Por fim, Frank acabou ficando no chalé de Hermes.

O que não me deixou exatamente satisfeita, já que na minha opinião ele deveria voltar para a droga do acampamento romano, mas era uma solução melhor do que ele tentar ficar no chalé de Ares.
O que mais ele queria aqui em Nova York, no meio de gregos?

— Clarisse! - revirei os olhos, continuando a andar em direção a arena. 

Eu não precisava nem olhar para saber que aquela voz pertencia a última pessoa que eu queria encontrar no acampamento aquela hora. 

Jackson me seguiu, mais rápido do que eu imaginava que faria, me ultrapassando e segurando meu braço com força em uma tentativa de me fazer parar de andar. 

— Qual o seu problema? 

— Qual é o meu problema? Qual é o seu problema, Jackson! - disse, puxando meu braço com força e fazendo ele perceber que estava me segurando. Continuei a andar, mesmo sabendo que não seria tão fácil assim me livrar dele. 

— Olha Clarisse, eu sinceramente não consigo entender porque você age assim. O que custa para você e pros seus irmãos deixarem Frank ficar no Chalé 5? 

— Ele não é filho de Ares! - gritei, finalmente parando e olhando diretamente em sua direção.  - Não venha questionar o que eu faço ou deixo de fazer no meu chalé, Jackson. 

Ele suspirou. Vi ao fundo Annabeth, começando a se aproximar, provavelmente com medo de que mais uma briga começasse no meio do acampamento.

Desde o fim da guerra, os campistas tem treinado cada vez mais, acho que com medo de algo aconteça novamente e eles não estejam preparados para lutar. 

Perder tantos amigos é uma ótima motivação para se manter em forma e atento aos perigos de ser um semideus.  

Jackson passou as mãos pelos cabelos escuros, que estavam levemente compridos e respirou fundo mais uma vez, me olhando com aqueles olhos verdes estranhamente penetrantes. 

— Realmente importa para você se ele é filho de Ares ou de Marte? Fala sério Clarisse, todos nós sabemos como é ser filho de algum Deus e se sentir abandonado pela família. Querendo ou não, Frank é seu irmão!

Pensando  bem, eu acho que era isso que mais me deixava com raiva. A soberba que eles tinham, andando por aí como se fossem os únicos responsáveis pela paz entre humanos e deuses, como se nunca pudessem ser questionados de nada e como se todos devessem algo a eles. 

— Você não vai conseguir mudar minha opinião. Boa sorte com os seus amigos, herói do Olimpo. - falei,  deixando bem clara que estava sendo irônica na última frase. 

Resolvi sair de lá, antes que Annabeth chegasse ao nosso alcance. Um deles já era difícil de aguentar, agora os dois juntos? Eu prefiro ser mandada para o tártaro do que aguentar o papinho de herói dos dois. 

— Eu pensei que você, acima de todos, respeitaria um semideus que lutou por nós.  - gritou Jackson, assim que eu virei as costas. 

Eu sou a pessoa mais esforçada de todo o acampamento. Eu treinei para batalhas desde os meus dez anos, quando cheguei nessa droga de acampamento. Eu tive que ouvir gracinhas a minha vida toda por ser a única filha de Ares no meio de todos os meus irmãos. A única vez que eu não participei de uma guerra logo de cara, eu perdi minha melhor e única amiga que eu tinha no acampamento. 

A velha Clarisse, de antes da guerra, faria um show. 

Droga, eu queria fazer um show. 

Eu queria puxar minha lança e gritar para todos ouvirem que eles não eram os Heróis do Olimpo, que eles não eram os responsáveis pela paz mundial e que sem a ajuda de todos naquele acampamento provavelmente todos eles estariam mortos.

E depois de fazer Jackson engolir todas as minhas palavras, eu queria simplesmente cravar minha lança em qualquer lugar do corpo dele e olhar enquanto ele implorava pela ajuda dos amigos, porque ele não teria nem chance de se defender do quão ágil eu sou em lutas. 

Mas a guerra me deixou cansada de tudo isso. Me deixou cansada de tentar, tentar e tentar e nunca chegar em lugar nenhum. Não ia adiantar nada eu brigar com ele, eu sairia como errada por estar questionando uma pessoa que teria dado a vida por nós, por questioná-lo após ele ficar preso no tártaro e voltar para cumprir a profecia. 

Então eu fiz a única coisa que eu sabia que iria afetar sua mente sem me desgastar. 

— E eu pensei que você, Jackson, acima de tudo, ia entender o que é ter que conviver com alguém que não é seu irmão de verdade. Afinal, não foi você que se recusou a aceitar que o ciclope era seu irmão? - disse, me virando e olhando fixamente em seus olhos, que estavam extremamente próximos por eu ter parado de supetão. - Não foi você que queria se livrar de Tyson, que se sentiu envergonhado de ter que mostrar para todos no olimpo que vocês eram parentes? 

Eu não conseguia distinguir o que dominava seus pensamentos: a raiva pelo que eu disse ou a culpa de saber que, no fundo, era verdade. Mesmo eu sabendo que não era bem assim que as coisas tinham acontecido eu tinha certeza que estas palavras iam machucá-lo muito mais do que qualquer golpe que eu pudesse dar durante uma luta física. 

Antes que ele conseguisse falar qualquer coisa, Annabeth se postou entre nós, empurrando levemente o garoto que estava quase colado em mim. A briga de olhares entre eu e Percy era tão intensa que eu apenas percebi que Chase estava ali quando ela bloqueou minha visão com seu corpo. 

— Chega, vocês dois! Não estão vendo que o acampamento inteiro está aqui olhando enquanto vocês brigam como duas crianças? - perguntou, finalmente fazendo com que meus olhos voltassem a focar. Olhei em volta e lá estavam, praticamente todos os campistas do acampamento nos olhando, esperando para ver qual de nós atacaria primeiro. - Percy, gritar com a Clarisse no meio do acampamento não vai fazer bem para ninguém, muito menos para Frank que deve estar se escondendo de tanta vergonha do que está acontecendo. - disse, com um olhar recriminador que com certeza havia deixando Jackson chateado - E Clarisse, você nunca, nunca vai ter o direito de falar da família de ninguém, principalmente considerando a sua. - ela disse, virando seu corpo em minha direção e me olhando fixamente. 

Revirei os olhos novamente, empurrando Annabeth sem pensar duas vezes para que ela saísse do meu caminho. 

Não olhei para trás quando ela gritou meu nome mais uma vez, entrando no chalé de número 5 e batendo a porta com força. 

— O QUÊ EU FIZ AOS DEUSES PARA MERECER ISSO? - gritei, assustando meus irmãos que estavam ali dentro.