança entrava no prédio de vidro e aço nos limites da área de conservação. Ao erguer o olhar, a morena viu uma janela que não havia notado antes, no andar mais alto.

A luz evanescente do final da tarde se refletia no vidro, tornando quase impossível dizer com certeza, mas mesmo assim a jovem kantoniana pôde discernir uma silhueta esguia do outro lado do vidro, uma cuja postura reconheceu. Estava prestes a erguer uma das mãos e acenar um cumprimento para a presidente da Fundação Aether quando a figura deu um passo à frente.

Sob o novo ângulo da luz, seu rosto não estava mais envolto em sombras, e sim iluminado pelo sol que se punha. A sombra na janela se movimentou mais uma vez, erguendo uma das mãos em um aceno hesitante. Calista não retribuiu. Não teria retribuído nem que quisesse. Estava paralisada de surpresa, encarando a silhueta familiar de alguém que definitivamente não queria ver de novo.

— Ei, Caly. — Gary chamou, arrancando-a do transe. — Caly, você está bem?

A irmã de Ash se voltou para seu namorado, virando as costas para a mulher na janela.

— Estou bem. — Ela respondeu. — Ande, vamos logo antes que percamos a balsa.

O rapaz não discutiu. Não percebeu a mentira. E não se deu conta de que, enquanto caminhavam, um par de olhos cinzentos os observava daquela janela no último andar.

Gary acordou na manhã seguinte e nem se deu ao trabalho de abrir os olhos. Não ainda. Primeiro, deixou que a culpa por sua covardia o dominasse. Minutos depois, ao sentar na cama, viu um bilhete no travesseiro ao seu lado. Reconheceu imediatamente a caligrafia desenhada e elegante.

Saímos para treinar na praia. Não se preocupe com o Umbreon, ele resolveu nos fazer companhia. Voltamos logo.

A assinatura abaixo daquelas palavras tinha a forma das asas de um Dragonite, o que fez o rapaz rir alto. Anos atrás, Daisy e Calista costumavam organizar desafios para ele e Ash, que normalmente consistiam em caças ao tesouro com charadas e códigos espalhados por toda a cidade. Cada um dos quatro tinha sua própria assinatura, quase como um código secreto só deles.

O jovem pesquisador se pôs de pé, trocou de roupa e pegou uma maçã na cozinha ao sair, caminhando devagar na direção da praia. Calista havia ido o mais longe que pudera, até o paredão rochoso onde estiveram no dia anterior, na tentativa de se manter longe de olhos curiosos.

Somente Kyle, o Lucario, a observava. Mirabelle e Umbreon lhe faziam companhia, mas o casal preferira se aninhar sobre uma rocha para tirar uma soneca. Inari também a acompanhava, mas a Vulpix tinha a atenção fixa no oceano, curiosa sobre as ondas que iam e vinham.

Gary nunca havia visto sua namorada tão concentrada, o que era óbvio em cada linha de seu rosto. O rapaz observou enquanto ela dançava, errando o passo algumas vezes e tropeçando, sempre soltando uma imprecação ao recuperar o equilíbrio, até enfim parar por um momento para descansar.

A pausa foi breve. Ao retomar a coreografia Calista tropeçou mais uma vez, caindo de joelhos na areia. Com um xingamento audível ela se pôs de pé rapidamente. Isso se repetiu mais algumas vezes, sempre com o mesmo resultado. Gary a assistiu de longe, sem coragem de ir até ela e enfrentar a intensidade que praticamente sentia emanar de cada poro de seu corpo.

A morena tropeçou mais uma vez, xingando ainda mais alto. Mirabelle ergueu a cabeça e a olhou com preocupação. A jovem lançou-lhe um olhar irritado enquanto se punha de pé e endireitava a postura, encarando sua parceira de queixo erguido.

— Fique aí, Mira. — A irmã de Ash ordenou severamente, em um tom que não admitia discussões. — Eu posso fazer isso. Você também, Kyle, não se atreva! Proíbo vocês dois de interferir.

Ela reassumiu posição e recomeçou a coreografia, tropeçando novamente logo depois com uma exclamação audível de dor. Dessa vez Calista não conseguiu levantar e se deixou ficar de joelhos na areia. Suas mãos se contraíam em espasmos, formando punhos cerrados. Todo o corpo dela tremia visivelmente.

Gary correu até ela e Calista virou o rosto, escondendo sua expressão sob os espessos cachos negros de seu cabelo.

