—Eu nunca deixei de te amar, Sasuke.

x-x

Quando aquelas palavras entraram pelos ouvidos de Sasuke, foram convertidas em sinapses nervosas e interpretadas pelo seu cérebro, foi como se num instante de insanidade todo o ódio que ele sentia, e que ele poderia jurar que era o maior de sua existência, assim como todo o desejo de vingança e rancor guardados, fossem apagados com uma borracha de emoções de felicidade explosiva.

Foi como se sua memória ficasse em branco: de repente, não conseguia lembrar de nada do que acontecera nos últimos anos de sua vida, só conseguia focar naquelas palavras, e naquele sentimento que acabava de descobrir: que Itachi o amava.

Era simplesmente incompreensível o que acontecia com todo o seu corpo, as únicas memórias que agora habitavam sua mente eram as de sua infância: Itachi o ensinando a lutar, Itachi o levando para vila de mãos dadas, Itachi passeando com ele no colo, Itachi o abraçando, Itachi passando as mãos nos seus cabelos, Itachi o olhando nos olhos com ternura, Itachi pondo comida em sua boca, Itachi dando petelecos em sua testa... Conseguia sentir o cheiro dele, ainda perto, suave como madeira âmbar. Seu coração bombeava sangue cinco vezes mais rápido do que o normal, o que fazia sua respiração sair fora de ritmo. Conseguia sentir o formigamento no lábio do beijo tenro que o irmão dera em seus lábios.

Ele o beijara na boca.

Não na testa, não na bochecha, não no nariz. Na boca.

Mas, claro, o que é perfeito não dura para sempre, então essa magia durou apenas alguns segundos, e as memórias voltaram em um turbilhão.

Aquele era Itachi Uchiha.

A realidade caiu em sua cabeça, e foi como se o chão literalmente estivesse se partindo e o engolindo para dentro dele.

—Que tipo de piada doentia é essa? -Perguntou, empurrando Itachi violentamente para longe, sentindo-se furioso, de uma fúria tão grande que jurava que tinha se tornado um jinchuuriki e tinha um demônio dentro de si, porque ouvir aquilo havia sido como ter quinhentos punhais atravessando cada fibra de seu músculo, preservando apenas suas partes vitais. -Você acha que isso é engraçado, Itachi? - Não conseguia acreditar. Recusava-se a crer. Itachi ainda estava com os olhos molhados. Era muita empáfia até para alguém como Ele dizer uma coisa daquelas apenas por brincadeira, porque era a brincadeira mais sádica que Sasuke já tinha presenciado em sua vida. Porque não tinha como ser verdade, não é? Não podia ser verdade. -Eu não estou rindo, babaca. -Fez questão de utilizar todo o desprezo que conseguiu reunir naquelas palavras.  

Itachi apenas suspirou.

—A única piada sou eu. Por ter estragado meus planos. -O moreno parecia realmente triste. Chutou uma pedra, como se procurasse uma distração da angústia que tomava conta de seus pensamentos. - Por ter fracassado em esconder isso de você...

As borboletas no estômago de Sasuke começaram a dar voltas, e ele pensou por alguns segundos que ia passar mal e vomitar. Não só havia sinceridade naquele timbre, como, sim, durante aquela conversa tinha sido Sasuke quem cismara que Itachi tinha algo a esconder, quem queria provar que havia algo que ele sentia... Mas não estava preparado para aquilo assim, aquela revelação direta, estampada em sua cara. Tinha entrado em estado de negação.

—Bela forma de mostrar seu amor... Tentando me matar!

O moreno mais velho, agora completamente recuperado de seu abalo sentimental e anteriores lágrimas, deu um risinho de diversão.

—Você está vivo, não está, otouto? – Ele sabia o quanto Sasuke se afetava quando o chamava assim. -E sem nenhum arranhão. Sobreviveu ao Tsukiyomi, Amaterasu e Susano’o...

