Os olhares de Kate Beckett e Richard Castle estavam fixos um no outro.

Sem falar nada, Kate recostou-se no sofá, demonstrando que ficaria ali para ouvir a explicação dele.

Naquele exato momento, ela meditava sobre algo muito interessante. Ela tinha certeza que não estava fazendo birra, fazia apenas uma breve reflexão sobre tudo aquilo. Por mais que ela quisesse e até precisasse ouvir, ela reconhecia que estavam dando mais importância do que deviam àquela situação, então resolveu externar sua opinião, já amadurecida.

— Sabe, Castle, eu estava aqui refletindo... Acho que estamos fazendo uma tempestade num como d’água, ou seja, estamos maximizando tudo isso. – ele tentou interrompê-la, mas ela, por meio de um simples gesto de mão, pediu para ele não dizer nada — Deixe-me concluir o raciocínio, por favor.

Ele aquiesceu em silêncio, apenas fazendo um gesto afirmativo com a cabeça e Kate continuou.

— Acho que tanto eu quanto você tivemos uma reação exagerada quanto ao seu silêncio, Castle, quando, na realidade, não se trata de algo tão grave, até porque, ainda estamos nos conhecendo... Nós nem temos um relacionamento.

— Ainda não temos um relacionamento, é verdade, Kate, mas eu quero ter. Desde o início, lá mesmo no seu consultório, eu deixei claro a minha vontade te ver e que gostei da sua companhia, da sua conversa, do seu jeito, e que quero muito te conhecer melhor. O meu desejo é, sim, ter um relacionamento sério com você e, sem querer ser presunçoso, tenho quase certeza que você também quer a mesma coisa, então, é por isso que eu preciso explicar o meu silêncio, porque se agora, no início, eu já desapareço no primeiro encontro, sem deixar nenhum aviso, como é que você vai confiar em mim quando marcarmos novos encontros no futuro, eihm? Você sempre iria desconfiar se eu iria ou não iria comparecer... Hoje mesmo, por exemplo, será que você acreditou quando eu disse que viria ao seu apartamento, ou será que você pensou que eu iria sumir e silenciar novamente?

Kate se sentiu empalidecer quando escutou aquilo de forma tão direta, sobre algo que ela, realmente especulara no momento em que ele lhe telefonara naquele início de noite, tanto que nem se preocupara em trocar de roupa, pois tinha chances de ele não aparecer.

A reação dela não passou despercebida para Castle e ele prosseguiu – Vejo que você entendeu o meu ponto de vista, Kate. Eu não sou mais um garotinho ou mesmo um adolescente. Eu sou um homem e quero continuar agindo como tal, portanto, preciso justificar meu erro, com a intenção de nunca mais repetir.

— Tem razão, Castle. Entendi seu ponto de vista sobre isso e vejo que eu preciso mesmo desta explicação. Sabe de uma coisa, Castle.... Você já viu que eu sou bastante sincera... Pois é, eu já nem sabia mais no que pensar e confesso que cheguei a imaginar se eu havia dito algo que te aborreceu ou ofendeu, sei lá... Só que eu não conseguia lembrar de nada desse tipo. Fiz uma reflexão sobre as coisas que conversamos ao telefone e não encontrei nada.

— Sinto muito fazer você vivenciar esta situação, Kate. – ele deu um longo suspiro e começou a falar – Como não posso voltar no tempo e consertar meu erro, vou, pelo menos, tentar justificar e preciso que você escute até o final.

Ela aquiesceu em silêncio, recostou-se no sofá e ele continuou a falar.

— Bem, Kate, nós tínhamos um encontro marcado e no final daquela tarde eu já estava tão ávido para te ver que nem consegui me concentrar no trabalho, então, decidi sair mais cedo e comprar flores e chocolates finos para você. E assim eu fiz, só que a minha ansiedade era maior do que tudo e não queria esperar até a noite para te ver e oferecer as flores e o chocolate, então decidi ir ao hospital para te fazer uma surpresa. Só que eu sabia que eu não poderia jamais interromper um atendimento seu, portanto fui até a cafeteria do hospital com o objetivo de esperar o final do seu plantão. No entanto, para minha surpresa, ao chegar lá eu te vi conversando muito animadamente com um homem. Até aí, tudo bem, pois podia ser um colega, um primo, ou um amigo... Tanto faz. Contudo, vocês dois não só sorriam, como também tinham as mãos unidas sobre a mesa.