— Vá para casa. — Ela disse simplesmente, sua voz completamente sem emoção.

— Sem chance.

A morena não se voltou completamente, apenas virou o rosto o suficiente para fulminá-lo com o olhar. Aqueles olhos verdes brilhavam como se fogo os acendesse por dentro. Mas, através da raiva, Gary viu as lágrimas que se acumulavam.

— Vá logo, idiota! — A jovem rosnou. — E leve esse casalzinho com você.

O rapaz devolveu o olhar, tentando não se deixar ser intimidado. E tentando não se irritar com a teimosia dela. Ele sabia que, apesar de estar agindo como uma Pyroar pronta para o ataque, Calista estava a ponto de desabar.

— Sem chance. Não vou a lugar nenhum.

— Apenas vá, ok? — Ela gritou, girando o corpo para encará-lo de frente. — Não quero que ninguém me veja assim, muito menos você.

— Não vou embora, Caly. — Gary declarou gentilmente, se ajoelhando ao lado de sua namorada. — E você precisa parar de tentar ser forte o tempo todo, sua cabeça dura.

— Você não entende! — A voz dela falhou na última palavra, tremendo por causa das lágrimas. — Pensei que talvez você estivesse certo e houvesse alguma esperança ... Mas não há. Eu não posso voltar a dançar, Gary!

— Claro que pode. — O rapaz protestou, segurando o rosto dela entre as mãos para que Calista não desviasse o olhar novamente. — Esse ferimento não vai melhorar da noite para o dia, Caly. Você precisa ter paciência.

— Não me diga para ter paciência! — Ela rosnou, afastando suas mãos com dois sonoros tapas. — Estou cansada disso! Não aguento mais!

Calista se pôs de pé, grunhindo de frustração com a óbvia dificuldade daquele mero gesto. A dor fez os músculos de sua perna direita cederem novamente, e Gary a segurou para ajudá-la a manter o equilíbrio. Isso finalmente a fez atingir o ponto de ruptura, e a morena desabou em lágrimas.

O neto do professor Carvalho a abraçou, surpreso por um momento ao vê-la esconder o rosto em seu peito. Um longo, longo tempo se passou até ela conseguir parar de chorar. Mesmo depois, mais calma, a morena não ergueu o rosto. Ela ficou completamente imóvel, permitindo que seu namorado a amparasse, até sentir Inari cutucá-la com seu focinho gelado.

— Calma, pequenina. Eu estou bem. — A jovem garantiu, usando as costas de uma das mãos para limpar as lágrimas que ainda insistam em cair e oferecendo um sorriso à sua pokemon. — É sério. Não precisa se preocupar.

A pequena raposa branca ergueu a cabeça para olhá-la, encarando-a com descrença. Obviamente não acreditara em sua treinadora, nem mesmo por um segundo.

— Claro que ela se preocupa. — Gary rebateu. — Todos nós estamos preocupados com você, sua bobona.

— Eu sinto muito. — Calista disse gentilmente, se inclinando para pegar Inari no colo. — Eu nunca quis fazer vocês se preocuparem.

A Vulpix de Alola se esticou para lamber carinhosamente o rosto de sua treinadora, esfregando a bochecha contra a dela, ronronando baixinho de satisfação.

— Certo, certo. — A jovem disse, seus olhos brilhando com uma sutil centelha de prazer enquanto ela acariciava a pokemon. — Eu já entendi. Também amo você, raposinha.

A resposta apenas fez com que Inari se esfregasse contra ela com mais entusiasmo, aninhando o rosto na curva de seu pescoço. Gary ficou aliviado ao ver um sorriso sincero curvar os lábios de sua namorada. Pequeno e quase imperceptível, mas estava lá.

— Acho melhor voltarmos. — O rapaz disse. — Você precisa de um bom descanso.

Calista não protestou. Gary passou um braço pela cintura dela para dar-lhe apoio, mas logo percebeu que não seria o bastante. Calista mal conseguia andar, e seu corpo inteiro tremia sutilmente. O ensaio realmente cobrara um preço alto.

Inari saltou para o chão quando Kyle se aproximou, passando um braço pela cintura de sua treinadora, logo acima do de Gary. O rapaz e o Lucario trocaram um rápido olhar, então o neto do professor Carvalho meneou a cabeça em um agradecimento silencioso.

