Kate destrancou a porta e assim que a abriu se deparou com Richard Castle em pessoa. — “Socorro!” – ela pensou e, numa reflexão rápida, constatou que ele era muito mais bonito e mais alto do que se recordava. Esta análise silenciosa já durava alguns segundos quando foi interrompida pela voz dele 

—  Gosta do que vê, Dra. Beckett? Quer que eu faça uma pose para você tirar uma foto? – ele zombou e ambos riram e isso foi ótimo, pois aliviou o clima tenso.

— Você é muito confiado, Sr. Castle! – ela se divertiu com a zoação dele.

Sorridente e segurando duas garrafas de vinho, Castle se encostou no batente da porta, fingindo cansaço — Ainda estou do lado de fora, viu, Dra. Beckett?

Kate se afastou um pouco e, de modo bem teatral, ela fez uma reverência com o braço direito o convidando a entrar – Seja bem-vindo à minha humilde residência, Vossa Majestade!

Castle passou por Kate e ambos estavam sorridentes.

Aquelas brincadeiras tornaram o ambiente mais descontraído, pois ambos estavam tensos com o reencontro, cada um com seus motivos.

— Fique à vontade, Castle! – ela o recebeu de modo acolhedor, encaminhando-o para o sofá.

Ao se sentar ele olhou de um jeito afetuoso para Kate — Obrigado! – e logo tirou do bolso o seu telefone celular — Kate, não querendo ser apresado, mas já sendo... – ele sorriu – Que tal a gente fazer logo o pedido do nosso jantar, eihm?

— Ótima ideia! — Kate concordou.

— Então, vamos pedir... – ele interrompeu o que falava para mostrar as duas garrafas de vinho que segurava— Bem, como eu não sabia o que você iria querer comer, eu trouxe uma garrafa de vinho branco maravilhoso, de uma vinícola italiana, mais especificamente, da região da Toscana. A outra garrafa de vinho tinto francês, de uma safra especial... De Bordeaux, Sudoeste da França, na confluência dos rios Garonne e Dordogne. É a região vinícola mais importante da França. De lá saem os grandes vinhos do mundo.

— Vejo que entende de vinhos, Castle. É um colecionador?

— Sou apenas um apreciador de vinhos e tenho preferência pelos melhores e isso, com certeza, terei prazer em compartilhar com você, Kate. – ele se expressava com muita naturalidade e sem qualquer traço de esnobismo. Demonstrou ser uma pessoa normal como ela.

— Também aprecio um bom vinho, apesar de não entender nada sobre as vinícolas ou suas origens e vou gostar de conversar sobre isso com você. Adoro aprender coisas novas.

— E eu vou gostar bastante disso, Kate. Bem, voltando a falar sobre o nosso jantar... Você tem uma preferência por algum restaurante ou algum prato em especial?

— Que tal massa? – ela sugeriu.

— Ah, parece que você leu meus pensamentos. – Castle comentou.

Juntos, passaram a conversar sobre o tipo de massa que escolheriam até que chegaram a uma em especial. Feito isso, ele fez o pedido e assim que concluiu, ele anunciou — Nosso jantar vai chegar em quarenta minutos.

— Ah, que ótimo!

Eles riram e logo Castle voltou a falar – Kate, eu trouxe os vinhos já gelados, mas acho bom deixá-los no refrigerador para manter a temperatura.

— Claro! – Kate aquiesceu e indicou o local onde o refrigerador estava.

Ele retornou ao sofá depois de colocar as duas garrafas de vinho na geladeira.

— Seu apartamento é muito aconchegante, Kate. – Castle elogiou — A porta e as vigas aparentes em aço são a marca registrada tipicamente industrial dos lofts nova-iorquinos, reforçado pela cozinha estilo aberta que multiplica o espaço. Gosto muito desse estilo. – Castle olhava em volta, mas logo concentrou-se nos olhos de Kate.

— Ah, eu também adorei este loft no primeiro momento em que o vi. Este espaço é mesmo bem amplo. – ela apontou para a sala de jantar, a sala de estar e a cozinha integrada — Só tem um quarto. Eu moro só, então, é o tamanho ideal para mim. E o melhor é que fica bem perto do hospital.

Como Richard Castle possuía fábricas de móveis, a decoração do apartamento de Kate pareceu-lhe muito bonita e harmônica — Você decorou sozinha, ou...