Kate ouvia e já sabia que se tratava do seu amigo Samuel, mas, não interrompeu o Castle e ele continuou explicando. Ela precisava ouvir até o final.

— Óbvio que fiquei atônito e abalado com aquela cena, pois vi desmoronar toda a esperança que eu tinha de namorar com você. Portanto, abalado com a cena que eu acabara de ver, não esperei para ver mais nada e fui embora, sentindo-me um bobo com aquelas flores e os chocolates nas mãos, então, ao passar pela Ala Pediátrica, parei no balcão da Enfermaria e entreguei tudo para elas e inventei uma desculpa. Eu disse que eu era muito grato pelos cuidados que elas tiveram com minha filha. Mas eu não me identifiquei, tampouco falei o nome da Alexis.

Kate ouvia calada a explicação do Castle e ficava boquiaberta a cada informação que ele dava, inclusive sobre as flores e os chocolates e ela logo se recordou do dia em que vira o belo arranjo de rosas vermelhas e a cesta de trufas na enfermaria dadas por um pai de uma das suas pacientes.

— Castle, eu posso explicar... – Kate tentou falar algo, mas ele a interrompeu.

— Deixe-me terminar, por favor. Sabe, Kate, naquele dia, por mais que eu e você não tivéssemos juntos em um relacionamento, eu me senti traído, pois, ver você acariciando as mãos de outro homem mexeu fundo comigo... Eu me senti atraiçoado e fiquei muito confuso e magoado e por isso que fui embora. Claro que eu não falei sobre isso em casa, mas minha mãe, você deve se lembrar... – ele torceu a boca e arregalou os olhos – Ela é muito astuta e não tem papas na língua e logo percebeu que eu não estava bem e então ficou me provocando para eu falar alguma coisa, só que eu não contei nada. Apenas falei que não iria mais sair naquela noite com você por conta de um desencontro. Eu só usei essa palavra: “desencontro”. Isso foi o bastante para ela me dizer que mesmo sem saber o que estava acontecendo, eu deveria pensar melhor, pois ela pressentia que o tal “desencontro” podia ser um “mal-entendido”. Só que, infelizmente, eu não dei ouvidos a ela e, como um grande tolo, bloqueei o número do seu telefone e não li ou ouvi nenhuma mensagem sua. No entanto, a opinião de minha mãe não me saia da cabeça até que hoje de tarde eu percebi que o que eu vi na cafeteria foi mesmo um grande mal-entendido.

— O que foi que você viu hoje à tarde, Castle? – Kate o interrompeu.

— Como eu queria te ver e conversar, então fui te procurar no hospital e, como da vez anterior, eu cheguei alguns minutos mais cedo. Só que desta vez não fui à Cafeteria. Eu fiquei no estacionamento, dentro do meu carro, esperando o seu horário de saída quando, para minha surpresa, te vi saindo, por coincidência, com o mesmo médico que estava contigo na cafeteria naquele dia. Lógico que eu fiquei tenso. Porém, logo em seguida chegou outro homem que cumprimentou vocês dois. Em você, ele deu um beijinho na testa e no seu amigo, ele deu selinhos nos lábios e ainda fez carinhos nele. Aquela troca de carinho entre eles, deixou claro que aqueles dois homens mantinham um relacionamento amoroso e que você era apenas amiga deles.

Kate já não estava mais recostada no sofá. Ela estava tensa com o relato e analisava cada palavra que o Castle falava. Seu coração batia acelerado e parecia que iria sair pela boca.