O grupo voltou para o chalé em silêncio e Calista se acomodou no sofá da sala de estar. Inari imediatamente pulou para seu colo de novo, e Mirabelle fez o mesmo. A morena riu baixo, passando um braço ao redor de suas duas pokemon.

— A que horas você saiu? — Gary inquiriu.

— Por volta das sete, eu acho. — A jovem respondeu, sua testa se vincando suavemente enquanto ela pensava na pergunta. — Não tenho certeza. Não conferi.

— E aposto que também não se preocupou em comer nada antes de sair.

A morena desviou o olhar, corando levemente. Gary interpretou o gesto corretamente, como a confirmação que era.

— Eu estava com pressa. — Ela justificou. — Além do mais, não pensei que acabaria demorando tanto.

— Você não tem jeito, sabia? — O jovem declarou, balançando a cabeça em reprovação. — Vou preparar o café da manhã, e você vai comer tudo. Chega de ficar bancando a durona.

— Está bem, general. — Ela riu baixo, a crise de choro na praia completamente superada. Pelo menos aparentemente. — Eu prometo.

Gary seguiu para a cozinha, resmungando baixinho consigo mesmo no caminho. Não conseguia acreditar no quão imprudente Calista podia ser, às vezes. Principalmente quando estava determinada a respeito de algo. Ela simplesmente ignorava todo o resto.

— Aquela cabeça dura bobona. Maldita mulher teimosa! — O jovem resmungou. — Juro, ela ainda vai acabar se matando. Que merda! Onde foi que coloquei o sal? Eu podia jurar que estava ...

Uma mão apareceu bem ao lado de seu braço esquerdo, segurando a saleira. Ao se virar, Gary deu de cara com Kyle.

— Valeu, cara. — O neto do professor Carvalho disse. — A Caly é maluca, não é?

O Lucario assentiu com um gesto enfático, também parecendo frustrado com as ações impensadas de sua treinadora.

— Aposto que você tentou convencê-la a ficar. — Gary comentou. — E ela não te ouviu, não é?

Kyle assentiu novamente, dessa vez dando uma risada baixa. Gary riu com ele.

— Imaginei que sim. A Caly sempre foi uma encrenqueira: teimosa como um Tauros e com o temperamento pior do que o de um Gyarados. Você devia ver as confusões em que ela se metia quando éramos mais novos.

Isso despertou a curiosidade de Kyle, que acenou com uma das mãos, fazendo sinal para que continuasse. Gary pensou por um momento antes de finalmente se decidir qual história contar. Escolheu uma sobre a vez em que Ash arranjara encrenca com um bando de Rattatas selvagens e Calista interferira, enfrentando o bando inteiro com os próprios punhos, socando e chutando os pokemon rato até que desistissem e fugissem correndo. Quando finalmente parou de falar, o Lucario ria às gargalhadas.

O neto do professor Carvalho olhou rapidamente para a porta, esperando ver Calista entrar a qualquer segundo, furiosa por ele estar contando aquele tipo de história, e mais ainda por estarem rindo às custas dela, mas tudo continuou na mais perfeita calma.

O motivo foi logo descoberto, assim que Gary foi chamá-la para o café da manhã: a morena havia caído no sono, com a cabeça apoiada no encosto do sofá. Mirabelle e Inari estavam enrodilhadas uma de cada lado de sua treinadora, e a jovem tinha uma mão sobre cada uma delas. Umbreon estava deitado aos pés de Calista. Uma das fitas azuis de Mirabelle envolvia a pata dianteira esquerda do Pokemon Luar, como se ambos estivessem de mãos dadas.

O rapaz riu consigo mesmo ante aquela cena, se acomodou ao lado de sua namorada e ligou a televisão, tendo o cuidado de manter o volume baixo ao zapear pelos canais. Calista acordou cerca de uma hora depois, e gemeu baixinho ao ver os olhares de reprovação de Gary e Kyle.

— Não comecem. — Ela resmungou, na defensiva. — Se disserem qualquer coisa sobre o que aconteceu, juro que estrangulo os dois aqui e agora.

Kyle rosnou, lançando-lhe um olhar irritado. Calista devolveu o gesto. Gary não conseguiu deixar de rir daquilo. O Lucario agia quase como um irmão mais velho, da mesma forma que Daisy costumava agir com ele próprio.

— Então ... — O rapaz inquiriu. — Como se sente?

— Melhor. — A morena corou novamente, constrangida. — Olhe, Gary ... Me desculpe por ter perdido o controle lá na praia. Aquilo foi ...