—Isso porque eu treinei durante anos! -O mais novo ficou indignado. Itachi listava suas habilidades nos dedos, como se ele não lembrasse da luta e como se não fosse bom o suficiente para ele. - Derrotei membros da sua amada Organização! -Citou, lembrando-se daquele loiro metido da Akatsuki que tinha detonado. -Fiquei páreo para você!

O moreno cruzou os braços e balançou a cabeça de um lado para o outro, em evidente contrariedade.

—Você realmente ficou forte, Sasuke. E eu estou orgulhoso de você. -Ele falou, com um tom de irmão mais velho, um tom que ele usava com Sasuke quando eles eram crianças e o mais novo vivia pedindo por sua aprovação. - Mas você não tem poder suficiente para bater o Mangekyou Sharingan. Você sabe que o que eu queria realmente fazer era tirar Orochimaru de você...

—Foda-se o seu orgulho e os seus olhos que você roubou! E foda-se a porcaria do Orochimaru! Eu não precisava dele! -Protestou, completamente irritado pela provocação causada pela “aprovação de irmão”.

—Eu concordo, obviamente.

Ok, Sasuke tinha de admitir que na batalha ele realmente tinha ficado surpreso por Itachi ter selado Orochimaru com a Totsuka. Se fosse analisar friamente, aquela poderia ser considerada uma “prova de amor”, pois o livrara eternamente do ex-Mestre. Mas poderia também ser só pendências do próprio Itachi com Orochimaru.

Não era suficiente.

Então lembrou-se de sua conversa anterior. E das reações frias que ele apresentara quando perguntara acerca de seus sentimentos.

—Antes, quando eu perguntei sobre o ciúmes... Você disse que “não sentia nada”. Você foi embora. -Atacou. Queria ver como Itachi se livraria daquela acusação, agora. Sendo que não fazia muito tempo que tinha dito o completo oposto.

Mas ele era sagaz. Voltou Sasuke contra si mesmo.

—E você sabia o que fazer para que eu voltasse. Berrar coisas sobre casamento com o Uzumaki.  

Ele estava certo. No fundo de seu coração, em algum ponto de sua alma, Sasuke sabia que se falasse que amava Naruto, aquilo perturbaria Itachi, e ele voltaria. Mas como Itachi sabia disso também?

—Isso ainda não faz sentido para mim!

—Mesmo assim, você sabe que é verdade.

Todas as partículas do corpo de Sasuke se agitavam quando cogitavam a possibilidade de ser verdade, então ele não podia ter a certeza interior de que era verdade, certo? Porque era loucura! As provas faziam sentido sim, de alguma forma bizarra, e havia aquele nó na sua garganta, as reviravoltas no seu estômago, e tremor nas mãos, mas eram sintomas que ele preferia simplesmente ignorar.  

—Eu não sei de nada. E quanto aos outros anos em que você apenas demonstrou ódio e desprezo por mim?

Queria ver como o irmão responderia isso. Quer dizer, talvez ele tivesse ficado estranho em uma luta, mas o que isso compensava pelo resto de sua existência? O que isso compensava por todo abandono? O que isso compensava por anos e anos de sofrimento que Sasuke passara chorando e querendo morrer, pensando no quanto era miserável e infeliz?  

O moreno mais velho ficou calado por um bom tempo, distante e contemplativo. Passou a mão nos olhos, depois nos cabelos, mordeu os lábios. O pesar e os próprios conflitos internos pareciam atormentá-lo, era como se estivesse em uma discussão consigo mesmo dentro da própria cabeça. Encarou Sasuke com profundidade.

—Fingir que não te amava foi uma das coisas mais difíceis que já tive de fazer na vida. -Olhava bem nos olhos de Sasuke enquanto dizia essas palavras, e havia um brilho de dor neles, que realmente conseguia transmiti-la. - Mas sou bom em desempenhar um papel.  