— Kate, ao descobrir isso eu fiquei muito irritado comigo mesmo e imediatamente eu desbloqueei o número do seu telefone no meu celular e decidi também ouvir todas as mensagens de voz deixadas por você na minha caixa postal. Ao ouvir cada uma delas, só fez aumentar a raiva que eu estava sentindo de mim. Também fiquei com vergonha de mim mesmo. Mas eu sabia que tinha que ter uma atitude positiva e te procurar para conversar, só que eu demorei e você já tinha desaparecido do estacionamento. Eu precisava falar com você. Como eu não queria conversar enquanto você estivesse dirigindo, então, imaginei o tempo de você parar o carro em algum lugar. Ao final deste tempo eu te telefonei e a convidei para conversarmos... E estamos aqui. É isso, Kate. Eu interpretei mal uma situação e fiz você passar por isso tudo. De forma imatura, eu sumi, não fui ao nosso encontro, bloqueei o número do seu telefone, não telefonei para você e, usando suas próprias palavras, Kate, não me dei ao trabalho de ler suas mensagens, muito menos de responde-las. Sei que talvez não minimize o que eu fiz, mas saiba que meu sofrimento também foi muito grande.

Ao final daquele relato tão tenso, Kate colou as palmas de suas mãos na frente do seu rosto, recostou-se completamente no sofá e direcionou seu rosto para cima. Ficou assim por alguns segundos e o Castle a observava.

Retirando as mãos do rosto, ela passou a olhar as coisas à sua frente, nada em especial, apenas refletia sobre todas as palavras e todas as situações narradas pelo Castle e sobre os dias tristes pelos quais ela própria passou.

Por mais que eles estivessem mesmo dando mais importância do que devido àquela situação, Kate não podia deixar de sopesar que qualquer mal-entendido tinha o poder de alterar o rumo das coisas e isso a deixou aborrecida, já que o Castle poderia, sim, ter refletido melhor sobre o assunto, poderia também ter ouvido a experiência de sua mãe e a ter procurado para conversarem e, assim, o mal-entendido teria sido esclarecido e nenhum dos dois teria ficado triste e chateado.

Com o peito apertado pelo choque da explicação e do motivo tolo que o Castle dera e com sua própria mente cheia de pensamentos contraditórios, ela se levantou e foi na direção da porta – Castle, eu vou te pedir para ir embora.

Surpreso com a súbita atitude dela, ele tentou segurá-la – Kate, eu...

Mas ela logo o interrompeu — Não me toque! – sem fazer grosseria ou fazer cara feia, ela se soltou e apontou a porta da rua – Por favor, Castle.

— Mas... – ele tentou retrucar.

— Castle, nós nem temos um relacionamento. Mal nos conhecemos.

— Mas eu já te disse que não só quero te conhecer melhor como também quero, sim, ter um relacionamento com você e eu sinto que você também quer isso, Kate.

— Castle... Por favor... Apenas acho importante eu ficar sozinha neste momento e preciso que você me entenda. Eu não estou pronta pra falar sobre isso agora... Nem para condenar nem para perdoar. Eu preciso de um tempo para refletir sobre tudo o que você me disse..., sobre tudo o que aconteceu nestes dias. Tenho que pensar e sobre o que eu realmente quero com você e sobre o que você disse que quer comigo. Vou ponderar se a coisa é assim tão importante, grande e feia quando estamos pintando ou se estamos fazendo uma tempestade num copo d’água. – Kate o olhou de modo gentil – Só estou te pedindo um tempo para eu pensar. Só isso. Não quero tomar uma decisão por emoção. O que adiantaria se agora eu te dissesse uma coisa e que mais tarde eu me arrependesse, eihm?

Castle fez um sinal afirmativo com a cabeça dando a entender que aceitava a ponderação dela— Kate... De quanto tempo você precisa?

— Esteja certo que eu vou te telefonar. Pode ter certeza que eu não vou sumir.

Castle sentiu uma pontada no peito ao ouvir aquele aviso tão direto – Entendi, Kate... Você não vai sumir como eu... Eu entendi. Eu vou esperar com ansiedade sua ligação. – ele foi sincero.

Neste momento Kate passou os dedos pelos próprios cabelos e, tensa, deu um nó frouxo neles, sem auxílio de prendedores.

Sem dizer mais nada, Kate foi até a porta e a abriu e, mais uma vez, apontou a saída para ele.

Aquela atitude de Kate deixou claro para o Castle que naquele momento ela, realmente, queria ficar só.

..............................................

Continua...