— Hey, está tudo bem. — Ele interrompeu casualmente. — Não acho que eu teria reagido tão diferente se a situação fosse comigo.

Ela respondeu somente com um "obrigada", mudando de posição para apoiar a cabeça em seu ombro. Gary passou um braço pela cintura dela, sentindo Calista se aninhar sob seu braço.

— Caly ... Só me lembrei agora ... A Dawn disse que você era boa em performances aéreas, não disse? Por que não tenta usar isso em vez de dançar?

— Não sei se seria possível. Passos aéreos são uma coisa, mas uma coreografia completa seria algo totalmente diferente. Nunca tentei nada parecido.

— Mas não acha que vale a pena dar uma chance?

A jovem ficou em silêncio por um momento, pensativa.

— Você tem razão. — Ela respondeu enfim. — Na verdade ... Acho que tenho um número que inventei como coordenadora em Sinnoh que posso adaptar. Mas vai ser muito, muito difícil.

— Se tem alguém que pode fazer isso, é você. — Gary garantiu. — Mal posso esperar para ver.

— É melhor eu começar a treinar. Inari e Arya precisam ...

— É melhor você tomar café da manhã primeiro. — O rapaz interrompeu severamente. — Sem discussão.

— Está bem, está bem. — Calista riu, sacudindo Inari gentilmente para acordá-la. — Vamos lá, raposinha. Hora do café da manhã.

A Vulpix se pôs de pé, espreguiçando-se rapidamente antes de seguir sua treinadora até a cozinha. As duas logo voltaram à sala de estar, apenas para que Calista avisasse que estavam saindo para treinar.

E foi assim todos os dias depois disso, por quase uma semana. A morena e suas pokemon levantavam cedo para treinar, embora Gary estivesse proibido de acompanhá-las. Calista pessoalmente cuidara disso, ameaçando nunca mais sequer olhar em sua direção se ele se atrevesse a desobedecer àquele pedido.

À tarde, o grupo explorava Alola. O neto do professor Carvalho acompanhava com satisfação a melhora no ânimo de sua namorada conforme os dias se passavam. Apenas Mirabelle não parecia contente. Quanto mais Calista dava atenção a Inari, mais mal humorada e implicante a Sylveon ficava. Não que a morena parecesse perceber isso.

Uma semana depois, Gary acordou e se viu sozinho no chalé novamente. Não precisou de bilhetes para saber onde Calista estava.

Trocando rapidamente de roupa e pegando uma maçã para comer no caminho, o jovem seguiu para o paredão rochoso no final da praia. Não viu sua namorada a princípio, mas logo reparou em IceFire voando baixo sobre o oceano. Kyle estava sentado em algumas rochas na beira da água, assistindo como juiz.

Gary não pôde ter certeza por causa da altura, mas podia jurar que Calista ergueu uma das mãos em um aceno quando a Charizard voou em rasante sobre suas cabeças.

Ela e Arya saltaram das costas de IceFire, mergulhando no oceano em perfeita sincronia. A Popplio usou Aqua Míssil para trazê-las de volta à tona. Inari usou Pó de Neve na água que Arya espirrou com a cauda, criando cristais de gelo que caíram de volta no oceano, cercando as duas como diamantes.

Calista foi subitamente erguida da água, envolta em uma aura magenta que brilhava diáfana sob o sol da manhã. A morena ficou suspensa acima das ondas por alguns segundos, a aura magenta espiralando ao seu redor como se fosse uma nuvem colorida, dançando no ar até se estender às suas costas como asas de borboleta. Mas tudo isso aconteceu muito rápido, pois logo em seguida IceFire desceu em rasante mais uma vez, pegando-a quando seus pés estavam a milímetros de tocar na água. Calista se equilibrou sobre sua parceira, de pé como uma surfista profissional, algo que Gary definitivamente não entendeu como ela conseguia fazer.

Arya usou Cachoeira, mirando o ataque tipo Água para cima. O resultado foi uma chuva de gotículas de água. Inari então usou Clarão Deslumbrante, e a luz do ataque tipo Fada fez com que um arco-íris se formasse.

— Perfeito! — Gary ouviu Calista exclamar, seu tom mais cheio de vida do que havia estado desde a noite das performances. — De volta para a praia, meninas.