Aquela sentença pairou no ar, criando uma atmosfera ainda mais tensa.

—E como saber se você não está só desempenhando um papel agora? -Era isso o que mais atormentava Sasuke. Ele havia apostado no irmão uma vez, e isso era o motivo de toda a sua ruína.

—Pergunte ao seu coração, otouto. -De novo, aquele jeito doce de chamá-lo, que só fazia tornar as coisas piores. -O que ele te diz?

Sinceramente, o coração de Sasuke não era uma fonte confiável naquele momento. Golpeava fortes rajadas de sangue, e cada uma delas parecia dizer um misto de “eu confio em você” e “eu te amo também”. Por isso preferiu dizer as palavras do que restava de sanidade em sua mente e não tinha sido consumido por sentimentos potencialmente destrutivos.  

—Ele me diz que você é Itachi Uchiha. O homem que eu sempre odiei. Meu irmão mais velho. Que assassinou nossos pais. E o nosso clã. -Sim, essas eram as palavras certas, as palavras que precisava jogar na cara dele antes de sequer pensar em acreditar em suas palavras. -E quanto a isso?

Observou as pálpebras de seu irmão mais velho se fecharem. Por um momento, era como se ele quisesse fugir daquilo. Somente desaparecer na escuridão que tinha ficado em seus olhos.

Mas depois ele os abriu e confirmou.

—É a realidade dos fatos.

Sasuke cerrou os punhos de ódio. Por um momento tinha se deixado ter a esperança de ele dizer “não, não era eu, foi tudo um genjutsu” ou “era um clone, alguém fingindo ser eu”. Mas ali estava seu irmão mais velho assentindo pacificamente, naquele jeito monótono e irritante de sempre.

—Que tipo de amor é esse em que você me deixa órfão?! Completamente abandonado no mundo?! -Sasuke estava jogando na cara dele tudo o que mais o mais machucava, nas profundezas de seu coração, tudo que sempre quis dizer. Queria fazê-lo experimentar a sua angústia. Lembrá-lo de todos os seus pecados e crimes. Lembrá-lo do Vilão que ele era.

—Eu não espero que você compreenda. -Itachi tinha um conformismo piedoso em seu timbre. - E muito menos que me perdoe.

—Então pelo menos me conte qual foi o motivo por detrás disso! Diga o porquê de toda essa loucura! Diga o porquê da pessoa que eu mais adorava no mundo inteiro ter se tornado o meu pior inimigo!  -Nesse momento, Sasuke não conseguiu evitar sua pior fraqueza, pois aquela conversa estava sendo extremamente torturante para ele, reviver mentalmente todas as suas angústias, e esfregar todas aquelas verdades na cara de Itachi. Lágrimas de ódio se acumularam no canto de seus olhos.

Os músculos do rosto de Itachi se contraíram em profundo desconforto. Seus olhos eram o exato retrato da palavra “sinto muito”.

—Essa é a única coisa que não posso fazer, Sasuke.

—Aham. -O moreno debochou sarcasticamente, secando, completamente raivoso, uma das lágrimas que escapara. -E mesmo assim você espera que eu acredite que você continuou “me amando” secretamente durante todos esses anos?

—Você já acredita. -Itachi parecia plenamente convicto de suas palavras. - E eu tenho a impressão de que você não deixou de me amar também...

Por um momento, Sasuke recusou-se a entender o que o irmão estava dizendo. A informação não foi processada. Ficou com um ponto de interrogação na cara, por longos minutos. Mas quando as conexões cerebrais foram feitas, seu sangue ferveu como se fosse lava. Aquela postura. Aquela ousadia...Como ele tinha coragem...

—O QUÊ?!

O moreno mais velho mantinha-se calmo e indiferente.

—Eu estive observando todas as suas reações enquanto te beijava. Seu pulso acelerado. Suando frio. Pupilas dilatadas. Bochecha corada. São provas de que uma pessoa está apaixonada.