— A irmã de uma colega de faculdade é Decoradora de Interiores e me deu todas as dicas... Aliás, melhor dizendo, ela mediu todo o espaço, fez todo o projeto, foi comigo comprar os móveis e me ajudou a encomendar outros.

— Excelente! Eu também moro em loft não muito distante daqui. Vamos marcar um dia para você jantar lá em casa, aí você vai conhecer.

— Gostei da ideia.

A comunicação entre eles seguia agradável e os assuntos surgiam e se desenvolviam muito facilmente como se eles fossem velhos amigos.

Castle percebeu que a televisão estava ligada com uma imagem pausada — Hey, você estava assistindo o que?

— Ih, nem dei conta de que esqueci de desligar. – ela pegou o controle remoto e desligou a TV no exato momento em que o jantar chegou.

Sentaram-se à mesa para fazer a refeição, sem esquecer de fazer o brinde especial com o vinho escolhido.

Conversavam como se se conhecessem a vida toda. Os temas fluíam com muita naturalidade. E assim o jantar transcorreu da melhor forma possível e ele a ajudou a retirar os pratos e as taças da mesa, inclusive a lavar tudo que usaram, mesmo ela dizendo que não precisava. Ao final desta tarefa, foram se sentar no sofá.

— Como está a Alexis? – Kate puxou assunto — As dores passaram de vez, não foi?

— Ah, a Alexis está ótima! Ela não se queixou das dores depois dos medicamentos que você prescreveu.

— Que bom!  Você está lembrado que ela tem que retornar para uma revisão, não é?

— Sim. E você vai estar lá, Kate? Será que não vai estar de folga? – ele perguntou mesmo sabendo da resposta, pois consultara a planilha com a escala de trabalho dela que fizera no dia em que se falaram ao telefone. Mas isso ele não revelaria, pelo menos naquele momento.

— Eu estarei lá, sim. Estarei no plantão em horário administrativo. E minha folga será no dia seguinte à consulta de Alexis. Terei dois dias de folga e, depois do descanso, estarei lá no plantão quinzenal de vinte e quatro horas.

— Você já tem tudo na cabeça...

— Sim. Já estou há um ano nisso.

— Eu estou lembrado da revisão da Alexis, sim, e minha filha também, viu? Ela adorou você, Kate e já tocou no seu nome dezenas de vezes... Ah, a Dra. Kate é linda!... Ah, a Dra. Kate é tão boazinha!... Ah, a Dra. Kate cuidou do meu braço! – ele imitava a voz da filha, todo cheio de felicidade. — Todo dia a Alexis me pergunta que dia é que ela vai ver você novamente.

— Fico feliz que ela esteja bem e que tenha gostado do meu atendimento. Mas quero te dizer que ela também é um amor, Castle. Mesmo sentindo dor, ela foi muito compreensiva, além de ser muito doce e educada. Eu adoro crianças... Amo ser Médica Pediatra! Acho até que eu já te falei isso, né?

— Sim, Kate, eu me lembro. Você me falou durante a nossa conversa ao telefone no mesmo dia em que atendeu a Alexis, mas fomos interrompidos porque chegaram três crianças acidentadas para serem atendidas. Adorei aquela nossa conversa, Kate, como também estou adorando estar aqui com você.

Meio sem graça com a mudança da conversa para um assunto mais pessoal, Kate decide falar sobre o jantar — Delícia o jantar, Castle, e o vinho... Você tinha razão, ele é maravilhoso!

— Que bom que você gostou. – ele se ajeitou no sofá, de modo a poder ver melhor o rosto e os olhos de Kate – Eu estava mesmo te devendo um jantar. Na verdade, não é bem um jantar que eu estou te devendo... Estou te devendo é uma explicação para o meu silêncio.

Ao ouvi-lo fazer aquela declaração com tanta segurança, o coração de Kate ficou acelerado, então, por mais que quisesse saber o motivo do Castle ter faltado ao encontro sem ao menos avisar, ela ficou tensa e imaginou uma forma de mudar, momentaneamente, o rumo da conversa.

 — Eu vou pegar o vinho para continuarmos a... – Kate tentou se levantar, mas, com delicadeza, Castle a segurou pelas mãos, impedindo-a de sair.

— Não, Kate. – ele ainda segurava o braço da moça, e, de modo gentil, não permitiu que ela se levantasse — Depois você pega o vinho, Kate, mas primeiro eu preciso te explicar o motivo do meu silêncio e sei que você precisa desta explicação.

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Continua...