IceFire pousou na areia a poucos centímetros de onde Kyle e Gary estavam. O rapaz estendeu uma das mãos para ajudar Calista a descer, mas ela simplesmente sorriu e saltou para o chão, caindo com graça sobre a perna esquerda de modo que o movimento não lhe causasse dor.

Gary teve que admitir, vê-la tão determinada e bem disposta o impressionou. Era por aquela mulher que se apaixonara, pela jovem cheia de vida que jamais desistia até conseguir o que queria.

— E então? — Ela inquiriu, passando uma das mãos pelos cabelos ainda úmidos por causa do ataque Cachoeira, tentando domar as mechas despenteadas pelo vento. — O que acharam, garotos?

— Vocês estavam ótimas. — Gary respondeu, opinião que Kyle corroborou com um aceno enfático. — Aposto que ninguém teria chance contra uma performance como essa.

— Bobo. — A morena riu, mas foi claro seu prazer com aquelas palavras. — Nenhum auditório seria grande o bastante para uma performance como essa. Ainda precisamos adaptar. Temos muito trabalho pela frente.

— E que tal o píer aqui em Hau'Oli? Um monte de artistas se apresenta lá. Vocês podiam tentar.

— Na verdade ... Essa ideia é muito boa. Eu não tinha pensado nisso. — O sorriso da morena se alargou e então, para surpresa de Gary, ela se inclinou e lhe deu um selinho. — Obrigada, Gary.

— De nada. — Ele respondeu, sentindo-se corar. — Mas ... Pelo que você está me agradecendo, exatamente? Se é só pela ideia do píer, tenho certeza de que você mesma teria pensado nisso.

— Não, não é só por isso. Obrigada por me apoiar. Honestamente ... Acho que eu teria desistido se você não me fizesse lembrar por que me apaixonei pelas performances.

— Isso veio de você, Caly. — Ele lhe garantiu — Se tenho algum crédito, é só o de mostrar o que você já sabia.

Ela sorriu mais uma vez e passou os braços ao redor de sua cintura. Gary envolveu-lhe os ombros, puxando-a para mais perto.

— Quero que você vá comigo. — Ela disse. — Ao píer. Quero que esteja lá para assistir.

— Pode acreditar, eu não perderia isso por nada. Quando quer se apresentar?

— Hoje. Agora. — Ela respondeu com um largo sorriso. — O que acha, Arya?

A Popplio se ergueu sobre as nadadeiras traseiras, assentindo entusiasticamente, com um largo sorriso que comprovava sua aprovação àquela ideia. IceFire revirou os olhos com enfado, mas concordou. Inari recuou um passo, insegura, porém um olhar para a empolgação no rosto de sua treinadora foi o suficiente para fazê-la assentir também.

O grupo voltou ao chalé para que Calista trocasse de roupa. Ela resolveu ser simples, escolhendo um short jeans e uma camiseta sem mangas de cor púrpura que ficava justa, revelando sua silhueta.

— E aí? — Ela inquiriu, girando lentamente para que Gary pudesse vê-la melhor e de todos os ângulos. — O que você acha?

— Você está ótima. — Foi a resposta. — Mas tem certeza de que quer fazer isso hoje? Pode esperar, você sabe disso.

— Sem chance! — O sorriso dela era enorme, pura empolgação. — Estou louca para fazer isso! Além do mais, vai ser só por diversão. Não há nada em jogo aqui. Sem pressão.

— Acho que essa era a chave, huh?

Ela o olhou inquisidoramente por sobre o ombro enquanto prendia os cabelos negros em um rabo de cavalo alto. 

— O que você quer dizer com isso?

— Que a pressão estava te atrasando. — O rapaz respondeu. — Até deixar de se preocupar com os outros e começar a fazer isso só por si mesma, você não parecia tão confiante.

— É, talvez. Acho que eu realmente precisava de um novo padrão no qual trabalhar.

— Acho que sim, você parece ótima agora. E aí, pronta para ir?

— Pode apostar!

Inari pulou para os braços de sua treinadora enquanto o casal deixava o chalé. A morena a abraçou, esperando acalmá-la um pouco. 

— Tem certeza sobre isso? — Calista inquiriu, acariciando aquelas orelhas brancas macias como cetim. — Não precisa fazer se não quiser. Mirabelle pode ...

A raposa branca soltou uma exclamação de protesto que a interrompeu, batendo de leve no ombro de Calista com uma de suas patas.