Falando em bochechas coradas, as de Sasuke imediatamente ficaram com esse comentário. Ele jamais imaginou que pudesse estar sendo analisado fisicamente pelo mais velho. E pior, jamais imaginou que essas fossem as reações que seu corpo apresentara quando este o beijara. Aquilo era um absurdo vergonhoso e horrível, e era simplesmente inaceitável.

—Como você ousa...Insinuar que...Eu não estou apaixonado por você!!! Isso é...Nojento! Nós somos irmãos.

Itachi riu quando ele mencionou esse fato, como se fosse a coisa mais irrelevante do mundo, e ignorou a cara de nojo que Sasuke se esforçava para fazer ficar bastante exagerada e visível.

—Você é obcecado por mim.

—Obcecado em arrancar sua cabeça! -Protestou Sasuke, como se isso fosse óbvio, enquanto revirava os olhos. - Em te explodir com milhões de Chidoris! Queimar você com Katons! Eu te odeio!

Itachi não reagiu a suas ameaças de ataques violentos, apenas levantou uma sobrancelha e coçou o queixo.

—Vou provar que você está errado em 10 segundos.   

Então fez uma coisa que Sasuke definitivamente não estava preparado para presenciar. Foi tudo muito rápido. Virou-se de costas e despiu o robe azul que vestia por de cima do colete, depois despiu o colete, ficando só de calças. Arrancou a bandana e soltou o elástico que prendia seus longos cabelos negros, deixando-os cair pelas suas costas. Ignorou os “O que você está fazendo, seu louco?!” de Sasuke e virou-se de frente de novo.

A boca de Sasuke abriu-se ligeiramente em um ‘o’, num ato completamente involuntário, que ele não soube disfarçar. Ficou paralisado, seus músculos pararam de responder aos comandos cerebrais e seus olhos se arregalaram, com as pupilas do dobro do tamanho.

Itachi nunca soltava os cabelos. Ele sempre pedia para ele, quando era mais jovem, para vê-lo com eles soltos, mas o mais velho nunca deixava.

Eles eram muito longos e estavam voando contra o vento da noite, como se pertencessem a ela. E bem, aquilo era... estupidamente...ridiculamente...Belo.  Ele não tinha nem palavras para a beleza! Podia ficar horas no dicionário procurando, mas não teria como descrever o que era aquela cortina de cabelos cor de ônix brilhantes emoldurando seu rosto pálido, de feições sedutoras. A pele marfim fazendo um contraste meteórico com os olhos escuros.

Sem falar que nunca mais o havia visto sem vestes e era impressionante o quanto de músculos ele havia ganhado, naquele tempo todo. Seu físico era impecável. Sasuke nunca tinha se considerado gay, nem nada do tipo. Na verdade, não era como se tivesse interesse em alguém, mas aquele corpo causava reações físicas que ele nunca imaginou que sentiria na vida.

Mas não teve muito tempo para contemplá-lo. Em menos de 2 segundos, ele se moveu como um gato à espreita, e foi parar perto de si. Sentiu duas mãos o envolverem por detrás, tocarem em sua barriga que também estava despida, por causa da luta, e o calor da pele nua de Itachi encostando nas suas costas. Em seguida, sentiu a pressão dos lábios dele contra sua nuca, fazendo seu corpo se arrepiar desde o dedão do pé até o último fio de cabelo, quase que instantaneamente. Ele foi abrindo a boca e girando a língua no local por alguns segundos, em movimentos absolutamente enlouquecedores, e todos os músculos de Sasuke se retesaram numa sensação de prazer e êxtase absoluto. Estava completamente consumido pela sensação de entorpecimento causada por aquele toque.

 A mão direita de Itachi deslizou lentamente de sua barriga para um lugar um pouco mais abaixo, onde ele pôde sentir que Sasuke estava duro feito pedra.

—E agora me parece que temos a prova final  ...