— Tudo bem, já entendi. Você está nessa. — A irmã de Ash mais uma vez lhe acariciou atrás das orelhas, e a pokemon suspirou de prazer. — Relaxe e se divirta, ok? Não precisamos ser perfeitas. Tudo bem se você errar.

Gary, que caminhava ao lado de sua namorada, nem conseguiu acreditar no que ouviu. Pelo que vira dela em Kalos, a jovem kantoniana era o tipo de pessoa que exigia nada menos do que perfeição de si mesma e suas pokemon quando subia ao palco. Aliás, isso era algo que a própria Calista admitira. Ela realmente havia mudado seu modo de pensar, se estava sendo sincera.

Àquela hora, bem no meio da manhã, a praia ao redor do píer estava cheia. A morena montou em IceFire e Arya pulou para seu ombro, empoleirando-se ali com habilidade. O braço livre da jovem envolvia Inari protetoramente. Gary lhe dirigiu um olhar reprovador ao ver que ela não se preocupara em se segurar de forma alguma. Parecia totalmente alheia ao risco de cair.

— Não se preocupe, seu bobo. — A jovem disse ao reparar no gesto de seu namorado. — IceFire nunca me deixaria cair. Não é, parceira?

IceFire soltou um suspiro exasperado em resposta, como se a mera possibilidade fosse ridícula. Calista riu com gosto daquela reação.

A Charizard decolou com a velocidade de uma bala lançada por um revólver, disparando um Lança Chamas na direção do céu e soltando um rugido poderoso. Isso atraiu a atenção das pessoas lá embaixo, e fez Calista sorrir. Sua garota não resistia a se exibir sempre que tinha uma chance.

Assim que tiveram certeza de terem atraído a atenção que queriam, a pokemon tipo Fogo voou ainda mais alto. Calista deu uma rápida olhada para seu ombro direito, vendo sua parceira secreta empoleirada ali.

A morena soltou Inari, que se empoleirou na depressão na base do pescoço de IceFire, onde as enormes asas da Charizard juntavam-se a seu corpo e então, confiante, a jovem mergulhou no vazio em direção ao oceano, juntamente com Arya. Como havia feito antes, a Vulpix usou Pó de Neve para transformar os esguichos de água em cristais de gelo.

As duas mergulhadoras ressurgiram e a Popplio deu um salto incrível, descrevendo um salto mortal acima das ondas enquanto IceFire voava baixo, estendendo a cauda na hora certa. Calista a segurou e uma chicoteada do membro poderoso fez a morena voar pelos ares, se encontrando com Arya no ponto mais alto do arco descrito pela pirueta dupla.

Foi então, enquanto caíam novamente na direção da água, que Arya usou Cascata, envolvendo-as em espirais de água cristalina que reluziam ao sol. Com um gesto de suas barbatanas a Popplio disparou o ataque na direção do céu, enquanto Inari usava Clarão Deslumbrante, criando um arco-íris que coincidiu com o momento exato em IceFire voava em rasante e aparava a queda de Calista pouco antes que a morena voltasse a cair na água.

A jovem performer não hesitou, estendendo o braço esquerdo paralelo a seu corpo. Arya se empoleirou ali, se equilibrando sobre as nadadeiras traseiras com habilidade.

— Agora. — A morena sussurrou, sabendo que seria ouvida mesmo através do rugido do vento. — Hora da melhor parte.

A aura magenta a envolveu mais uma vez, invisível para todos que a observavam à distância. Até mesmo Gary ficou surpreso com o que sua namorada fez a seguir: ela ficou de pé como uma surfista profissional, de braços bem abertos. Inari saltou com agilidade e se empoleirou sobre o braço direito de sua treinadora, usando Raio da Aurora para envolver a pirâmide formada pelas quatro em uma luz multicolorida, que parecia refletida por um prisma.

Quando a jovem e suas pokemon pousaram na praia, uma ovação estrondosa irrompeu das pessoas que assistiam. Deslizando graciosamente para a areia, Calista e suas três companheiras cumprimentaram os espectadores com a reverência típica dos artistas.

Elas foram cercadas. Todos queriam saber quem era aquela jovem. Gary viu IceFire empurrar sua treinadora discretamente com uma de suas enormes patas, e podia jurar que sua namorada havia corado. É claro. Ela não esperava aquela resposta. Não esperava ser tão bem sucedida logo na primeira tentativa.

Gary riu, vendo como todos se apinhavam ao redor de Calista e seus pokemon. Aquelas garotas certamente sabiam como atrair os holofotes.


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